SOLETRANDO: A LEITURA
Francisco Miguel de Moura*
Algo de bom tinha que acontecer na mídia, a fim de que a leitura, no caso apenas a soletração, fosse estimulada. Um grande prêmio nacional para quem melhor soletrar a língua foi instituído. A tevê Globo começa aí a cumprir o seu papel perante a nação brasileira de onde tira tudo para conservar o seu poderio. Pelo que vi e ouvi, não é bem soletrar, mas apenas dizer as letras das palavras, treinar a ortografia. Já é um bom começo.
Outra notícia que me faz bem difundir é que, em Portugal, há um Plano Nacional de Leitura, cujos objetivos são elevar os níveis de literacia e promover a leitura junto dos mais novos, envolvendo professores, pais e a sociedade civil. Isabel Alçada, Comissária do Plano, em entrevista ao “Suplemento das Artes das Letras”, do jornal “O Primeiro de Janeiro” (19-2-2007), da cidade de Porto, diz que “a leitura deve ser treinada para ser um ato voluntário. O Governo está empenhado em colocar Portugal ao nível de países europeus no que à literacia diz respeito”. Pela leitura da matéria, observa-se que o Plano contempla todos os níveis escolares, desde o jardim da infância à universidade, alcançado ainda o público ledor avulso, associações e outros institutos da sociedade civil. Cerca de 1,5 milhões de euros, foram distribuídos a algumas centenas de escolas, em Outubro/2006, em seguida passou a contar com a ajuda da Fundação Calouste Gulbenkian em 150 mil euros, quantia suficiente para que em cada escola houvesse pelo menos um livro de leitura disponível a cada dois alunos das classes.
Na edição de 12-2-2007, referido jornal põe matéria cuja manchete destaca “LEITURA EM GRUPO GANHA ADEPTOS”, e mais abaixo diz que “grupos, comunidades, clubes ou tertúlias – variam as designações sob que se apresentam, mas não as razões por que se constituem – partilham o gosto pela leitura...” São constituídos voluntariamente pela população, sem estatuto nem prazo para terminar. Bom exemplo é o da “Livraria Almedina-Átrium Saldanha”, em Lisboa, que se reúne desde março/2006, sob a orientação da jornalista e escritora Felipa Melo. Na primeira e última quartas-feiras de cada mês – cerca de 12, 15, 20, 25 ou até 50 pessoas – discutem, num ambiente informal, experiências de leitura prévia de um livro de ficção portuguesa contemporânea. Noutras partes há outros clubes semelhantes, liderados por escolas, universidades ou pelo próprio Conselho Municipal. “O Primeiro de Janeiro”, reproduzindo notícia de outros jornais, anunciou, para fevereiro/2007, o autor e a obra em destaque: Antônio Mega Ferreira. Ele abre uma exceção à regra, com “Retrato de Fernando Pessoa”, uma obra crítico-biográfica e não de ficção.
O mais alvissareiro é que esses grupos de leitura vão-se multiplicando no Centro, Norte e Sul do país. Ainda sem experiência como os que formam as atividades esportivas, os clubes de leitura procuram envolver as escolas, os presidentes de Conselhos Municipais, as bibliotecas públicas – e em Portugal cada município mantém sua biblioteca – e a comunidade em geral, valorizando a leitura e a compreensão dos que pensam, amam e sofrem a literatura. Língua e literatura são sagradas para os povos civilizados.
Diante deste exemplo que vem do outro lado do Atlântico, minha proposta é que a Academia Piauiense de Letras, entidade cultural sem fins lucrativos, preste mais um serviço a seus membros e à comunidade, estabelecendo sessões de leitura, em grupo. Seria de bom alvitre que, desde já, colocasse no seu programa de atividades anuais, uma ou duas sessões de leitura por mês, para discussão, em grupo, da literatura brasileira, dos autores piauienses e da língua portuguesa, com participação da sociedade civil, especialmente dos estudantes, talvez com supervisão de professores de expressão das nossas universidades.
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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, membro da APL, residente em Teresina, PI. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br
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