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Artigos-->Notaçãoes Sobre O Romantismo -- 24/09/2007 - 12:54 (Sereno Hopefaith) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Número do Registro de Direito Autoral:130951699068445300
Johann Gottlieb Fichte (1762-1814), Friedrich Wilhel Joseph von Schelling (1755-1854), Friedrich von Schlegel (1772-1829) Hegel, filósofos idealistas alemães, e o teólogo alemão Friedrich Ernst Daniel Schleiermacher (1768-1834), em busca de sua unidade com o Absoluto, preconizou um retorno aos temas medievais, a inspiração nas religiões orientais, a exaltação dos instintos, dos sentimentos, da imaginação e da fantasia, e a valorização dos transportes místicos.



Logo surgiram escolas estéticas paralelamente ao romantismo, enquanto reação ao classicismo e ao neoclassicismo. Eram caracterizadas pelo subjetivismo, pela liberdade discursiva, de composição de cores, como meios de expressão de sentimentos e estados d´alma.



No princípio do século XIX os escritores criam composições literárias com estilo diverso dos autores clássicos, caracterizadas pelo individualismo, pelo predomínio da sensibilidade individual, a partir da influência da imaginação sobre os textos até então marcados pelo racionalismo renascentista.



A ascensão da burguesia européia culmina na Revolução Francesa de 1789. A livre iniciativa, o liberalismo, a literatura sem identidade com os artistas cortesãos. A Galáxia de Gutemberg permite aos escritores a esperança de viver da criação literária. Seus livros, agora transformados em mercadorias de larga aceitação popular, permitem a autonomia de quem não mais precisa submeter-se à sujeição da vontade individual e dos interesses pessoais, políticos e religiosos dos mecenas.



O romantismo democratiza a arte. Torna-se a principal expressão artística da então ascendente sociedade burguesa. A suposta ideologia burguesa afirmava que, juridicamente, todos são iguais perante a lei. Na realidade todos são "livres", entre aspas, apenas para comprar e vender mercadorias. A classe burguesa, os empresários e banqueiros, os jogadores do jogo do bicho da Bolsa de valores, das flutuações do mercado financeiro, ditam as regras que determinam as relações sociais. Os burgueses são livres para comprar pelo mínimo a força de trabalho da pequena-burguesia e do proletariado.



A literatura romântica acreditava num outro tipo de liberdade, não apenas nominal e aparente: A liberdade da imaginação, da criação original, a liberdade de escrever emocionalmente sobre as emoções, a diversidade dos conflitos, as identidades em luta contra a horizontalização do comportamento das pessoas, os escapismos fáceis dos discursos acadêmicos dos docentes e discentes pequeno burgueses, a limitação cultural, a fuga da realidade histórico-social conformista. A literatura romântica na segunda metade do século XIX mostrava a inquietação e o inconformismo em relação às influências européias.



A primeira geração romântica brasileira cantava a nostalgia da pátria em versos que exaltavam a amizade indianista, ainda que num estilo influenciado pelas canções de amigo, pelo lirismo medieval, a exemplo de Gonçalves Dias em Leito de Folhas Verdes:

"Por que tardas Jatir, que tanto a custo

À voz de meu amor moves teus passos?

Da noite a viração movendo as folhas,

Já nos cimos dos bosques rumoreja..."

Ou através da versificação do nacionalismo panteísta, que cantava a idealização da pátria, em Canção do Exílio:

"Minha terra tem palmeiras

Onde canta o sabiá;

As aves que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida

Nossa vida mais amores..."

A romântica idealização da pátria através do canto à natureza, a exaltação da fauna, da flora. Se hoje vivesse, talvez seus versos fossem um pouco diversos:

Minha terra tem garimpeiros

Que a grande cobiça abunda

Por diamantes a minerar

Os índios imitando a branca gente

Estão dispostos a matar

Para defender as preciosas pedras

Recebem-nos à flecha: oi-oi, ui-ui, iá-yá

O tacape na pele de Caim afunda

E os brancos, sedentos de mufunfa

Ouvem mais o zumbido das frechadas

Que o canto da sabiá.



A segunda geração romântica brasileira, no terceiro quartel do século XIX, mais simbolizou o "estado de espírito" (spleen), o tédio, a morbidez, a depressão, o estresse, que traduzia o ápice da inadaptação do poeta romântico ao mundo da ideologia burguesa.



Nessa época o romantismo era caracterizado pelo individualismo, egocentrismo, subjetivismo, obsessão pela morte, dúvida, desilusão, cinismo, negativismo boêmio, satanismo, tédio, masoquismo, melancolia e morbidez, palavras que traduzem, principalmente, a segunda geração de nossa poesia romântica, denominada byroniana, influenciada pelo inglês Lord Byron, caracterizada pelo "mal do século", e pelo romance Werther do mais representativo poeta alemão da era romântica: Göethe. O herói romântico, o jovem Werther, apaixonado pela esposa do amigo, hesita em presenteá-lo com os devidos cornos. Ao invés de conquistá-la, com sua hesitação a perde. Suicida-se em decorrência da perda amorosa. O romance é proibido devido à quantidade de suicídios que se sucedem sem cessar por toda a Europa, em decorrência da influência da personagem romântica de Göethe: o jovem Werther.



São exemplos a poesia de Álvares de Azevedo Se eu morresse amanhã:

"Se eu morresse amanhã, viria, ao menos

Fechar meus olhos minha triste irmã

Minha mãe de alegria choraria

Se eu morresse amanhã."

Casimiro de Abreu poetizou em Meus oito anos:

"Oh! Que saudades que tenho

Da aurora de minha vida

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais."



Novamente Álvares de Azevedo, em Lira dos vinte anos:

"Possas tu, isolado na terra,

Sem arrimo e sem pátria vagar

Rejeitado pela morte na guerra

Rejeitado pelos homens na paz,

Ser das gentes o espectro execrado,

Não encontre amor nas mulheres

E amigos, se amigos tiveres

Sejam de alma inconstante e falaz."



O espírito irreverente de um compositor carioca, sartirizou, num sambinha da década de cinqüenta, a poesia de Álvares de Azevedo, que virou samba de carnaval:

"Se eu morrer amanhã

Não levo saudades

Eu fiz o que quis

Na minha mocidade

Amei e fui amado

Beijei a quem me quis

Se eu morrer amanhã, de manhã

Morrerei feliz, bem feliz."



A terceira geração romântica caracterizou-se pela paixão pela revolução. A primeira geração da poesia romântica brasileira implantou as idéias nacionalistas, a segunda teve um caráter cosmopolita, identificou-se com o ultra-romantismo europeu (a inadaptação entre poesia e realidade), a terceira, na década de 1860, buscou transformar a realidade. Seu mais ilustre representante, Castro Alves, poetizou na forma épica e "condoreira", a exemplo da primeira estrofe da poesia O Vidente:



"Enfim a terra é livre! Enfim, lá do Calvário

A águia da liberdade, no imenso itinerário,

Voa do Calpe brusco às cordilheiras grandes

Das cristas do Himalaia aos píncaros dos Andes!"

Outra vez Álvares de Azevedo, desta vez representando a terceira geração romântica:

"Junto a meu leito com as mãos unidas

Os olhos fitos no céu, cabelos soltos,

Pálida sombra de mulher formosa

Entre nuvens azis pranteia orando

É um retrato, talvez. Naqueles seios

Porventura sonhei doiradas noites.

Talvez sonhando desatei sorrindo

Alguma vez nos ombros perfumados

Esses cabelos negros e em delíquio

Nos lábios dela suspirei tremendo.

Foi-se minha visão. E resta agora

Aquela vaga sombra na parede

Fantasma de carvão e pó celúreo.

Tão vaga, tão extinta e fumarenta

Como de um sonho o recordar incerto."



Nota-se a diferença entre o "amor cortês" das cantigas medievais e o amor vivido mas interrompido pela sociedade. O poeta vai adequar, em seus versos, o clima trovadoresco à emoção extravasada do romantismo. Esta emoção serve para estimular a dramaticidade, o lirismo, o sentimentalismo do poema. É a poesia confissão dos sentimentos mais íntimos, dirigidos a alguém especial: a mulher amada do poeta, agora, depois de séculos, menos inacessível que a "Senhora" medieval. Ambas continuam, como se pode deduzir, distantes da realização carnal do poeta. É de se notar o predomínio do sonho sobre a realidade. A descrição da mulher como imagem angelical, intocável, sagrada.



A "mulher-anjo" da concepção medieval: mãos unidas, olhos fixam o céu: entre nuvens azuis pranteia em oração. A visão se esvai e se transforma em fantasma de carvão e pó cerúleo: vaga, extinta e dispersa num sonho de memória incerta.

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