O Pedaço do Pão Dela (cordel)
Francisco de Assis Silva*
Quero contar pro povão
Uma estória que escrevi
Sobre um pedaço de pão
Que uma vez eu comi,
Feito por uma menina,
Misteriosa e grã-fina,
Que conheci na Portela.
Eu confesso e reconheço
Que morro mas não esqueço
Do pedaço do pão dela.
A menina era um feitiço
Em tudo quanto fazia.
Eu acho que era por isso
Que tudo dela eu queria.
Eu comia e lanchonete
Batata, arroz, omelete,
Carne de boi, cabidela;
Comia o que encontrava,
Mas juro que só pensava
No pedaço do pão dela.
Êta mulher milagrosa
Em matéria de comida
Pois igual o pão de Rosa
Eu nunca vi nesta vida.
O pão dela era pra frente,
Bem gostoso e diferente
Do pão da Venezuela...
Já comi pão na cidade,
Só não foi da qualidade
Do pedaço do pão dela.
De manhã vou trabalhar
Muito alegre, satisfeito,
Pensando quando voltar
Comer o que tem direito.
Sei que ela está me esperando,
O seu pãozinho ajeitando
Pra eu comer junto com ela...
Eu como o que encontrar,
Mas sempre deixo um lugar
Pro pedaço do pão dela.
Vou festa da meninada,
Como bolo, pra valer.
Mas o pão da minha amada
Eu até duvido esquecer.
Êta pão abençoado!
E eu só fico animado
Depois que janto com ela...
Vamos pra cama nós dois,
Mas eu só durmo depois
De ter comido o pão dela.
Sei que um dia vou morrer
Mas peço a Jesus querido:
Antes da hora comer
O meu pão tão preferido.
Sei que Jesus me atende
Porque ele compreende
Que eu não vivo sem ela...
Que eu tenho tanto talento
É porque eu me sustento
No pedaço do pão dela.
Só ela é quem satisfaz
A minha vontade louca;
Somente o pão que ela faz
Satisfaz a minha boca.
Ela não causa embaraço:
Aceita tudo o que eu faço,
Tudo que eu tenho ela zela;
Tudo que eu digo ela aceita,
Só não me dá a receita
Do pedaço do pão dela.
Já comi pão com cocada,
Pão de coco, amendoim.
Porém o pão da danada
Foi que me deixou assim:
Otimista, prevenido.
E depois de ter comido
Ficar alisando ela...
Só o pão dela me encanta
Pois até velho levanta
Com o cheiro do pão dela.
Esses velhinhos de cinqüenta,
Que nem lembram de mulher,
Cheirando o pão dela agüenta
Fazer tudo que quiser.
Se está esquecida a “mão”,
Só com o modelo do pão
O senhor levanta ela...
E se aqui tiver Rosa
Pode ficar orgulhosa
Que o pão que falo é o dela.
Quer ecntrá-la, seu moço?
Eu lhe digo a região:
É pra cá de Mato Grosso,
Nem pertinho do Maranhão.
Lá no Hotel dos Amores,
Você vai nos bastidores
E fala pro sentinela:
“Senhor, se ainda tiver
Traga pra mim com café
Um pedaço do pão dela”.
Se eu chego em casa cansado
Ela me vem ver na porta.
E me diz, fique deitado
Que eu tenho o que lhe conforta.
E entra lá pra cozinha
Lava, ajeita e acarinha
Aquela comida bela...
Mas depois que ela ajeitava
Era que ela levantava
Pra comer o pão dela.
A melhor coisa do mundo
É uma mulher sendo boa.
E ainda tem vagabundo
Que quer mudar de pessoa.
Como é que o cara enjeita
Uma morena bem feita
Mais ou menos como aquela?...
Eu mesmo é que não enjeito:
Se ela quiser, eu aceito
Um pedaço do pão dela.
*Francisco de Assis Silva:
: Francisco de Assis Silva nasceu no dia 17/10/1956, no Sítio Pau D’arco, município de Ouro Velho-Pb. Aí residiu até 1976, quando sentindo a vontade de galgar novos horizontes em busca da poesia e na busca de melhores dias, veio residir em Campina Grande. Aos 19 anos deixa seu lugar de origem e vem para Campina Grande faz o 2o. grau. Tira o Curso Técnico de Administração. Fez ainda outros cursos profissionalizantes. Foi classificado em 1o. lugar num concurso de poesia promovido pelo SESC de Campina Grande. Em 1984, publica seu primeiro livro “Bom Dia às Coisas do Mundo”.
Autor de cordéis, inclusive este, humorístico e de duplo sentido: O Pedaço do Pão Dela.
Pertence a Associação Campinense de Poetas e Escritores (ACPE). Arquiteto e fundador da Escola CRAI: Centro de Recreação e Atividade Infantil de Campina Grande/Pb. É casado com a psicóloga Suely Brasileiro e pai de dois filhos: Luan (o8 anos) e Letícia (05 anos). Possui os cursos de Técnico em Administração de Empresa, Técnicas Comerciais, Almoxarife e Vendedor.
