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cronicas-->Suíça, Brasil, chocolate e algo mais -- 08/03/2002 - 01:09 (Marcelo Rodrigues de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

*Suíça, Brasil, chocolate e algo mais*.

Marcelo Rodrigues de Lima.



Certa vez, conheci uma suíça da região onde falam francês, que a primeira vista parecia ser bem má humorada. Tinha por volta
de 20 anos, cabelo curto e um pequeno bigodinho. Estudamos juntos e creio que nenhum professor gostava dela, pelo menos do que ela fazia em classe. Quando algum deles passava lição ela logo fazia uma cara feia, de desprezo e
para mim que olhava a cena, parecia deboche ou pelo exercício ser muito fácil, ou da cara do professor, por ser tão previsível.

De primeira achei que ela estava realmente menosprezando, não só os exercícios , mas também os outros alunos, já que
demorávamos o dobro do tempo que ela para faze-los. Cheguei até a pensar que ela fazia parte daquele grupo que se considera raça superior,embora ela fosse da suíça. Mas e daí? Ela é branca e estava no meio de um bando de
latino americanos e asiáticos.

Um dia sentei ao seu lado e como eram dados muitos exercícios em dupla, trabalhamos juntos. A suíça e o latino americano. Acabamos o que tínhamos de fazer e, como sobrou algum tempo, ficamos conversando. Disse-me um pouco sobre sua vida, quase não perguntou da minha. E eu, como tinha que tirar aquela pequena dúvida sobre questão racial, me arrisquei e perguntei o por que daquela cara feia todo o tempo. Sem pensar muito, disse que não tinha muita paciência para atividades chatas e para aqueles professores. Achava que poderia ser diferente. Só isso?- eu pensei. Na verdade eu estava esperando que ela dissesse que se achava mais inteligente que os outros e não via à hora de mandar todos para aquele lugar. Assim poderia dizer para mim mesmo que estava certo.

Mas então me veio outra resposta. Mas não foi ela quem me deu. Fui eu mesmo. Eu também achava aqueles exercícios chatos. Também achava que os professores nos tratavam como idiotas analfabetos. Só que com uma pequena diferença. Ela demonstrava o que pensava, diferente de mim e dos outros da sala.

Depois disso comecei a prestar mais atenção nas coisas que aconteciam e nas caras que ela fazia e a minha pequena teoria de exclusão racial foi por terra.

Percebi que o latino americano também tinha as mesmas dificuldades e idéias que a suíça, o que não os fazia diferentes em quase nada. E a grande diferença na verdade era um traço de personalidade e não racial, como eu queria fazer supor.

Ela ainda me surpreenderia mais, discutindo suas idéias que em muito se pareciam com as minhas e seus sentimentos sobre muitas coisas, que mais uma vez se pareciam com os meus. Mas acho
que só eu me surpreendi. Mas quanto a isso, tudo bem, já que era eu o interessado em conhece-la.

É claro que não nos tornamos amigos. Dá mesma maneira que conversava comigo, falava com qualquer outro na sala. Mas
acredito que apenas eu saciei minha curiosidade, se é que alguém mais tinha.

Na última semana de aula, ela ainda continuava com a mesma cara de desapontamento com a escola e eu também de saco cheio, só que sorrindo, quer dizer, sendo político.

E nesta mesma semana eu acabaria descobrindo o que eles tinham de superior sobre os latinos e asiáticos: o chocolate, que ela ofereceu a mim e a outro brasileiro. Ainda bem que eu não estava
procurando mais nada, senão ia ficar muito decepcionado com isso: "Mas só o
chocolate?"

No final de tudo, quando estava assinando a bandeira do Canadá que ela comprou para que todos fizessem o mesmo, cheguei a uma pequena pergunta sobre o preconceito - não gosto mais de tirar
conclusões , optei pelas perguntas, talvez também precipitadas - "Sei que o preconceito existe, mas ele começa a crescer na cabeça de quem? Na de quem se acha vítima ou na de quem teoricamente é o preconceituoso"? Neste caso foi na minha.

Pobre latino-americano. Que falta te faz um livro.








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