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cronicas-->Cassino -- 19/02/2002 - 22:15 (Saulo Medeiros Aride) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Cassino

- Os colégios, as universidades, tudo tenta ensinar a gente a ser o melhor, meu filho. Mas só a vida mostra como lidar com o fato de ser só mais um.
- Como assim?
- Ora, de todos os que nascem, uma minoria acaba sendo a melhor, por vários motivos.
- Que motivos, vó?
- Fico triste em lhe dizer, mas nome, berço, sorte, um pouco de malícia (na pior concepção da palavra) e às vezes até esforço. Bem às vezes mesmo.
Tirando estes que se sobressaem, há ainda o resto, o solvente para o sucesso dos outros. Esses somos nós, quer dizer, eu fui um desses e espero que você não seja.
- Por que você foi resto, vovó?
- Ah, meu filho... A vida nao funciona como a matemática. É roleta pura. Alguns acabam chegando no grande cassino que é o mundo com mais fichas, e a gente é obrigado a se encolher com nossa única apostinha. Os outros podem apostar em dez números, e você tem que contar com sei lá o quê pra que o sorteado seja o seu, aquele em que sua única fichinha teima em confiar. Aí, meu filho, aí...
- Aí o quê?
- Se você der sorte, você decola, sem esforço. É como aviãozinho de papel: por mais padronizada que fosse a produção, uns decolariam sem problema algum e outros cairiam de bico. Não tem explicação, não tem lógica. Aliás, aprendi que a lógica é linda nos livros, nos escritos de Aristóteles, nas revistinhas de cruzadinha...
- Por quê?
- Na vida a lógica não atua muito não. Pegue os seus coleguinhas: tem uns muito inteligentes, não é?
- Tem o Carlinhos, o Luís, a Renata...
- Então: uns vão se revoltar, outros parecem bons demais pro mundo, outros simplesmente não conseguem driblar as ironias da sorte. Enquanto isso, os mais tapados conseguem viver muito bem, sem destaque, sem pompa. Quando você é muito bom ou muito ruim, só resta ir pro vamuvê: ou o sucesso fenomenal ou o fracasso completo. Já quem é medíocre, não.
- Hã?
- Veja seu avó, meu filho: sempre fui bobo, meio atrapalhado, ruim na escola... Mas consegui ter uma familiazinha, um emprego... Nada de mais, né? mas que já é alguma coisa. Claro que não trabalhei com o que queria, por exemplo.
- Você queria ser o quê?
- Eu queria ser jornalista, meu filho, jornalista, mas acabei indo parar numa fábrica de calçados. Você entra num emprego que você detesta, mas comemora e ainda espera conseguir ficar nele mais de trinta anos pra se aposentar direitinho. E tem que se conformar com a idéia de que os que conseguem perder a vida em algo que não suportam ainda são os felizardos, porque outros nem isso podem...
Veja o Carvalho, aquele amigo do vovó: tem que trabalhar até hoje, porque não se conformava em ficar nos empregos que arranjavam pra ele. Resultado: nunca trabalhou com o que sonhava e não consegui fazer um pé-de-meia. Eu, meu filho, me acostumei e formei o meu. Claro que um pezinho 32, 33, mas o suficiente pra minha vida.
- Mas tem o outro lado, vovó.
- Claro, o lado dos bons que fracassam. Veja seu pai, meu filho: não consegue levar todos os diplomas que tem numa sacola de mercado. Talvez até por isso esteja sem emprego há tanto tempo.
- 3 anos.
- É, por aí.
- E os que dão certo, vovó?
- Provavelmente dão errado em outras coisas. A vida é uma balança entre o ruim e o bom: bem-aventurados os que podem escolher os pesinhos que querem usar. A palavra chave da vida eu acho que é escolha.
- Escola?
- Escolha. É como num grande cassino. A maquininha é fácil mas só dá moedas; a roleta é quase impossível mas pode premiar fortunas.
- Você escolheu o quê, vovó?
- Bem, eu não saí da mesa do 21, aquela em que a gente sempre perde...

Saulo Medeiros Aride - 12/1/02
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