Democracia ou anarquia
Os jornais de hoje informam que os “estudantes que ocupam o salão nobre da reitoria da Universidade Federal da Bahia prometem semana de mobilização”.
Pelo que apurei, esses universitários são cerca de quarenta moças e rapazes que estão “morando” naquele local desde 1º de outubro, dormindo em barracas de camping e colchonetes, jogando peteca, seu divertimento preferido, cozinhando e vivendo em promiscuidade. Lavam suas roupas e as penduram em varais à frente da galeria com os retratos dos ex-reitores.
Perguntando aqui, perguntando ali terminei descobrindo que a turma integra uma ala jovem do ex-PFL, atual DEM, cujos atos não são aprovados pelo partido, e estão mobilizados para impedir a aprovação do REUNI, um programa do governo federal de apoio a planos de reestruturação e expansão das universidades federais, aparentemente uma coisa boa do Ministério da Educação do governo Lula.
Esse pessoal, gente da direita radical, resolveu partir para o confronto direto com a direção da universidade, com o reitor, um professor que é adepto do diálogo, homem de visão humanística, e até mesmo dos colegas que representam a categoria, esses vinculados aos partidos de esquerda, para impedir que ações de caráter democrático ampliem o número de vagas e instalem cursos noturnos, iniciativas que fazem parte do programa do PT. Anteriormente já se haviam manifestado contra as cotas raciais adotadas no ambiente universitário.
Mas, o que choca nesse episódio, se é que algum movimento dessa natureza no país ainda nos surpreende, é a forma como esses badernistas resolveu se manifestar, ocupando um prédio público, dificultando o funcionamento normal do estabelecimento e, segundo prometem para os próximos dias, impedindo o acesso dos funcionários à reitoria, ao seu local de trabalho.
Será que esses meninos não têm pais, não aprenderam com eles e os professores que seus direitos só vão até onde não prejudicam os dos outros?
A propósito dessa e de outras ações similares, eu sempre me lembro que, nos primeiros dias do governo do imprevisível e contraditório Jânio Quadros, u´a malta de estudantes universitários do Recife invadiu e ocupou o prédio da Faculdade de Direito. Jânio não tergiversou: simplesmente autorizou o Exército a retirar do local, à maneira que fosse possível, todos os ocupantes, para preservar um próprio federal e restabelecer o funcionamento da entidade.
O que vemos hoje em dia é a prevalência da demagogia e da pusilanimidade da parte de praticamente todos os governantes diante do que consideram legítimo direito de manifestação, e a desculpa é sempre a mesma: de que movimentos sociais não são um caso de polícia. Mas, quando infringem as leis sim, significam efetivamente uma situação de quebra da normalidade a ser resolvida pela Justiça e, se necessário, pela polícia. Invasões do MST em propriedades privadas e até de domínio público, ferrovias e órgãos que realizam pesquisas avançadas de interesse do país são estimuladas com o fornecimento de infra-estrutura e cestas básicas aos acampados, e mesmo quando a Justiça manda que se desocupem o imóvel prefere-se a via da conversa fiada que apenas dilata o prazo das ocupações.
Trânsito bloqueado e rodovias fechadas por qualquer grupamento que reivindica eventuais direitos infernizam a vida das pessoas, às vezes causam danos materiais e humanos irreparáveis, como é o caso de diabéticos impedidos por horas de usar insulina.
O que muitos defendem como democracia não passa de anarquia. Em muitos países onde os direitos humanos são efetivamente levados a sério, essas coisas não acontecem. Na França, Suécia, nos Estados Unidos, por exemplo, onde a democracia é um bem coletivo da sociedade, a polícia age com firmeza para evitar que ações irresponsáveis tumultuem a vida dos cidadãos.
Nossos governantes deveriam saber que a maior parte da população não aprova esse comportamento de minorias irascíveis e haveria de aplaudir ações mais enérgicas de quem é responsável pela segurança e bem estar públicos.
21/10/2007
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