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Artigos-->Farisaísmos Acadêmicos -- 04/06/2007 - 19:57 (Ivan Guerrini) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniqüidade. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior para que também o exterior fique limpo” (Mateus 23, 25-26)



O exterior fala, esbraveja, verbaliza e às vezes até com muita veemência, aparente seriedade e segurança, enquanto que o interior reflete em silêncio sobre o pronunciado. Muitas vezes, vendo-se segregado e oprimido, o interior diz: que é isso que esse cara está dizendo? Será que ele sabe que ele mesmo infringe as regras que está exigindo que sejam cumpridas? Vez ou outra, o diálogo entre o exterior e o interior chega a ficar interessante. É o desejo intrínseco externado de um lado e a prática contumaz e entrópica do outro, o que muitas vezes é chamado de farisaísmo, hipocrisia. Muitos não gostam do título de fariseu, mas vestem sua camisa com classe, elegância e até arrogância. Senão, vejamos a fala de alguns. Luto por uma educação libertadora, mas não abro mão dos meus poderosos púlpitos na academia. Quero um curso renovado, elaborado pelos maiores educadores do planeta, mas não posso deixar de dar aulas jurássicas e intimidatórias, pois aí é que me sinto mais inchada, balofa, a dona do saber e assim extravaso todos os meus recalques. Quero conhecer os métodos novos de ensino para renovar minha disciplina, mas entendo que a manutenção do conteúdo com suas vírgulas é obrigatória. Quero muito renovar o ensino, mas não abro mão das “provas fodas” que adestram meus alunos. Adoro Paulo Freire na teoria, mas detesto Paulo Freire na prática. Mudanças já, mas quem entende mesmo da minha realidade sou eu. Universidade é coisa pública, mas ninguém tem que ficar revelando aos outros as tramas que armamos em nosso conselho. Einstein, Bohr, Heisenberg e Schrodinger são ótimos, mas quem nos traz a verdadeira segurança é Bacon, Descartes, Newton e Lapalce. Complexidade é algo muito complicado, o bom mesmo é ficar no linear. Temos que parar com essa estória de corporativismo na academia e para isso acho que é só o departamento que deve ser ouvido na avaliação de um docente, desde que os meus relatórios sejam analisados por meus amigos. Sou muito detalhista e rigoroso nos pareceres que dou porque é preciso moralizar a universidade, mas rezo tanto para que os meus pedidos de auxílio caiam na mão de um colega compreensivo... Acho um absurdo o salário dos deputados e uma vergonha essa estória do mensalão, mas ganhar uma bolsa de pesquisa do governo para reverter quireras para o social faz parte do jogo. Abrir a universidade para a população é um dever moral de todos, mas no meu espaço quem manda sou eu. Penso que dar uma aula que envolve e cativa o aluno é o objetivo de todos, mas publicar em revistas “Qualis A” é muito mais importante. É um absurdo tantas teses e concursos com distinção e louvor fruto de bancas marcadas, mas para a minha banca quem vai escolher os nomes sou eu. É um cambalacho essa estória de nepotismo ou de furar fila de concurso público só porque é parente de tal deputado, mas indicar um bom candidato para a vaga do meu departamento é saber aproveitar os melhores. Acho que corrupção merece cadeia, mas presentear o assessor para conseguir apoio de cima é bem diferente. Bilhões na conta do salafrário, não, mas negócios com muambas para viver melhor, sim. Acho que os políticos não prestam, esse governo enganou o povo e é preciso colocar todos na cadeia, mas eu não, sou muito honesto. Sou a favor de passar o país a limpo, mas continuarei estacionando em vaga de dois carros e negociando notas frias para uns e outros. A desonestidade e a sonegação imperam neste país, mas se eu der nota fiscal pra tudo, tô ferrado. Sou a favor da presença de um ouvidor em qualquer órgão público, mas sinceramente acho que no meu departamento não é necessário, já que lá todos são responsáveis. Acho que muita gente que conheço é que deveria estar lendo a frase acima de Jesus sobre os fariseus hipócritas. Graças a Deus, eu não! Sou cristão há muitos anos e já ouvi essa leitura várias vezes na minha igreja.



(Artigo inicialmente publicado no Jornal Campus, UNESP, Botucatu-SP, em meados de 2005)

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