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Artigos-->TIRADENTES ERA MAÇOM? -- 01/03/2007 - 12:05 (Wilson Vilar Sampaio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


TIRADENTES ERA MAÇOM?

Por José Wilson Vilar Sampaio Jr.

Da Academia Maçônica de Letras de Olinda-PE



Tiradentes era maçom? A Inconfidência Mineira foi idealizada por maçons?



Muitas e muitas vezes nos deparamos com essas perguntas que, na verdade, expressam dúvidas sobre a influência dos pedreiros livres(como também são conhecidos os maçons) no movimento libertário de Minas Gerais, acontecido em 1789.



Em algumas ocasiões tivemos a oportunidade de conversar com irmãos e profanos que não acreditam na inspiração maçônica da Inconfidência Mineira e sequer que o próprio Tiradentes seria maçom. E não acreditam por conta de historiadores que à falta de documentos comprobatórios do “dedo da maçonaria” nessa rebelião, tramada contra a exploração desmedida e injusta da Metrópole que sugava sob a forma de impostos e taxas, as riquezas do Brasil colônia, insistem em negar o fato histórico.



Nós, que acreditamos no envolvimento de maçons e por extensão, da maçonaria, não só nesse como também em outros movimentos libertários acontecidos no Brasil nos séculos XVIII e XIX, respeitamos – é claro – a opinião dessas pessoas, todavia, apesar de tantas alegações e argumentos contrários, mantemo-nos na crença de que os maçons realmente estiveram ativos na Inconfidência Mineira.



Há alguns meses atrás, escrevemos um artigo em defesa do Areópago de Itambé, não só no que diz respeito à sua inspiração maçônica, como também com o intuito de provar que o Areópago existiu e foi fundado por Manuel Arruda da Câmara!



Vejam só: muitos historiadores duvidam da existência do Areópago porque não encontraram documentos que provem sua fundação, seu funcionamento, quem o freqüentava e quem o fundou.



Nesse artigo que citei, um grande historiador pernambucano Gonsalves de Mello, que é, sem favor algum, considerado um dos maiores do Brasil, põe em dúvida a existência do Areópago com argumentos que valorizam a boa técnica científica de comprovação histórica da ocorrência de um fato.



A este historiador, de saudosa memória e que muito respeitamos e admiramos como um dos melhores que pontificaram no nosso país, contrapomos seus argumentos com a humildade de sempre, trazendo em nosso socorro outros historiadores que antes dele escreveram sobre a belíssima história de Pernambuco e se referiram ao Areópago de Itambé como sendo o responsável pela introdução dos princípios maçônicos em Pernambuco, no ano de 1796.



Não vamos repetir aqui a história do Areópago e sim transcrever alguns argumentos perfeitamente aplicáveis ao caso sob comento, e que objetivam provar que a Inconfidência de Minas Gerais teve sim inspiração maçônica e Tiradentes foi mesmo maçom, senão, vejamos:



A ausência de documentação específica nos faz evocar outros meios probantes, ou seja, uma outra maneira de confirmar um fato histórico. Para tanto nos valemos de testemunhas coevas, do conhecimento e da tradição popular acerca dos acontecimentos públicos e notórios e finalmente, do próprio desenrolar lógico de uma série de fatores que levem à certeza da existência de um determinado episódio ou ação concreta; como por exemplo: O povo fala que muitos maçons estavam envolvidos em uma conspiração; ora, diante de uma afirmação dessa natureza podemos concluir que tal conspiração teve influência maçônica, mormente se existe co-relação entre o compromisso declarado dos conspiradores ou insurretos, com os objetivos defendidos pela maçonaria.



Nós devemos ter em mente que foi a falta de documentos específicos(a Ata da sessão do Senado de Olinda acontecida em 10/11/1710) que fez com que os historiadores – na sua esmagadora maioria – não creditasse à Olinda e a Bernardo Vieira de Melo, a primazia do 1º grito de República em terras brasileiras, deslocando esta honraria para Minas Gerais com sua fracassada Inconfidência Mineira, chefiada pelo Maçom Tiradentes, porém acontecida 79 anos depois da tentativa olindense de se tornar uma República. Mas nem por isso os historiadores sérios negarão o fato ocorrido em Pernambuco, se de outro modo é possível sua comprovação utilizando outras provas, como as cartas de denúncia existentes nos autos da Devassa. É por isso que o Hino de Pernambuco atesta esse pioneirismo quando ensina: “ A República é filha de Olinda “!



Muitos brasileiros e entre eles mineiros e pernambucanos, haviam estudado nas universidades do velho mundo, notadamente Portugal e França, países onde as novas idéias eram “assunto do dia” nas universidades de Coimbra e principalmente Montpellier, duas escolas superiores que ostentavam em seus quadros docente e discente muitos ilustres maçons.



Com efeito, o escritor francês Joseph Marie Rouget foi o autor de um estudo sobre a existência de lojas maçônicas em Montpellier e o resultado foi consignado no livro “ Montpellier et la Franc-Maçonnerie- sés loges” , apontando “ 11 lojas maçônicas, sendo 4 das quais constituídas com elementos da faculdade de medicina, inclusive professores” – citado por A . Tenório de Albuquerque , in “ A Maçonaria e a Grandeza do Brasil-p. 139.-



Já Pedro Calmon, na sua História Social do Brasil, v. III- p. 59, afirma a ocorrência de: “ Conluios maçônicos, transportados também para o Brasil pelos estudantes de Coimbra, ao regressarem formados”.



Destarte, não é de se admirar que “O Leão do Norte” sofresse a influência da Revolução Francesa, fruto do iluminismo. Tampouco poderiam Pernambuco e Minas Gerais ficar alheios à Guerra pela Independência dos Estados Unidos da América, quando essa valorosa colônia desafiou e venceu a maior potência militar da época – A Inglaterra – saindo vitoriosa na luta desigual levada a bom êxito pelos maçons norte-americanos George Washington, Thomas Jefferson, Benjamin Franklin, entre outros.



Por isso, a exemplo do Areópago de Itambé, cuja existência é motivo de dúvida se prevalecer o argumento esposado pelo respeitado historiador supra referido de que não encontrou, em “nenhum documento”, a prova da existência do Areópago; e “nem mesmo nos próprios escritos, Manuel Arruda disto dava qualquer notícia”, a Inconfidência Mineira padece do mesmo mal: Falta de Documento.



A falta dessas “ provas documentais”, faz com que historiadores sérios ignorem fatos realmente acontecidos e, quando a vontade popular já incorporou o fato histórico ao seu “ acervo “, eles o citam sob ressalva. “



Respeito imensamente esses historiadores. Porém, como já dissemos antes, a atuação da Maçonaria, quando direcionada à libertação de um povo ou à implantação de um novo regime político, não pode obedecer a métodos históricos de pesquisas normalmente utilizados para se chegar a sua comprovação.



É que uma Loja Maçônica ou qualquer Associação de influência Maçônica não poderia – repetimos mais uma vez – deixar escrito em ata ou em outros documentos os planos dos Irmãos para fazer república em um regime monárquico ou pugnar pelo retorno da democracia num regime ditatorial. Seria fatal para os Irmãos o insucesso da empreitada.



No caso da Inconfidência Mineira, a incredulidade em relação à participação de maçons nessa insurreição lembra em tudo o problema do Areópago de Itambé: A falta dos benditos documentos.



Seria muito bom para a História Pátria se Tiradentes tivesse deixado sobre a revolta que iria ocorrer, várias atas das sessões maçônicas na Loja do Tijuco, ordenando ao Secretário: “ Meu Irmão, consigne na ata o nosso plano de iniciar o movimento republicano no dia em que o Visconde de Barbacena iniciar a Derrama”... todos os irmãos assinariam a ata, deixando seus nomes para facilitar o trabalho dos historiadores e, caso o movimento fracassasse, a justiça da Rainha não teria o menor trabalho jurídico na instauração do processo, pois todos seriam réus confessos.



É, seria bem mais fácil... porém, como os revoltosos não “eram malucos”, não deixaram escritos sobre o que pretendiam fazer.



Analisando a falta de documentação – que realmente inexiste – temos que buscar a comprovação utilizando outros tipos de provas, entre as quais a transmissão oral do acontecido através de testemunhas , visto que a punição de Tiradentes foi feita de modo a amedrontar o povo e servir de exemplo para que ninguém mais ousasse afrontar a Rainha de Portugal, D. Maria I.



A devassa, ou seja, o processo judicial, correu no Rio de Janeiro, longe de Minas Gerais onde Tiradentes teria simpatizantes. No Rio de Janeiro Tiradentes era um desconhecido e seu julgamento não atrairia gente do povo. Aliás, todo o processo foi praticamente restrito aos que por dever de ofício ou por serem réus, teriam de atuar ou comparecer.



Executada a sentença, Tiradentes foi esquartejado e partes do seu corpo espetadas em estacas ou postes, espalhados nos caminhos por onde trilhava. Assim as pessoas ficaram sabendo que Tiradentes morrera e o motivo teria sido crime de lesa-majestade.



Muitas dessas pessoas, contemplando os restos mortais de Tiradentes expostos como “ carne de açougue” teriam ficado impressionadas, curiosas com a barbárie da cena e procuraram saber quem era “ esse Tiradentes” sobre o qual recaíra tão severa punição. Assim, os mais velhos contavam aos mais jovens (talvez de idade variando entre os 10 a 16 anos), que aquele era o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, participante de uma associação secreta chamada maçonaria e que queria libertar Minas Gerais do jugo de Portugal.



Outros lembrariam que Tiradentes havia fundado uma “ associação secreta” no Tijuco, aonde iniciava pessoas como maçons.



E assim, caros leitores, a história oral foi se fazendo, sem respaldo de documentos que, aliás, só seriam reclamados mais de cem anos depois para que a “ confirmação do fato maçonaria e Insurreição Mineira” ficasse devidamente assentada nos livros de História do Brasil escrito pelos pesquisadores.



Lendo a revista maçônica “ A Trolha” nº 227 de setembro de 2005, vimos a declaração de um Irmão maçom( consignada em um artigo intitulado “E a verdade, onde fica?” , no qual ele diz: “ O que não aceitamos, até prova em contrário, é a afirmação de que Tiradentes e os inconfidentes todos eram maçons” . E depois conclui:

“ Aqueles que assim se expressam, baseiam-se no que escreveu Joaquim Felício dos Santos, no livro “ Memórias do Distrito Diamantino”, publicado nos fins do século XIX, onde se lê que “ a Conjuração Mineira foi movimento maçônico, sob a liderança do Maçom Tiradentes”



Esse Irmão manifesta ainda sua incredulidade se as academias fundadas no Brasil no século XVIII eram Maçônicas e, muito compreensivelmente, vem dizer “ não se encontra escrito em lugar algum” a organização de sociedades maçônicas em Minas, Rio e São Paulo.



O Irmão tem todo o direito de não aceitar Tiradentes como sendo maçom, ou não concordar que as academias eram lojas maçônicas, mas nós também temos o direito de aceitar ambos os fatos negados pelo articulista, recepcionando a tese de que, pela circunstância extremamente perigosa que envolveu a Conjuração Mineira, era recomendado o sigilo e a oralidade das reuniões feitas nas “ associações secretas” pelos irmãos que delas participavam.



O certo é que para melhor compreender o assunto, conseguimos obter no Rio Grande do Sul um exemplar do livro “ Memórias do Distrito Diamantino” de Joaquim Felício dos Santos, obra realmente muito interessante: O autor, respeitado escritor, advogado e político mineiro, utiliza para escrever suas Memórias do Distrito Diamantino, “ manuscritos apócrifos, carinhosamente conservados e de depoimentos de testemunhas fidedignas que presenciaram episódios mais recentes e ouviram de coevos os mais remotos” – opus cit. p. 22-.



Ora, que documentos e testemunhos seriam estes? Quase que eu posso ver os historiadores virarem o rosto” para as palavras “ manuscritos apócrifos” e balançarem negativamente suas cabeças para as “ testemunhas fidedignas”, uma das fontes utilizadas por Joaquim Felício para narrar certos acontecimentos e, entre os quais, o Tiradentes maçom!



Pelos motivos acima já apresentados, não me causa espanto que os documentos sejam “ apócrifos”. Afinal, quem iria assinar ou se identificar em um documento que representava uma sedição, uma rebelião, uma insurreição?



Agora a informação sobre testemunhas fidedignas, esta sim deve ser motivo de comentário e vocês, meus irmãos maçons, espero que me dêem razão ao final.



O estudo biográfico contido na edição que eu tenho, de 1956, foi apresentado pelo historiador mineiro José Teixeira Neves; e esse biógrafo faz inspirado comentário acerca das testemunhas referidas no livro de Joaquim Felício:



“ Mais uma circunstância digna de ser lembrada: em 1862, a Diamantina era um viveiro de macróbios, conforme noticia O Jequitinhonha. Inês Vicência da Silva, parente de Chica da Silva, tendo mais de 100 anos de vida, conservava o espírito em perfeita lucidez e bordava a mais fina cambraia, sem óculos. Maria Alves da Silva, Florência Maria dos Anjos e Caetana de tal, eram também centenárias. Mais tarde, em 1875 – é o Monitor do Norte quem o diz- morava na Rua do Progresso Joaquim Camilo, com 103 anos, ainda robusto, desempenado e com bastante entendimento”- obra citada, p. 23-



E na mesma página consigna outros prováveis informantes: Silvério de Barros, Cadete Pimentel, padre Antônio Joaquim de Souza Matos e Monsenhor João Floriano dos Santos Corrêa e Sá.



O livro sob comento começou a ser escrito em 1861/1862, sob a forma de artigos isolados que eram publicados no jornal O Jequitinhonha(p.35) . Ditos artigos foram agrupados e revisados no ano de 1864, pelo autor, e finalmente publicado em 1868, tendo sido impresso na Tipografia Americana.



Joaquim Felício dos Santos nasceu em 1 de fevereiro de 1828 e em 1850 já era bacharel em ciências jurídicas pela Faculdade de Direito de São Paulo, contando apenas vinte e dois anos de idade. Dedica-se com afinco à advocacia e logo adquire “notoriedade como reputado causídico”. Torna-se também professor de História, Geografia, Francês e Matemática no Ateneu de São Vicente e no Seminário Episcopal.



Pelos dados acima, temos que o Dr. Joaquim Felício dos Santos é um homem sério, estudioso e que gozava de grande reputação entre os seus. Ressalte-se ainda que ao escrever o livro sob comento, contava com a idade de 34 anos e com grande experiência de vida, não só por ser advogado como também pela cátedra exercida nas Instituições de ensino.



Pois bem, Joaquim Felício dos Santos, declara no seu livro que Tiradentes era maçom e fundou uma associação no Tijuco.

Tal declaração é feita como se fosse o fato mais natural do mundo, sem maiores explicações ou detalhes, o que vem corroborar nossa afirmativa acerca dos fatos públicos e notórios, pois Joaquim Felício entrevistou pessoas que TESTEMUNHARAM os acontecimentos conhecidos como Insurreição ou Inconfidência Mineira, chegando a identificar dois dos seus informantes,“ o Tenente Joaquim de Souza Matos, oficial das antigas milícias e Aninha Bugre, que freqüentava o lar do Intendente Câmara”-p. 23-. Daí porque, de modo quase apenas casual, faz tal declaração, hoje considerada bombástica e sem provas!



Eis a declaração referida: “ Os conciliábulos faziam-se alta noite em casa de José da Silva e Oliveira , pai do Padre Rolim; a eles concorriam as principais pessoas do Tijuco, e diz-se que até o Intendente Beltrão se envolvera na conjuração; mas guardava-se o maior segredo sobre suas deliberações e nome dos comprometidos.

Os conjurados eram todos iniciados na maçonaria, introduzida por Tiradentes, quando por aqui passou vindo da Bahia para Vila Rica”.- Livro citado, p. 221-



Pronto, estava lançada – sem querer - a bomba relógio que explodiria um século depois sob a forma de desconfiança e incredulidade demonstrada por historiadores que desprezam o fato público e notório, quando não devidamente documentado.



Joaquim Felício dos Santos justifica não se aprofundar no assunto Maçonaria/Tiradentes/Insurreição, porque: “ Não há mineiro que ignore a história da nossa gloriosa tentativa de independência de 1789; por isso, e por não pertencer ao quadro desta narração, dispensamo-nos de narra-la”- idem-p. 221-.



Realmente, Joaquim Felício como mineiro, advogado, jurista(escreveu os “Apontamentos para o Projeto do Código Civil Brasileiro”), professor de História e senador constituinte eleito em 1890 por Minas Gerais, bem sabia o que estava falando: Tratava-se de um fato público e notório, e por isso, consignou no seu livro o fato que todo mineiro sabia.



Afinal, este é um princípio milenar e como tal foi até oficializado pelo direito adjetivo brasileiro, pois como bem diz o nosso Código de Processo civil em seu art. 334, I “ Não dependem de prova os fatos, I- notórios” .



Destarte, não há porque duvidar da seriedade e da honestidade do autor do livro “ Memórias do Distrito Diamantino” , considerado por Sílvio Romero, “ que sempre foi severo e rigoroso na análise dos historiógrafos do século XIX e coloca Joaquim Felício dos Santos numa posição de inegável prestígio”- opus cit. p. 14.



Com efeito, o crítico sergipano Sílvio Romero, autor da monumental História da literatura brasileira, diz que o livro “ É uma das obras de história nacional mais bem feitas que possuímos. Como Vernhagem, Lisboa, Joaquim Caetano, fez pesquisas, viu documentos, estudou seriamente o assunto”- idem p. 14-



Joaquim Felício, já consagrado em Minas Gerais, teve a oportunidade de revisar os artigos publicados no “O Jequitinhonha”, antes de os reunir no livro objeto deste ensaio, e extirpar dele o que não fosse verdadeiro, ou o que não se coadunasse com fatos verdadeiramente acontecidos.



Entretanto, Joaquim Felício manteve o que escrevera para o jornal, e continuou mantendo suas palavras até falecer em Biribiri, distrito de Diamantina, no dia 21 de outubro de 1895.



Ressalte-se que em face da importância do jurista falecido, o Congresso Nacional, em 1902, concedeu à viúva de Joaquim Felício dos Santos, D. Maria Jesuína Felício dos Santos(que era sua sobrinha), uma pensão mensal de 500$000(concedida mas não efetivada), pela sua participação para “ firmar a estrutura do Código Civil Brasileiro”.- ibidem, p. 28-.



Além do que ficou assentado por Joaquim Felício dos Santos, poder-se-ia com facilidade colacionar outras fortes evidências do envolvimento da maçonaria na Inconfidência: Realmente, José Álvares Maciel havia estudado em Coimbra e de lá seguira para a França onde foi iniciado na maçonaria.



Aliás, José Álvares Maciel é o único citado nos autos da “ Devassa” como sendo maçom. Por quê? Porque sua condição de maçom iniciado na França era do conhecimento dos juízes devassantes e por isso ficou consignado nos autos.



Helio Viana na sua “ História do Brasil “ comenta o fato: “ ...e ainda José Álvares Maciel, formado em Coimbra, filho do Capitão-Mor de Vila Rica e cunhado do Tenente-Coronel do Regimento de Dragões das Minas, - encontraram ambiente propício às novas idéias, junto aos intelectuais, sacerdotes e moradores adiante mencionados. Note-se, ainda, que em França filiara-se Maciel à maçonaria e, como é sabido, à propagação dos idéias libertários, que dentro em pouco seriam os da Revolução Francesa, dedicava-se então, ativamente, aquela sociedade secreta”. – opus cit p. 333.



Nebuloso o fato da iniciação de Tiradentes. Foi na Bahia? Foi em Minas por José Álvares Maciel?



Naquela época – pelos motivos exaustivamente elencados – a maçonaria não poderia abrir lojas e anunciar “ aos quatro ventos” suas intenções libertárias. Daí as “ academias” , “ associações”, “ areópagos” etc.



Talvez até existisse na Bahia, lugar muito visitado por Tiradentes em suas andanças como tropeiro” alguma “ loja” ou “associação” maçônica.

Mas, é muito provável que Tiradentes tenha sido iniciado por Maciel, porque naquela época era permitido ser feita iniciação fora do templo, por um maçom com autoridade para tanto. Quando tal acontecia denominava-se “ Iniciação por comunicação”. Tal prerrogativa vigorou até 1907, quando foi promulgada a Constituição da Maçonaria no Brasil.



O maçom pernambucano, escritor e pesquisador Edival Gomes da Costa, na monografia intitulada “ A Inconfidência Mineira, Que Houve “, traz em supedâneo dos argumentos favoráveis a Tiradentes ser maçom, algumas referências de Historiadores, três das quais citamos abaixo:



Mário Veiga Cabral, que na obra “ História do Brasil”, p. 179, diz: “ retirou-se Tiradentes, satisfeitíssimo, não por saber que seu comandante tomava parte no movimento, mas por lhe ter ele dado a conhecer que estava iniciado no misterioso trama”.



Gustavo Barroso, na “ História Secreta do Brasil, vol. I, p. 153: “ Quando Tiradentes foi removido da Bahia, trazia instruções secretas da maçonaria para os patriotas de Minas”.



Esse texto provoca a seguinte indagação do escritor Edival: “ Será que a maçonaria seria tão ingênua que, numa época de tamanhas perseguições, mandaria instruções secretas para os Iirr:. , por um profano?



Outros escritores também se manifestaram sobre o tema: Augusto de Lima Júnior, in “ História da Independência de Minas Gerais”, p. 106, destaca: “ Iniciado na maçonaria, Tiradentes tomava parte nas reuniões desta, no Rio de Janeiro e pregava as suas doutrinas onde quer que se encontrasse”.



Rocha Pombo, Eminente historiador, descreve como se comportavam os Inconfidentes e, nessa descrição, vemos claramente sinais maçônicos: “ Não se poderia dizer a qual daquelas figuras se deve atribuir a iniciativa, o primeiro impulso de que dependeu o concerto decisivo, a coragem resoluta, a ufania quase desapercebida com que se apaixonam pelo risonho ideal, comunicando-se por símbolos, entendendo-se por gestos, anunciando-se por senhas”. – obra referida, p. 213-



Ora, qual Instituição do mundo é conhecida pela prática, no seu dia a dia, de “ símbolos”, “ gestos” e “ senhas” senão a maçonaria? Qual Instituição no mundo tem - por tradição – caráter secreto quanto ao rito e quanto às iniciações que faz? E qual a Instituição que tem o objetivo declarado de promover a Liberdade, a Fraternidade e a Igualdade entre os povos? A resposta é uma apenas: A Maçonaria!





Por todo o exposto, entendo que a História da Luta Libertária desenvolvida pela Maçonaria nos séculos XVIII XIX não pode ser escrita com às mesmas tintas da História profana, justamente pelo envolvimento dos maçons com as grandes causas libertárias, numa Europa monarquista com suas colônias mantidas sob o jugo da opressão e ganância a justificar plenamente os “ conluios secreto” dos pedreiros livres ”.



Assim, reafirmando meu total respeito às opiniões contrárias, perfilho-me entre os que aceitam o fato da maçonaria ter estado presente na Inconfidência Mineira e em tantas outras lutas pela liberdade dos povos e das nações, e encerro o presente estudo esperando ter contribuído minimamente, se não para dirimir, pelo menos para apresentar outros argumentos acerca de Tiradentes ter sido maçom.



Para último, quero deixar registrado o comportamento de Joaquim José da Silva Xavier durante todo o julgamento a que foi submetido juntamente com os outros “ Inconfidentes” , explicando que assim o faço para impugnar certos escritos que pretendem manchar a honra de Tiradentes, atribuindo-lhe um comportamento vil e covarde quando teve de responder às perguntas que lhe eram feitas pelos inquisidores:



Tiradentes, ao ser preso , fez o que todos os outros fizeram: Negou tudo! Porém, a medida que os acusadores demonstravam ter perfeito conhecimento do plano, da insurreição que estava se formando e ia ser deflagrada quando da “ derrama”, ele passou a admitir sua participação e além de assumir toda a responsabilidade, ele, dentre os maçons que participaram da conspiração, foi o único que sustentou com coragem e determinação os ensinamentos maçônicos, em oposição ao desespero(compreensível) dos outros Inconfidentes. Durante a longa "Devassa", que era o processo judicial, os conspiradores ora lamentavam-se; ora acusam uns aos outros. Cláudio Manoel da Costa foi encontrado morto em sua cela de prisão. Assassinado – dizem uns -. Suicídio – afirmam outros -. Talvez a hipótese do suicídio esteja mais correta, pois o desânimo e a depressão apoderaram-se da alma dos Inconfidentes. Mas, Tiradentes foi, repito, o único que não esmoreceu, que não teve medo e que não se arrependeu do que tinha feito, passou para a história como o herói que sonhou tornar o Brasil livre. Suas palavras, ao tomar conhecimento da sentença de morte pronunciada contra os " Irmãos Maçons", chegaram até nós como exemplos de firmeza de caráter, coragem e extrema generosidade, pois enquanto os outros lamentavam ele, grandioso e coerente, dizia ao Frei Raimundo de Penaforte: " 10 vidas eu daria, se as tivesse, para salvar a deles! " Tais palavras que se revelaram proféticas(pois no dia seguinte os demais acusados tiveram suas penas comutadas em degredo) impressionaram tanto o bom Frei Penaforte que ele se encarregou de divulgá-las para às páginas da nossa História!



Porém, o depoimento mais conclusivo sobre a coragem e a honradez de Tiradentes é dado por um inglês, Kenneth Maxwell, que pesquisou o episódio da Inconfidência Mineira para um trabalho(ou tese de doutorado) patrocinado por várias Instituições norte-americanas, notadamente a Princenton Regional Studies Fellowship e a Ford Regional Studies. Com o dinheiro do patrocínio e tempo disponível, Kenneth Maxwell consultou os arquivos existentes aonde quer que se encontrassem. Leu nos autos da Devassa os depoimentos dos envolvidos. Acompanhou os relatórios dos juízes e autoridades policiais e, apesar de não ter ficado convencido do envolvimento dos maçons e da maçonaria na Insurreição( à falta de documentos...), consignou na página 222 do seu livro “ A Devassa da Devassa” , sua opinião sobre Tiradentes:



“ A tranqüila dignidade com que Tiradentes enfrentou a morte foi um dos poucos momentos heróicos do fracasso sombrio. Quase um século depois, quando o Brasil implantou a república, ele foi proclamado herói nacional. E esta condição de herói nacional do alferes dos Dragões de Minas não é injustificada; em comparação com o de seus companheiros de conspiração, o comportamento de Tiradentes, ao ser interrogado, foi exemplar, ninguém o sobrepujou em entusiasmo por uma Minas independente, livre e republicana; reclamou para si o maior risco e não há dúvida alguma de que estava disposto a assumi-lo. Conforme dizem ter Cláudio Manoel da Costa afirmado, tomara que existissem mais homens desta têmpera! Tiradentes não era um anjo, nenhum homem o é. Mas, em uma história particularmente carente de grandes homens, Joaquim José da Silva Xavier impõe-se como uma exceção”.



Meus prezados leitores: deixo-os meditando nessas palavras ditas por um estrangeiro que realmente vasculhou os documentos arquivados em 14 Instituições localizadas no Brasil, Portugal, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos da América, realizando o que ele mesmo chamou de “ A Devassa da Devassa” e concluiu pelo heroísmo e pela dignidade de Tiradentes.







Bibliografia:



A . Tenório de Albuquerque- “ A Maçonaria e a Grandeza do Brasil”-

Edival Gomes da Costa- “ A Inconfidência Mineira, Que Houve”- Monografia de 1984- Belo Horizonte- MG

Helio Vianna- “ História do Brasil “ – 1975- São Paulo

Joaquim Felício dos Santos- “ Memórias do Distrito Diamantino”- 1956- Rio de Janeiro.

Kenneth Maxwell- “ A Devassa da Devassa” – 1985- Rio de Janeiro

Renato Mocellin- “ A História Crítica da Nação Brasileira”-1987, São Paulo.

Rocha Pombo- “ História do Brasil –vol III”, -1953- São Paulo.























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