Eu sei que determinada rua que eu já passei
não tornará o ouvir o som dos meus passos
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos,
que nunca mais eu vou abrir;
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa,
pode ser que esta pessoa esteja me vendo pela
última vez;
A morte, surda, caminha ao meu lado,
e eu não sei em que esquina ela vai me beijar.
Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que tenho de
fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio de um copo
de uísque,
na música que eu deixei pra compor amanhã,
será que ela vai esperar eu apagar o cigarro
no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher,
a mulher que me foi destinada,
que está em algum lugar me esperando
embora eu ainda não a conheça?
Vou te encontrar,
vestida de cetim,
pois em qualquer lugar,
esperas só por mim.
E no teu beijo,
provar o gosto estranho,
que eu quero e não desejo,
mas tenho que encontrar.
Vem!...
mas demore a chegar
Eu te detesto e amo
Morte, morte, morte que talvez
seja o segredo desta vida
Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida?
Existem tantas...
Um acidente de carro,
um coração que se recusa a bater no próximo minuto,
a anestesia mal aplicada,
a vida mal vivida,
a ferida mal curada,
a dor já envelhecida,
o câncer já espalhado e ainda escondido,
ou, até quem sabe,
o escorregão idiota num dia de sol,
a cabeça no meio fio...
Ó morte, tu que és tão forte
Que matas o gato, o rato e o homem
Vista-se com tua mais bela roupa quando vieres
me buscar
Que meu corpo seja cremado,
que minhas cinzas alimentem a erva
e que a erva alimente outro homem como eu;
Porque eu continuarei neste homem,
nos meus filhos,
na palavra rude que eu disse para alguém que eu
não gostava,
e até no uísque que eu não terminei de beber
aquela noite.