Usina de Letras
Usina de Letras
155 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62072 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10301)

Erótico (13562)

Frases (50478)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6163)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cartas-->3. RICARDO -- 22/07/2002 - 05:24 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Fui chamado muito cedo ao plano da espiritualidade. Não posso dizer que desconhecesse consciencialmente o fato da morte prematura, uma vez que concordara em que o sofrimento na carne devesse ser pungente, o que me fez aceitar organização corpórea debilitada, sem imunidades naturais para as doenças. Adquiri, aos sete anos, a triste poliomielite e fiquei completamente paralisado. Vivi três anos nesse inferno silencioso da mente e desencarnei.

Desse modo, ao contrário dos colegas anteriores, não tenho recriminações a fazer quanto aos meus pais, embora me tivesse transformado para eles em enorme peso. Amaram-me, profundamente, enquanto puderam, até que se fez a terrível revelação que os deixou amarguradíssimos.

Eram católicos praticantes. Ao ficar doente, insistiram junto aos santos de devoção e a quantos as comadres indicassem, solicitando cura para mim. Ao falecer, quiseram saber de meu paradeiro e buscaram diversos centros espíritas, para as informações que lhes dariam sossego. A cada porta em que batiam, mais uma decepção. Algumas vezes, o protetor da casa veio em busca de saber de minha saúde. Mas as palavras de terceiros não lhes satisfaziam a curiosidade. Queriam ouvir-me pessoalmente.

Por essa época, eu não estava disponível para esse tipo de confrontação, uma vez que nem sabia direito onde estava. Débitos anteriores punham-me arrepiado só em pensar em quem poderiam ser aquelas criaturas, sob cujo agasalho vivera encarnado. Até que a dor se me apresentasse em toda a extensão de seu poder regenerativo, vaguei pela erraticidade.

Nesse meio tempo, de posse de diversas obras da benemérita doutrina, meus pais começaram a estudar. Kardec lhes era muito complexo, mas foram em frente. Conforme me noticiou José, sob cuja proteção estou até agora, ao se depararem com a possibilidade de eu ter sido a pedra de toque de seu sofrimento, por causa de anteriores conflitos, desandaram emocionalmente.

Transformaram o anjinho a quem tinham dado vida no diabo de todos os tempos. Aí, incrementaram as buscas, necessitados de certezas. Depois de algum tempo, me vi em condições favoráveis de informar o que desejavam, diretamente ao médium, o qual poderia traduzir as minhas emoções e pensamentos.

A conversa foi mais ou menos assim:

Doutrinador encarnado: — Quem é o espírito imortal que se faz presente nesta sessão, por graça do Senhor?

Eu: — Ricardo.

Médium: — Ricardo Gonçalves Fernandes.

Doutrinador: Você reconhece as pessoas presentes?

Eu: — Sim.

Médium: Meu querido paizinho Ademar e a mamãezinha do coração, Arlete.

Doutrinador: Que seu pai deseja mais na vida?

Eu: — Não sei.

Médium: — Estou impedido de dizer, por não poder ainda ler o pensamento das pessoas. Não tenho suficiente desenvolvimento para isso.

Doutrinador: — Você está bem? Tem assistência espiritual?

Eu: — Estou recuperando-me, com a ajuda de José.

Médium: — Tenho estado no Paraíso. De lá desci em companhia de São José, para atender ao chamado de meus pais amantíssimos.

Doutrinador: — Responderia a alguma pergunta de seus pais?

Eu: — Sim.

Médium: — O que quiserem perguntar, menos a respeito de negócios e dinheiro.

Papai: — Filho querido, Ricardinho, como foi que nos conhecemos em outras vidas?

Eu: — Não sei.

Médium: — Estivemos em outra encarnação juntos, na França. Eu era um conde e você, paizinho, era o meu filhinho. Tal como eu, você morreu cedo e me deixou muito triste.

Papai: — Foi por isso que desejou causar-nos a mesma pena?

Eu: — ?

Médium: — Os resgates são obrigatórios. A lei de Deus se cumpre sempre. Os homens devem perdoar-se entre si, pois tudo está determinado na vida.

Papai: — Você morreu muito cedo. Como pode estar dando noções tão perfeitas a respeito dos desígnios do Pai?

Eu: — Por favor, preciso esclarecer.

Médium: — Meu protetor está chamando-me. Não posso ficar mais. Para saberem que sou eu mesmo, vou dizer que me chamavam de Cardinho, na intimidade. Um beijo ao papai e à mamãe. Com muito amor. Fiquem com as bênçãos de Deus, nos braços de Jesus!

Doutrinador: — Você ainda está aí, Ricardo?

Eu: — Estou.

Médium: Estou eu, José, protetor e amigo de Cardinho.

Papai: — Não acredito que Ricardo estivesse aqui. Nós nunca o chamamos de Cardinho.

Doutrinador: — Como o chamavam?

Mamãe: — Didinho ou Ri.

Doutrinador: — Poderia o amoroso protetor explicar?

Médium: — Ele disse Didinho e o médium entendeu Cardinho. É natural quando o espírito é de criança.

Não preciso dizer que meus pais não acreditaram em nada do que se fez naquela sessão. A bem da verdade, o laconismo de minhas respostas foi que levou o médium a “enfeitar” os dizeres, para não parecer falho. Se eu me tivesse estendido, com certeza iria transmitir corretamente as informações, tanto que foi capaz de apanhar muitos outros ditados, antes e depois.

Quis saber de José a razão desses disparates:

— Querido, se todas as pessoas dependessem de conversar com filhos mortos, para suspeitarem de que a doutrina de Kardec é verdadeira, quanto sofrimento adicional não precisaríamos acrescentar aos que sufocam a Humanidade? Não vamos desamparar os seus pais, que isso seria falta de piedade, mas vamos ver se não desanimam e insistem em compreender as leis do Universo.

Entretanto, os esforços têm sido vãos. Quando lêem cartinhas de espíritos precisas quanto às informações pessoais, ficam cada vez mais descrentes de que eu pudesse estar presente à sessão. Foi por isso que inventamos este estranho procedimento. Demos nomes fictícios aos meus pais, bem como meu sobrenome não é verdadeiro. Contudo, o diálogo é bastante próximo do que ocorreu na realidade.

Se eu tiver sorte, vou fazer com que entrem em contacto com o médium, antes mesmo de publicada a mensagem. Se não for possível, vou esforçar-me para que a obra dos companheiros inclua esta minha participação. Há de ficar mais fácil de convencê-los à leitura.

Enquanto isso, vou prosseguir, nas horas disponíveis, tentando influenciá-los a que freqüentem os centros espíritas, até que me veja de novo em freqüência compatível com a do médium, para falar-lhes com muito amor.

Pressinto que a pergunta infalível seja:

— Que “amor”, se foram inimigos antes e você não teve tempo de conhecer o teor desse sentimento na carne, nem relativamente a seus pais?

Meditei muito a respeito do ato de profunda caridade deles, ao me receberem no seio da família. Conheço as diretrizes evangélicas. Se alguém se corporificasse perante mim com essa supra-referida observação, iria perguntar-lhe se tem algum inimigo. Se a resposta for negativa, irei deixar-me ficar boquiaberto, por não me permitirem estar igualmente apaniguado pela sorte. Se for negativa, irei insistir na perquirição das causas desse fato.

Estarei certo ou errado?

Fiquem com Deus!

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui