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Artigos-->POESIA, O QUE É, VOCÊ SABE? -- 02/03/2007 - 21:45 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
POESIA, O QUE É, VOCÊ SABE?



Francisco Miguel de Moura*



A poesia é a primeira e principal forma (ou fôrma) literária. Antes, todos os grandes livros da humanidade (dos Vedas à Bíblia) foram escritos em poesia, a sobrevivência está nos versículos bíblicos e nos poemas da Ilíada e da Odisséia, de Homero. Ao contrário da prosa, a poesia não anda em linha reta até o fim. Verso é quando a linha muda, vai para a seguinte, começando do lado esquerdo. Verso é o outro lado da moeda. Figuradamente é também a outra maneira de expressão do homem, outro modo de se ver o mundo.

A poesia faz bem à alma, ao espírito e, assim, também ao corpo. Têm-me perguntado constantemente o seu significado e para que serve. E eu explico que, do ponto de vista prático, a poesia não serve pra nada, daí por que os poetas são tidos como pessoas anormais, quando não loucos. Eles sentem mais, preocupam-se com o que o homem comum não se preocupa, têm o sexto sentido muito aguçado, daí a inspiração. Entretanto, aqui vai um pequeno aviso: A inspiração é apenas um flash, um segundo do espírito criador; o resto é transpiração, trabalho, determinação. O homem comum admira a natureza, um jardim florido, artes como a dança e a música, gosta do céu, do sol, da lua e das estrelas, sem saber o que significam nem para que servem. São apenas atitudes poéticas, ele pára por aí mesmo. Nós, os poetas, vamos à língua e procuramos como expressar melhor esses e outros sentimentos mais fundos, transmiti-los no seu mais alto grau e com o menor número de palavras, dentro da língua padrão e até extrapolando-a gramaticalmente pelas chamadas licenças poéticas; falo, essencialmente, daquelas do reino da Retórica (hoje Estilística): metáforas, metonímias, símbolos, antíteses, apóstrofes, hipérboles, paradoxos, prosopopéias e tantas outras imagens novas ou já em desuso, desconcertantes, que apenas os escritores mais criativos, em algum momento, captam para a sua escrita. São as figuras de linguagem. Há também as figuras de gramática como as elipses, metaplasmos, hiatos, diéreses, epíteses, apócopes, aliterações, onomatopéias, assonâncias, anástrofes, pleonasmos e muito mais.

Entrementes, com o conhecimento que os estudos lingüísticos nos proporcionaram, fala-se hoje também em intertextualidade e intratextualidade. Esta última se apresenta no conteúdo, nada mais é do que a paráfrase, ou provém de perigosas influências de leituras mal digeridas reescritas; maldosamente, podem dar até no detestável plágio; nosso excelente poeta Raimundo Correia sofreu muito pela confusão que lhe arrumaram os críticos, mas só fizeram aumentar sua fama, como se verificou pelo soneto “Mal Secreto”, talvez um dos dez mais conhecidos da literatura brasileira. Porém, a intertextualidade se mostra na forma e é tão comum hoje, que se usam palavras, frases expressões de outro escritor mais conhecido sem usar aspas e nem ao menos citar o nome do autor. Pelo visto o plágio é um vício hoje abandonado. É uma pena. E essa prática já foi validada pela nova ciência que se chama Lingüística, mais festejada do que ontem a Retórica, de onde vem a maior parte da nomenclatura de termos usados na crítica e na estilística, nas análises de textos e nos seus desdobramentos.

É assim que o poeta vai renovando a língua, criando novos termos e novas expressões, ressuscitando o que ficou no esquecimento, tudo isto para uma linguagem que enriqueça a comunicação da arte, que pode parecer ilógica e não objetiva, tanto quanto mais se eleva em emoção e sentimento. No fundo, o poeta consagra aquele adágio de que “o coração tem razões que a própria razão desconhece”.

“Ah, mas como poesia é difícil de ser entendida! Se fosse como a música popular, ainda bem” – alguns arriscarão a objetar-nos.

Sim, certamente, na poesia e na música populares (falo nas letras apenas) encontram-se imagens que são poéticas, líricas, e só. Se essas letras são feitas por um Caetano Veloso, Chico Buarque, Torquato Neto, tudo bem. Isto só aconteceu no Tropicalismo, momento artístico que já passou, embora tenha deixado sua marca na música e na poesia. Mas nem se pense que todas as composições da música popular sejam poesia. A poesia está ali por exceção. Outra coisa: por melhores que sejam os versos de um compositor, quando passados para a música já não são mais poesia, são música, evidentemente. E se se baseiam em poema de poeta-escritor, esses versos são adaptados ao ritmo da música. O ritmo, a sonoridade, o acento tônico, as imagens do escritor são diferentes e muito mais bem criadas e recriadas.

Ao candidato a poeta, recomendo-se que esqueça a música popular, digo suas letras, pois todo poeta gosta de música, a despeito da declaração de João Cabral de Melo Neto: “não gosto de música”. Enquanto escreve, esqueça os contemporâneos e que vai escrever o que sente, só o que sente. “Tenha apenas duas mãos e o sentimento do mundo.” O poeta sente por si e pelo mundo. São de bom alvitre, para quem quer começar, os versos de Carlos Drummond de Andrade, tanto os citados acima quanto o “não faças versos sobre acontecimentos.” Também os de Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor / finge tão completamente / que chega a fingir que é dor / a dor que deveras sente.”

Poeta, não creia na objetividade, naturalidade, verdade da poesia. Creia na emoção que possa despertar, através da boa escrita, da música das palavras ressoando na alma. Poesia não é lugar para política, dogma, teoria, religião ou conceitos filosóficos que não sejam surpreendentes e novos dentro do contexto. Poesia é lugar de emoção pela palavra.

Agora, falando da poesia como poema, como um objeto, para uma visão didática, sua classificação geral compreende três ramos: épica, lírica e satírica. Dentro dessa classificação, aparecem, atualmente com freqüência, as seguintes formas fixas líricas: o soneto, a trova, o haicai, as sextilhas, sextinas e décimas, as odes e os epigramas, os epitalâmios e vilancetes, os rondós, as baladas e os madrigais etc. todos da ordem lírica. No terreno da épica, resta o poema épico, já francamente em extinção. Em nossa língua, são citáveis o Camões de Garret, O Caçador de Esmeraldas de Olavo Bilac e Navio Negreiro de Castro Alves. Há outros, porém de menor importância, na minha opinião. No terreno da sátira, sobram o poema-piada, os epigramas, as paródias e o poema herói-cômico.

Se o poema é livre na estrofação, nas rimas e na métrica chama-se moderno. Mas nós, os poetas clássicos (em oposição aos populares), só admitimos como prova de que o candidato a poeta já o é, se for capaz de fazer um soneto razoavelmente bom. No entanto, a poesia não se detém apenas na forma. Sem conteúdo, simbologia e imagens, não haverá poesia. Todo poema, mesmo o moderníssimo, possui uma chave de ouro, termina fortemente como começa e como se desenvolve, ou mais. Provaremos isto lendo os grandes poetas: Camões, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, Mário Quintana, Guilherme da Almeida, Olavo Bilac, Raimundo Correia, Álvares de Azevedo, Castro Alves, Gonçalves e tantos outros cujo elenco não caberia neste ensaio.

Poesia é a linguagem da emoção e do sentimento, feita para ser, sobretudo, lida e fruída em silêncio. Poesia é também, no entender de Schiller, “uma força que atua além e acima da consciência, uma ponte entre o subconsciente do poeta e o subconsciente do leitor.” Se o poema for recitado em voz alta, passa a ser meio-teatro, se for cantado é meio-música/meio-poesia, se for exposto como fizeram os poetas concretistas e visuais é meio-quadro/tela/aquarela/cartum etc. Além do livro, a revista e o jornal são meios de divulgação da poesia para a sua integral fruição. Com a modernidade, o cartaz (out-door), os painéis, as exposições, inclusive através de devedês, televisão e internete (saites) fazem um bom trabalho, na maioria das vezes, na busca de divulgação dos poetas e da poesia. Porém uma coisa é divulgar, outra é fazer. Quem escreve ao computador, pela facilidade, pode crer que encontrou o céu para a poesia. Não precisa mais sofrer, amar, ser gente, ir pra rua; basta ficar-se comunicando virtualmente. Ledo engano! E o ledo de Camões está muito bem colocado aqui. Também, depois da internete, dizem que o livro vai acabar. Não acredito. A internete é um meio descartável como todo produto ultra-moderno, Os livros continuarão nas bibliotecas pelos séculos, não importa se em papel ou micro-filmados. E a literatura continuará existindo, tanto em poesia quanto em prosa de ficção. Noutro lugar já expliquei que os dois gêneros se reúnem num só: o instituto da literatura, com sua linguagem, a literariedade. A poesia de hoje é menos rica de personagens e o principal não é o outro, eis tudo o que a separa da prosa. Não há literatura nenhuma sem poesia. No princípio era a poesia, atestam os livros acima mencionados e também outros que os perseguiram ou já existiam: chineses, gregos, troianos, etc. Enquanto houver alguém que queira comunicar-se com alguém de forma bela, agradável, ritmada e por imagens e figuras metafóricas, com a palavra integral, a poesia resistirá. Resistirá até o fim dos tempos. Se “no princípio era o verbo”, no fim também será o verbo e não a verba como hoje, a mercadoria sem alma – apenas pra nos encher o saco sob a forma de presente de natal e de outras datas que o mercado inventa. Não me venham dizer que a poesia é uma mercadoria inferior, destinada a acabar antes do homem. Frei Beto, na sua sabedoria, disse: “Não há desvario maior do que dizer que o machado é inferior ao computador. Tente cortar lenha com um computador!”

No mundo capitalista, neoliberal, a poesia pode ser uma mercadoria, quando está no livro ou nos seus melhores meios de comunicação, mas é uma mercadoria altamente espiritualizada como o homem. E livre.

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*Francisco Miguel de Moura, poeta e prosador brasileiro, mora em Teresina, e-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br

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