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cronicas-->LAVAGEM DE PORCO -- 16/03/2002 - 19:08 (LUIZ ALBERTO MACHADO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Todo dia um menino berrava à minha porta: - Olha a lavagem!
Minha mãe corria, pegava o resto de comida azeda, imprestável e até já podre, das sobras da janta de ontem, do café da manhã, do almoço de hoje e largava tudo na lata que já estava meeira daquilo. Toda tarde, chovesse ou fizesse sol, minha mãe esperava o sinal dele. O menino chega saia feliz. Eu meio que engasgado com o mau gosto, fazia das minhas caretas, se bem que se parecia uma receita exótica, só que indigesta. É, serviriam para os porcos. Parece. Um dia vi que aquilo era o que ele e os seus tinham por ceia num lixão improvisado embaixo de um viaduto. Nossa, um asco terrível. Fiquei um bocado de dia enjoado com aquilo, abatumado. E me peguei pensando a ponto de comparar aquela cena com a repetição da história com seus abomináveis acontecimentos. Verdadeira lavagem de porco atravessando séculos irrespondíveis. Exemplo? Um só, por enquanto, tá? Um cara desce privilegiado dos céus onde estaria no bem-bom, chega aqui, derruba mitos, imagens, poderosos, créus, desafia Césares estúpidos e no fim, como estorno da audácia, é trocado por trinta dinheiros e, depois, por um ladrão famigerado. Esse mesmo, depois de verter seu próprio sangue em nome da sua rebeldia, pagou o maior mico por querer encontrar o lado humano dos seres, tornando-se, contraditoriamente, depois de cinquenta anos insepulto, o maior símbolo religioso do ocidente. Pode? Equívocos inexplicáveis.
Pois assim é, a história se repete, é só comparar o Brasil mesmo ou a África ou o Haiti com acontecimentos nos séculos XVI, XII, nos primórdios do feudalismo, no sagrado império romano, na sacada dos fisiocratas, na leitura dos princípios marginais da economia, nas guerras santas, na hegemonia do clero e da nobreza e, depois, a ascensão da burguesia num contra-golpe e et caetera. Seria o mesmo que ler Foucault enquanto janta - que diz que a desgraça humana não é de hoje -, o Eduardo Galeano na hora de dormir ou o Dee Brown enterrando o coração, quando acordar.
Uma receita dessa eu mesmo não teria a coragem de narrar para contragosto das minhas leitoras e meus leitores, longe de mim! Mas que mais parece com a inhaca dos sicofantas de hoje, onde deus e mamon selaram um pacto dos diabos, interferindo nos tribunais indulgentes dos prebostes modernos, no privilégio das sinecuras oficiais do segundo e terceiros escalões loteados e entregues aos apaniguados, nos subterfúgios da apologética perpetuando mentiras e temores nos subordinados que são tratados como muares eivados de uma carga de responsabilidade além do que pode seu caçuá, da pilhagem dos salteadores astutos que largam seus estorvos e vendem a confusão de não se saber a distància entre a boa e a má fé, fincando pé na nossa desmoralização por não saber que para ser rico tem que ser, antes de tudo, sabido. É como se víssemos o videotape em cadeia mundial como manchete do momento, do eterno casamento do Sir Zé John Hawkins com a Maria Duquesa de Sutherland. Por causa das crenças particulares e da conveniencia do enlace, o aparato matrimonial exigia duas cerimónias, uma solenidade com o puritano Baxter, para o nubente; e outra celebrada pelo metodista Wesley, para a esponsal. Os padrinhos arfantes: Cecil Rhodes, dele; e John Moss, dela. E uma salva de palmas ruidosas de mais de meia hora acalorada pelo ànimo dos convidados. Só. E todo planeta hipnotizado na frente da telinha achando aquilo a coisa mais linda, espetacular, fantástica. Um verdadeiro casamento de príncipe e princesa. Isso, enquanto nós telespectadores no lodaçal da insalubridade no maior pugilato entre viver condignamente ou morrer envergonhado. Cadê o mingau de cachorro, mulher? Salve, salve: bié, bié, glup, glup!

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados do autor.

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