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Artigos-->COERÊNCIA EM MAÇONARIA -- 19/08/2007 - 19:30 (Alexandre José de Barros Leal Saraiva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
COERÊNCIA EM MAÇONARIA



“Não te deixes levar por todo vento, nem andes por qualquer atalho, como o faz o pecador de língua ambígua.

Sê firme em tuas convicções e seja uma só a tua palavra. Sê pronto em escutar, mas lento em dar tua resposta.

No falar encontra-se a glória e a desonra...” (Ecl. 5, 9-13).







Meus queridos Irmãos,



Escrevo-lhes, hoje, com a contrição e humildade necessárias a quem pede e espera ser atendido, pois trata-se de justa postulação, umbilicalmente ligada aos sãos princípios da moral e da razão e à necessária e discreta vigilância que devemos exercer em nossa universal Instituição.



Parto de uma premissa inicial e bastante simples: somos Maçons por livre desejo, manifestado solenemente no ato de nossa Iniciação e perpetuado nos dias e noites de nossas vidas nesta pequena e “in-finita” dimensão terrena. Assim, cumpre-nos, ao menos, mantermos coerência entre o que pregamos e nossa prática cotidiana.



Tenho, queridos Irmãos, me preocupado muito com a nossa falta de adesão completa e gratuita ao espírito de fraternidade e me pergunto como homens sem grilhões, comprometidos com a busca racional da verdade e da justiça, não conseguem manterem-se fiéis ao que há de mais simples e singelo neste reino de erros e acertos que se chama vida, isto é, não conseguem ser coerentes.



Vejam, não pretendo, por um átimo que seja, desprezar o que há de mais espetacular na construção humana, o eterno conflito entre a escuridão e a luz, entre a verdade e a mentira, entre o bem e o mal, entre o certo e o errado. Leonardo Boff, em seu bem lançado “A Oração de São Francisco. Uma mensagem de paz para o mundo atual”1, diz que a dramaticidade da vida humana pessoal e coletiva reside na coexistência de amor e de ódio e, remetendo a Santo Agostinho, lembra que a história universal sujeita-se a duas forças poderosas: o amor que leva até à morte do eu por causa do outro e o ódio que leva até à morte do outro por causa do eu.



De minha parte, espero somente adquirir o hábito de examinar amiúde se minhas ações guardam pertinência com aquilo que prego, especialmente dês que ostento a qualidade vivificadora de Partícula da Humanidade, ou seja, de homem-Maçon. E nisto, gostaria de ter a companhia e a ajuda de meus amados Irmãos.



Infelizmente, nas cercanias de nossa vivência Maçônica, o exemplo profano não é dos melhores. Parece que, por indução, estamos nos anestesiando e, em conseqüência, corremos o sério risco de negligenciarmos no cumprimento de nossos deveres, mimetizados por insanos e cruéis modelos de comportamento que nos chegam das turbas órfãs, abandonadas à própria sorte.



Assim, eu me questiono: será que apoiamos, verdadeiramente, nossos Veneráveis Mestres na gestão e condução sábia das Augustas Oficinas? É comum nos prepararmos para as instruções de Aprendizes e Companheiros, estudando de ante-véspera os Rituais? Será hábito nosso priorizar os trabalhos Maçônicos, evitando as desestimulantes faltas às Sessões? O que temos feito, de concreto, em benefício de nossa Loja? Somos tolerantes e nos esforçamos para conviver em plenitude com nossos Irmãos? Na sociedade civil, somos motivos de orgulho à Maçonaria?



A par disto, é comum pedirmos a palavra nas Colunas ou no Oriente para adjetivar algum Irmão ou autoproclamar virtudes que sabidamente ostentamos. Todavia, talvez o silêncio reparador fosse mais frutífero e eficaz, do que mera incontinência verbal!



Anselm Grün, em “As Exigências do Silêncio”2, adverte que para os Monges Beneditinos o silêncio “é um recurso na luta contra as atitudes falhas. Não é uma renúncia passiva às palavras, mas sim um ataque ativo contra as emoções e agressões que sentimos em nós”.



Por outro lado, quanto mais falamos, maiores se tornam nossas responsabilidades perante nossos Irmãos - atentos ouvintes e espectadores de nossas ações pretéritas, presentes e futuras. Possivelmente, se substituíssemos o excesso de promessas ou de conselhos e trabalhássemos com maior ardor, humildade, proficiência e sinceridade, integraríamos a verdadeira profissão de fé do Maçon (vide as palavras do 1º Vig. . quando justifica a reunião dos Irmãos em L. .).



Vinícius de Moraes, diz: “No espaço claro e longo/o silêncio é como uma penetração de olhares calmos (...)/o silêncio pesado que desce/curva todas as coisas religiosamente/e o murmúrio que sobe é como uma oração da noite...”3.



Deste modo, tenho como conclusão exordial que uma das melhores maneiras de mantermos uma postura coerente com os ensinamentos Maçons é ter cautela no falar. Sem sombra de dúvidas, em muitas oportunidades o silêncio é a melhor companhia e singular conselheiro. O próprio Deus Encarnado, nos momentos de maior aflição, recolheu-se ao recôndito interior. Manteve-se quieto e manso. Até mesmo nos instantes que antecederam imediatamente sua dolorosa agonia e “morte”.



Um segundo passo, de igual importância, é que sejamos os maiores “fiscais” de nossas verbalizações. Quando, por exemplo, convidamos os Irmãos a ajudarem o Venerável Mestre em determinada solução de problema, imediatamente chamamos para nós a obrigação de sermos o primeiro a agir efetivamente no sentido indicado. Lembremo-nos todos: a palavra convence; o exemplo arrasta.



Finalmente, penso que um terceiro esforço essencial é a prática da auto-avaliação. Nunca é demasiado parar e olhar, com humildade, se estamos nos pautando ao sabor das espectativas despertadas.



Irmãos, sejamos vigilantes! Guardamos a felicidade e a bem-aventurança de integrarmos uma Instituição formada por Obreiros da Paz, edificada e destinada ao progresso da família humana. Levantemo-nos de nossa conveniente letargia e assumamos a postura de líderes emancipados, livres e conscientes.



Para finalizar esta carta dirigida, inicialmente, à minha própria consciência, para somente depois peregrinar aos corações de meus Queridos Irmãos, sirvo-me de Fernando Pessoa, com seu poema INICIAÇÃO,



Não dormes sob os ciprestes,

Pois não há sono no mundo.

O corpo é a sombra das vestes

Que encobrem teu ser profundo.



Vem a noite, que é a morte,

E a sombra acabou sem ser.

Vais na noite só recorte,

Igual a ti sem querer.



Mas na Estalagem do Assombro

Tiram-te os Anjos a capa:

Segues sem capa no ombro,

Com o pouco que te tapa.



Então Arcanjos da Estrada

Despem-te e deixam-te nu.

Não tens vestes, não tens nada:

Tens só teu corpo, que és tu.



Por fim, na funda caverna,

Os Deuses despem-te mais.

Teu corpo cessa, alma externa,

Mas vês que são teus iguais.



A sombra das tuas vestes

Ficou entre nós na Sorte.

Não estás morto, entre ciprestes.

Neófito, não há morte.



T. .F. .A. .



Alexandre J.B.L. Saraiva – M. . M. .

Obreiros do Século XX, nº 44.
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