Usina de Letras
Usina de Letras
17 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62282 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50669)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->O BRASIL DE MORDEN E MERCATORIS -- 27/03/2007 - 18:23 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O BRASIL DE MORDEN E MERCATORIS



L. C. Vinholes



Nota de 27 de março de 2007: este artigo foi escrito, visando reunir e divulgar informações relativas ao Brasil e a América do Sul, presentes em obras de dois dos principais cartógrafos dos séculos XVI e XVII, obtidas em pesquisas realizadas no setor de cartografia da Biblioteca Nacional do Canadá, em Ottawa. Foi publicado pelo Diário Popular de Pelotas (RS) em 1º de março de 1983.





ARTIGO



Quem andar pela rua Bank, uma das principais e mais antigas artérias comerciais de Ottawa, encontrará a maioria dos sebos e dos antiquários da capital canadense. E quem não ficar satisfeito poderá, ainda, buscar o que oferecem as cidades de Montreal e Toronto. Uma terceira alternativa é aguardar as feiras de antigüidade realizadas anualmente no Hotel Chateau Laurier, no passeio central da super-loja Bay, no Colégio Ashbury e no Centro de Esportes de Nepean, uma das cidades satélites, às quais comparecem centenas de expositores e colecionadores vindos de todo o Canadá e de algumas cidades dos Estados Unidos da América do Norte.



O que se pode encontrar varia desde o tradicional de influência européia até o mais exótico aos olhos do grande público, não só de procedência africana e asiática mas, também, de origem nativa, esquimó e indígena.



Viciado que fiquei nos meus quase três qüinqüênios de Japão a visitar as antigas casas de livros velhos de Kanda, em Tóquio, onde a presença de algo com aparência ocidental era raridade, não deixei nestes meus primeiros cinco anos de Canadá de procurar ver neste país o máximo possível daquilo que, agora, só é admirado e adquirido por colecionadores e curiosos. Um hoje outro amanhã, um aqui outro acolá, reuni uma dezena de mapas antigos, todos eles dizendo respeito ao Brasil. Cotejando este material com o do setor cartográfico dos arquivos da Biblioteca Nacional do Canadá, aprendi coisas novas e interessantes.



No pequeno mapa intitulado Brasil - uma nova descrição, por Robert Morden, constante à página 553 do livro Geografia Retificada, edição de 1693, vê-se, num quadrilátero de dez por onze centímetros, impresso em preto e branco e com posterior colorido em aquarela, o registro do que eram as capitanias na costa brasileira, desde Cananéia até o Pará. O texto, em inglês, informa que o Brasile foi descoberto em 1500 e explica como portugueses e espanhóis acertaram suas pendengas de posse do Novo Mundo depois de que Alexandre VI estabeleceu uma linha imaginária - o nome de Tordesilhas não aparece, de pólo a pólo, dando ao Rei Fernando de Aragon e a sua mulher Rainha Isabel de Castilha as terras descobertas ao oeste e as que ficassem situadas a este ao Rei de Portugal. Os detalhes continuam e em trechos de interesse lê-se que “o Brasil fica na zona tórrida, entretanto o ar é temperado e a água é a melhor do mundo de maneiras que o povo, freqüentemente, vive até a idade de cento e cinqüenta anos... além de brasile, o país produz âmbar, bálsamo, fumo, óleo de baleia, gado, carnes doces e acima de tudo açúcar em abundância ... a vizinhança do Prata dá aos portugueses grande oportunidade de sugar a prata espanhola do Peru ... existem no Brasil entes vivos, árvores, frutas e raízes que não são encontradas em nenhum outro lugar ... as serpentes, as víboras e os sapos tem veneno e apesar disto os nativos deles se alimentam ... a maior parte das aldeias não têm mais do que uma centena de casas ... entre as capitanias, a de Tamarica é a mais antiga, embora a mais pequena, Pernambuco é estimada o Paraíso Terrestre, por motivo da beleza do seu solo. A Bahia de Todos os Santos incluí a cidade de São Salvador, residência do Governador, tomada em 1624. A capitania do Rio de Janeiro que os selvagens chamam de Guanabara, é um grande ponto de encontro para navios. O povo do Brasil anda com suas partes quase que totalmente nuas e atravessam grandes rios com a ajuda de um cesto e uma corda. A maior parte dos habitantes do Brasil tem se defendido tão bem que, apesar das guerras que eles tiveram entre si, tem, entretanto, impedido aos europeus de fazer qualquer progresso na conquista de suas terras e tem ainda, inúmeras vezes destruído as plantações e as instalações pertencentes aos espanhóis de açúcar que estão junto a costa”.



Lendo este último registro fui levado a pensar que a atual ojeriza à pressão das multinacionais e à tática de guerrilha às vezes usada por certos brasileiros tem precedentes históricos e nativos com raízes no século dezesseis.



O livro de Morden, Geografia Retificada ou uma Nova Descrição do Mundo, impresso de parceria com Thomas Cockhill, Inglaterra, teve quatro edições: a primeira em 1680, a última em 1700 e as outras duas em 1688 e 1693. A data de nascimento de Morden não é conhecida mas sabe-se que ele faleceu em 1703, foi prolífero e publicou obras com assuntos sobre topografia, astronomia, geografia e matemática. Dentre suas obras mais importantes, além da citada, destacam-se, entre outras Um novo mapa do Império Britânico na América (1665), Uma nova descrição do mundo inteiro, em dois hemisférios (1688), Os 52 Condados da Inglaterra e Gales, descritos em um baralho de cartas (1676) e o Atlas terrestris 1695).



Outro mapa que encontrei, de rara beleza pelo seu desenho e por suas cores e pela riqueza de ilustrações, é o que tem inscrito na cártula o título America meridionalis. Foi impresso em Amsterdam em 1607, como um dos 148 mapas de um Atlas Minor, acompanhados de texto em latim. Esta obra iniciada em 1585 com o título Atlas, sive cosmographicae mediationes de fabrica mundi incluía apenas a Alemanha, França e Bélgica. Seu autor Gerardi Mercatoris queria coroar suas atividades reunindo num só volume todos os seus trabalhos. No mesmo ano adaptou a sua Europa ao Atlas e, em 1587, com o auxílio de seu filho Rumold, acrescentou um mapa mundi e em 1590 uma nova série de mapas detalhados da Itália, Slavonia, Grécia e Candia.



Mercatoris, cujo nome real é Gerhard Kremer, nasceu em 5 de março de 1512 em Rupelmonde, estudou na universidade de Louvale, contou com o apoio de Carlos V e, em 1559, foi nomeado cartógrafo do Duque de Jülich e Cleves. Graças a Carlos V teve oportunidade de estar em contato direto com os grandes exploradores portugueses e espanhóis e cartógrafos da época. Foi também gravador, fabricante de instrumentos científicos e topógrafo; um homem de extraordinária habilidade e vivacidade de espírito, “ingenio dexter, dexter it ipsu manu”. Faleceu em 1594.



Os últimos originais incluídos no referido Atlas, inclusive o mapa da América Meridionali”, foram, na sua totalidade, iniciados por Gerardi mas tiveram os retoques finais por Rumold. Pela sua importância e pelo respeito ao pensamento e às atividades de Mercatoris, a edição de 1607 do seu Atlas, com 655 páginas, foi logo traduzida para o francês pelas irmãs “de la Popelinère” e editado em 1608 no mesmo formato do original, com 220 por 172 milímetros.



No América meridionalis não vemos ainda o oceano Atlântico mas lá está o Pacífico e o mar do Norte, este indicado entre o nosso Nordeste e a parte da África que mostra a Serra Lione e os “cabos das Palmas e Verde”. A discrição do Brasil é curta, com a indicação dos limites conhecidos indicados em graus e com uma referência dizendo estar o país entre os dois rios Maragnon e Plata. Nos comentário sobre o povo que habitava o Brasil e os seus costumes, Mercatoris é bem mais limitado do que Robert Morden tendo registrado apenas que “nullos omnino Brasiliani colunt Deos. Orientem tamen Solem veneratur & Animarum mortalitaten credunt”, os brasileiros não reconhecem a existência de Deus algum, mas veneram, o Sol e acreditam na imortalidade da alma.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 10Exibido 1068 vezesFale com o autor