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Artigos-->A Verdade Segundo Platão (II) -- 30/10/2007 - 13:47 (Sereno Hopefaith) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Número do Registro de Direito Autoral:130951699652516800
Sócrates, em certo momento do diálogo pergunta a Glauco: "Examina o que aconteceria se os prisioneiros (da sala de jantar nesta visão atualizada) fossem libertados de suas cadeias e curados de sua ignorância..." Poderiam criar uma realidade nova, outra, inusitada, se ao invés da contemplação da tv, se dedicassem à leitura de livros, a observação de suas personagens?



Seriam as sombras, talvez, menos absorvidos pela visualização da violência e pelo medo decorrente da contemplação dela na tv? Criariam, com esse distanciamento da telinha e a conseqüente aproximação com a leitura de livros, uma "realidade subjetiva" que os tornaria espectadores menos virtuais e mais reais, capazes de interferir na cultura globalizada pela telinha? Poderiam garantir a seus filhos, à sua descendência, um mundo menos globalizado pela pulsão cromagnon da violência incentivada socialmente desde a mais tenra idade? O mundo poderia ser estruturado segundo padrões civilizados mais adequados? A leitura de livros tornaria as pessoas menos banalizáveis?



O Mercado entra na vida privada das pessoas globalizadas da sala de jantar e vende o que quer e como bem entende. Esse poder incondicional do Mercado não transforma as pessoas em sombras de seus interesses (dele, Mercado)? A "entidade invisível" denominada Mercado, que mantém as Bolsas em alta, promove a senilização, a fraqueza e a pusilanimidade intelectual e moral da sociedade, a partir da disseminação da "pulsão de morte" não poderia promover outro tipo de cultura, se a sociedade fosse mais dedicada à educação pelos livros?



Estamos nos movimentando em terreno platônico. A doutrina do filósofo grego era caracterizada por uma teoria das idéias (platônicas), pela preocupação com a argumentação ética a partir da qual a meditação filosófica do conhecimento do Bem supõe a implantação da justiça entre os homens e entre os Estados.



Em nossa sociedade há milhões e milhões de meninas e meninos, jovens na idade cronológica, adultos e idosos que estão freqüentando as salas de aula da sala de jantar frente ao sofá da tv. Quantos deles lêem um livro não-didático por mês? Quantos deles estão em condições de defender os direitos de uma cidadania inexistente, desde que conivente com a passividade das sombras da tv no fundo da caverna platônica da sala de jantar? Por que a leitura de livros é tão pouco incentivada nessa sociedade fragilizada pela pobreza, pela exclusão, pela necessidade, por uma educação do "faz de conta"?



O Mercado é covarde e a maior parte daqueles que detêm seus interesses querem tirar o máximo proveito da fragilidade econômica e financeira das pessoas que a ele recorrem para obterem um salário de sobrevivência. Um salário de pessoas que não sabem que são sombras de interesses sombrios. Hoje, tudo bem. Amanhã, de que adiantará a movimentação proustiana, em massa, em busca do tempo perdido?



As sombras da caverna de Platão desejam apenas a companhia daquelas outras sombras que possam alimentar todos os dias, personalidades cheias de um saber aparente, afetado, compromissado com a prevalência de um narcisismo nefasto, que visa apenas a produção de personagens mantidas na Terceira Margem do rio da Marginalidade, que Guimarães Rosa tão magistralmente romanceou em Grandes Sertão: Veredas. A personagem do conto se marginalizou na Terceira Margem do Rio de forma consciente. Nas veredas do "Grande Sertão" urbano, a tirania do senhor Mercado rege uma marginalização coletiva melancólica, triste, despótica.



Platão diria que a caverna moderna regida por Tânatos, pela pulsão da morte, da violência e da destruição, educa não para a luz e a liberdade provenientes do conhecimento, mas para as trevas da submissão. A mídia tv é a principal fábrica de sombras do "mundo livre", democrático. A democracia surgiu na Grécia, em Atenas (508 a.C.). Platão era ateniense, crítico severo dessa democracia. Quem possuísse o dom da oratória dominava a cena política, independente das idéias que defendesse.



Hoje, parte dos políticos do "Pra Lamento" são eleitos sem sequer saberem usar a palvra em discursos de palanque. Os currais eleitorais dos velhos coronéis do latifúndio garantem a eleição nas urnas pela necessidade de grande maioria dos eleitores. O poder político da Grécia estava centralizado na "Assembléia dos Cidadãos". Seus representantes eram escolhidos por sorteios (entre os melhores oradores) para um mandato de um ano. Crônicas dessa época informam que o comparecimento à Assembléia era escasso, seus integrantes preferiam ocupar-se de negócios particulares.



O "Pra Lamento" nos dias de hoje continua o mesmo de antigamente. Num ensaio de autoria de José Américo Pessanha, sobre a democracia ateniense, ele afirma: "Parecia não existir em Atenas um partido no qual um homem que não quisesse abrir mão de princípios éticos pudesse se integrar."



A falta de ética entre os candidatos de determinados partidos parece, nos dias de hoje, ser a condição "sine qua non", sem a qual o político não poderá pleitear junto aos seus membros um cargo eletivo. No surgimento da democracia a humanidade há muito ignorava o que era um regime de governo sem corrupção. Daí para frente a realidade política continuou a mesma. Do Império Romano ao século XVIII sobressaíram-se os regimes absolutistas.



Os reis e príncipes em surtos psicóticos de autoritarismo narcisista se imputavam de "origem divina". Essa idéia pretensiosa chegou ao século XX representada pelo imperador do Japão. Ele e seus súditos se proclamavam de "procedência sublime". Para não falar da monarquia à inglesa. Uma realidade político-social para nenhuma das sombras da "Caverna de Platão" botar defeito.



O narcisismo continua fazendo a cabeça de nossas instituições. O corpo discente aprende, na academia, a passar no vestibular e em concursos públicos. O corpo docente ensina a mesma coisa, desde que não foi educado para o aprendizado e a preservação de padrões de discurso que ajudem os alunos a saírem do mundo de sombras em que permanecem "encavernados".



A atual "Caverna de Platão" sugere que o compromisso "intelectual" dessa sociedade está em manter uma determinada e ingênua perplexidade frente à magia eletrônica da Internet e da tv. Esse deslumbramento cria uma mentalidade coletiva voltada para o anacronismo de uma passividade radical. Uma relação de intensa submissão das pessoas da sala de jantar que cumprem a afirmação platônica que finaliza o texto afirmando que os habitantes da "Caverna de Platão" não têm os olhos nem o discernimento levantados para agir com sabedoria na defesa de seus interesses nos negócios individuais e públicos.





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