FUGA
A verdade está aí na cara.
Nua e crua para quem quiser ver.
Não temos escapatória,
Ou aderimos ou vamos sofrer do outro lado.
Os abutres devorando tudo,
Não deixando nada para ninguém.
Cada dia a gente trabalhando mais
E ganhando menos.
Trabalhando com direito
Apenas a um barraco para dormir,
Quando não está trabalhando.
Consumindo todas as energias, saúde e vida,
Para que alguns privilegiados
Gozem com o resultado do nosso esforço.
Quem reclamar vai para a cadeia
Ser torturado e assassinado,
Sem que ninguém saiba.
Sou grosseiro, impaciente, egoísta,
Intolerante, mesquinho e ingrato
Porque me fizeram assim.
Não quero gostar de ninguém
Para não me arrepender depois.
Para defender-me das injustiças,
Falsidades e agressões do mundo,
Tive que criar uma couraça
E refugiar-me nela.
Recife, maio de 1980.
|