Papai Noel me abandonou, levando consigo tudo que antes me alegrara. Que
desagradável, a vida torna-se fútil sem seus presentes. Meus sapatinhos
estavam ocupados? Minhas meias estavam mantendo a falsa lareira acesa? Que mentira... como todo o resto o que existia era por simples comodidade. Ainda era errôneo afirmar a iniquidade dos acontecimentos. Suas conseqüências nos eram por demais cansativas. Comi as frutinhas da vovó, os cockies, tinha fome na floresta escura, então cheguei e vovó se torna um bichinho bobo, também desagradável. Os caminhos foram até que tranqüilos, atalhos sempre poupam energias para as futuras decepções. Lobos aparecem tarde demais, quando já o tédio nos domina e não mais nos animam carnes dilaceradas. Nunca fui prisioneira nem princesa de sete anões. O coelho da páscoa comeu meus chocolates me olhando e rindo. Moedas, não pude encontrá-las, a Fada dos Dentes deixou espinhos em meu travesseiro. Depois, nas noites, esperava Sandman e o vento me trazia sempre Morganas e outros habitantes de Midian.
Baphomet e seu horrível hálito e sua prepotência achando que todo fedor
deveria ser suportado. Eu ainda dizia: Deuses não fedem!... Deuses não
fedem... Mas aquele cheiro tomava tudo e algo me convencia de que minhas
narinas identificavam a essência da divindade. Minha pele é escura, Brancas de Neve nunca as vi, nem fui príncipe, nem fui a desbotada em coma. Maças, só das mais saudáveis comi. Quando pedia veneno me enchiam de açúcar, e o veneno era a salvação. Em meu pântano observei sapos e moscas e senti-lhes, também os hálitos. Vulgares, não pude nomeá-los, não eram deuses, nem príncipes. Bocas serviam de olhos e só a distancia impossibilitava transformações.
25-11-99
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