O depoimento da sra. Matilde Ribeiro no início da semana a uma agência noticiosa a respeito da discrinação racial teve pelo menos uma utilidade: a de nos levar a refletir a respito de tal comportamento, atitude ou seja lá o que for. O modo como classificamos esse aspecto de observação ou de vivência não importa muito. O que importa é como lidamos com ele.
Pois bem: se fizermos uma análise mais acurada a respeito de nossas relações com os demais indívíduos, grupos e sociedades ao nosso alcance, vamos perceber que o preconceito está impregnado em nosso espírito. Podemos observar também que ele existe nos mais variados grupos humanos independente de classe social e econômica, étnica, religiosa etc. O (pre)conceito, ou seja, o julgamento antecipado das coisas, remete-nos a praticar a discriminação e a exclusão, que são comportamentos muitos mais graves.
Todas as sociedades humanas, em todos os tempos praticam a discriminação, a exclusão e mais grave ainda, a eliminação, todos oriundos do preconceito. Tais atos são praticados por vários motivos que pode ter início num ato simples do sentimento natural homano, até práticas instituídas por regulamentos. Os sentimentos mais variados que culminam na discriminação são: o menosprezo, a rixa, o medo, o temor, a aversão, o nojo, a inveja e a indiferença pelo outro; a supervalorização de si ou do seu grupo, ente outros sentimentos.
Os povos primitivos conservam a discriminação como um valor cultural. A subestimação do outro ou a supervalorização de si é um atributo muito peculiar nessas civilizações. Quando um membro de um grupo de indígenas da tribo Urubu do Maranhão foi perguntado por um antropólogo sobre como tinha sido a genealogia dele, este respondeu que o Criador os tinha feito da madeira da melhor espécie, madeira de lei, como conhecemos. "E os índios das outras tribos, de que foram feitos?, indagou o antropólogo. "De madeira podre", respondeu o homem Urubu. Por conseguinte, pode-se perceber atitudes semelhantes em todo o mundo, por um motivo ou por outro.
No entanto, ao nos reconhecermos como sociedade moderna também temos que reconhecer a capacidade de lidar com esses sentimentos naturais que podem provocar enormes catástrofes humanas como malquerências entre grupos, nações, até guerras e massacres, como os já ocorridos ao longo da história humana.
É lamentável, entretanto, o pronunciamento ao qual se refere da ministra Matilde. Aliás, o ministério da Igualdade Racial, nesse ponto pode se transformar numa instituição de desigualdade. Sente-se a impressão que é um e não de brasileiros de todas as cores, uma vez que o Brasil é composto de uma miscelânea, quando se trata de cores da tez. Por outro lado, a criação de um ministério para tratar de raças é já um disparate. E o grande perigo da discriminação é que é às vezes é estimulado o opróbrio e o asco às outras raças ou a indivíduos que possuem na pele outra pigmentação que não a acentuadamente escura característica dos negros puros.
Neste ponto a ministra funciona como uma incitadora de conflitos étnicos-sociais e não como uma mediadora entre os diversos grupos.