Usina de Letras
Usina de Letras
152 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62190 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10352)

Erótico (13567)

Frases (50593)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Francis X Francis: Cantos Felizes de Uma Cabeça de Papel -- 09/02/2007 - 16:48 (Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Francis X Francis: Cantos Felizes de Uma Cabeça de Papel

Lúcio Emílio do E. S. Júnior



Por ocasião dos dez anos de Paulo Francis (1930-1997) está ocorrendo o lançamento de um último romance, deixado incompleto: Jogando Cantos Felizes. Nele, Francis aproveitou sua experiência na França (ele esteve na França em maio de 1968 e entrevistou várias personalidades) e narrou a história do filho de um industrial brasileiro que descobriu seu potencial revolucionário no maio francês. Francis queria publicar o texto em 1998, mas o projeto foi adiado. É muito curioso que Francis tenha escrito sobre a descoberta de um potencial revolucionário num jovem, uma vez que a experiência mais marcante na obra de Francis parece ser o golpe de 64 e a ácida descoberta do pouco potencial revolucionário, não só da juventude, mas de sua geração e do País.

A viúva de Paulo Francis, Sônia Nolasco, está à frente, junto com Wagner Carelli, de uma editora (originalmente, editora W11) que leva o seu nome: editora Francis. Já reeditou as Filhas do Segundo Sexo, Cabeça de Negro, Cabeça de Papel e agora relançou seu último romance, com final reconstruído graças a manuscritos e aos amigos.

O romance Cabeça de Negro (1979), e que segundo Sônia Nolasco, reflete ainda o Brasil atual, foi muito marcado pelo darwinismo social de seu personagem central Hugo Mann. Muito além de retratar simplesmente um darwinista social, Francis construiu toda uma narrativa marcada por essa influência ideológica, tendência essa que acentuou-se na obra de Francis a partir de 1983, quando publicou seu primeiro livro de memórias, agora também relançado, O Afeto que se Encerra. A idéia de que os mais fracos devem perecer, e que viva o mais forte foi uma influência que, levada às últimas conseqüências, provocou uma guinada do escritor e jornalista para o conservadorismo, o azedume das provocações e polêmicas, muitas vezes mergulhando num niilismo e realismo pessimista. O afeto pelos fracos também facilmente se encerrou, ainda que o autor tenha morrido um pouco com o esfarrapar dessa bandeira.

No mesmo pacote recente foi também reeditado o segundo livro de memórias de Francis, Trinta Anos Esta Noite, editado inicialmente em 1994. Neste texto, Francis terminou sua metamorfose político-ideológica e, a partir de uma posição de centro-direita, destruiu o pensamento do Paulo Francis dos anos 60, que dizia, num artigo intitulado A Invasão da América Latina, na Revista Civilização Brasileira de julho de1965, previsões como: “Teremos então a longa noite do militarismo ou a revolução popular. Ambas são previsíveis e a última inevitável”.

Outra característica do estilo de Francis foi o enorme ecletismo de referências: em Cabeça de Negro, passa-se com “asas nos pés” da observação demolidora e difamatória sobre a sexualidade do intelectual Álvaro (claramente inspirado no médico e filósofo nacionalista de esquerda do ISEB, Álvaro Vieira Pinto) para comentários melancólicos, entremeados de frases em inglês, sobre Feliz Dzerzinsky, chefe da Cheka, a brutal polícia secreta soviética. O narrador observou que Dzerzinsky entrou para a militância pensando nas crianças pobres e passou a fazer um trabalho de repressão política violento e brutal, que contrastava com suas boas intenções iniciais. Numa trajetória desviante como a de Dzerzinsky, Francis politizou-se ao ver a miséria das crianças no Nordeste e terminou fazendo apologia do “survival to the fittest”. Para nosso susto, logo após o narrador discorreu comicamente sobre o duplo sentido obsceno da palavra “Cheka” para os mineiros. Manipulando um universo cultural tão descabido com tanta frivolidade, não havia como não descambar num certo saudosismo aristocrático da vulgaridade.

E foi com o humor azedo e a crítica violenta que Francis obteve grande espaço na mídia, sucesso e repercussão. Em Waal, Dicionário da Corte, Francis lembrava-se de que advertiu Glauber Rocha para não fazer o papel de palhaço em seu programa Abertura. Curiosamente, Francis passou a fazer papel de “palhaço da burguesia”, só que de um outro lado do espectro político. Assim como Glauber, pagou um alto preço.

A editora Francis publicou também o livro de Michael Moore, Cara, Cadê Meu País, intensamente crítico de George Bush, e uma surpresa: um romance de Sônia Nolasco sobre a juventude em 1964, e que, pelo que me parece, ameniza e dialoga com as obras do marido. Faz pensar que a figura um tanto quanto histriônica de Francis impediu que fosse dado o devido valor à autora de contos eróticos e romances Sônia Nolasco, que hoje também dedica-se a trabalhos assistenciais para a ONU em países como o Timor e o Haiti. Sônia, mulher compreensiva, guerreira e empreendora, é quem, para além da obra de Francis (que está por ser melhor entendida do que simplesmente destruída, como pretendeu seu anti-biográfo Fernando Jorge, no livro Vida e Obra do Plagiário Paulo Francis) deverá redescoberta no futuro e garantirá a continuidade dos cantos felizes que existiam na cabeça germânica (e um tanto quanto amalucada) de Francis.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui