Certamente deve haver algum sério problema com a classe dos advogados brasileiros: nenhum cliente considera merecido seus honorários, antes ao contrário, os pagando sempre em meio a muitas lamentações, a contragosto, procurando sempre minimizar não só o merecimento à verba honorária mas o trabalho que desenvolveu o causídico.
Isso não ocorre, por exemplo, com os médicos.
O sujeito sente uma dor de barriga, vai ao consultório onde somente vê a cara do médico após pagar uma escorchante quantia a título de ‘consulta’, é examinado de forma perfunctória sobre uma maca velha, sai na mesma (mas cheio de esperança), com duas receitas - uma de remédios e outra de exames laboratoriais – nas mãos (e toma mais gastos!!), mas... feliz e satisfeito!
Quando o sujeito é curado, seu médico é o melhor do mundo; quando não o é:
‘- O coitado do doutor fez tudo o que pôde! É um grande homem! Como é humano!’.
E quando morre alguém nas mãos de um médico aí sim é que a família do morto vai ao delírio, principalmente se for alguém rico, com direito a nota de agradecimento nos jornais pelo empenho e esforço em salvar aquela precio$a vida.
E o advogado?
Bom, aí a história é bem diferente.
Para começar ninguém se imagina pagando consulta a um advogado: ‘-Isso é coisa de médico!’ – exclamam.
O mesmo sujeito lá do início agora procura um advogado, desesperado que está com o seu carro apreendido, removido para o depósito do permissionário, onde a cada dia incide aquela famigerada diária que, dependendo do valor do veículo, pode-se ter de deixá-lo definitivamente lá como pagamento.
Daí que o advogado ingressa em juízo, com uma ação judicial resultante de horas de estudo, consegue a liberação do veículo e... cadê os honorários?
Nesse momento começa uma verdadeira ‘via crucis’ para o advogado receber do cliente a remuneração pelo seu trabalho, chegando, muitas vezes, a ter de entrar com cobrança judicial contra esse mesmo cliente.
O sujeito não pensa serem merecidos os honorários do advogado que contratou, muito ao contrário: ele acredita que o trabalho de um advogado é fácil, simples, que não faz jus ao valor cobrado, sem considerar que foi por causa do intrincado e complexo trabalho intelectual do causídico que seu carro – que custa 40 vezes o valor dos honorários , sem contar as diárias de depósito – deixou de correr risco de furto, avaria, incêndio, adulteração, deterioração, sem falar na possibilidade de, agora, voltar a contar com seu veículo para o transporte de si e de sua família.
E olhem que estou falando de um bem material, tendo lhes dado um automóvel como exemplo. Imaginem ao amigos leitores se o assunto fosse liberdade – esse maior bem do ser humano, sendo maior que a própria vida, pois a morte é o fim de tudo (até do sofrimento) enquanto a prisão é um tormento que vai matando o homem aos poucos, pedaço por pedaço, tornando-o indigno, patético, nojento, vil, monstruoso, aniquilando-o para a sociedade... e depois dela, da prisão, nada mais resta que uma sombra do indivíduo livre de outrora, lançando-o em meio a uma multidão que segrega e abandona.
Também não falamos da ação de alimentos, da investigação de paternidade, da ação de guarda – ações que tem por objetivo garantir a dignidade do cidadão, do ser humano.
E muitas, mas muitas outras ações de elevada importância social que dependem obrigatoriamente do trabalho de um advogado, o qual, infelizmente, ainda é pouco valorizado pela sociedade.
Talvez isso se deva a nossa própria postura como profissionais: somos os melhores profissionais para o trato com o público; somos educados, divertidos, atenciosos, prestativos, calorosos, acessíveis; somos companheiros, leais, combativos pelo direito dos nossos clientes.
Talvez se fôssemos um pouco mais práticos, frios, distantes e arrogantes como são os médicos a sociedade nos visse de forma mais respeitosa e menos desdenhosa e galhofeira.
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PS.: Tenho tido a sorte de, ao longo desses meus mais de 10 anos de advocacia, contar com excelentes clientes, que são a maioria, existindo, todavia, uma pequena parte para os quais eu jamais deveria ter escrito sequer um bilhete para o juiz quanto mais ter atuado em sua defesa ao longo de todo um processo. O negócio é ter cautela e nunca dispensar um sucinto mas eficaz contrato de honorários.
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