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Infantil-->HISTÓRIAS DO TIO BOB - PRIMEIRA PARTE -- 23/06/2009 - 22:54 (Roberto Stavale) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OS PEQUENOS AVENTUREIROS

A CASCA DE NOZ

Esta história, meus amiguinhos, aconteceu há muito tempo. No tempo em que o Brasil ainda era Império, e o seu imperador, D. Pedro II. Conversa boa para recordar nas noites de inverno, comendo pipoca e tomando chocolate.
Nos fundos da casa de Zefa Ritinha, uma escrava, empregada do doutor João, único médico daquelas redondezas, passava um estreito riacho. Mas, para a bicharada pequena daquele quintal, parecia o rio Amazonas.
Nos domingos de calor, os habitantes minúsculos do local reuniam-se numa praia à beira ao rio e ficavam matutando sobre as viagens que ele oferecia.
– Depois da casa de Zefa Ritinha, deve ter outros mundos, dizia um velho vaga-lume, que era o chefe da iluminação noturna.
– Eu já fui algumas léguas para lá, atender uma cigarra que não podia cantar, respondeu o doutor Besouro. É tudo igual. Água, mato e algumas casas.
– Mais para lá deve ter coisas do arca da velha, ponderou uma jovem barata, piscando o olho para o capitão Mosquitão, chefe de polícia.
E assim o tempo ia passado.
Chegou o Natal, com suas festas e comidas típicas.
Dias depois das festanças, duas formiguinhas, que brincavam perto da lata de lixo, encontraram uma casca de noz, cortada ao meio, parecendo uma enorme barca.
– Mas que achado! Exclamou Zezinho, uma das formiguinhas.
– Vamos chamar a turma e levá-la para o rio, sugeriu Mariazinha.
E não deu outra.
Em pouco tempo, dezenas de jovens formigas arrastavam a embarcação para um lugar bem escondido, na curva do rio.
– Os nossos soldados não podem vê-la, lembrou Carlinhos. Caso contrário, a levarão diretamente para os tesouros da nossa rainha.
Cobriram o achado com folhagens e gravetos, e começaram a discutir o que fazer com aquele pequeno navio.


MESTRE ANTÔNIO


No outro dia, pedindo todo o segredo do mundo, a turminha do barulho foi conversar com mestre Antônio, um velho formigão que tomava conta da carpintaria.
Depois de mestre Antônio jurar três vezes que não contaria para ninguém, levaram-no para conhecer a embarcação e dizer se aquela casca de noz poderia navegar rio abaixo.
O formigão rodeou a casca, espantado com a sua perfeição. Tirou, então, do bolso do colete, um caderno de notas, e passou a fazer cálculos e anotações.
– Passem na oficina amanhã à tarde. Darei algumas idéias para vocês.
No dia seguinte, logo após o almoço, a turminha estava na oficina, ansiosa para ouvir o velho formigão.
– Meninos, disse, calmamente, o mestre. Temos de abrir algumas janelas laterais para colocar ao menos três remos de cada lado. Na parte detrás, na popa, vamos colocar um leme para dar rumo à viagem. Dentro, alguns bancos, para vocês não ficarem de pé. Vou amarrar uma pedra na ponta da corda para servir de âncora.
– Mas para quando tudo isso, mestre Antônio? Perguntou Zezinho.
– Calma, meninos peraltas. Como vai ser tudo escondido, vou precisar de uns quinze dias.
– Duas semanas?! Exclamaram todos.
– Sim! E não apareçam aqui, antes disso!
Estava chegando o final de janeiro, e as chuvas de verão deixavam o riacho cada vez mais volumoso e com muita correnteza para aquelas formiguinhas.
Finalmente, já em fevereiro, o carpinteiro entregou a barca aos nossos amiguinhos.
– E agora? O que fazer? Era a pergunta de um para o outro.
Marcaram um encontro no dia seguinte para resolver quem participaria daquela grande viagem.


PREPARATIVOS


Zezinho, o mais velho, já com poderes de capitão, escolheu a tripulação.
Para o leme, optou pelo amigo Bruno. Para os remos, Rafael, Rodrigo, Victor, Rubens, Paulinho e Silvinho. E para tomar conta da comida e outros afazeres domésticos, Mariazinha, Alexia e Mariana. Convidou quatro vaga-lumes, caso fosse necessária uma iluminação noturna. E, por fim, um jovem grilo, o companheiro Juvenal. Em caso de emergência, Juvenal, em rápidos pulos, voltaria para avisar do acontecido.
– Vamos esperar o rio baixar mais um pouco para o início da viagem, recomendou o capitão Zezinho.
Enquanto esperavam, as menininhas, no maior segredo, armazenavam comida dentro da barca. E os meninos continuavam atentos ao volume do rio.
Mestre Antonio fez um pequeno balde de madeira, com uma corda, para puxar água do riacho.
Já estavam no mês de março, com pouca chuva, quando Zezinho anunciou a partida.
– Será amanhã, ao raiar do dia. Tragam as suas malinhas, com roupas e objetos de uso pessoal. E nada de falar em casa sobre a nossa aventura.
Dando vivas e urras, a turma foi para casa esperar o grande dia.


A VIAGEM


Quando os primeiros sinais de claridade apontaram no horizonte, a barca já estava tripulada.
Com o esforço dos remos, a barquinha começou a descer, lentamente, o riacho.
Se um adulto, ou mesmo uma criança, avistasse aquela metade de casca de noz na correnteza, certamente não ligaria. E nem avistaria aquele bando de formigas na maior algazarra.
Zezinho, instalado na proa, ensinava ao piloto Bruno os manejos do leme.
Mariana e Alexia começaram a cantar para alegrar aquele memorável dia.
Mariazinha preparava o lanche, que seria o café da manhã.
O sol já iluminava a campina quando, de repente, ouviram um forte tropel, miados e vozes.


O GATO E A BARATA


Todos se jogaram no piso da barca, quando um enorme gato preto deu um salto bem em cima da embarcação, miando fortemente.
Caiu do outro lado, perto da margem, causando ondas que quase viraram o barquinho.
O susto não tinha passado quando duas enormes botas pararam quase em cima da casca de noz. O vozeirão de um homem se fez presente como um trovão:
– Eu ainda te pego, gato danado! Pare de roubar carne da minha cozinha!
Mas o gato já estava longe, saboreando um naco de bife.
Tremendo como estivessem com febre, os nossos amiguinhos se abraçaram e começaram a chorar.
– Papai do céu, faça com que esse homem não pise em cima de nós, implorou Mariazinha. E todos começaram a rezar as orações dos bichinhos.
Em poucos minutos o homem foi embora, ainda xingando o gato.
Nossos aventureiros ainda se refaziam do susto, quando apareceu uma velha barata.
– Mas que travessura é essa, meus meninos? Vocês não têm juízo? As mamães de vocês sabem dessa peraltice?
– Não, tia barata, responderam todos.
– Meu nome é Risoleta. Prestem atenção. Por aqui tem muitas árvores frutíferas, mas agora não é tempo de frutinhas maduras. Com isso, os passarinhos ficam procurando bichinhos para levar para os filhotes comerem. Tem um sabiá danado que ontem quase levou a minha netinha, Luluzinha. Muito cuidado, rapazes!
Dizendo isso, foi embora, arrastando-se por causa do reumatismo.
A turma ficou mais apavorada.
Depois de algumas horas, em que nada aconteceu, e com o sol a pino, resolveram prosseguir a viagem.


DONA FILOMENA


Com a ajuda dos pequenos remos conseguiram, novamente, colocar a barca na correnteza do riacho.
As meninas serviram um lanche saboroso, que deixou todos bem-humorados.
– Deve ser mais de duas horas, calculou Bruno, olhando para o sol.
Os bichos não usam relógios. Assim, para saber mais ou menos a hora, eles se orientam, durante o dia, pelo sol. Quando chove, ou está nublado, eles se guiam pela claridade e, à noite, observando as estrelas.
Uma hora mais tarde, avistaram, ao longe, uma enorme tartaruga, tomando água no córrego.
– É melhor parar, falou Rafael.
– Nada disso! Retrucou Zezinho, sempre aventureiro.
Diminuindo a força dos remos, e encostando mais na margem, onde a correnteza é menor, foram se aproximando.
Resolveram parar a uns cinco metros da tartaruga, lembrando que ela levaria uma hora para chegar até eles.
O grilo Juvenal ofereceu-se para avisar a tartaruga que eles queriam passar.
Zezinho, de pronto, autorizou a ida de Juvenal.
Em rápidos pulos, o grilo ajeitou-se no casco da tartaruga, perto da cabeça, e falou:
– Dona tartaruga, eu sou o grilo Juvenal. Estou em viagem com meus amigos e gostaríamos de passar com nossa barca perto da senhora.
A velha tartaruga moveu a cabeça para os lados. Esticou mais o pescoço, todo enrugado, mas, não vendo nada, respondeu:
– Estou muito velha e quase não enxergo. Venham mais perto, quero conhecê-los.
Não demorou cinco minutos e os nossos amiguinhos estavam se apresentando para a nova amiga.
– Meu nome é Filomena, anunciou a tartaruga. Tenho mais de cem anos e gostaria de bater um papo com vocês.
– Fique à vontade, disse Zezinho. Gostamos muito de ouvir histórias.
– Vocês sabem para onde estão indo, concluiu dona Filomema, acendendo um pito de barro.
– Não temos a menor idéia, respondeu o vaga-lume.
– Tem muito perigo para frente. Foi bom pararem aqui, argumentou dona Filomena, soltando uma longa baforada.
– Esta paragem é conhecida como Santana do Parnaíba, explicou a tartaruga. Daqui a dois dias, nesta pequena barquinha, se os amiguinhos não tomarem cuidado, desembocarão direto num enorme rio cheio de pedras e fortes correntezas. O nome desse rio é Tietê. Digam-me, de onde vocês estão vindo?
– Estamos navegando há dois dias, informou Zezinho. O nosso reino é o formigueiro da rainha Isabel, no quintal do doutor João. A senhora conhece?
– Sim, conheço. Ele já veio aqui, cuidar da saúde de dona Mariquinha, minha atual dona.
– Para mim, que ando devagar, e para vocês, de pernas pequenas, parece longe. Mas para o bicho homem, com aquelas longas pernas, desta casa até a do doutor João não leva duas horas, caminhando a passos largos.
– Nossa, então estamos muito perto! exclamou Rodrigo.
– Depende de nossas pernas, disse a tartaruga. Para nós, é longe. Para um pássaro veloz, é perto. Para os homens, é meio perto. Mas, se eles vão a cavalo ou de carroça, em menos de duas horas estão lá.
– Mas... começou dona Filomena, olhando para o céu, está escurecendo, o sol já está no poente, preciso ir embora, pois amanhã é sexta-feira, treze, e de lua cheia. Logo mais, à meia-noite, será hora de lobisomem, e eu preciso estar bem escondida na cozinha de dona Mariquinha, para ele não me ver.
– O quê?! Perguntou Alexia, toda assustada.
– Sim, continuou a tartaruga. Todas às sextas-feiras do mês que caem no dia 13, e é noite de lua cheia, com certeza algum lobisomem aparece, montado em cima de uma mula-sem-cabeça, acompanhado de sete sacis. É uma noite de medo e sustos, exclamou dona Filomena, apagando o seu cachimbo para ir mais rapidamente para casa.
– E nós? quis saber Mariana.
– Vocês terão de procurar as formigas do reino da rainha Alice, que fica aqui, nas terras da dona Mariquinha.


NO REINO DA RAINHA ALICE


Assustados com aquelas histórias, nossos amiguinhos aventureiros esconderam bem a embarcação e foram procurar suas priminhas, as formigas do reino de Alice.
Não demorou muito e encontraram várias formigas, carregando um torrão de açúcar para o formigueiro.
Depois das devidas apresentações, e do espanto das novas companheiras em saber da fantástica viagem, convidaram a turma para passar a noite do lobisomem no vasto formigueiro, onde elas moravam.
E lá foram todos, apressando o passo para chegar antes do anoitecer.
Quando se aproximaram do portão principal do castelo da rainha Alice, notaram que as sentinelas, fardadas e armadas com espadas, estavam preocupadas com a demora das últimas súditas, principalmente com a ministra do abastecimento, que estava entre elas.
Todos os estranhos foram apresentados e autorizados a passar aquela noite no formigueiro.
Depois de descansar e se alimentar, os nossos viajantes foram convidados para conhecer a rainha Alice.
Sentada em um lindo trono, a rainha fez questão de cumprimentar um por um.
Ao saber que vinham do reino da rainha Isabel, ficou mais feliz, já que eram primas irmãs.
Em seguida, chamou a sua secretária da Educação para explicar aos novatos o que representava para os bichos do mundo pequeno aquela noite especial.
Dona Maricota, a secretária, pigarreou, sentou-se ao lado da rainha e começou o seu discurso.


O LOBISOMEM


– Senhores e senhoras, há séculos os nossos reinados vivem acontecimentos de terror e, entre eles, o lobisomem. A história dos lobisomens começou quando estas terras foram dominadas pelos homens brancos. Segundo eles, o sétimo filho homem, não batizado, quando passa dos vinte e um anos, seja solteiro, seja casado, vira lobisomem à meia-noite do dia treze, quando este dia cai numa sexta-feira e é noite de lua cheia.
Esta combinação demora a ocorrer, mas hoje vai acontecer!
Lá pelas dez horas da noite, o infeliz moço começa a passar mal e sai de casa, em busca de um cemitério. Chegando ao muro, senta-se e fica esperando chegar a meia-noite. Aí, meus pequenos, quando o sino da capela tocar as doze badaladas, num repente ele se transformará. Seu rosto e o resto do corpo cobrem-se de pelos longos, iguais aos dos cachorros-do-mato. Seus pés viram para trás e os dentes tornam-se afilados.
Neste instante surge a mula-sem-cabeça, outro bicho horrível, sem cabeça, toda peluda e com as patas também viradas para trás.
O lobisomem monta, virado para o rabo da mula, dando sinal para começar a cavalgada, à procura dos sete sacis.
– O que é saci? Perguntou Rodrigo.
– Não me diga que você nunca viu um saci?!
– Não! Responderam, de uma vez, os jovens visitantes.
– Saci é um neguinho capeta de uma perna só, com um capuz vermelho na cabeça e sempre com um pito de bambu aceso na boca. Não cresce mais do que sete palmos, e é a criatura mais endiabrada de que se tem notícia. Vocês nunca viram porque é difícil ver um saci à luz do dia. De dia eles dormem e, de noite, fazem as suas brincadeiras de mau gosto.
– Nossa, quantas coisas novas e interessantes estamos aprendendo com a nossa viagem! Comentou Mariazinha.
– Quando a mula-sem-cabeça e o lobisomem encontram os sete sacis, começa uma correria louca. Do que eles gostam mais é abrir os galinheiros, espantar as galinhas para roubar os ovos. Assim, vão assustando a vizinhança cada vez mais.
Diz a lenda que se o lobisomem montado na mula enxergar um menino ou menina, o coitado vira saci. Se for homem crescido, vira outro lobisomem. E, se for mulher, vira mula-sem-cabeça. Ninguém quer vê-los. Inclusive nós. Até a lua se esconde atrás das nuvens.
Mas já é quase meia noite, hora de apagar todas as tochas e ir dormir. Não vale a pena nem escutar o barulho que eles fazem!
Vamos dormir. Amanhã será outro dia de trabalho aqui no formigueiro.


PREPARATIVOS PARA VOLTAR


Começou a raiar o dia, com o formigueiro repleto de boatos.
Uma formiguinha jurou que a sua caminha balançou quando a mula passou por perto.
Outra disse que ouviu o tropel da mula e os gritos do lobisomem.
Uma das sentinelas, que ficou do lado de fora do portão, atestou no livro de ocorrências que viu um saci, roubando os ovinhos do ninho da coruja, lá no velho jacarandá.
A nossa turminha já estava se despedindo para voltar ao riacho, quando um assessor da rainha comunicou que a soberana queria vê-los, novamente.
E lá foram eles para a sala do trono.
Esperaram a rainha Alice por uns cinco minutos.
Assim que chegou, ela perguntou:
– Crianças! Como vocês vão voltar para o reino de minha prima Isabel?
– Navegando com a nossa barca, respondeu Zezinho.
A rainha deu um sorriso e declarou:
– Impossível, meu jovem!
– Mas como, majestade?! Exclamou, assustado, o garoto.
– Vocês vieram ao sabor da correnteza, mas para voltar terão de remar contra ela. E isso é impossível.
A garotada travessa tinha pensado em tudo. Menos nesse detalhe.
– E agora? Questionou Mariazinha, chorando.
– Para tudo se dá um jeito, garantiu a rainha, chamando vários figurões da corte.
Em poucos minutos estava formada a reunião.
Depois de muitas conversas, a rainha chamou Zezinho e explicou:
– Vamos mandar dois batalhões de soldados buscar a barca e deixá-la aqui, aos nossos cuidados. Este reino tem diversas galerias subterrâneas, que percorrem até o meio do caminho de volta. Vou pedir aos meus amigos gafanhotos que transportem vocês, acompanhados de vários soldados, até a casa do seu Bonifácio. Lá, temos um aliado, o Branquinho. Será uma surpresa para vocês. Mas Branquinho os levará para o reino da minha prima, rainha Isabel.


VIAGEM DEBAIXO DA TERRA


Depois do almoço, a turma foi apresentada aos gafanhotos, que seriam as suas montarias e os levariam, em segurança, pelos atalhos subterrâneos.
Começaram a descer uma enorme escadaria iluminada por velas, até as galerias.
– Daqui para frente, informou um garboso soldado, um exército de pirilampos iluminará o caminho. Chamou a formiga corneteira para a ordem do início da viagem.
Mariana logo fez amizade com o seu cavalo-gafanhoto.
Alexia estava um pouco assustada, mas foi acalmada pela sua montaria.
Bruno começou a batucar com força o seu cavalo-verde, porém, depois que este reclamou, seguiu um pouco mais comportado.
De repente, novo toque de corneta.
Todos pararam. Era hora de jantar e descansar, antes de continuar a viagem, no dia seguinte.
Assim que a corneteira tocou, na alvorada, eles se aprontaram e seguiram para a casa do seu Bonifácio.


BRANQUINHO


Com a formiga corneteira avisando para parar, os soldados apearam e avisaram que estavam próximos da escadaria que os levaria ao quintal do seu Bonifácio.
É melhor almoçar aqui embaixo, pois o quintal do Bonifácio não oferece muita segurança, devido aos gaviões que voam por lá.
Esta notícia tirou a paz dos nossos amiguinhos.
Um grupo de soldados formigas subiu para o contato com Branquinho.
Lá pelas duas horas, os nossos aventureiros foram apresentados ao Branquinho.
No começo, houve pânico e eles quiseram fugir.
Mas, depois, ao ver que não havia perigo, foram se acostumando com aquele enorme pássaro que os levaria de volta às suas casas.
Branquinho era um pombo-correio de propriedade do seu Bonifácio, mas muito amigo dos insetos. Sempre que partia em alguma missão, Branquinho levava um ou dois amiguinhos na cestinha de vime, amarrada em uma de suas perninhas.
Fizeram as contas de quantos seriam transportados naquela rara viagem aérea, e chegaram à conclusão de que, além dos travessos viajantes, mais dois soldados iriam com eles. Branquinho teria de levar dezessete bichinhos.
O pombo-correio sabia de cor e salteado onde ficava a casa do doutor João.
Depois das despedidas, espremeram-se no cesto de vime, que estava bem amarrado e tampado. Branquinho, então, começou a bater asas para voar rumo ao reino da rainha Isabel.


O VOO


O começo daquela incrível viagem não foi nada agradável.
Assim que o pombo começou a bater as asas e correr para levantar voo, a cestinha estremeceu, jogando uns contra os outros.
Mariazinha e Alexia bateram cabeça com cabeça e começaram a chorar.
Victor caiu no colo de Rodrigo, e foram tantas as risadas que as meninas pararam de chorar.
Mariana olhava através das frestas da cestinha e, admirada, descrevia a vista panorâmica:
– Olhem lá, o nosso riozinho, como ficou pequeno! Estou vendo uma cidade repleta de casas e com uma igreja no meio.
Os outros procuraram, então, outras frestas para aproveitar ainda mais a viagem.
De repetente, Branquinho começou a descer em grande velocidade e gritou:
– Cuidado! Cuidado! Tem dois gaviões voando para me abocanhar. Vamos nos esconder.
Num instante ele pousou numa enorme paineira, cheia de painas brancas, saindo das cascas.
Bem camuflado naquele mundo branco, o pombo, com voz cansada e assustada, falou:
– Graças a Deus, eles foram embora! Mas é melhor a gente ficar aqui, escondidos. Com mais uma hora de voo pousaremos no quintal do doutor João.
Refeitos do susto, encostados uns nos outros, rezaram suas orações e comeram um lanchinho.
– Podemos ir, disse Branquinho!
– Sim! Responderam todos.
Já estava escurecendo quando Bruno gritou:
– Olhem a casa do doutor João. Estou vendo Zefa Ritinha no terreiro, dando comida para as galinhas. Dá pra ver até a entrada do nosso reino.
Foi só alegria!
Devagar, Branquinho pousou entre a casa e o formigueiro.
Com o bico, abriu a tampa da cestinha para os viajantes descerem.
A despedida foi marcada por lágrimas e lamentos.
– Onde o senhor vai dormir? Perguntou Zezinho.
– Tem um pombal no telhado da casa do doutor João. Ele é amigo dos pombos- correios. Lá tem comida e água. Amanhã cedo eu volto para a casa do seu Bonifácio.
Os dois soldados ficaram para acompanhar a criançada até os seus pais.


DE VOLTA AO LAR


Quando chegaram perto do portão do formigueiro, Mariana e Alexia pediram aos vaga-lumes para não piscarem as suas lanternas. Elas queriam chegar de surpresa para abraçar papai, mamãe e o seu irmãozinho, Pedrinho, que estava começando a andar.
Sem fazer barulho, chegaram ao portão.
Uma das formigas, que estava de prontidão na entrada, ao vê-los deu um grito e desmaiou.
As outras guardiãs vieram correndo, e também levaram o maior susto.
A formiga-chefe do setor falou, boquiaberta:
– A rainha Isabel já tinha dado vocês como desaparecidos. Faz uma semana que vocês sumiram. Fiquem aqui que eu vou avisar todos do reino.
Só assim nossos pequenos aventureiros compreenderam o susto, a tristeza e a agonia que tinham causado aos familiares, amigos e, principalmente, à rainha.
Estavam pensando nisso quando um desfile grandioso, com a rainha Isabel à frente, aproximou-se dos desaparecidos.
Foram vivas e mais vivas! Abraços, beijos e muita choradeira.
De repente, chegaram os pais de Alexia e Mariana, trazendo Pedrinho pelas mãos.
Antes de as irmãzinhas correrem para abraçá-los, a rainha tomou Pedrinho nos braços e o colocou em seu colo, pois já estava sentada no trono para recepcionar os aventureiros.
A rainha ordenou que servissem um banquete.
No final, comunicou que, em breve, mandaria representantes de seu reino convidar a sua prima Alice para uma grande festa de confraternização em seus domínios.
Todos foram dormir em paz, mas ainda escutando as fantásticas histórias daquela fantástica viagem.


A FESTA


Três meses após a chegada surpreendente dos nossos amiguinhos aventureiros, uma comitiva de frente da rainha Alice veio ao reinado de sua prima, rainha Isabel.
O chefe da comitiva imperial, um formigão de casaca e cartola na cabeça, aproximou-se do trono de Isabel e disse, com voz solene:
– Rainha Isabel, dentro de dois dias a nossa soberana, rainha Alice, estará em seus domínios como sua convidada.
– Será bem-vinda! A chave da nossa cidade ficará em poder da rainha Alice durante a sua estada aqui no meu reino!
Terminados os protocolos, começaram os preparativos para a grande festa.
O dia da chegada da rainha Alice amanheceu claro, sem uma nuvem no céu.
Lá pelas dez horas, ouviu-se um rufar de asas.
Olharam para cima e viram Branquinho, descendo suavemente com uma cesta dourada amarrada no pescoço.
Branquinho pousou. De dentro da caixa, ajudada pela sua guarda de honra, desceu a rainha Alice, coroa na cabeça e vestido longo. Aproximou-se de sua prima para abraçá-la e beijá-la.
Em seguida ouviram os acordes de uma banda de música.
Era a Banda do Reino de Alice, que abria o desfile do restante dos súditos que acompanhavam a rainha nessa visita.
Foram dois dias de feriado e com muitas festas para todo aquele povaréu miúdo.
Lá na beira do rio estavam os nossos heróis, junto com os amigos do formigueiro da rainha Alice.
Zezinho, todo garboso, prometeu que brevemente estariam de volta ao reino da rainha Alice e de lá seguiriam na casca de noz para uma outra grande aventura, lá para as bandas do rio Tietê.
– Aquela conversa de dona Filomena não me sai da cabeça, comentou Zezinho, abraçando todos os seus amiguinhos
E assim acabou aquela festa, que nunca mais eles conseguiriam esquecer!
Mas a viagem para as margens do rio Tietê será outra história para vocês, criançada, a ser contada junto ao pé do fogão pelo tio Bob.


FIM


Roberto Stavale
Junho de 2009.-
Direitos Autorais Reservados
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