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Artigos-->TJN - 009 = Neutralidade? Puff! -- 27/01/2007 - 15:35 (TERTÚLIA JN) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NEUTRALIDADE? PUFF!



Ao ler o pungente relato do sofrimento do povo alemão perante os bombardeamentos aliados sou impelido a usar uma frase que ouvia do meu avô quando algum acontecimento o apanhava de surpresa – a minha alma está parva – dizia ele.



Claro que toda a gente está sujeita a sentir as cordas da sua sensibilidade dedilhada por qualquer catástrofe que provoque o sofrimento de seres humanos independentemente do julgamento da causa que lhe deu origem. Todos sabemos que muitas guerras foram determinadas por motivos fúteis e mesquinhos em que o povo não era parte interessada e de que saía sempre prejudicado. Se alguém, por sistema, comenta e condena todos os actos de violência, logo é apodado de pacifista, com o termo carregado de sentido pejorativo, que os belicistas tiveram o cuidado de lhe transmitir.



Há, contudo, no comportamento de um pacifista uma atitude de coerência que ninguém pode contestar.



Não foi o caso. Existe nas referências que foram feitas um sentido muito claro de justificar os agressores, colorindo os actos dos agredidos de cores tenebrosas, para deste modo meter no mesmo saco os nazis e os aliados.



Quem o faz tem desenvolvido uma imensa e pertinaz cruzada em louvor de Salazar, republicando todos os hinos de glorificação do ditador espalhados um pouco por todos os velhos arquivos deste país.



O queixo não me descairia se, a seguir, mesmo filosofando, não surgisse neste espaço uma prosa enaltecendo o ditador por nos ter livrado da guerra. Era o ditador pacifista? Por se ter mantido neutro no conflito?



E o autor? É-o?



Nas andanças que faço pelo país durante as férias, ganhei o hábito de visitar os centros culturais e as bibliotecas que um pouco por todo o lado as autarquias tiveram o bom senso de instalar e desenvolver. Para quem, como eu, recorda as poucas e mal apetrechadas bibliotecas itinerantes da Gulbenkian, que nos anos 50 do século passado andavam de terra em terra pelo interior do país, contribuindo para, apesar de devidamente filtradas pela censura, quebrar um pouco o isolamento em que se encontrava o interior, não pode deixar de reconhecer que algo mudou para melhor.



Porque muitas autarquias incentivam e ajudam os “filhos da terra” a publicar obras sobre assuntos que digam respeito à região, tive a oportunidade de adquirir um livro que se chama “A batalha de Aljezur”.



O autor, José Augusto Rodrigues, fez uma longa e cuidada investigação para executar este trabalho, do qual apenas quero referir o seguinte:



Ali, é relatado um episódio da 2ª Grande Guerra que se passou ao largo da costa entre Sines e S. Vicente. Um comboio marítimo aliado, de 25 barcos, que se deslocava para o norte de África, foi atacado por quatro bombardeiros Condor oriundos da base Bordéus-Mérignac no sul da França (já ocupada). Dois caças Spitfires escoltavam o referido comboio e perseguiram os bombardeiros tendo abatido um, que, incendiado, veio a despenhar-se na falésia junto à Ponta da Atalaia.



O que agora convém sublinhar é o seguinte:

Os comboios eram perfeitamente visíveis de terra quando dobravam o Cabo de S. Vicente. O chefe do farol, Francisco Garcia Regêncio, 1º Sargento condutor de máquinas, comunicava através de um radioemissor para a legação germânica em Lisboa, que por sua vez alertava para a base alemã no sul de França. Em pouco mais de uma hora os bombardeiros alemães apareciam sobre a presa.



Os corpos dos aviadores alemães mortos no acidente foram retirados pelos soldados da guarda-fiscal e na noite de 11 para 12 tiveram direito a velório com guarda de honra da Legião Portuguesa. No funeral estiveram presentes individualidades portuguesas e alemãs, o exército português fez-se representar por dois pelotões do aquartelamento de lagos que executaram as salvas em honra dos falecidos. Durante o cortejo fúnebre as urnas foram levadas aos ombros por membros da célula local da Legião Portuguesa.



Inúmeras fotografias da cerimónia mostram os participantes fazendo a famosa e característica saudação.



Mais tarde, com a devida autorização do Ministério do Interior, as autoridades alemãs foram autorizadas a distribuir medalhas e condecorações (Cruz de Mérito da Águia Alemã, destinada a condecorar a quem se tivesse distinguido pela Alemanha) a alguns elementos da Legião Portuguesa.



Entretanto, Salazar, dormia a sesta, e não tinha dado por nada.



Neutralidade? Puff!





António Mata

ajmata20@clix.pt
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