Para a Abelha, Este ABC
Paulo Nunes Batista
A
À abelha, o pequeno inseto
Que da flor fabrica o mel –
Esse líquido dourado
Que da vida adoça o fel -,
Como uma prova de apreço
E gratidão, ofereço
Este abc de cordel.
B
Buscando, de flor em flor,
A base de que precisa
Para o fabrico da cera
E do mel, a abelha visa
Construir o seu cortiço...
E nem sabe que, com isso,
Um grande bem realiza.
C
Colméia ou cortiço é a casa
Onde fazem moradia
As abelhas – seu enxame-
De onde partem todo dia
As obreiras – como orquestra
Que obedecem à abelha mestra,
Regente da sinfonia...
D
Dentro das leis “sociais”
Vive a abelha, na verdade,
Pois o cortiço ou colméia
É uma bela sociedade
Onde a JUSTIÇA se aninha:
Todas, da abelha rainha
Seguem à risca a autoridade.
E
Em cada enxame ou colônia
De abelhas, vivem milhares.
Formam três categorias
Distintas e singulares:
A rainha, as operárias
E os zangões – tão solidárias
Como asas cruzando os ares.
F
Faz, cada categoria,
Suas precisas funções.
A rainha é uma só;
Quatrocentos – os zangões;
Sessenta mil operárias.
E – todas – são necessárias
Cumprindo suas missões.
G
Geléia Real se chama
Esse produto ideal
Que abelhas jovens secretam,
Sendo, de forma integral,
O alimento da rainha,
Que vai comandar, sozinha,
A organização geral.
H
Há uma rainha somente-
Atriz que encanta a platéia-
Mãe de todas as abelhas,
Vivendo só da geléia:
Traz unido o enxame inteiro
Pelo feromônio – o cheiro
Com que domina a colméia.
I
Irradiando esse cheiro
Governa seus comandados.
Põe três mil ovos por dia
Que podem ser fecundados
Ou não – e, nas proporções
Dos últimos, os zangões
São, enfim, originados.
J
Jaramataia, tujuba,
Jandaíra, jataí,
Abelha africana, oropa,
Mandaçaia, manduri,
A tuiuva, a guapuru
Mais a amarela e a urucu-
Abelhas que eu cito aqui.
L
Larva é esse estágio entre o ovo
E a abelha, aquele momento
Em que o inseto ainda se encontra
Em seu desenvolvimento.
As luvas ao apicultor
Têm seu preciso valor
-são do trabalho instrumento.
M
MEL – alimento mais nobre,
Grande fonte de energia.
Antes que o homem existisse
O mel na Terra existia.
O dourado mel de abelhas
Mostra em líquidas centelhas
O caminho da Harmonia.
N
Néctar – o líquido doce
Secretado pelas flores-
É do mel matéria prima,
Fonte de veros valores.
O mel quanto mais escuro
Mais força tem, pelo apuro
Dos sais, em vários sabores.
O
Operária – abelha fêmea
Estéril, gerada de ovo
Fecundado e que trabalha
Para servir o seu “povo”
Como ama ou cerieira,
Nutriz, guardiã, campeira,
Faxineira... irmã que eu louvo!
P
Pólen – célula da flor,
Sexual, masculina-
De que a abelha faz o pão,
Riquíssimo em proteína.
O própolis, vegetal,
É remédio natural
Da abelha, feito resina.
Q
Quadro ou caixilho é uma forma
Retangular, de madeira,
Aramada, e serve para
Nela colocar-se a cera
De onde a abelha faz os favos
Para os ovos, e mais flavos
Lá depositam as campeiras.
R
Rainha ou mestra é uma fêmea
Que comanda todo o enxame.
Toda abelha lhe obedece
Sem preguiça e sem vexame.
Chega a viver 5 anos.
O seu exemplo aos humanos
Merece melhor exame.
S
Serve a abelha como agente
Para a polinização
Leva do pólen da antera,
Até o estigma, o grão.
A abelha, no vôo da hora
Garante a vida da flora
Pela multiplicação.
T
Trabalho – é sua existência
Socialmente organizada.
A abelha cumpre a tarefa
Que lhe fora destinada.
Desde a operária ao zangão
Cada qual faz a função
De forma socializada.
U
União – lição que a abelha
Dá pra toda a humanidade.
Não há inveja nem crime
Na sua comunidade:
Mandaguari, tataíra,
Abelha-limão, Cupira,
Trabalham em fraternidade.
V
Vitamina é componente
Do mel, do pólen também.
Da colméia para as flores
Nesse eterno vai-e-vem,
Dia e noite trabalhando
A abelha vai fabricando
O mel que faz tanto bem.
X
Xis da abelha é produzir
Com seu trabalho fiel
Esse néctar dos deuses-
A maravilha do mel.
Homem nenhum lhe ensinou,
Mas Deus lhe determinou-
E ela cumpre o seu papel.
Z
Zumbido que sai das asas
No vôo que longe alcança
Trazendo o melhor das flores:
A abelha nunca se cansa.
E quando volta ao cortiço,
Cumprindo bem seu serviço,
De tão feliz ela dança.
Anápolis, 11/11/2000.
*Paulo Nunes Batista 77 anos - é poeta popular e erudito e escritor; autor de vários livros (em poesia e prosa) e inúmeros cordéis, folhas volantes e ABCs. Considerado o melhor Abecedista do Brasil. Paraibano, descendente de uma família paraibana, de grandes poetas e repentistas, radicado em Anápolis-Go há quarenta anos. Já morou em diversas capitais brasileiras, batalhando a vida. Antigo militante do PCB de 1946 a 1952, chegou a ser preso. Hoje, espírita. Formado em Direito. Pertence a Academia Goiana de Letras, em cuja posse, fez o discurso rimado. Tem publicações espalhadas pela imprensa do país e em Portugal, onde já representou o Brasil no cordel.
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