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Cordel-->Furtei Mas Não Sou Ladrão de José Alves Sobrinho -- 26/01/2003 - 18:50 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Furtei Mas Não Sou Ladrão
José Alves Sobrinho*

Doutor, eu sou do sertão
Meu nome é Pedro Fonseca
Devido esta grande seca
Que assola no meu rincão
Deixei minha região
Na mais extrema pobreza:
Fome, doença e nueza
É o que trago comigo
Parece até um castigo
Da Santa Mãe Natureza.

Arrumei os meus picuaios
A mulher e os meninos
Tem deles tão pequeninos
De cobrir com um balaio
Estamos no fim de maio
Chover no sertão não quer
Combinei coma Éster
Que é a minha senhora
Sairmos de mundo a fora
Até onde Deus quiser.

Só de filhos tenho dez
Para o bem destes cristãos
Tenho mais calos nas mãos
De que na sola dos pés
Sofri três secas cruéis
Numa pobreza sem nome
Que a seca tudo consome
Como sabe vosmecê
Sai de lá para não vê
Meu povo passando fome.

Sou homem trabalhador
Nunca enjeitei o pesado
Pois fui nascido e criado
Na vida de agricultor
Não sou explorador
Malandro nem vagabundo
Sou lá do Riacho Fundo
Distrito de Santa Fé
Que o Senhor sabe onde é,
Não é no oco do mundo.

Faz uma semana só
Que aqui nós fomos chegados
E estamos aboletados
Na ponte de Bodocongó,
Sofendo de fazer dói
Desde o dia que cheguei
Ainda não descansei
Andando a riba e abaixo
Cassando emprego e não acho
Nem promessa inda encontrei.

Não sou homem traimoeiro
Sou homem do meu roçado
Corto de foice e machado
E trabalho de carreiro,
Me faço até de pedreiro
Conforme a ocasião
Desde que saí do sertão
Não tenho dormido direito
Pedindo a Deus que dê jeito
A minha situação.

Devido a meu aperreio,
A fome que tenho passado
Hoje me vi obrigado
Até pegar no alheio
Eu fiz este papel feio
Devido a fome, doutor!
Me acredite por favor
Faz vergonha eu lhe contar
Pode até me castigar
Mas vou contar ao Senhor.

Peguei hoje uma galinha
Até de um desconhecido
Depois de ter lhe pedido
Um punhado de farinha
Ele disse que não tinha
E me chamou de vagabundo
Com um ódio tão profundo
Querendo até me assoitar
Que não ia sustentar
Gente do ouco do mundo

Aí peguei a franguinha
Levei pro rancho, matei
Tirei as penas, tratei
Botei no fogo a galinha
Comemos té sem farinha
Com um caldo de feijão
Depois desta refeição
Saí a todo vapor
E vim contar ao Senhor
A minha situação.

Já fiz minha confissão
Já lhe contei meu pecado
Se devo ser castigado
Decrete a minha prisão
Mas não dê água nem pão
Que a fome assim me consome
Mas peço ao Senhor em nome
Da Santíssima Trindade
Não deixe por caridade
Meus filhos morrer de fome.

O Doutor Juiz ouviu
Toda a minha narração
Não deu uma opinião
Do lugar não se boliu
Não se mexeu nem tossiu
Depois de ter-me escutado
Disse assim: está perdoado
Quem furta porque tem fome
Leva pra família e come
Não deve ser castigado.

O senhor como Juiz
E maior deste lugar
Já acabou de julgar
Este crime que hoje fiz
Quem furta é um infeliz
Não vale nem o que come,
Porém como eu tinha fome
Justifiquei a razão:
Furtei mas não sou ladrão
Eu não mereço este nome.
José Alves Sobrinho: Poeta popular paraibano; pesquisador do cordel e da cultura popular. Fez uma parceria importante com o professor e pesquisador (falecido) Átila Almeida, pesquisando em todo Nordeste sobre o cordel. Ex- cantador de viola. Chegou a perder a voz depois recuperou. Funcionário aposentado da Universidade Federal da Paraíba. (Campina Grande-Pb). Lá organizou juntamente com o professor Átila um arquivo por volta de 5 mil folhetos de cordel. Deu inclusive cursos rápidos (de extensão) de literatura popular na Universidade, no antigo Nell. Autor de vários livros: Sabedoria de Caboclo (1975); Glossário da Poesia Popular (1982); Matulão de um Andarilho (1994); Dicionário Biobibliográfico de Repentistas e Poetas de Bancada: parceria com Átila Almeida (1977); Os Marcos e Vantagens: parceria com Átila Almeida (1981). Obras a sair: No Fundo do Matulão, Cantadores com quem cantei, Datação de Palavras, A Glosa, Memórias de um Cantador.



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