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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->No Templo de Ísis -- 05/12/2002 - 08:59 (Carlena Herrmann Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mais um amanhecer esquentava as areias douradas da terra dos faraós. No grande lago artificial construído entre os muros do templo com água trazida do Nilo, corpos jovens e velhos banhavam-se num ritual diário de limpeza. Sacerdotisas dedicadas às suas tarefas limpavam seus corpos e mentes para iniciar mais um dia de dedicação à Deusa. O ato de banhar-se era realizado momentos antes do sol nascer. E os corpos secavam ao natural, embalados pelo suave vento que preconizava mais um dia de sol escaldante. Ainda não era verão, mas ele não tardava.

Velhas servas, acostumadas com o rito, aproximaram-se das sacerdotisas para envolvê-las em limpos mantos de linho branco, e em seguida amarrá-los conforme o costuma da época, terminando com um nó entre os seios: o nó de Ísis. Os pés então eram amarrados por tiras de linho menos nobre, mas não menos branco. Enquanto os longos cabelos eram escovados e o rosto pintado com cores vivas. Era um ritual bonito, mas proibido de se ver, principalmente para os homens, que podiam macular a pureza das sacerdotisas neste momento, olhando-as com cobiça.

Entre tantas mulheres, uma se destacava das demais por uma singularidade: os cabelos dourados. Dizia-se que o próprio Rá havia pintado seus cabelos e por causa deles sua mãe havia prometido dedicar a filha à Ísis. A garota de traços egípcios e tez morena, tinha cabelos longos, ondulados, onde parecia brilhar a luz do sol. Cada junta e vértebra do corpo desta loira sacerdotisa estava sendo cuidadosamente untado. Hoje ela tinha a função de abrir o templo, e seu ritual de purificação tinha que ser o mais completo possível. As luzes das velas bruxuleavam nas paredes e vozes se ouviam entoando baixinho um canto de purificação.

“A luz de Ísis flui... permita que minha voz seja verdadeira. A luz de Ísis flui... permita que minha alma esteja repleta de amor...”.

Em filas duplas, as sacerdotisas seguiram entoando seus cânticos em direção ao espaço sagrado. Os sistros balançavam anunciando a chegada próxima do nascer do sol e nossa sacerdotisa dourada, em transe seguia na frente das outras, pronta para sua missão. Seu nome era Ankhet, criadora e doadora de vida. Uma homenagem a Nut que deu luz ao sol para brilhar sobre sua filha Ísis.

Ankhet era ainda muito jovem, mas quase toda sua vida passara dentro do templo. Saíra dos braços de sua mãe ainda bebê e fora dedicada à Ísis. Poucas pessoas conheceram a pequena Ankhet, e menos ainda viram os primeiros fios dourados a despontar. Agora ela era guardada pelas sacerdotisas e apenas sua mãe vinha visita-lá de vez em quando.

Diante das portas do santuário onde a estátua de Ísis e a chama perpétua estavam guardadas, as sacerdotisas pararam. O brilho rosado do sol da manhã surgia no horizonte. Era Ísis sorrindo para suas filhas. Ankhet aproximou-se entoando as palavras sagradas, o aroma do incenso e sua fumaça enchiam o ar. Quebrou então o lacre, o selo de argila, a “Carne de Ísis” e abriu as portas do santuário. Um grupo de sacerdotisas dirigiu-se ao altar das oferendas, trocando as velhas por novas. Os lampiões foram acesos e Ankhet abriu o merit retirando dele os óleos para ungir a estátua. Ísis então foi lavada e ungida, e um manto novo foi vestido na estátua assim como momentos antes, as sacerdotisas foram vestidas. Amuletos e jóias ritualísticas adornaram a grande Ísis, e as pequenas estátuas ao seu redor.

As sacerdotisas cumpriram seu rito matutino e deixaram o santuário em direção aos seus quartos, onde suas tarefas cotidianas as esperavam. Algumas, as mais antigas, permaneceram no santuário que agora estava aberto aos fiéis seguidores da Senhora dos Dez Mil Nomes.

Ankhet foi ter com Theopompis, sua mestra. O dia de Ísis estava próximo e o templo estava sendo preparado para este grande dia. Uma festa grandiosa seria realizada nos dias epagomenais. E o jovem príncipe, herdeiro do trono, viria em pessoa para os festejos.

No salão de estudos Theopompis conversava com um egípcio de descendência nobre. Ankhet ao vê-lo tentou se esconder, pois nenhuma pessoa de fora do templo podia vê-la. Mas Theopompis a viu, e sorrindo-lhe chamou-a:

“Venha Ankhet, conheça Anuph, secretário do príncipe. Ele está aqui para os festejos de Epipi, e para os preparativos do festival quando teremos a honra de ter o filho do Rei em nosso templo.”

O olhar de surpresa de Anuph mostrou a Ankhet que ele não fazia idéia da particularidade da moça. Ainda sob o silêncio dos dois, Theopompis continuou as apresentações.

“Caro Anuph, é desta jovem que eu falava a você. Ela foi dedicada a Ísis e pode-se ver claramente que é filha de Rá. Tenho certeza que o jovem príncipe se alegrará com nossa representante de Ísis.”

Sem desviar o olhar da jovem, Anuph falou: “Que pintura é usada no cabelo dela?”

Ankhet, sempre cordata, não pode deixar de enfurecer-se, pois seu cabelo sempre lhe fora tido como uma dádiva divina, e ninguém nunca questionou isso. Respondeu prontamente à Anuph: “Pintado com tinta dourada, pelas mãos da própria Ísis, que roubou a tinta de Rá para emprestá-la a mim”.

“Uma sacerdotisa sem disciplina, Theopompis? Onde está o respeito desta garota por mim, representante da realeza?”

“Quando falar de mim, Senhor Representante da Realeza, dirija-se a mim. Sou uma Alta Sacerdotisa do Templo e não uma garota qualquer. Deve respeito a mim, tanto quanto eu devo respeito a sua figura.”

“Mas então além dos cabelos de sol, tens o temperamento dele?” riu-se Anuph.

“Calma Anuph, calma Ankhet, não briguem pois terão muito o que discutir juntos. Você Ankhet representa nosso futuro. E você Anuph representa a continuidade deste, quando vem até aqui representando o futuro Rei.” – interviu a sacerdotisa mestra.

“Theopompis, você espera que Amenófis se agrade desta jovem? Ela nunca poderia ser uma Rainha! Não com esta linguagem de serva.”

“Eu nunca disse que queria fazer dela uma Rainha, Anuph. Mas precisamos purificar a linhagem das sacerdotisas de Ísis, e Ankhet foi anunciada a mim pela própria Ísis, em um sonho há muito tempo atrás.”

“Mestra querida, do que falas? Rainha, linhagem, o que tudo tem a ver comigo?” – indagou confusa a jovem loira.

“Minha irmã querida, o jovem Amenófis logo se tornará o faraó e será um deus como deve ser. Mas antes disso misturaremos suas características com a linhagem dele, e teremos uma menina – uma sacerdotisa divina, com sangue real. Uma legítima filha de Ísis, encarnada entre nós mortais. Digna de manter nosso culto, nossas crenças e nossos valores.”, disse Theopompis – “E agora, que terminem as discussões. Leve Anuph ao quarto da ala oeste.”

“Sim irmã” – aquiesceu Ankhet.

Sacerdotisa e nobre saíram da sala lado a lado e caminharam pelos corredores majestosos do templo, sem trocar uma palavra, até a ala oeste onde Ankhet parou em frente a um pórtico todo incrustado de figuras de deuses. Olharam-se ainda com estranheza, antes de Ankhet falar.

“Este será seu aposento enquanto da sua estadia conosco. Sinta-se bem entre nossas paredes, e seja feliz aqui. Não costumo ser tão mal-educada com estranhos, mas ninguém nunca me irritou tanto assim, Senhor. Espero que possamos nos tornar amigos e não briguemos mais.” – disse a disciplinada garota.

“Parece que conversaremos muito ainda Ankhet. Sua mestra tem grande planos para o seu futuro e o do templo. Ter um filho do príncipe já será de grande status, mas quando ele se tornar Amenófis IV, você terá um filho do faraó, e isto fará de você alguém intocável no reino.”

Ankhet aquiesceu e deixou Anuph dirigindo-se ao átrio principal. Precisava pensar em tudo o que ouvira. Sabia que teria uma grande missão em sua vida, mas a Divina Deusa não a preparara para o que sua mestra lhe contara.

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