E A NOSSA VIDA, MELHOROU?
Filemon F. Martins
No meu artigo FUTEBOL E POLÍTICA, publicado no jornal do Judiciário, em 17 de novembro de 2005, escrevi, referindo-me às reformas aprovadas no governo Lula, através da Emenda Constitucional nº 41, à custa do mensalão: se não houver anulação desses atos, teremos, então, a triste certeza de que o crime compensa e aí será um caos, porque, por enquanto, ainda contamos com um povo bom e honesto, não obstante o exemplo que vem dos governantes brasileiros.
E continuava: Pode ser cedo ainda, mas a sociedade brasileira espera que todas as CPIs tenham a dignidade de apontar, sem acordo ou conchavos, sem medo e sem piedade, todos os envolvidos de quaisquer partidos políticos para que sejam punidos e banidos de uma vez por todas, da administração pública e fiquem longe, bem longe da gestão do dinheiro público.
De lá para cá, os escândalos se multiplicaram. É verdade que a Polícia Federal tem efetuado prisões em vários Estados brasileiros. As CPIs viraram moda. CPI DOS CORREIOS, CPI DOS BINGOS, CPI DO MENSALÃO, CPI DOS SANGUESSUGAS. As operações da Polícia Federal ganharam nomes exóticos: operação caiman, malha fina, tsunami, xeque-mate, navalha, sanguessuga, anaconda,etc.
Contudo, em que pese o bom trabalho feito pela Polícia Federal (quando pode investigar, é claro), é de se perguntar: quantos ainda estão presos? Quantos foram efetivamente condenados? Provavelmente, nenhum dos envolvidos. E os valores subtraídos indevidamente foram devolvidos? Dessa forma, o cidadão comum, a sociedade brasileira fica com a sensação de que o crime compensa. Ninguém é responsabilizado, ninguém é obrigado a devolver os valores que foram surrupiados dos cofres públicos.
Depois de passarmos pela ditadura militar, depois de recuperarmos a democracia, o povo readquiriu o direito de votar e escolher seus governantes. Alimentamos novos sonhos, novas esperanças, imaginamos um Brasil digno, decente, menos desigual e mais justo para com seus filhos, mas a falta de caráter, a podridão, a ganância, a desonestidade de nossos políticos cresceram assustadoramente, amparados pela impunidade que toma conta do País.
A corrupção, ou melhor, os corruptos desviam verbas da educação, saúde, habitação, segurança, saneamento básico, transportes, destroem florestas, sugando o suor dos trabalhadores e dos aposentados do Brasil inteiro, para suas contas bancárias no Brasil e no exterior. Pior é que, aos poucos, novos escândalos vão surgindo e os velhos vão caindo no esquecimento.
Nestes últimos dias, assistindo pela televisão as cenas da tragédia com o avião da TAM, em São Paulo, que ceifou a vida de quase 200 pessoas, pude observar o empenho, a coragem, a dignidade e a abnegação do Corpo de Bombeiros, de São Paulo, trabalhando na retirada de tantos corpos.
Não pude deixar de refletir, triste pelo sofrimento das famílias atingidas por aquele trágico acidente, mas por um momento, imaginei que pudéssemos (se fosse possível) emprestar um pouco da dignidade, honestidade e abnegação daqueles homens do Corpo de Bombeiros e distribuí-las no Congresso Nacional, em Brasília, onde essas virtudes andam extremamente escassas.
Quem sabe assim, nossos sonhos, nossas esperanças renasceriam e não seria necessário lembrar o discurso duro, brilhante e revoltado de Rui Barbosa, em 1914: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”
filemon.martins@uol.com.br
Caixa Postal 64
11740-970 – Itanhaém – SP.
|
