Caminho levado pelo vento, sentindo o sol surgir à s minhas costas com seus primeiros tímidos raios a despontar no horizonte. À minha frente, triste e fria, vejo a minha sombra, que se projeta - tênue traço de uma frágil existência, na eterna iminência do não ser.
Caminho por dias, séculos, vidas. Tenho sempre o sol, imponente, à s minhas costas; e à minha frente, quase sem vida, paira a minha sombra - sólida como o sussurro do vento. Meu retrato negro e distorcido: eterno sussurro de mim...
Num momento de lucidez (ou loucura, talvez!) avisto, ao longe, um lago. Plácido e sereno, o lago dança! E com ele, dança algo que não é apenas água, mas água também. No lago, dançam todos os sonhos e todas as imagens.
Sem forma própria, o lago não é disforme: contém todas a formas!
Apresso o passo e me aproximo.
Tendo o sol ainda à s minhas costas, encontro, à minha frente - a não mais de um passo de distància - o lago, que antes me parecia dançar tão distante!
Eis, então, que vem a mágica, o extraordinário.
A minha sombra, triste e nebulosa companheira, desaparece por completo. Dá lugar a meu reflexo, tão igual a mim e tão surpreso quanto eu. Com os sonhos que banham o lago, o meu reflexo dança. Tão iguais aos meus são os seus olhos, e tão igual a minha é a sua expressão: maravilhado como alguém que deixou de viver entre sombras.
© Brenno Kenji
28.09.1999 (revisado e modificado em 04.05.2000)
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