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Artigos-->SOBRE O LIVRE-ARBÍTRIO -- 01/11/2007 - 08:51 (Paccelli José Maracci Zahler) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SOBRE O LIVRE-ARBÍTRIO



Paccelli José Maracci Zahler



A questão do livre-arbitrio foi abordada de maneira completa, no meu entender, por Elliot Sober, no texto ‘Liberdade, determinismo e causalidade”.

Depois da leitura atenta dos argumentos por ele apresentados, fica muito difícil dizer que nós temos livre-arbítrio, pois somos parte de uma cultura e de um ambiente. Assim, nossas decisões serão feitas dentro desse ambiente e limitadas pela nossa cultura. Por exemplo, costumamos nos emocionar ao ouvirmos o Hino Nacional Brasileiro porque ele nos identifica com a Pátria em que nascemos, crescemos, estudamos, acompanhamos vitórias e derrotas. O mesmo não acontece ao ouvirmos o hino da África do Sul. Tal associação irá fazer com que passemos a defender os interesses brasileiros em nossas atividades profissionais e a cultivarmos tudo aquilo que diz respeito ao nosso País e com os quais nos identificamos.

Mas como transcenderíamos esse sentimento? Penso que seria por meio da reflexão sobre a nossa situação atual, sobre os condicionamentos que nossa cultura nos impôs. Esta reflexão iria promover um despertar da nossa consciência para tudo o que vivemos até hoje. Isto nos libertaria do jugo cultural para pensarmos em um sentido humanitário. Passaríamos a ser cidadãos do mundo, buscando soluções para os problemas do mundo, sem restrição de país.

Chamou-me a atenção um trecho do texto `Antropologia filosófica y desafios de la humanidad`, onde diz o autor:"Devido a que o homem carece de instintos, lhe é inerente a superabundância de estímulos ou impressões que afluem a ele `sem finalidade` alguma (diferente dos animais cujos instintos sempre disparam de modo automático). Esta carência, que determina sua conduta, o faz buscar uma posição no mundo e o obriga a fazer algo de si mesmo. Se não tem um meio ambiente adequado, deve criá-lo".

Se pensarmos no nosso cotidiano, percebemos o quanto somos estimulados pelos sons, pelos cheiros, pelas luzes, pelas propagandas, pelas músicas. Há que se perguntar até que ponto tais estímulos influenciam nossas vontades. Por exemplo, nossa fome seria saciada com arroz, feijão, salada e uma maçã. Porém, ao adentrarmos em uma praça de alimentação, com cores propícias, fotos gigantes e deslumbrantes, podemos mudar de idéia e escolher um Big Mac, uma macarronada do Buongustaio com refrigerante (Coca-Cola, Pepsi-Cola, Guaraná Antártica, uma tulipa de Skol), um sorvete do Girafas. Eu citei marcas registradas. Por quê? Porque elas estão nos rádios, nas TVs, nas revistas, nos `outdoors`, me dizendo o tempo todo que a comida e a bebida delas são mais saudáveis que a feita em casa. Posso até cogitar de pensar que escolhi por vontade própria. Na verdade, elas despertaram em mim um desejo que eu não tinha. Minha intenção era saciar a fome, porém senti segurança em uma marca registrada. Aparentemente, eu tive livre-arbítrio - escolhi a comida que queria. Pensando bem, eu tinha um número restrito de lojas, três refrigerantes e uma cerveja de marcas famosas, que mostravam que eu sairia mais satisfeito se optasse por elas. Nenhuma delas fazia referência a um copo de água para saciar a sede.

Voltando ao trecho citado, creio que o homem cria o seu ambiente e, sendo um ser social, precisa `enquadrar-se` nele para ser aceito pelos demais e poder sobreviver. Nesse momento, perde a sua capacidade de decidir. O grupo e os grupos de interesse decidem por ele, todavia, o fazem pensar que a decisão é individual.

Temos discutido a questão do livre-arbítrio considerando nossa condição de seres humanos `naturais`, ou seja, nascido do amor espontâneo de nossos pais. Pergunto-me: "Como deveria ser tratada essa questão em um ser humano fertilizado `in vitro` ou naquele cujos genes foram selecionados para ter cabelos loiros e olhos azuis por técnicas de engenharia genética, por exemplo?"Neste último caso, a geração deles foi por seleção genética. Eles não tiveram a oportunidade que nós tivemos de termos nascido pelo acaso proporcionado pela Natureza. Não é uma questão interessante? E difícil.

O livre-arbítrio, hoje em dia, graças à cultura do consumismo, está ligado à conta bancária. Quem tem pouco dinheiro, tem poucas opções, ficando restrito ao que o Estado tem a oferecer, ao passo que quem tem muito dinheiro aparentemente não tem limites em obter o que deseja. Dessa forma fica difícil afirmar que temos livre-arbítrio?

Nicola Abbagnano (2006), no livro `Introdução ao existencialismo`,afirma que "(...) a decisão do homem é exatamente ação no mundo, fabricação, utilização, técnica, produção, trabalho. Não é possível ao homem retirar-se do mundo porque não lhe é possível ser ele mesmo senão em ligação com o ser e com os homens, senão no mundo".

Quero, com isso, reforçar a tese de que o mundo em que vivemos, cheio de convenções e limites, também limita o nosso livre-arbítrio. Este pode ser um ideal no mundo das idéias, porém, na prática, não nos é possível exercê-lo em sua plenitude.



BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1. ABBAGNANO, Nicola. Introdução ao existencialismo. São Paulo:Martins Fontes, 2006.

2. SOBER, Eliot. Liberdade, determinismo e causalidade. Disponível em: http://www.criticanarede.com/eti_livrearbitrio.html. Acessado em: 05.out.2007.

3. Antropologia filosófica y desafios de la humanidad. Disponível em: http://www.catolicavirtual.br/conteudos/pos_graduacao/filosofia/uea06/leituras/leitura_... Acessado em: 05.out.2007.

4. UCB. UEA-05 – Tópicos de antropologia filosófica. Apostila do Curso de Especialização em Filosofia e Existência. Brasília: Universidade Católica de Brasília, 2007.



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