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Artigos-->Formalismo e Funcionalismo Lingüísticos -- 22/02/2007 - 18:52 (ALZENIR M. A. RABELO MENDES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Formalismo e Funcionalismo lingüísticos



O formalismo, dada a abrangência de seus estudos, influenciou o Estruturalismo e as correntes advindas deste no século XX. No âmbito da Lingüística Estrutural européia, ou da análise estrutural de Ferdinand de Saussure (1857-1913), ganham importância a Escola de Praga, matriz da Lingüística Funcional, tendo à frente as parcerias entre Nikolai Troubtskoi e Roman Jakobson; e a Escola de Copenhaque, de base formalista, com Louis Hjelmslev, cujas formulações teóricas orientaram a Escola Americana e a Lingüística Descritiva de Bloomfield (FARIAS Jr., 2003, p.2). Desde seus primeiros anos, o Formalismo, não se orientou por uma doutrina uniforme, decorrendo daí concepções diferentes dentro do próprio movimento, que apontaram para o surgimento de grupos discordantes, se não de todo, mas de boa parte de seus postulados sobre a língua e a linguagem. Na Europa, os formalistas organizaram-se em dois grande grupos: o Círculo Lingüístico de Moscou, fundado em 1915, e o OPOJAZ (Sociedade para o Estudo da Linguagem Poética), fundado em 1916 na cidade de São Peterbusgo.

O Círculo Lingüístico de Moscou tinha como objetivo sistematizar as descobertas sobre os problemas da linguagem prática e linguagem poética, enquanto o OPOJAZ visava elaborar princípios de descrição sincrônica e definir os dispositivos específicos da língua poética. Os lingüistas do OPOJAZ, tendo à frente Viktor Shklovsky e Roman Jakobson, adotaram o método mecanicista ou formal, focado na técnica e no dispositivo centrado nos procedimentos técnicos de análise lingüística. Para os referidos estudiosos, a literatura, como trabalho artístico, é a soma de dispositivos artísticos e literários que o artista manipula para criar sua obra, considerada como uma entidade autônoma, porém isolada do seu contexto e autor.

As deficiências desse método motivaram a elaboração de outro modelo: orgânico, criado pelos teóricos que se mantinham em atitude de discordância. Tal método, orientado pelos princípios da Biologia, ocupou-se do estudos das similaridades entre as formas literárias, tratadas como organismos individuais que conservam entre si traços comuns aos gêneros da literatura. A recorrência de determinados traços lingüísticos e a forma como os mesmos se apresentam definem os diferentes estilos da literários. No entanto, mecanicistas e orgânicos não explicaram as mudanças que, ao longo do tempo, afetam o sistema literário, seu código lingüístico e os dispositivos de análise de seus organismos.

Os embates teóricos e metodológicos entre os formalistas russos desembocaram nos estruturalismos funcionais, projetados com o Círculo Lingüístico de Praga, fundado por Trubetskoy e Jakobson, dentre outros, em 1926. As formulações teóricas que ali foram esboçadas disseminaram-se a partir do Congresso Internacional de Lingüística de Haia, em 1928, e da elaboração das Teses de Praga. Das referidas Teses, emana o princípio básico do funcionalismo, segundo o qual a natureza das funções lingüísticas determina a estrutura da língua. A Função é a tarefa atribuída a um elemento lingüístico estrutural para atingir um objetivo no quadro da comunicação humana, Logo, a função determina a forma lingüística. (MUSSALIM & BENTES, 2001, p.69-70).

Troubetskoi, fundamentando-se nas idéias de Saussure, contribuiu para o desenvolvimento da fonologia, sistematizando-a como disciplina, garantindo-lhe difusão internacional a partir da Primeira Conferência Internacional de Fonologia em 1930.

Roman Jakobson deu prioridade ao estudo da linguagem poética e aproximou outras disciplinas, como fonologia e a antropologia da lingüística. Os conceitos básicos de seus estudos foram desenvolvidos em torno dos seguintes dispositivos: 1) similaridade e contigüidade; 2) Metáfora e Metonímia; 3) Equivalência; 4) Ambigüidade. Na perspectiva jakobsiana, a literatura e a lingüística estreitamente estão ligadas nos fundamentos da poética. A poesia seria dominada pela metáfora, enquanto a prosa funcionaria sob a metonímia. Coube também Jakobson os louros pela classificação das funções da linguagem: a função referencial, emotiva, conotativa, fática, metalingüística, poética. Embora ele tenha acrescentado apenas duas funções às já formuladas por seus pares: a função poética e a função referencial. A definição dada por ele para a função poética implica que a linguagem poética não tem por função primordial descrever o mundo real; enquanto a função referencial não é mais que acessória, e ela é mesmo seriamente opacificada pelo trabalho poético.

Dos desdobramentos das idéias dos formalistas e de suas oposições desenvolveram-se os trabalhos do funcionalismo que, longe de se constituir uma corrente distinta do estruturalismo, mantêm vínculos com a Lingüística de Saussure e com outras correntes, as quais, segundo PAVEAU & SARFATI (2006, p. 115), “não constituem corpos teóricos completos e autônomos, mas correntes imbricadas umas nas outras, ligadas por relações de filiação ou de oposição e por escolhas teóricas complexas. De fato, o funcionalismo tem seu lugar no conjunto do movimento estruturalista; é um estruturalismo específico que se pode chamar de estruturalismo funcional”.

Esses autores concebem o funcionalismo como sendo mais que um conjunto de teorias, “um olhar sobre a linguagem e suas relações com o mundo”. E se há uma posicionamento teórico, no “continente do estruturalismo ao qual o funcionalismo se opõe é ao formalismo”, cuja abordagem, privilegia o estudo do “funcionamento interno do sistema linguageiro”, as características internas à língua, ou seja, o aspecto formal da língua; enquanto o funcionalismo privilegia “as constantes transformações das formas da linguagem na sociedade”, o significado e o uso das formas lingüísticas nas situações comunicativas.

Na perspectiva do Funcionalismo ganham relevo o trabalho dos lingüistas André Martinet e Halliday. O primeiro defende, como princípio teórico, a definição de língua como “instrumento de comunicação duplamente articulado e de manifestação vocal”. O segundo defende uma abordagem sócio-funcional que incorpora a dimensão social à lingüística. A linguagem, segundo ele, é dependente da cultura. Martinet pauta-se por uma lingüística objetiva e generalista, seu trabalho consiste numa reflexão constante sobre a diversidade das línguas e as diferenças entre línguas. Os conceitos centrais de suas proposições lingüísticas são apresentados em 1989 na obra Fonction et dynamique des langues. Conforme a conceituação de Martinet, os quatro domínios que consistem disciplinas autônomas compreendem: a Função, na qual “os traços linguageiros” são apreendidos e classificados em referência ao papel que desempenham na comunicação da informação; a Pertinência Comunicativa que advoga o fundamento de cada ciência em sua pertinência.

Na lingüística funcional, estimamos que a pertinência é a pertinência comunicativa; a dupla articulação: fonemas e monemas, cada uma das unidades que resultam de uma primeira articulação está articulada a outras unidades; e a Lingüística geral funcional, dividida em fonologia – o estudo da forma com que cada língua utiliza os recursos fônicos para assegurar a comunicação entre seus usuários, monemática - distingue os monemas lexicais e os monemas gramaticais; c) sintemática - estuda os sintemas (...) um segmento de enunciado que comporta vários monemas lexicais combinados entre si; d) sintaxe - estuda as relações de dependência dos monemas e as funções que eles assumem em um dado enunciado. (PAVEAU & SAFARTI, 2006, p.136-138).

Dentre outros funcionalistas, Halliday tem destaque com a elaboração de uma Gramática Funcional, definida por NEVES (1997, p.2) como uma “teoria da organização gramatical das línguas naturais que procura se integrar em uma teoria global da interação social”. Halliday estabeleceu o modelo sistêmico-funcional a partir de sua abordagem sobre a linguagem atrelada à função social, com trabalhos que abrangem o texto e o discurso. Para ele, a linguagem é uma parte do processo social e ao mesmo tempo metáfora de tal processo. E denomina “metafunções” a articulação entre os dados sociais e as formas lingüísticas. Para ele “metafunções” são conceitos teóricos que “permitem compreender a interface entre a linguagem e o que está fora da linguagem”. O texto é privilegiado como unidade de estudo em vez da sentença ou unidade sintática. Ele propõe os seguintes tipos de função: a) ideacionais (ou cognitivas); b) interpessoais (ou modais); c) textuais.

Os formalistas do Círculo de Copenhaque, do qual Hjelmslev foi o fundador (1931), colocam-se, teoricamente, contra os funcionalistas do Círculo de Praga. Para os formalistas a língua é uma estrutura autônoma e deve ser interpretada como “uma unidade encerrada em si mesma”. CUNHA, Et.Al. (2003, p.19). Essa corrente encontrou sua expressão no contexto do Estruturalismo americano com os trabalhos de Bloomfield e Harris, apoiados nos estudos Antropologia.

Na primeira metade do século XX, as teorias européias já estavam bastante difundidas na América do Norte. No entanto, os lingüistas se confrontaram com línguas cujas estruturas diferiam do paradigma europeu, fato que os levou a desenvolver uma Teoria da estrutura das línguas. E adotaram o método descritivo para o conhecimento das línguas ameríndias. Antes de 1950, entrou em cena o Descritivismo, ou Distribucionalismo, caracterizado por uma abordagem teórica abstrata da linguagem e pela negação dos postulados funcionalistas. Bloomfield, um dos principais expoentes do descritivismo estruturalista, “adotou uma perspectiva explicitamente behaviorista do estudo da língua, eliminando, em nome da objetividade científica, toda referência a categorias mentais ou conceituas.” (WEEDWOOD, 2002, p.131).

Sob o argumento de que os estudiosos da linguagem não dispunham de meios para definir a maior parte das significações, Bloomfield propôs uma organização das formas lingüísticas, que considerasse o caráter específico e estável de uma língua, a exemplo de algumas comunidades, nas quais alguns enunciados são semelhantes pela forma e significação. As formas lingüísticas, como unidades de sinal, suscitam respostas a uma situação entre os interlocutores, o significado é apenas um estímulo e uma reação verbal. Bloomfield distingue duas formas lingüísticas: a forma gramatical, constituída pela combinação dos texemas (traços de disposições gramaticais); a forma lexical pela combinação de fonemas que possui um sentido estável em uma comunidade lingüística. PAVEAU & SARFATI (2006, p. 151-152).

Na década de 60, Chomsky propôs uma teoria transformacional e gerativa, ou Gerativismo. Elaborou uma teoria geral, através da qual introduziu conceitos fundamentais de sua lingüística. Sua concepção de língua considera a capacidade do falante de exprimir pensamentos através das frases. Distinguiu “estruturas profundas” (o sentido), gerado pelas “estruturas de superfície”(a camada sonora) da frase. (PAVEAU & SARFATI (2006, p. 167-171).

Chomsky, embora fosse discípulo Harris que recebeu influência de por Bloomfield, empenhou-se em elaborar uma gramática que não se limitasse ao descritivismo, mas que desse conta de explicar as razões das transformações de uma determinada língua e de suas as possibilidades de seqüências e combinações verbais e sonoras. Chomsky situou o trabalho do lingüista ao lado da competência dos falantes e dos conhecimentos intuitivos que estes têm sobre como usar língua.

A combinação do estruturalismo com o funcionalismo é também uma herança da Escola de Praga. Os funcionalistas são, portanto, estruturalistas na medida em que seu objeto é de fato a língua como sistema. Porém, a abordagem lingüística difere das abordagens formalistas, pois concebe a linguagem como um instrumento de interação social, e busca a motivação para os fatos da língua no contexto do discurso, extrapolando a investigação da estrutura gramatical. O tratamento de uma língua natural sob a perspectiva funcionalista, põe sob exame a competência comunicativa. A Perspectiva Funcional da Sentença (PFS) é um ponto fulcral para os funcionalistas, quanto à estrutura gramatical das línguas naturais.

CUNHA, Et.Al (2003, p.29) destacam outros aspectos que diferenciam o funcionalismo contemporâneo do formalismo: “primeiro por conceber a linguagem como um instrumento de interação social, e segundo por buscar no contexto discursivo a motivação para os fatos da língua.” Para esses estudiosos “a estrutura gramatical depende do uso que se faz da língua, ou seja, a estrutura é motivada pela situação comunicativa. Nesse sentido, a estrutura é uma variável dependente, pois os usos da língua, ao longo do tempo, é que dão forma ao sistema”.OLIVEIRA (2006, p. 98) observa que “Tanto o funcionalismo como o formalismo tratam do mesmo fenômeno: a língua. Contudo, a forma como vêem esse fenômeno é distinta, o que implica o uso de metodologias distintas no estudo desse fenômeno“.

Na perspectiva formalista, “a língua é analisada como um objeto autônomo, cuja estruturam, independe de seu uso”. Esta visão contrapõe-se à funcionalista que concebe a língua como um instrumento de comunicação, e como tal, “deve ser analisada como uma estrutura maleável sujeita às pressões oriundas das diferentes situações comunicativas que ajudam a determinar sua estrutura” (MARTELOTTA & AREAS, 2003, p. 20).

Há ainda outra divisão ou tipos de funcionalismo: o conservador, que aponta a inadequação do Formalismo ou do Estruturalismo, sem propor uma análise de estrutura; o moderado, que aponta essa inadequação e propõe uma análise funcionalista da estrutura; e extremado que nega a realidade da estrutura e considera que as regras se baseiam internamente na função, não havendo restrições sintáticas.

De modo geral, o Funcionalismo tem um denominador comum, porém podem ser distinguidos, pelo menos, dois tipos de funcionalismo: um funcionalismo direcionado a um modelo abstrato de uso da língua e outro, direcionado à língua tal como ela se manifesta em seu uso efetivo. Resumindo, formalismo e o funcionalismo são correntes teóricas da Lingüística do século XX através das quais os estudiosos da Língua buscam explicar os fenômenos lingüísticos. Embora estas correntes se ocupem do mesmo objeto de estudo e possuam entre si pontos convergentes, apresentam divergências quanto à forma de abordagem dos referidos fenômenos.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CUNHA, Maria Angélica Furtado da; Mariangela Rios de Oliveira & Mário Eduardo Martelotta (orgs.). Lingüística funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DP&A/ Faperj, 2003.

FARIAS Jr, Homero Gomes de. O dilema do ovo. Cadernos do I.L., UFRGS, 2003, n° 23/24/25.

MUSSALIM, Fernanda & BENTES, Ana Christina. Introdução à Lingüística - domínios e fronteiras. 2ª Ed. São Paulo, Cortez, 2001.

NEVES, Maria Helena de Moura. A gramática funcional. São Paulo: Martins Fontes, 1977.

OLIVEIRA, Luciano Amaral. Formalismo e Funcionalismo: fatias da mesma torta. Disponível em acessado em 12/09/2006.

PAVEAU, Marie-Anne & SARFATI, Georges-Elia. As grandes Teorias da Lingüística: da Gramática Comparada à Pragmática. São Carlos, Clara Luz, 2006. (Cap. 6 a 8)

WEEDWOOD, Bárbara. A lingüística no século XX. In: História concisa da lingüística. (tradução de Marcos Bagno) São Paulo, Parábola Editorial, 2002.

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