Hoje
Nesta cidade ensolarada, o dia transcorreu normal,
com noticiários de que a vida vai mudar,
de que está tudo se encaminhando para um rumo certo,
de felicidade e paz...
Não houve um único assalto,
nem morte para entristecer as horas,
que, saturadas com tanta alegria,
nem bateram no relógio da matriz...
Crianças brincavam nas praças
sem medo do “bicho-papão”;
as babás, sem ter o que fazer,
ouviam seu samba-enredo preferido
e sonhavam em ser rainhas da bateria,
ou Porta-Estandarte da melhor escola.
Não havia pressa nas ruas:
as pessoas caminhavam, umas em direção aos shoppings,
outras ao trabalho;
os rostos radiantes de prazer diziam
“bom-dia!”...
Os carros paravam, semáforos nem tinha mais.
Nos bancos das escolas,
as cabeças dos alunos fervilhavam de projetos...
Falavam da recente descoberta de um combustível que,
em vez de carbono,
soltava na atmosfera produtos naturais,
que aliviavam as vias respiratórias dos asmáticos
e embalsamavam o ar de aromas suaves.
O ar se tornou mais azul;
o céu se fez estrelado a qualquer hora do dia...
E os pássaros e as borboletas eram enfeites de festa, graciosos,
e só cobravam água pura, de aluguel...
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