Que se vayan todos foi o slogan de grandes mobilizações populares que varreram toda forma de representação na Argentina. Uma mensagem da sociedade aos políticos.
O povo brasileiro é mais pacato, moderado e o jeitinho nos coloca sempre na defensiva.
No entanto, há uma gana reprimida nessa garganta silenciosa. Esse impulso explodiu no Marcanã e a vítima foi o presidente Lula. E deveria ser o presidente, pois é ele que simboliza a classe política desse país. É Lula que está legitimado por 58 milhões de votos.
Não compactuo com a teoria da conspiração. De que tudo foi orquestrado. Devemos ter claro que 90 mil pessoas deram um recado contundente e explícito.
As vais vieram de uma parte da sociedade que também trabalha. Que paga as contas. Compra ingresso para um espetáculo, um jogo de futebol, um teatro, um cinema e até para a abertura dos jogos Pan-Americanos.
Essa mesma parcela da sociedade não agüenta mais os desmandos políticos. A corrupção generalizada. Montanhas de reais desviados. É uma sociedade que clama por justiça e pede o fim da impunidade. O descrédito é tanto que qualquer político seria vaiado se fosse fazer um discurso no Pan.
É evidente que a vaia foi para o Lula. Um recado para o presidente, pois suas relações políticas estão aquém do esperado e do prometido. São inconseqüentes, ideologicamente insanas e pragmáticas.
Quem vaiou disse para o Lula: volte a ser como era antes. Faça a coligação com o povo. Chega de toma-la-da-cá. Faça política com gente decente.
Claro está que a vaia foi para o Lula. Mas também foi para toda a classe política brasileira. As vaias no Maracanã foram equivalentes ao Que se vayan todos dos nossos hermanos castelhanos.
Todos os políticos receberam o aviso. Assim, espero que o nosso companheiro presidente também reflita sobre esse episódio. O momento é propício para uma autocrítica e um balanço geral de seu governo. Se Lula interpretar humildemente essa conjuntura, poderá dar novos rumos ao Brasil. E implementar as reformas que o país tanto precisa. Caso contrário, continuaremos amargurando escândalos e o presidente, vaias.