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Artigos-->AS DOCES VOZES DO SILÊNCIO -- 09/10/2007 - 15:44 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DOCES VOZES DO SILÊNCIO





Francisco Miguel de Moura*



"Não escrevo para ser lembrado; na realidade, escrevo contra o esquecimento; escrevo contra o que está passando."

Ascendino Leite



Acabo de receber um livro de Ascendino Leite. Pronto, é com ele que vou quebrar a minha solidão – que não é um propósito nem um pacto. Solidão que se vai tornando freqüente, amiúde, pertinente. Não se trata de obra de auto-ajuda, meu leitor, mas simplesmente de alta ajuda, permita-me o vulgar trocadilho.

Pergunto-me porque a certa altura da vida o homem, olhando-se em torno e por dentro, só encontra silêncio e solidão. E algumas vozes.

Embora Deus também viva sozinho, pois a solidão e o silêncio são atributos seus, não nos devemos alegrar pela solidão nem pela velhice de cada um de nós, mesmo que saudável ou razoavelmente boa. Nem precisamos engordar os estoques de tristeza que já vimos guardando.

A idade não vale nada. Valem a serenidade e a sabedoria adquiridas. Não porque nos sintamos superiores, todos os homens são iguais na solidão inata de nossa natureza de bicho civilizado. Todos somos iguais também na solidão adquirida pelos anos de busca e de perda, quando a morte se aproxima.

"Doces Vozes do Silêncio" – último livro da série "Jornal Literário", monumento de ouro e pedras preciosas da literatura brasileira. Alegra-nos recebê-los, autor e livro. Todo escritor verdadeiro é um solitário. Quebremos, pois, o silêncio e a solidão: eu, como seu leitor e admirador fiel, quando até dialogo e até posso discordar em alguns pequenos pontos; ele, como o faz neste "Doces Vozes do Silêncio", logo de entrada, em "recuerdos" de seu pai, entre outros, como os provindos de leituras, George Meredith por exemplo, além das constantes referências aos correspondentes - aqueles a quem chama tão carinhosamente de seus "visitadores". Claro que há, e muitos, os "visitadores" apenas em espírito, acabei de falar em Meredith, pois Ascendino é um homem que vive na literatura, com a literatura e pela literatura, no melhor sentido em que esses complementos possam explicar parte do existencial desse enorme escritor.

Mas não vamos perder o fio da meada. Sofrendo a nossa solidão, devemos nos sentir melhores. Ser só significa estar no caminho de Deus, Deus uno, Deus tudo, Deus especialmente amor.

Na solidão também se ama, ama-se muito. E vive-se. Eternamente. Principalmente, se se tem o privilégio de ser um poeta como Ascendino Leite, um mestre da concisão e das sutilezas. Vejamos (pg.92):

"Domingo. Esta manhã, na missa: liberi et ab ommni perturbatione secure (livres e seguros de toda perturbação). Quero dizer que nunca me senti mais estável nos registros do coração e da inteligência, mais inclinado a aceitar com alegria o estado das coisas e até as minhas necessidades.

Um raio de sol rompe subitamente a espessura do tempo chuvoso; a atmosfera geral é dum frescor magnífico. Lá longe, vai um casal de namorados, estreitamente unido, dentro do carro, contra o fundo da lagoa; a visão me ultrapassa, vertiginosa, como uma cena imaginada em delírio.

Aqui a sensualidade e a inocência são frutos dum único latejar de vida, que eu sinto, que se exprime em mim, menos por via da percepção visual do que por uma espécie de comunicação, de cumplicidade, e tudo dum modo extremamente sutil, como nas relações humanas.

Nem mais alma nem menos corpo: ser uma coisa e ser outra, ao mesmo tempo, sem consideração de espaço e densidade, de modo que, na duração dos seus estados de valor, um não possa ser subjugado pelo outro."

Considere-se que Ascendino Leite vive só, com o seu silêncio, embora na terra querida (Paraíba - João Pessoa), onde as sombras dos seus mortos não deixam de acompanhá-lo, depois de ter ganhado o mundo como jornalista ("Diário de Notícias" - Rio) – pelo que me é dado saber a seu respeito. Ele, que influenciou, pelo seu estilo, muitos intelectuais e ficcionistas dos anos 50 deste século até agora, mesmo assim faz blague de sua prosa, de sua criação de romancista.

O silêncio é ouro para quem tem coração de ouro, para quem amealhou (e distribuiu) só beleza, nas durezas da vida. Ascendino Leite viveu e vive, mais agora, a ouvir e nos transmitir as "doces vozes do silêncio". As altissonantes vozes do silêncio. Cumpre o destino dos grandes poetas.

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Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, mora em Teresina, e- mail:franciscomigueldemoura@superig.com.br



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