Morrer de Amor
Ah, morte, sê bem-vinda!
E sob teu manto de negrume
todas as cores me sorriem,
agora que te vejo a face.
Vem calma e serena,
tomando-me o peito,
já enfraquecido de tanto amar.
Agora que provei teu gosto puro,
que conheci teus encantos,
queria viver mil vidas,
apenas para ter-te novamente intensa,
assim de frente,
penetrando-me em ondas.
Vem, toma-me a boca
e silencia minhas palavras,
que não mais preciso delas
em nossa linguagem de almas.
Cala minha boca
com teu beijo cálido
e me devolve a paz.
Leva meus olhos,
já que vi toda a luz do nirvana
e nunca mais me perderei de mim.
Corta minhas pernas,
que meu pensamento caminha
léguas ao meu redor,
e já não fujo
e nem disfarço mais os dias.
Vem doce ao meu encontro
e me sorri amiga,
pois que te sei injustiçada e malquista.
Ah, ledo engano...
Quão tolos os que inda não te encontraram,
os que te rejeitam, sem saber do prêmio.
Tolos, todos tolos e vãos...
Ah, toma minhas mãos
e todo o meu corpo,
que nunca soube que a morte é gozo
e o gozo é a morte por segundos,
numa dimensão de tempo finito
no eterno.
Tola que fui,
eleita do amor,
que nasci e vivi já sabendo-te à espera,
que escapei tantas vezes,
acreditando-me abençoada,
que te neguei e maldisse
tanto e tanto e tanto...
E, no entanto,
nada jamais deu-me tanto sentido,
que esses segundos desse nosso tempo,
quando enxerguei tua face branca.
Não me escapes agora,
leva-me embora contigo,
pois meu amado deu-me a aurora,
e nesse gozo puro,
que me invade e aflora,
nada mais resta a fazer,
antes que ele vá embora,
senão de amor morrer.
Lílian Maial |