MELHOR AMIGO
Sou o cão que escarafuncha teu rastro
e desenterra tuas dúvidas.
Aquele que te abana o rabo,
pulguento amigo,
a transportar-te o desespero.
Esse que fuça as questões
e cava imensas covas
no sorriso de algum rosto ateu.
Sou eu, a fera sarnenta,
de quem só se espera os dentes.
Ou a que deita a barriga
e aguarda o gesto
de dar ou de dor.
E, no entanto,
é, para meu espanto,
que no derradeiro momento
recebo o pontapé inicial
e um afago insinuado.
Corro atrás do osso,
trago o teu jornal
e ainda assisto,
ao teu olhar cego de solidão.
Lílian Maial
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