Usina de Letras
Usina de Letras
72 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62145 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10447)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13566)

Frases (50551)

Humor (20021)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140784)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6175)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Uns aprendem com o Amor, outros com a Dor... -- 20/04/2007 - 19:47 (Carlos Rogério Lima da Mota) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando crianças, ficamos chateados com o que consideramos “perseguição” de nossos pais, afinal, não compreendemos a valia de expressões como “isso não pode”, “de jeito nenhum”, “claro que não”. A revolta é semente que brota e massacra, tendo como alvos, justamente aqueles que nos conceberam, e que são capazes de MORRER, se for o caso, para nos livrar de qualquer sofrimento. Às vezes, no silêncio da noite, no conforto de um travesseiro, temos vontade de rever o passado, pedir desculpas por tantas coisas erradas que fizemos ou dissemos. Todavia, a natureza humana, misto de petulância e supremacia fajuta, impermite-nos de praticar tal ato... Infelizmente, somos assim mesmo...INGRATOS!



Mas a lição vem de todos os modos, Deus não permite uma história inacabada, cada pequeno núcleo recebe o epílogo que merece. E eu fui uma dessas vítimas (seria essa a palavra correta?)! Sempre demonstrei estar descontente com tudo, principalmente com aquilo que considerava “excesso de zelo” por parte de meus progenitores e que, por plena ignorância, acostumei a chamar de “ressurreição da inquisição” (onde estava com a cabeça quando disse isso? Se vergonha matasse...).



Bastaram inverter os papéis para que compreendesse que aquela “ressurreição da inquisição” não passava de AMOR EM DOSE DUPLA! Como cheguei a essa conclusão? Bem, confesso, sofri demais até entendê-la, mas valeu a pena.



Há duas semanas, Isabella, minha filha, adoeceu repentinamente de uma pneumonia. Não aparentava qualquer gravidade, tanto que o médico pediu para que fosse medicada em casa. O problema era que a tal febre – muitas vezes batendo a casa dos 40º- não cessava, acometendo-a aos poucos, de modo que já não queria mais comer ou beber. Associada à febre, vieram outras enfermidades, como a náusea e a diarréia. Sua alegria de outrora dava lugar a uma morbidez sufocante. Conduzida ao hospital, Isabella permaneceu sob cuidados intensivos por três dias. Ao final deste prazo, retornou para casa.



Eu estava feliz, passaríamos a Páscoa todos juntos, como manda o figurino. Minha esposa eu nos preparávamos para ir ao supermercado quando a pequena, por adversidade do destino, passou a vomitar sem parar. Ao retornar ao hospital, novamente ela foi internada. Contrariando as expectativas médicas, a pneumonia se rebelava com uma agressividade voraz. A calmaria cedeu ao desespero, e a dor - personagem que se delicia das atrocidades humanas, de posse de uma lança com fogo, atracou-se em nossos corações.



Visivelmente desorientado, retirei-me do quarto, deixando a pequena aos cuidados de minha esposa. Caminhando pelos gélidos corredores da pediatria da Santa Casa, estremecia a cada gemido de dor que ouvia; era como se estivesse numa guerra, diante de corpos que suplicavam por ajuda ante a um holocausto que, naquele instante, só existia dentro de mim.



Pela janela espreitei o céu, estava um negrume assustador, foi quando arfei, contendo as lágrimas... Não entendia o que estava se passando, o motivo de Isabellinha estar de volta àquele lugar, sofrendo tanto. Cheguei a pensar que fosse algum castigo, algo que eu tivesse feito e minha filha tivesse de pagar. Quanta bobagem eu pensei!



Os dias que se sucederam foram ainda mais dramáticos. A febre não cedia; vômitos e diarréia enfraqueciam ainda mais aquele corpinho franzino... Isabellinha em nada se parecia com aquela que, junto ao meu outro filho de sete anos, Vinicius, colocava “fogo na casa”. Estava esmorecida, assim como uma rosa sugada pelo tempo, em cujas pétalas ainda fluía a vida por ralos fios, bastando a uma brisa, a mais leve que fosse, despedaçá-la... Naquela noite, pousei ao seu lado! Não dormi, abracei-a tão forte e lá ficamos, aquecidos, como se nada estivesse acontecendo!



A paixão de Cristo levantava-se no horizonte, quando gotas do céu beijaram o asfalto. O silêncio, diferentemente de outros dias, predominava na pediatria... A enfermeira abriu a porta, checou a temperatura de Isabella, o termômetro acusava 39º. Três dias depois do retorno, a febre permanecia sagaz, vívida, disposta à guerra. Minha filha ingeria mais uma dose do antibiótico – o sexto em uma semana. Eu tentava animá-la, mas a única coisa que conseguia era...não sei ao certo, talvez fazê-la ter esperança em algo que jamais pensei um dia desacreditar!



Domingo de Páscoa. Dez dias de internação. Minha esposa estava triste, seu espírito aparentava já não mais encontrar a paz. Ao lado de Isabella, olhava o chão, enquanto os lábios recebiam pequenas mordidelas. Ao invés dos ovos de páscoa, chegavam mais almoços ralos, sem cor, sem cheiro, sem gosto!



Saí de lá, em casa, na almejada “cela” do anonimato, debrucei-me ao chão e chorei...chorei... Todo aquele sentimento negro que brotara em meu âmago, alimentado por uma dor deveras grandiosa, conduzia-me, agora, à guilhotina introspectiva. Foi nesse momento que pedi a Deus que me visse, que permitisse que acontecesse com Isabella o mesmo que com seu filho – A RESSURREIÇÃO!



A ampulheta do tempo não pára...À noite, tive a primeira boa notícia, Isinha estava livre da febre. A felicidade parecia querer voltar à face, mas o medo ainda pairava no ar. Veio a segunda-feira, nove de abril, dia em que ela comemorava dois anos de vida. Meu pedido estava sendo atendido, Deus olhava em meus olhos, pegava minha mão, conduzia-me de volta à luz, assim como eu havia pedido... A febre e o vômito extinguiram-se durante a madrugada e a diarréia dava sinais de descontinuidade. Horas depois, estávamos no aconchego do lar!



De filhos para pai, de críticas exacerbadas a cuidados extremos. Assim eu me vi! Somente se passando por pai para compreender o medo de se perder um filho! É como diz aquele ditado: “Deus não permite uma história inacabada, cada pequeno núcleo recebe o epílogo que merece...”. Ainda bem!

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui