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Cronicas-->Cronicas PALMARENSES -- 02/03/2002 - 05:12 (LUIZ ALBERTO MACHADO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pirangi

Aproveitando as homenagens do mês das mulheres, eu que sempre fui achegado a este ser maravilhoso, não poderia passar em branco nas comemorações. Resolvi, então, relembrando das tardes fagueiras da adolescência na pedraria do Pirangi, acompanhado das mais doces companhias que me proporcionaram momentos inesquecíveis, tributá-las com mais um agradecimento.
Desde de pirrotitinho quando me entendi por gente que a mulher me fascina. Fizesse o que traquinasse, havia sempre uma para me socorrer. Se fosse um baque destrambelhado, alguma corria para alentar. Hora de dormir, sempre uma dela para acalentar. E eram tantas, minha casa sempre foi florida de belas mulheres, que minha mãe nem se preocupava, vez que no meu domicílio sempre transitavam tias, primas, vizinhas, afilhadas, comadres, e eu sozinho no meio da mulherada, todo ancho e cheio da pacutia. Até nisso fui sortudo: nasci no meio de três irmãs. Eu sozinho, no meio delas. Uma penca de tias. Um bocado de madrinhas. Muitas comadres. Meio mundo de vizinhas. Pois é, a minha libido fazia festa. Era louco por seios volumosos, vixi, visse não, ficava com a boca cheia. Outra: quando via um pandeirão, meus deusesinhos, bunduda morava na minha simpatia. Quanto mais graúda, melhor. Isso porque minha família era tudo tamborete de zona. Quando via uma esbelta, peituda, volumosa e vitaminada, nossa, eu endoidava o quengo e só sossegava depois de me ver embalado no meio dos seus seios em falso choramingado por qualquer maleita inexistente.
De manhã, mesmo eu fugia para a beira do rio, vê-las lavar panos e pratarias. A roupa molhada, as saliências transparentes, tudo apregado no corpo, ficava bisbilhotando deliciado. Isso no Rio Una ou no Pirangi. Em Pirangi era melhor, para lá iam enamoradas, quengas, destrambelhadas. Os pederastas, bandidos e desvalidos também estavam por lá. E eu no meio. Era um local um pouco distante da cidade, só de acesso pela rodagem das usinas de cana-de-açúcar.
Dia sim, dia não, eu escapulia atravessando a cidade até chegar nas pedrarias de Pirangi, só retornando para casa, lá pela boquinha da noite para aguentar os esporros da mãe que estava aflita por me procurar em todos os lugares possíveis e imagináveis. Óxe, Pirangi me deixava doido: o rio, as pedras e o matagal. E muita mulher. Quando me apertava, escolhia uma moita e lá me satisfazia. Ou cagada, ou mijada, ou punheta braba, o mato escondia a gente.
A água era rasa, nunca fui bom nadador. Eu atravessava as cachoeirinhas, várias, até alcançar o outro lado da margem. E ficava, de lá para cá, procurando cenário atraente. Muitas meninotas, moçoilas, matreiras e reboculosas timbungavam com suas vestes primárias. As que não possuiam biquinis, mergulhavam de caçola e sutiã mesmo. Muitas perdiam suas vestes quando emergiam, e eu só de tocaia para flagrar a nudez da sorteada. Isso era coisa para menino presepeiro ver. Enchia a vista arregalada.
Um dia lá, já adolescente responsável, casado de cedo, cheio das pregas de homem maduro, estacionei o carro na beira do Pirangi, para esfriar o quengo inchado com algumas atividades profissionais que já desenvolvia precocemente. Queria fugir da pressão da escola e do trabalho. Desparecer. Peguei o violão na mala do carro e fiquei dedilhando, sentado na grama de uma das margens. Nem percebi a presença de uma morena faceira testemunhando meu lamento nos acordes. Dos pés dela, fui levantando a vista: em pé, geografia perfeita, enxuta, contornada e bela. Os olhos castanhos vivos. Acocorou-se e me disse:
- Me dá um cigarro! Se você me der eu deixo você amar em mim.
Tive um susto. Fitei-lhe e não me contive. Peguei do maço e passei-lhe com o isqueiro aceso. Ela sentou-se ao chão e ficou tragando lentamente e olhando para mim com os olhos mais pidões que poderia já ter visto na vida. Na minha timidez, continuei solfejando algumas canções enquanto flagrava seu olhar pregado em mim. Ah! Pirangi... "... mas aqui estou e quero abraçar suas pedras, sua ponte, mergulhar em você e ficar...", cantarolava a canção que o Célio Carneirinho e o Gulu, dois amigos meus, haviam feito.
A ternura das paragens de Pirangi sempre me fazia rever o acolhimento de mãe, a entrega da mulher, o carinho da filha, o desabrochar da moça e o calor da vida. Mesmo sendo um rio, parecia que ali havia sempre o encanto anímico de uma aura fêmea no ar. Até o vento lufava um incenso feminil que me encatava. Um encanto que sempre quis mergulhar. E mergulhei fundo lavando a égua.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados do autor.

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