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Artigos-->EM FLAGRANTE DELITRO -- 27/03/2007 - 19:20 (Jeovah de Moura Nunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“EM FLAGRANTE DELITRO”

(Fernando Pessoa)



Lá no distante Piauí, quando possuía apenas dois meses de tempo na Terra fui compelido a beber uma grande quantidade de álcool pela minha irmã, a Nainha, com dois anos de idade. Minha mãe, jovem, apenas 21 anos, saíra por algum motivo qualquer, deixando-me numa rede a dormir sossegado. Minha irmã estava por ali a brincar, ora com sua boneca de pano, ora com alguns objetos de madeira. Naquele tempo as mamadeiras não eram como hoje: revolucionárias até no ajuste perfeito da boca do bebê. Era tão-somente um bico de borracha enorme, que as mães adaptavam a qualquer garrafa. Claro que devidamente lavadas e enxaguadas. Minha mana encontrou o bico de mamadeira em algum lugar e logo passou a procurar uma garrafa qualquer, onde por certo colocaria um pouco dágua com a finalidade de brincar comigo de “mama-nenê”. Coisa de menininha, claro. Deu zebra. Ela localizou uma garrafa de álcool. Ignorando o perigo que aquele líquido representava, fixou o bico da mamadeira e encaminhou-se até a rede onde estava minha pequenina pessoa a ronronar. Rolou então álcool pela minha boca, pelos meus olhos que eram – segundo minha mãe – azuis. Por algum tempo a mana, despreocupadamente, dava-me mamadeira etílica, enquanto me sufocava e certamente devia arder por dentro, já que até então a única coisa que me descia pela goela abaixo eram gostosos mingaus leiteiros. Quando minha genitora chegou, eu estava azul de tanto beber pinga, digo álcool mesmo. Foi um fuzuê danado! Minha mãe, ao estilo típico daquela época, saiu em desespero correndo pelas ruas da cidade comigo nos braços e uma multidão atrás, curiosa e acostumada às tragédias entre crianças. Chegando a um lugar que devia ser um hospital – digo assim porque não consigo imaginar um hospital daqueles idos tempos, quando hoje os hospitais mais parecem viver um estado de guerra permanente – minha mãe recebeu a notícia triste do médico:

-Seu filho, senhora, está morto!

-Mas, ele ainda se mexe, doutor!

-Isto aí são os espasmos da morte.

E foi só. Minha pobre mãe lembrou-se de Deus e correu para a igreja de São Francisco de Assis. Lá chegando, depois de discutir com o padre, colocou-me sobre o altar-mor e fez uma promessa que todos ali presentes ouviram:

-Se meu filho não morrer prometo que ele usará por dois anos a mesma roupa de Francisco de Assis, dia e noite.

E assim foi. Não morri. Durante dois anos usei a batina de Francisco de Assis. Tenho até uma velha fotografia já amarelecida pelo tempo usando a tal roupa. Eram comuns os acidentes com crianças no velho nordeste. Bem por isso, as mães corriam com os pimpolhos nos braços na tentativa de salvá-los. Hoje, com 62 longos anos nas costas, não me furto em dizer que o álcool – através da deliciosa cachaça brasileira – não me causa maiores males, além de uma eventual dor de cabeça, ou uma aborrecida artrite. Claro, prefiro mais a cerveja. Mas, existe o inconveniente de ter que tomar de balde porque uma só é debalde. O grande poeta e escritor português Fernando Antonio Nogueira Pessoa também bebia, assim como bebem os intelectuais, jornalistas e doutores da lei e até os religiosos. Certo dia, num bar em Lisboa, o poeta foi fotografado quando deglutia o conteúdo de um copo. Tempos depois quando o fotógrafo lhe mostrou a foto, o célebre escritor num átimo escreveu no verso da mesma: “em flagrante delitro”. Apesar disso tudo não aconselho ninguém a beber alcoólicos. E principalmente as crianças, os adolescentes e os jovens devem saber que o álcool é também uma droga e fujam do álcool e de qualquer droga assim como o “diabo” foge da cruz.



Jeovah de Moura Nunes

Jornalista e escritor

jeovahmnunes@hotmail.com



(publicado no jornal “Comércio do Jahu” nº 26891, de terça-feira, dia 27 de março de 2007 – página 2 – Opinião).







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