ALVORADA
Cinco e meia da manhã,
O sol invade o meu quarto pela janela aberta.
Levanto-me e vou respirar ar puro da manhã.
Do alto do 5º andar onde moro,
Vejo a copa das árvores e os primeiros carros Percorrendo a avenida distante.
Do outro lado da rua o Clube Português,
Com suas quadras de esportes vazias
E a piscina com as águas adormecidas ainda.
Respiro profundamente e sinto uma cálida alegria
Inundando o meu espírito
Enquanto o sol aquece o meu corpo.
Embaixo, na calçada, lá vai o mesmo homem
De uns quarenta e poucos anos,
Passeando com seu cachorrinho preso pela coleira.
Bem na frente do edifício
Ele cruza com outro homem quase da mesma idade,
Que também diariamente,
Maltrapilho, com uma lata na mão,
Vem remexer os depósitos de lixo do edifício
Em busca de comida.
Para uma criação de porcos, provavelmente,
Ou para seus filhos, talvez.
Não sei. Prefiro não saber,
Para não ter a desagradável certeza
De que os restos de comida que ele apanha no lixo,
São para os próprios filhos famintos.
De qualquer maneira, retiro-me da janela,
Já não sinto alegria alguma.
Recife, setembro de 1975.
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