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Artigos-->A TENRA INFÂNCIA -- 11/02/2007 - 15:00 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A TENRA INFÂNCIA



Francisco Miguel de Moura*



Todos nós somos sedentos de conhecer fatos da nossa infância, principalmente dos anos mais tenros, quando a memória ainda não tem condições de guardá-los. O homem é um animal histórico. Sem história, o homem não existe. E se não conseguimos lembrar os acontecimentos e atos anteriores aos quatro anos, salvo algumas vagas impressões visuais – aquelas que nos tenham marcado em profundidade – vemo-nos como se tudo não passasse de pura ilusão da mente.

Acontece, às vezes, de alguém da família contar-nos algum passado interessante. E aquilo fica tão longe, tão longe, num cantinho da memória, que quando crescemos dá-nos a impressão de que o vivenciamos realmente.

Quando me olhava pensando na primeira infância sentia o gosto do vazio. Tudo o que me falava por dentro era uma espécie de sombra do que me disseram e, aleatoriamente, num passe de mágica, eu ia incorporando à memória recente, de tal maneira que tudo resultasse numa pasta informe. Daí a sensação do escuro, do limbo.

Essa situação era de perceber fortemente até quando fui ao interior e estive na casa de tio Toinho. Ele me contou então, passagens importantes da vida de meu pai, Miguel Guarani, inclusive a explicação desse epíteto. Entregou-me, na ocasião, cartas e documentos da maior valia. Eu nem suspeitava que os guardasse, por ser ele um dos mais novos dos meus tios paternos. Foi nessa ocasião que me contou, em tom de anedota, de brincadeira, o que eu nem sonhara.

- Chico – disse-me o tio Toinho – de você, ainda pequenino, eu me lembro do seguinte: Tinha terminado a desmancha” (farinhada) na “Serra” e compadre Miguel – os irmãos tratavam-se assim, desde que um fosse padrinho do filho do outro – pediu-me que levasse comadre Zefa (sua mãe) e os meninos para o “Curral Novo”. A menina menor era levada pela comadre, no colo; Teresa, a outra sua irmã, ia comigo. Você foi colocado no meio de uma carga de jacás cheios de goma, farinha, crueira, redes e os restantes dos apetrechos de casa. A certa altura, no meio da estrada, uma moita que se estendia em galhos e cipós à margem, mas já cobrindo a passagem, lhe pegou pela testa e jogou no chão.

- E eu teria quantos anos, tio? – perguntei, atalhando-o.

- Uns três mais ou menos.

- E daí, que aconteceu comigo, tio Toinho? – novamente o interrompi apreensivo.

Houve um suspense, diante de minha curiosidade. Se não me engano, na sala estavam presentes quase todos os filhos e tia Rosa (a outra, não aquela famosa, que me causava aborrecimentos e eu a ela), além de alguns outros primos meus.

– Bem – meu tio rompeu seu silêncio estratégico – lembro como hoje. Você levantou-se da queda do animal, passou a mão na cabeça, sacudiu a areia do corpo e disse: “Arre, cão!”.

Todos riram da maneira como o tio contou o episódio, inclusive eu.

Depois acrescentou:

– Menino é bicho muito resistente. Mesmo tendo o corpo frágil como tinha você, que havia puxado a seu pai, não caindo de mau jeito, apenas reclama, levanta-se e continua a vida como se nada tivesse acontecido. Você não sofreu nada, só a queda. Saltei do meu animal, apanhei você do chão e coloquei novamente no meio da carga.

Agora, quando refaço essa viagem espiritual à minha infância, através das palavras de meu tio Toinho e das cartas e documentos que ele me entregou – pois a história de meu pai, naquele tempo, se confunde com a minha – sinto-me revigorado. Porque, repito, toda riqueza do homem já está na infância, o resto é apenas questão de desdobramento.

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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, e-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br.



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