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Artigos-->As Esperanças arrastadas por bem mais que sete quilômetros.. -- 11/03/2007 - 18:03 (Lílian Maial) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AS ESPERANÇAS ARRASTADAS POR BEM MAIS QUE SETE QUILÔMETROS...

®Lílian Maial





Comoção nacional, eu sei, mas não consigo trabalhar as coisas com o imediatismo e a falta de memória da população. Não consigo me assustar em proporções maiores com o caso desse menino que morreu arrastado por 7km, preso pelo cinto de segurança ao carro que os bandidos roubaram, e que sua mãe não conseguiu soltar, na pressa, do que com outros meninos arrastados a uma vida que não tiveram escolha.



Entendo a dor dessa mãe, dessa família, mãe como eu também o sou, percebo a maldade, a falta de respeito à vida, a inversão de valores, porém me esforço e não entendo o quanto tamanha violência possa ser maior que a dos idosos incendiados no ônibus, presos por não terem a agilidade dos jovens para escapar, ou a indiferença das pessoas diante dos meninos malabaristas de sinal de trânsito (semáforo), ou ainda diante das meninas prostituídas, quando ainda deveriam estar brincando de bonecas.



É óbvio que vejo a gravidade do caso e a necessidade de providências, contudo não sinto em quê esse fato é mais sério do que o descaso social com as crianças todas, com a falta de vagas em escolas, as reformas educacionais que não comportam o aprendizado, mas o passar de ano. Isso também é violência, e uma violência que cria pessoas violentas.



Não imagino violência maior do que o estado de maquiagem de fachada dos hospitais públicos, das escolas públicas, enfim, de quase todos os serviços públicos, para os quais pagamos impostos exorbitantes, e que deveriam, portanto, ser padrão de excelência em todo o mundo, porque não há país no mundo que pague tanto para receber tão pouco.



Se formos analisar a raiz de todo o mal e a violência que estão aí, chegaremos num denominador comum, tão alardeado há muito por inúmeros estudiosos, como o Professor Darcy Ribeiro, que é a educação (ou falta dela). No planejamento do Professor Darcy Ribeiro para os CIEPs, era imprescindível ocupar as cabecinhas das crianças com estudo, cultura, arte e uma profissão, num ciclo integral na escola, de formação de homens de bem, com alimentação balanceada de qualidade, assistência médica, odontológica e psicológica, ensino profissionalizante, para que o adolescente já saísse com chances de absorção pelo mercado de trabalho, com instrução, formação profissional e cultura geral.



O conhecimento gera o desejo de desenvolvimento, de crescimento interior, com a cristalização de valores, como a família, o estudo, o esforço individual para conquistas e sucesso.



Sem a educação completa, o que vemos são crianças freqüentando a escola para comer e farrear com colegas, muitos com péssimas influências sobre os demais, como pequenos xerifes, já mostrando, desde a tenra infância, que há dois grupos distintos: os que estão com eles e os que estão contra eles. Não preciso dizer mais nada, não é?

Crescendo assim ou no ócio, essas crianças irão se transformar em quê?



A mim, me comove e me revolta ver crianças sem sala de aula, professores sem dignidade, quase que apanhando dos alunos, diretores pressionados por normas estabelecidas sem a vivência do ambiente escolar, sem noção da realidade vivida em cada comunidade e em cada bairro.



A população ainda não entendeu que quem comete hoje esses atos de barbárie foram aquelas crianças ignoradas e esquecidas de ontem, foram aquelas para as quais se fechava vidros de carros, se virava o rosto nas ruas, se evitava olhar nos olhos famintos.



Quantos filhos meus, nossos filhos, terão que ser arrastados por 7km, para entendermos que muitos outros filhos já são arrastados na lama há décadas, talvez séculos, sem que nenhum de nós se comova ou faça algo para defendê-los?



Hoje a população se revolta e enluta por esse menino de apenas seis anos, barbaramente assassinado, mas continua a esquecer que os incontáveis meninos de até bem menos idade continuam sendo arrastados a esse caminho, por nossa culpa, por culpa da anuência dos pais dos outros meninos, cujos filhos ainda poderão vir a ser arrastados amanhã.



Se não acordarmos para a situação social em que vivemos, em breve não teremos mais chance de abrir os olhos.





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