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Contos-->O Menino e o Delegado -- 29/05/2002 - 23:50 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O MENINO E O DELEGADO

Francisco Miguel de Moura*



O destino dele era olhar carro todo dia, por qualquer centavo que quisessem dar, pra ganhar o almoço. Lavar que era bom, uma nota, suficiente às vezes até pra tomar um sorvete, ninguém queria mais. Depois desse plano real as pessoas ficaram mais ranzinzas. Choram até por uma moedinha de nada, daquelas que nem «o menino» faz conta. Por que será?
Ia passando pela calçada, com seus velhos apetrechos, sem nada pensar. Para enfrentar a batalha dura de cada dia, órfão de pai e mãe, sem parentes nem aderentes, não tinha onde se encostar, não devia pensar nada. O negócio era garantir sua vaga no estacionamento da praça. Menino de sua condição não tem muito o que fazer. Sonhar com a loteria, talvez. Sonhar...
- «Oh! que mulher boa, gente! Se eu pudessse levar ela pra casa!... Mas, que casa, se não tenho casa? - Lembra e bate com a mão na testinha quente do sol. Acorda.
Pára de frente com uma casa bonita, pede água, estira seu caneco velho de lata, espera que caia todo o conteúdo da garrafa que lhe trouxe a empregada. Bebe, bebe mais, e sobra quase metade. Joga para a rua, pelo alto, sem observar se passava alguém. Passava. Era um homem garboso, elegante, no seu carrinho «fiat» branco, último modelo, ainda sem placa. E o «menino» também passava justo no momento em que o cavalheiro «grudava» o olhar numa bela figura de mulher, «igual àquela de nestante!» Ia pela calçada fronteira. Foi como um relâmpago, na hora em que os três se emparelharam: ele no leito da rua, a dama do lado de lá, o «menino» aqui. A água molhou-lhe um pouco da cara, só não foi pior porque estava de rosto voltado para lá, para a mulher e suas pernas roliças, num vestido que fazia dançar-lhe o corpo naquele movimento que todo homem gosta. A água salpicou mais foi no carro.
Indignado, com cara de réu, o homem falou:
- Moleque! Não estavas vendo que eu ia passando?
O «menino»:
- Não senhor, minha água ia atravessando a rua e você veio e invadiu. Rua é livre, eu cheguei primeiro. Seu carro novo não tem mais freio, é?
- Cale a boca, trombadinha de uma figa. Não sei onde estou que não te dou uns tapas, não te arranco as orelhas.
Vai-não-vai, vem-não-vem, o homem termina descendo e apertando o menino pelo gogó. Mas a turma do «deixa-dissso» acode a criança e leva o malvado para a Polícia. O menino também vai.
Chegando lá, o Delegado muito vermelho e suado, falando alto e grosso, antes do interrogatório, conta que vinha de um cursinho, acabara de assistir a uma aula de química, «que matéria chata!» Pretendia entrar para a Universidade, cursar Direito, se não lhe tomariam o lugar, etc. etc.
Finalmente, limpando o suor da cara com um lenço, vira-se para os dois que acompanhavam «o menino» e pergunta:
- De que se trata, então? Que faz esta criança aqui?
- Ele invadiu minha água - falou o menino, em primeiro lugar, pois os senhores o haviam instruído: «Quem fala primeiro, tem sempre razão, é assim.»
- Ele jogou água na minha cara - retrucou o homem do «fiat», imediatamente.
O Delegado pretendia mesmo entrar para a Universidade. Ouvindo a palavra água, lembrou da aula e começou a matutar sobre o assunto, meio confuso. Pela primeira vez a ciência entraria para a história da sua Delegacia. Sem perguntar mais nada, autuou o homem por «invasão da água do menino», que, certamente já estava na rua quando o carro entendeu de passar, e a via era preferencial - porque água de beber, pura, fria, etc. etc.
Não houve outro meio, o cavalheiro teve que indenizar «a água do menino». E ainda foi detido por invasão da preferencial.
No outro dia, que era sua folga, em casa, pensou como tinha sido violento e meio maluco com o homem, um cavalheiro bem vestido (paletó e gravata) e proprietário de carro zero quilômetro. Deveria ser alguém importante. Tudo por causa daquele menino sacana.
- Mas inteligente pra burro!
_________________________________
*Francisco Miguel de Moura é escritor, mora em Teresina (Av. Juiz João Almeida, 1750 – CEP:64049-650). Fones: (86) 233-5218 e 233-8329. e-mail: franciscomiguelmoura@ig.com.br
fcomiguelmoura@aol.com
www.pan1.hapg.com.br

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