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Cartas-->5. GODOFREDO -- 24/07/2002 - 06:19 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Não tenho tido muita sorte com as comunicações mediúnicas. Quando não falho eu, por me sentir inseguro ou emocionado, falha o médium ou o serviço de manutenção magnética.

Hão de querer saber por que malogram os acompanhantes, os amigos dulcíssimos que nos dão amparo no momento crucial da transmissão das mensagens para o plano da carne.

É de difícil explicação, mas a verdade é que não conduzo com propriedade os eflúvios energéticos e eles não conseguem a devida condensação para o estabelecimento do contacto com o encarnado.

Neste mesmo momento, se não fosse a colaboração de toda a equipe e mesmo do professor, com ajuda externa, minha faixa de freqüência vibratória não se ajustaria ao padrão do mediador. Assim mesmo, é clara a dificuldade que todos estão tendo para o serviço.

Tenho estudado com afinco as prováveis causas desse conflito emocional e estou propenso a considerar que o mais correto seja suspeitar do alto interesse que demonstro em acertar todas as expressões, segundo os conceitos tidos por mim como os mais adequados para a tradução dos pensamentos. Qualquer falha de comunicação me perturba e paro para pensar, na tentativa de corrigir. Quando se trata de página escrita, ainda resta a possibilidade da releitura e do castigo “a posteriori”. Terrível mesmo é a transmissão psicofônica.

Apesar de algumas críticas que possa fazer ao médium, este trabalho está conseguindo bom rendimento vocabular e frásico, principalmente porque o meu rendimento intelectual não se funda em tanta erudição assim. O acervo de memória do mediador está satisfatoriamente composto e sua disponibilidade de primeira hora é razoável. Sei que textos de teor científico não alcançariam transmissão rigorosa, mas esse não é, absolutamente, o meu caso.

Em vida, estudei jornalismo e arte. Essa é a origem do virtuosismo do estilo que desejaria imprimir ao enunciado.

Morri cedo, não tendo podido vencer sequer o segundo ano de redação, no periódico que me agasalhou como promissor discípulo de Clóvis Beviláqua.

Diferentemente dos companheiros anteriores, não tenho grandes problemas de relacionamento com os que permaneceram na crosta. Amo e sou amado pelos meus pais e demais parentela. Fui amigo leal dos que comigo conviveram, desde a infância. Tive amor sadio e honesto por jovem que deixei saudosa, conquanto, hoje, digna esposa e mãe.

Dentre os problemas que tive de enfrentar, o mais sério foi, justamente, esse companheirismo, amizade ou eterno noivado em que se transformou o relacionamento afetuoso com a criatura que deveria tornar-se minha. Tal sentimento de posse perturbou-me aqui no etéreo, uma vez que tinha plena facilidade de freqüentar o antigo lar, onde me encontrava com Leonor (nome fictício, para facilitar as referências). Até entender que a vida prosseguia para ela diferente do que para mim, tendo Leonor o direito de usufruir as prerrogativas carnais, muitas lágrimas derramei.

Um dia, ao me defrontar com o interesse dela por colega meu dos mais queridos, pedi socorro. Deparei-me, pela primeira vez, com José. Antes, recebia afetuosa assistência e proteção de dois tios e de vários avoengos. Mas somente me consolavam, passando-me a idéia de que deveria resignar-me à sorte madrasta, que me ceifara a vida em triste afogamento, durante a prática da pesca submarina.

Ao rogar por ajuda, dei a entender que desejava compreender as razões da vida, principalmente, o fato de Leonor, que tanto me amava, como podia avaliar pelos sentimentos que não se me escondiam, estar permitindo uma segunda pessoa na faixa dos amores sexuados.

Passei cinco anos recolhido, estudando as leis cármicas e a minha personalidade, em função da necessidade de superação da dramática conjuntura em que os sentimentos me envolveram.

Posso dizer que me diplomei no conhecimento teórico de todos esses temas. Entretanto, estremeço ainda pela necessidade de convivência com Leonor.

Com a ajuda de José, pude examinar cuidadosamente a existência anterior na Terra, tendo ficado ciente de que raptei minha amada de lar honesto, embora se apaixonasse e nunca mais volvesse. O atual esposo, como alguém poderia supor, não é o mesmo da encarnação pregressa. Este vaga pelo etéreo, mercê de deficiências graves. Obtive autorização para ir em auxílio do infeliz, depois que me considerar sentimentalmente apto a enfrentar situações potencialmente emocionais.

Se os caros amigos fizerem a devida ligação entre a dificuldade de me dedicar com isenção às transmissões mediúnicas e o interesse insatisfeito de ver completada a harmonia amorosa, poderão concluir pela globalidade das reações espirituais. Sendo assim, deverei, dentro em breve, me ver perante Leonor e família para medir a “freqüência cardíaca”, estabelecendo com rigor se posso considerar-me em condições de exercer a sacratíssima função de benemérito moral.

Os colegas me cumprimentam e me afiançam que não irei ter acréscimos de irracionalidade, dado que estou vencendo, de certo modo, pois ainda não estou satisfeito inteiramente, esta etapa do aprendizado, tendo em vista a organização da mensagem e o ditado muito próximo do texto primitivo.

Restar-me-ia agradecer, o que farei em particular a cada colega e ao professor. Ao médium, muito obrigado. Ao Pai, a ternura de minha compreensão de sua santa misericórdia, que me agasalha com tanto carinho junto a esta instituição.

Ao leitor, o mais comovido abraço e o desejo de que possa terminar a peregrinação pela vida, realizando todos os projetos de amor e de virtude.

Fiquemos na paz do Senhor!

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