Os institutos de pesquisas de opinião, todos de propriedade de proeminentes representantes das chamadas elites conservadoras(“podres”, no dizer dos lulistas), contratados pelas entidades constituídas por essas mesmas elites, divulgadas pelos meios de comunicação a serviço das mesmíssimas elites, indicam, após consultar em torno de 2.000 pessoas em todo o país, que o Presidente Lula conta com o apoio de 60% da população brasileira.
Em que pese o sectarismo lulista viver bradando contra as elites apodrecidas, são elas que estão claramente dando sustentação ao esquema de poder atual, até porque o Governo está tomado pelos representantes das elites antes rejeitadas pelo petismo, enquanto o PT está pouco e mal representado no comando político da nação.
Mas, voltando às pesquisas. Enquanto 60% das mínimas 2.000 pessoas ouvidas dizem apoiar Lula, 90.000 pessoas reunidas no Maracanã, oriundas das mais diversas regiões, das mais diversas classes econômicas, dos mais diversos níveis de escolaridade, ecoaram sonora vaia no Presidente e ninguém vai querer convencer que vaia não é manifestação expressa de rejeição. Foi a explosão espontânea e coletiva, ditada pelo sentimento guardado e a espera da oportunidade para eclodir, oportunidade surgida com a abertura dos Jogos Panamericanos, onde se encontraram, vindas de diferentes pontos do país, as multidões que conservavam engasgado o grito na garganta.
Os inéditos, explosivos, escabrosos casos de corrupção, inclusive travestidos de ridicularia, parlapatice e alopradamente engendrados, só podem levar a população à revolta e descontentamento que virão à tona ao primeiro momento em que seja oportuno, o que, no Brasil, os estádios de futebol é um campo fértil para quem quiser experimentar ou avaliar o seu nível de popularidade.
Estão confundindo a apatia silenciosa do povo brasileiro, que não está muito animado a seguir gritos de ordem de lideranças que não lhe merecem a confiança, com atitude de concordância com o triste panorama vivido pelo país no campo ético e moral, onde a sem-vergonhice tem sido praticada com uma sem-cerimônia de estarrecer. A apatia das massas é um fenômeno mundial, pelo vazio de lideranças criado pela derrocada do socialismo que prometia a realização de um sonho que, pela falsidade dos líderes, mais oportunistas do que idealistas, não passou disso mesmo: sonho e quimera.
Nesse vácuo, entraram com muita força os operadores de mercado, do mercado neoliberal, com a sedução econômica, com a globalização da economia, distribuindo investimentos de forma disseminada pelo mundo, criando realmente riquezas, só que concentrada nas mãos de poucos, poucos que dominam a cena política e social, têm o poder do dinheiro e da comunicação e vendem, além de seus produtos, a idéia sub-liminar de que tudo está bem, está a mil maravilhas. Está bem, sim, mas, como diz o vulgo, “para os mesmos”.
É nesse contexto que estamos situados, com o país vivendo a engodonomia, a economia do engodo, a esterilização dos movimentos sociais, com o sentimento de revolta represado, com poucos meios de manifestação, com a comunicação bem monitorada, dando a impressão de que combate, mas, no fundo, em meio às denúncias, blinda os verdadeiros responsáveis pelo caos, e a única válvula é a reunião eventual num estádio de futebol, mostrando o verdadeiro estado de espírito do povo brasileiro.
As vaias panamericanas foram vaias no Poder, que valeram como vaias nas pesquisas, decorrentes de todo o quadro acima exposto, o retrato da farsa em que vivemos.
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