Se você não acredita
em história doutro mundo,
eis aqui a que agita.
Vai deixar você cafundo.
Noite feia, temporal,
o rapaz é Manoel,
caminha por matagal,
medroso, olha pro céu.
Em estrada vicinal,
sem luz, pede a carona.
Enxergando muito mal,
só protege a sanfona.
Chuva fica furiosa,
ele não distingue bem.
A perua horrorosa
pára logo, sem ninguém.
Ele atrás se assenta
e vê que não tem chofer.
Fecha vidro porque venta,
seja o que Deus quiser.
Silenciosa, arranca
pela estrada, devagar.
A perua não estanca
e começa a embalar.
Com a vista meio turva,
Manoel se preocupa:
logo à frente vê a curva,
moto e gente na garupa.
Porém, mão misteriosa
pega volante, por fora
da janela, perigosa,
e corrige sem demora.
Apavorado com isso,
ele vê a tal mão branca
fazendo o tal feitiço,
sem mostrar sua carranca.
Em cada curva, a mão,
corrigindo o trajeto,
apavora Manuelzão,
que resolve ser direto.
Abre a porta do carro
e, num salto acrobático,
pula no chão só de barro
e corre como lunático.
Cansado e barreado,
chega logo num balcão
de café, que tinha ao lado,
bem no meio do trevão.
Bebe, logo, duas pingas
e relata o seu fato,
meio ainda choramingas,
a outro estupefato.
Mas, um pouquinho depois,
encharcados e suados,
entraram no bar mais dois,
e ficaram assentados.
E, ao verem o Manoel,
ficaram se perguntando,
se não era o pastel
a quem estavam xingando.
Pois, ele tinha entrado
na perua estragada,
que haviam empurrado,
até aquela parada.
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