RENASCIMENTO
Perguntas-me quem sou e o que faço.
Eu te respondo:
Não sou ninguém e não faço nada.
Perguntas-me se já amei.
Sim. Amei muito, muitas mulheres.
Mas nenhuma delas soube,
Ou não quiseram,
Corresponder ao meu amor.
Perguntas-me se sou feliz.
Não sei, sinceramente.
Não sei se sou feliz ou se sofro.
Para mim é tudo igual, nada faz sentido.
Acordo, visto-me, tomo café, vou trabalhar.
À noite volto para casa, durmo.
Para acordar no outro dia e repetir
Tudo aquilo que fiz no dia anterior...
Sem nenhum objetivo, nenhuma emoção.
Os dias são sempre iguais.;
Monótonos, tristes, frios, vazios.
Não tenho tempo para admirar
As flores, os pássaros, o sol, o luar.
Ninguém fala comigo, nem falo com ninguém.
Não tenho passado, nem presente, nem futuro.
Fujo de todos e de mim também.
De repente eu me encontro num bar,
Diante de mim mesmo.
É então que eu choro,
Que eu desabafo a frustração
De tantas oportunidades perdidas.
Surge uma mulher e me acaricia com o olhar,
Peço-lhe que se aproxime
E conto para ela a história da minha vida.
Eu falo da minha infância triste, solitária,
Da minha adolescência difícil, incompreendida.
Dos meus sonhos, das minhas aventuras,
Da luta que tive que enfrentar
Para conquistar cada minuto de alegria.
E ela compreende, me abraça e me beija.
E eu me entrego de corpo e alma
A essa mulher que eu nem sei quem é.
Mas nesse instante ela é tudo para mim.
Foi ela quem me apoiou quando eu precisava,
Foi ela quem escutou as minhas palavras,
Foi ela quem evitou que eu me matasse.
E saímos pela noite, abraçados.
Meu coração já não sangra como a instantes atrás
Eu me sinto um novo homem.
Renasci dos escombros do meu desespero.
São paulo, 03 de abril de 1978.
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