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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Guerra do Rio -- 25/11/2002 - 11:08 (Evandro Sada de Faria) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
GUERRA DO RIO ? Cartas de Uruçumirim

NOS PRIMEIROS ANOS DO BRASIL, PORTUGUESES E FRANCESES FORAM AS PRIMEIRAS NAÇÕES A SE INTERESSAR PELO NOSSO VASTO TERRITÓRIO.

NAVEGADORES, COMERCIANTES E CORSÁRIOS DOS DOIS PAÍSES PERCORRIAM A COSTA BRASILEIRA ATRÁS DE RIQUEZAS E SONDANDO LOCAIS PARA ESTABELECER FORTES E CONSOLIDAR A POSSE DA NOVA TERRA.

EM 1503 A NAU DE UM RICO COMERCIANTE FRANCÊS NAUFRAGOU NA COSTA DE SANTA CATARINA.

FERIDO, O CAPITÃO HENRY DE GONNEVILLE CONSEGUIU CHEGAR A PRAIA ONDE RECEBEU AJUDA E GUARIDA DOS INDIOS CARIJÓS.

MESES DEPOIS, RECUPERADO E AGRADECIDO, O CAPITÃO HENRY DE GONNEVILLE ESTÁ PRONTO PARA RETORNAR A FRANÇA E AOS SEUS NEGÓCIOS.

ELE PROPÕE AO CACIQUE QUE PERMITA QUE SEU FILHO MENOR DE 12 ANOS VOLTE CONSIGO À EUROPA PARA UMA GRANDE TEMPORADA DE ESTUDOS.

GONNEVILLE PROMETE QUE TRARÁ O MENINO DE VOLTA DENTRO DE 40 LUAS.

ESSE MENINO É ESSOMERICQ E DESDE ENTÃO MUITAS LUAS JÁ PASSARAM.

ESSA É A HISTÓRIA DE UM FRANCÊS QUE VIROU ÍNDIO CONTADA POR UM ÍNDIO QUE VIROU FRANCÊS

NORMANDIA 1572 ONE

1 EXT. PRAIA DE PEDRAS ?? AFTERNOON

Sob uma grande tenda de onde se pode observar o pôr do sol, o velho ESSOMERICQ, 81 anos, lê um livro enquanto o sol se põe a sua frente. A seu lado, um homem cochila esparramado em uma confortável cadeira. ESSOMERICQ fecha o livro. Na capa se vê um de Leonardo da Vince.

O velho suspira.

ESSOMERICQ
Hubert, veja você. Da Itália nos vieram a arte e ciência, mas também nossa desgraça e nossa ruína. Leonardo da Vince e Catherina de Médices, esse foi o butim de François I, l idiot !

ESSOMERICQ olha para o lado e vê que seu secretário HUBERT, 35 anos, dorme profundamente.

ESSOMERICQ (CONT D)
(Grita)
Hubert !

HUBERT acorda sobressaltado e se põe de pé.

HUBERT
Monsieur Essomeriq. Pois não Monsieur Essomeriq.

ESSOMERICQ
Nada. Estava apenas lançando ao vento, o meu desprezo pelos Valois, especialmente por Catarina

HUBERT ajeita a manta que cobre as pernas de ESSOMERICQ.

HUBERT
Atenção com o que diz Mon Seigneur. trata?se da mãe do nosso Rei, que certamente..

ESSOMERICQ
(Interrompe)
Este é outro desqualificado. Aliás, os Valois são pródigos em produzir idiotas.

HUBERT faz uma cara de espanto. ESSOMERICQ percebe e faz cara de desdém

ESSOMERICQ (CONT D)
...quanto a François I, se queres saber, esse facínora simplesmente firmou com sangue e fogo sua passagem por esta terra.

Hubert olha para os lados

ESSOMERICQ (CONT D)
Enquanto jovens morriam na Itália ou Germânia ele festejava com poetas e artistas seus projetos arquitetônicos mirabolantes. Os homens das artes e ciências ...balelas. eles os comprou...a todos...

HUBERT
(Interrompe bruscamente)
Francamente Monsieur Essomericq. Me admira ouvir do senhor palavras tão vulgares. Imagina..nosso Rei François, amante das artes e das ciências, homem que tirou a França do mundo dos abrutalhados. Deus permita que tais impropérios não cheguem ao conhecimento de vossa Alteza Henri III

ESSOMERICQ interrompe com uma sonora gargalhada.

ESSOMERICQ
A um homem velho tudo se permite. Até as mais inusitadas opiniões. Adoro este privilégio meu jovem e dele não abrirei mão. Decifra?me se tu tens interesse em tal obra. Se não, deixe o velho louco falar impunemente.

Essomericq emopurra o pesado livro no peito de Hubert

ESSOMERICQ (CONT D)
E tem mais.

ESSOMERICQ
O querido senhor de Gonneville, meu tutor, me deixou créditos reais no seu inventário que datam de Marignane, meu jovem, da Campanha da Itália, já se fazem 80 anos.

O semblante de Essomericq se agrava

ESSOMERICQ (CONT D)
Os Valois são assim. Gostam de fazer guerras com o sangue e o dinheiro de outros.

HUBERT
O que não é privilégio dos Valois...

ESSOMERIQ sorri para HUBERT.

ESSOMERICQ
Voilá uma boa intervenção meu jovem.

ESSOMERICQ estende a mão a HUBERT

ESSOMERICQ (CONT D)
Vamos embora Hubert. O sol já se pôs e mais uma vez você me deixou falando sozinho. Sabe que eu li mais de vinte páginas ao vento enquanto você simplesmente dormia.

HUBERT faz uma reverência, antes de ajudar ESSOMERICQ a se levantar

HUBERT
Mais uma vez me perdoe Mon Seigneur. O senhor fica tão compenetrado na sua leitura... Por vezes um silêncio tão grande se impõe, que eu acabo me deixando levar por meu sono.

ESSOMERICQ
(se levantando)
Voce se deixa levar por seu sonhos meu jovem. Espero que um dia consigas o que queres.
(já de pé)
Nada mais delicioso do que uma pequena siesta. Ainda mais quando temos o coração tranquilo e a cabeça cheia de idéias. Quiçá não tenhas gasto toda tua siesta com as espanholas do Havre e deixado um pouco para assuntos mais sérios.

HUBERT
Que idéia mon seigneur faz de mim...

ESSOMERICQ estende o braço a HUBERT

ESSOMERICQ
Mas isso é outra história... Venha me ajudar aqui. Venha justificar as peças de prata que te dou regularmente. Vamos embora meu jovem. Está na hora do meu banho.

2 INT. CASA DE ESSOMERICQ. SALA DE BANHO ?? MOMENTS LATER

ESSOMERICQ toma banho em sua banheira. Ele saboreia um enorme charuto. A fumaça do charuto junto com o vapor do banho quente produzem uma névoa que cobre todo ambiente.De onde está ele tenta avistar através da neblina uma gravura erótica estratégicamente pendurada na parede

Hubert bate a sua porta

HUBERT
Senhor Essomericq, Senhor Essomericq

Essomericq faz uma cara feia e resmunga

ESSOMERICQ
humm....?

HERBERT
Uma senhorita chegou de Paris e deseja vê?lo.

ESSOMERICQ
Quem é ? A esta hora da noite

HERBERT
Ela diz que é sua neta e se chama Anette de Gonneville

ESSOMERICQ
Quem ...?

HUBERT
Anette de Gonneville. Ela diz que é sua neta

Essomericq fica surpreso. Ele Apaga o charuto na água



3 INT. CASA DE ESSOMERICQ. CORREDOR ?? CONTINUOUS

Hubert espera a resposta de seu senhor com uma orelha quase grudada na porta

ESSOMERICQ
Está bem , Hubert

Essomericq abre uma fresta da porta e põe o rosto para fora em meio a fumaça que sai da sala de banho

ESSOMERICQ (CONT D)
Instale?a no quarto de hóspede e diga que vamos "dejeuner" juntos pela manhã.

Herbert sai e Essomericq abre um largo sorriso.

4 EXT. CASA DE ESSOMERICQ. ENTRADA PRINCIPAL ?? MOMENTS LATER

HUBERT e o COCHEIRO de Anette de Gonneville estão na porta de entrada da casa.

COCHEIRO
Não se fala de outra coisa. Milhares de huguenotes foram passados à lâmina por grupos de católicos ensandecidos. O clima em Paris é irrespirável.

HUBERT
Finalmente vamos ter o acerto de contas entre católicos e protestantes. Que desgraça para a França...

COCHEIRO
Uma verdadeira catástrofe Monsieur HUBERT..

5 EXT. CASA DE ESSOMERICQ. JARDIM ?? MORNING

ESSOMERIQ vai tomar o seu café da manhã. Ele está se preparando para sentar na cabeceira de uma grande mesa no jardim de sua casa. Ao seu lado Hubert que o ajuda.

HUBERT
Bom dia Monsieur Essomericq. Como passou a noite ?

ESSOMERICQ
Muito bem meu caro. Mas quais são as novidades Hubert ? Quem é afinal esta jovem ?

HUBERT
Chegou de Paris ontem à noite

ESSOMERICQ
Hum... Paris é a cidade das dificuldades, todos que vem de Paris tem problemas ou são uma fonte deles.

HUBERT acomoda ESSOMERICQ e senta ao seu lado

HUBERT
O senhor está hospedando, sua bisneta, a filha de Madame de Bonet.

HUBERT
Ela nos fará companhia no café da manhã. Já mandei chamá?la.

HUBERT ajeita o guardanapo no pescoço de ESSOMERICQ e depois se senta e faz o mesmo

HUBERT (CONT D)
Mademoiselle passa bem, sua bisneta saiu em plena revolta em Paris

Essomericq faz uma cara feia para Hubert

HUBERT (CONT D)
Mas graças a Deus ela está em boa saúde

HUBERT serve algumas frutas a ESSOMERICQ começa a se servir mas continua olhando impaciente para Hubert

HUBERT (CONT D)
Protestante foram passados à lâmina por grupos de católicos, a mando do Rei.

Essomericq para o que está fazendo. Dá um murro na mesa

ESSOMERICQ
Eu sabia. Eu te disse Hubert. Esses Valois não valem nada. Nem ele nem essa corja de nobres. Esses apoiam até o demônio se este estiver no trono

HUBERT
Foram centenas de mortos, talvez milhares, uma catástrofre realmente, um banho de sangue. O marido de sua bisneta é um jovem protestante...

Depois de amontoar seu prato com coisas Hubert começa a comer mas continua falando

HUBERT (CONT D)
Está desaparecido...

ESSOMERICQ faz uma cara de nojo quando migalhas de pão começam a voar da boca de HUBERT que come e fala ao mesmo tempo

HUBERT (CONT D)
....mas Graças a Deus, Mademoiselle passa bem, tratando?se de um grande susto apenas.

Hubert para de comer

HUBERT (CONT D)
Mas parece que o seu noivo não teve a mesma sorte, ele é protestante....

Essomericq está contrariado

ESSOMERICQ
Você já disse isso..

HUBERT
O cocheiro da família trouxe?a para cá a seu pedido.

HUBERT passa a a manga da camisa na boca

ESSOMERICQ
Mas, e minha bisneta ? Faz anos que não recebo a visita de qualquer parente.

ESSOMERICQ finalmente toma um gole em sua caneca de café que já está frio. Ele faz cara feia e afasta a caneca

ESSOMERICQ (CONT D)
Desde que passei os negócios para os meus filhos, perdi?os de vista. Imagine quanto a meus netos... A visita de uma neta é relmente uma enorme novidade. Quem é mesmo Mademoiselle de Bonet ?

HUBERT volta a comer e a falar. E a cuspir migalhas

HUBERT
É filha de sua neta Madame Claire de Bonet, que por sua vez é filha de Laure, sua segunda filha do seu primeiro casamento. Ela já faleceu há 10 anos, se não me falha a memória.

ESSOMERICQ
(Impaciente)
Ela quem Hubert ? Quem morreu ?

HUBERT
Laure, sua filha, já morreu e Madame Claire de Bonet, sua neta, está viva. É sua filha que hospedamos.

ESSOMERICQ
(irritado)
Filha de quem Hubert ?

HUBERT
Filha de Madame Claire. Sua
(lentamente)
n e t a!!

ESSOMERICQ
Não importa.

ESSOMERICQ come um pedaço de pão e depois de mastigá?lo

ESSOMERICQ (CONT D)
...Laure, minha filha... Forte e decidida. Casou?se cedo com um jovem muito rico e charmoso, mas que não entendia nada do seu próprio negócio. Me parece que ela tomou as rédeas de tudo...ambém.

HUBERT se recosta na cadeira, passa a mão na barriga, suspira e fala;

HUBERT
Os Gonneville ganham dinheiro há mais de 100 anos.....

ANETTE adentra no Terraço. ESSOMERISCQ lhe olha. HUBERT se levanta para recebê?la. ESSOMERICQ continua a olhar para a jovem que se aproxima. HUBERT lhes apresenta.

HUBERT (CONT D)
Mon seigneur, esta é sua bisneta.

ANETTE e ESSOMERICQ se olham. ANETTE parece surpresa. ESSOMERICQ parece paralisado.

Depois de um momento de silêncio, ESSOMERICQ recupera a fluência.

ESSOMERICQ
Desculpe minha filha. Mas você se parece tanto com sua bisavó.. quando você entrou eu me lembrei de minha Anne... faz tanto tempo. Seja bem vinda a casa de seu bisavó. Ninguém te fará nenhum mal.

ANETTE finalmente se senta. Ela ensaia um sorriso mas está profudamente abatida.

ANETTE
Mon seigneur obrigado por me acolher. Desculpe ter invadido vossa privacidade.

Anette está cabisbaixa

ANETTE (CONT D)
Paris está cheia de cadáveres e..

ESSOMERICQ
(Interrompendo)
Nós já estamos sabendo minha querida. Não pense mais nisso. Você passará alguns dias aqui comigo até que possa ser levada em segurança para seu noivo em Paris. É um verdadeiro prazer receber uma jovem tão linda.

ANETTE esboça um sorriso. Ela parece mais confortável e mais segura, apesar do seu tom de voz triste e sombrio.

ANETTE
Obrigada Mon seigneur. Não posso nem mesmo pedir ajuda de minha mãe que é contra esse casamento...

ESSOMERICQ
O seu bisavô fará de tudo para te ajudar

ANETTE se levanta da mesa. HUBERT se levanta também.

ANETTE
Tenho medo de que algo de ruim tenha acontecido ao meu noivo.

ESSOMERICQ segura as mãos de ANETTE e a faz se sentar. Hubert se senta também. ANETTE está em prantos.

ESSOMERICQ
Calma minha filha, tenho certeza de que o seu bem amado saberá se por em segurança. Tentaremos obter notícias e trazê?lo ao seu encontro.

ANETTE continua desanimada, mas tenta ser simpática

ANETTE
Obrigada Mon seigneur. Perdoa por vir aqui apenas agora, quando preciso de sua ajuda...

ESSOMERICQ
(Interrompendo)
Não pense nisto

ANETTE sorri envergonhada

ESSOMERICQ (CONT D)
Depois de muitas misturas vejo que mesmo a mais encarnada das tinturas

ESSOMERICQ
pode se diluir até se tornar o mais puro branco.

ESSOMERICQ estende seu braço na mesa e o põe ao lado ao braço de ANETTE contrastanto as cores.

ESSOMERICQ (CONT D)
É verdade, como vês pela cor de minha pele, sou um índio brasileiro que um Francês rico e generoso trouxe para viver na Normandia.

ESSOMERICQ recusa com um gesto uma fatia de pão que HUBERT lhe oferece. HUBERT balança a cabeça e pega o pão para si

ESSOMERICQ (CONT D)
Eu disse "sou", melhor entender "fui", minha querida. Depois de mais de meio século nessa terra, tenho a honra e a infelicidade de ser súdito de Sua Alteza Rei de França. De qualquer forma é o que me resta... do Brasil guardo apenas imagens embaçadas que já não tenho mais certeza se são reais ou apenas desejos.

ESSOMERICQ se levanta com dificuldade. HUBERT se precipita para ajudá?lo.

ESSOMERICQ (CONT D)
O importante é que você está aqui e seu Bisavô está muito contente

ANETTE sorri timidamente para o seu bisavô

6 INT. CASA DE ESSOMERICQ. BIBLIOTECA ?? DAY

ANETTE passeia sozinha pela biblioteca de Essomericq. Essomericq chama de biblioteca um amontoados de livros e objetos que encombram todo o espaço disponível.

Anette observa os livros, estatuas e obras de arte.

7 INT. CASA DE ESSOMERICQ. QUARTO DE ESSOMERICQ. ?? NIGHT

HUBERT adentra os aposentos de ESSOMERICQ. Ele está finalizando de se vestir com a ajuda de dois LACAIOS. ESSOMERICQ parece bem disposto e está elegantemente vestido, um sorriso permanente lhe decora o rosto. HUBERT comenta.

HUBERT
Faz anos que eu não lhe vejo assim tão jovial Mon Seigneur.

ESSOMERICQ se olha no grande espelho de onde vê HUBERT e os dois lacaios. Todos estão sorrindo.

ESSOMERICQ
Jovial eu creio que é um adjetivo um pouco excessivo. De qualquer forma agradeço a gentileza e aceito de bom grado o elogio. Estou bem disposto é verdade...mas vejo que você está mais jovial ainda, se me permite dizer.

ESSOMERIQ olha de cima a baixo HUBERT que também está impecavelmente vestido. HUBERT lhe sorri sem graça e lhe oferece o braço. ESSOMERICQ lhe sorri. Os dois saem do quarto.

8 INT. CASA DE ESSOMERICQ. CORREDOR ?? CONTINUOUS

Um grande corredor se apresenta com muitas portas. Nas paredes quadros, desenhos e mapas. ESSOMERICQ e HUBERT atravessam o corredor.

9 INT. CASA DE ESSOMERICQ. BIBLIOTECA ?? CONTINUOUS

ESSOMERICQ e HUBERT entram em uma grande sala onde muitas plantas se misturam a livros, estátuas e antiguidades romanas.

10 INT. CASA DE ESSOMERIQ. SALA DE JANTAR ?? MOMENTS LATER

ESSOMERICQ e HUBERT chegam a sala de jantar. HUBERT ajuda ESSOMERICQ a se sentar à cabeceira da mesa. Ele se senta ao seu lado, um silêncio se faz no ambiente.

ESSOMERICQ e HUBERT não trocam nenhuma palavra. ESSOMERICQ começa a bater seus anéis que fazem um pequeno clic a cada movimento de dedos. HUBERT balança as pernas. Eles se olham. Trocam um sorriso de canto de boca. Finalmente ANETTE adentra o salão, ela está vestida com simplicidade em contraste com as roupas pesadas de essomericq e Hubert. Ela abre um longo sorriso. HUBERT está boquiaberto. Quando ele cai em si se vira para levantar e ajudar a ESSOMERICQ a fazer o mesmo, o velho já está de pé. ESSOMERICQ recebe ANETTE.

ESSOMERICQ
Que grande prazer você me oferece minha filha. Obrigado por te aceito o meu convite para jantar. Sente?se aqui minha querida ao meu lado.

HUBERT puxa a cadeira e ANETTE se senta. HUBERT volta para o seu lugar.

ANETTE
Boa noite Mon Seigneur. Obrigado Monsieur Hubert. Sou eu que me sinto honrada.

ESSOMERICQ sorri.

ESSOMERICQ
Minha filha você está simplesmente linda. Sou um velho decrépito e ainda não aprendi que a beleza está na simplicidade. Olhe para nós. Veja o infeliz do Hubert. Estamos cheios de veludos e suando como marujos na estiva. Estamos desconfortáveis e crédulos de nossa elegância. Deus queira que não tenhamos uma sopa quente como entrada do nosso jantar.

ANETTE sorri. HUBERT não se contém e também ri. Todos gargalham quando uma das criadas adentra com uma enorme e fumegante sopeira.

11 INT. CASA DE ESSOMERIQ. SALA DE JANTAR ?? MOMENTS LATER

ANETTE acaba de dar sua última colherada na sopa de mariscos que lhe foi apresentada. HUBERT bebe vorazmente a sua. Ele transpira abundantemente. ESSOMERIQ também já acabou com a sua parte mas seu prato está praticamente intacto. ESSOMERIQ e ANETTE olham HUBERT que está debruçado sobre o seu prato. ESSOMERICQ olha para ANETTE, sorri e faz o gesto de quem se abana. ANETTE sorri. A criada chega para retirar o serviço. HUBERT termina às pressas a sua sopa.

ANETTE
O senhor tem uma bela casa. Durante toda a tarde, pude conhecer um pouco dos seus domínios. Vejo que aprecia a arte e a antiguidade e que tem uma grande biblioteca.

ESSOMERICQ
Minha filha, enquanto eu tiver curiosidade, terei vida. Minha vontade de aprender continua intacta embora minha memória, de tempos em tempos, resolva me trair. Gosto de saber, de tentar compreender. Eu acho que isso é a principal razão da minha suposta lucidez. Eu me interesso pelas coisas que me rodeiam. Se você quiser posso lhe mostrar um pouco do que acumulei durante todo esse tempo, meus livros e peças favoritas.

HUBERT
(Interferindo)
Posso lhe assegurar Senhorita que Mon seigneur tem um belíssimo acervo. Me sinto um privilegiado servindo Mon Seigneur.

ANETTE confirma com a cabeça. ESSOMERICQ esboça um sorriso.

ESSOMERICQ
Será um enorme prazer lhe mostrar minha filha. De nada vale o conhecimento se ele não puder ser dividido.

ESSOMERICQ
Quisera eu ter mais pessoas interessados em repartir comigo informações. Mas o mundo anda tão depressa que ninguém tem muito tempo para escutar as histórias de um velho homem.

ESSOMERICQ
Eu tenho a felicidade de ter condições financeiras de pagar Hubert para ouví?las, mas quantos velhos morrem em silêncio que é a forma mais triste de se morrer.

HUBERT ri amarelo e quando ele ameaça intervir ESSOMERICQ lhe interrompe.

ESSOMERICQ (CONT D)
Não leve tão a sério meus comentários Hubert. Sei da sua amizade e confio na sua lealdade e dedicação. Sei também que as moedas que lhe dou são muito menos do que você teria capacidade de ganhar empregando seu talento e seus conhecimentos fora desta casa. E lhe sou grato por isto.

ESSOMERICQ toma um grande gole de vinho.

ESSOMERICQ (CONT D)
Mas isso não invalida o fato de que vivo só.

olhando para Anette

ESSOMERICQ (CONT D)
Tal qual uma velha árvore, só posso estar feliz com a visita de um "beau oiseaux".

12 EXT. CASA DE ESSOMERICQ. JARDIM ?? MORNING

Um pássaro posa em uma árvore.ESSOMERIQ e ANETTE caminham de braços dados .

ANETTE
O senhor vive aqui, nunca viaja ?

ESSOMERICQ
Desde que passei meus negócios para filhos, genros, noras e agregados,vivo aqui em paz..

ANETTE
Como faz para saber das novidades?

ESSOMERICQ
Ultimamente tem sido Hubert o portador das novas ou os criados que vão frequentemente ao Havre ou Dieppe. Esta manhã, aliás, mandei Hubert ao Havre e a Honfleur para saber o que está acontecendo. Devemos ter notícias suas ainda esta noite. O criado que mandei a Paris também não deve tardar. Teremos em breve novas do que se passa em nosso país.

ANETTE
O senhor acha que corremos perigo?

ESSOMERICQ
Estamos seguros minha filha. Somos uma família de comerciantes. Quem vai se indispor com seus fornecedores, ainda mais em tempo de guerra.

ESSOMERICQ (CONT D)
É hipócrita de minha parte afirmar isso com tanta facilidade, mas ninguém ganha tanto em uma guerra como os comerciantes.

ESSOMERICQ (CONT D)
Tanto os católicos quanto os protestantes precisam dos produtos que vendemos, dos barcos que possuímos, do dinheiro que acumulamos. Da guerra estamos a salvo, não se preocupe. Não diria o mesmo de nossas consciências.

ESSOMERICQ ri amarelo.

ANETTE
O Senhor tem razão. Estamos abrigados pela nossa cumplicidade. Acho que não gostaria de saber qual a nossa parte de culpa em toda essa violência.

ESSOMERICQ
Não creio que seja uma parte maior do que a parte de qualquer outra pessoa.

ANETTE
Odeio essa postura arrogante que aprendemos a nos servir desde a mais jovem idade. Essa falta de capacidade de realizar algo em conjunto sem que sangue e lágrimas sejam derramadas.

Eles param de caminhar. ESSOMERICQ passa os dedos sobre o seu anel e suspira.

ESSOMERICQ
Hoje vivo assim, mas na sua idade eu queria conhecer todas as pessoas da França.

Anette faz cara de quem duvida

ESSOMERICQ (CONT D)
Sempre fui comerciante mas o dinheiro nunca foi uma da minhas paixões. Para mim, comprar e vender era apenas um detalhe. O importante era estar estar em contato com pessoas de todos os cantos.

ANETTE intérvem

ANETTE
Mas o senhor fez fortuna...

ESSOMERICQ
Vivemos em tempo de grande movimento nos portos da Europa, não foi difícil aumentar a fortuna que meu protetor me legou.

ANETTE sorri.

Eles se sentam em um banco embaixo de uma grande árvore.

ESSOMERICQ (CONT D)
Tudo o que sou, devo ao meu protetor, meu querido Senhor de Gonneville..

13 INT. CASA DE ESSOMERICQ. ATELIER ?? AFTERNOON

ESSOMERIQ mostra a ANETTE muitas trabalhos com motivos indígenas, flechas, arcos, cocares, cerâmicas, esculturas de madeiras e tapeçarias indígenas estão presas à parede.

ANETTE parece distante e está mais vez abatida. Ela segue ESSOMERICQ com um olhar triste mas parece não ouvir nada do que o velho diz.

ESSOMERICQ
Minha filha o que houve ? Estou falando sozinho há algum tempo, me parece.

ESSOMERICQ (CONT D)
Não se martirize com maus pensamentos.

ANNETE começa a chorar. ESSOMERICQ lhe toma em seus braços. Eles são interrompidos pela chegada de HUBERT . ANETTE se inquieta.

ESSOMERICQ (CONT D)
Como foi de viagem meu caro Hubert. Quais são as notícias que trazes da cidade ?

HUBERT
As coisas não vão bem Mon Seigneur. O clima no Havre está tenso. Vi muitas casas comerciais fechada. Com certeza, os seus proprietários partiram. Alguns comerciantes católicos, temendo por seus negócios, ainda tentam contemporizar. Entretanto, são cada vez menos aqueles que trabalham para esfriar as coisas.

HUBERT (CONT D)
Muito ao contrário, o Havre está cheio de incendiários. As notícias de Dieppe são ainda piores. Cruzei com refugiados católicos que fogem pelas estradas. Lá, os protestantes não esperam ser atacados, eles se adiantam e estão massacrando os católicos da cidade. Dizem que há ingleses e holandeses por trás da revolta.

ANNETE se desespera com as novas. Ela sai correndo, em prantos, em direção aos seus aposentos. Hubert tenta intervir, ESSOMERICQ o dissuade.

ESSOMERICQ
Deixe?a ir em paz. Ela precisa disso. Chorar o máximo que puder para depois reagir. Eu temo pelo futuro de seu bem amado. Quando teremos notícias de Paris ?

HUBERT
Creio que amanhã.

ESSOMERICQ
Espero que não tragam notícias ruins. Em todo caso melhor uma notícia ruim do que notícia nenhuma.

HUBERT
Sem querer parecer uma ave de mau agouro, tenho a impressão que todos temos motivos de sobra para ficar preocupado.... Principalmente sua neta.

HUBERT (CONT D)
O Rei decidiu eliminar toda e qualquer oposição. Os protestantes não tem outra alternativa senão a guerra.

ESSOMERICQ
Depois que o cocheiro chegar com notícias quero que vá a Paris e traga este jovem... o noivo de minha neta

HUBERT assente com a cabeça. ESSOMERICQ completa

ESSOMERICQ (CONT D)
Use o quanto for preciso para subornar, corromper, comprar a sua vida se for este o caso. Comece a procurar pelas prisões e termine nos cemitérios. Só quero vê?lo de novo quando tiver certeza do que aconteceu com o marido de minha neta

14 INT. CASA DE ESSOMERICQ. ATELIER ?? EVENING

No atelier, ANETTE circula entre os objetos. Ela pega um pequeno baú japonês sobre uma escravaninha também de estilo oriental. Ela abre o pequeno baú. Dentro do baú forrado no seu interior de seda amarela, mais um monte de quinquilharias. No fundo, um maço de cartas alinhavadas por um laço de fitas.

Neste exato momento Essomericq entra na sala. Anette se assusta mas ele logo lhe tranquiliza

ESSOMERICQ
As cartas de Ernest...

Anette sorri sem graça e recoloca as cartas no Baú. ESSOMERICQ pega suas mãos e beija. Reabre o Baú, pega as cartas e lhes dá a ANETTE

ESSOMERICQ (CONT D)
Ernest era um jovem de valor. Você vai gostar de sua história... Ele era filho de um rico comerciante daqui da região. Foi mandado com o Almirante Villegagnon para o Brasil , a contragosto diga?se de passagem,

RIO DE JANEIRO 1555 TWO

15 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. PRAIA ?? DAY

As CRIANÇAS se divertem no mar, pegando ondas. Na areia da praia, sob as amendoeiras, nas pedras do costão, à beira d água, famílias inteiras, VELHOS, MULHERES com seus BEBÊS, desfrutam de um dia a beira mar.

HOMENS assam um peixe na fogueira, outros estão estirados na areia. Dois homens medem forças com água pelas canelas. Outro se isola nas pedras que avançam em direção ao mar. Lindas mulheres nuas, riem e conversam à sombra de uma árvore. Rapazes, igualmente nus, estão próximos e também riem quando apontam em direção das meninas. De repente uma linda índia, alta e forte, chega correndo.

POTIRA
Aimberê.. Aimberê !!!

AIMBERÉ é localizado embaixo de uma árvore, onde joga com crianças. AIMBERÊ se levanta. É um homem impressionante apesar dos mais de cinquenta anos, tendo 1,90 metros, forte como um touro e de aparência jovial apesar das rugas da idade e de inúmeras cicatrizes espalhadas pelo braço e peito.

POTIRA (CONT D)
Está na Aldeia o "mair". Ele traz mais armas. Quer ver Aimberê.

16 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? MOMENTS LATER

O Capitão JANIOT e mais duas pessoas esperam AIMBERÉ, que chega acompanhado de dois ÍNDIOS. Sério, cumprimenta o Capitão.

AIMBERÊ
O que nos traz Capitão Janiot?

JANIOT desenrola dois grandes sacos onde se vê mosquetões e muito chumbo. Mostra também dois barris de pólvora.

AIMBERÉ faz um sinal a um outro índio que corre a oca e arrasta um baú onde se vê o brasão da coroa portuguesa. Ele põe o baú aos pés de JANIOT e abre. Dentro estão algumas jóias, livros, peças de ouro, costumes em veludo.

Um COMERCIANTE francês examina rapidamente com os olhos as peças de valor e indica positivamente com a cabeça.

AIMBERÊ faz o mesmo. Ordena que peguem as armas e encerra a conversa com um pequeno assentimento. Se vira e vai embora. JANIOT e os FRANCESES sorriem, pegam o baú, mas antes de partirem, respondem aos sorrisos, quase apelos, que algumas lindas jovens índias lhes dirigem.

17 EXT. FAZENDA. MATO ?? EVENING

Indios comandados por AIMBERÊ se preparam para atacar uma fazenda portuguesa. Alguns índios empunham os bacamartes recém vendidos pelos franceses. Outros empunham tacapes, arcos e flechas. Eles avançam em silêncio pela mata em direção a sede da fazenda. Na clareira eles avistam o enorme barracão que serve de senzala. Lá estão, amontoados e sob ferros, os índios que servem de escravos nas plantações portuguesas. AIMBERÊ lança o ataque. Eles saem numerosos da mata e correm em direção à senzala. Os capatazes, surpreendidos pela algazarra correm para defender suas posições. Eles são uma dezena e já começam a responder com salvas de bacamarte o ataque frontal dos índios.

Alguns sucumbem às flechadas. Outros morrem a pauladas e tiros.

18 INT. FAZENDA. SENZALA ?? CONTINUOUS

AIMBERÊ e um grupo de índios invadem a senzala e soltam os prisioneiros.

19 INT. FAZENDA. SEDE ?? CONTINUOUS

A casa sede da fazenda começa a pegar fogo. Em um quarto índios pegam e arrastam para fora da casa duas jovens que gritam. O proprietário JOÃO RAMALHO foge junto com a mulher e alguns capatazes.

20 EXT. FAZENDA. MATO ?? MOMENTS LATER

Os ÍNDIOS matam as duas criadas mestiças

21 EXT. BAÍA DA GUANABARA. NÁU ?? DAY

No convés da náu, os MARUJOS vibram. Alguns se abraçam. Outros choram e rezam. Alguém anuncia

MARUJO
O Almirante Villegagnon

Em meio a algazarra, aparece à ponte o Comandante VILLEGAGNON. Ele está rodeado de seus capitães e colaboradores mais próximos. ERNEST aparece ao fundo.

Os homens param de falar. VILLEGAGNON se dirige a eles.

VILLEGAGNON
Senhores, este é um momento histórico para a França e eu gostaria de felicitar a todos por terem cumprido com o seu dever.

Os rapazes sorriem

VILLEGAGNON (CONT D)
Nossa viagem foi dura, muitos dos nossos morreram no caminho, mas

VILLEGAGNON
cumprimos com a nossa missão. Vamos tomar posse desta terra em nome do Rei de França e para glória de Deus.

VILLEGAGNON se ajoelha. Seu gesto é repetido por todos na náu. O PADRE começa a rezar.

22 EXT. BAÍA DA GUANABARA. MATA ?? CONTINUOUS

Os índios escondidos na mata, observam os navios de VILLEGAGNON.

23 INT. CABINE DE VILLEGAGNON ?? MOMENTS LATER

VILLEGAGNON está reunido com os CAPITÃES, eles estão em pé envolta de uma grande mesa. ERNEST anota em uma pequena escrivaninha ao fundo.

VILLEGAGNON
Nossa prioridade será a construção do Forte . Teremos que nos precaver. não devemos em hipótese alguma confiar nos nativos. Estão portanto proibidos quaisquer contatos não autorizados com os nativos e quero que meus capitães punam rigorosamente os que desobedecerem esta lei.

Ernest para de escrever e olha para os capitães e para Villegagnon

VILLEGAGNON (CONT D)
Nossa postura será de respeito e distância. Existem franceses que aqui habitam com os indígenas há muitos anos. Logo, devem ser considerados como tal. Serão nossos intérpretes enquanto não formamos nossos próprios tradutores. Amanhã faremos nosso primeiro contato.

VILLEGAGNON
Ao mesmo tempo quero uma equipe responsável pelo aprovisionamento de água e outra responsável pela madeira de construção.

VILLEGAGNON se vira para ERNEST.

VILLEGAGNON (CONT D)
Ernest, quero todas essas ordens no livro de bordo. Outra coisa, quero que escreva ao Rei e ao Almirante Coligny relatando o nosso feito. Enviaremos estas cartas tão logo tenhamos oportunidade de fazê?lo.

ERNEST assente com a cabeça.

VILLEGAGNON (CONT D)
Senhor CAPAN.

Um dos oficiais se apresenta.

VILLEGAGNON (CONT D)
Vá a ponte e assuma o comando. Vamos adentrar a Baía. Eu me juntarei ao senhor dentro de instantes.

O oficial se retira.

VILLEGAGNON (CONT D)
Senhor DIDIER.

O oficial se apresenta.

VILLEGAGNON (CONT D)
O senhor é o responsável pela água. Amanhã saia com um grupo de homens e traga o suficiente para completar pelo menos um terço de nossos reservatórios. Prossiga com a tarefa, em saídas diárias, até completá?los.

O oficial sai da sala.

VILLEGAGNON (CONT D)
Onde está o engenheiro FERRAND ?

Um senhor velho se apresenta. Barba por fazer, cabelos desgrenhados. Ele assoa o nariz.

FERRAND
Aqui Senhor

Os presente sorriem.

VILLEGAGNON
O senhor acompanhará o oficial MILLET e selecionará a madeira a ser cortada.

MILLET concorda com um gesto. FERRAND assoa o nariz.

LISBOA 1555 THREE

24 INT. ESTUFA DE PLANTAS ?? DAY

o Rei de Portugal, D.JOÃO III caminha por entre suas flores em uma linda estufa. Ele está acompanhado do Padre Mestre INÁCIO DE LOIOLA, da Companhia de Jesus, que termina de falar algo.

D. JOÃO III
Malditos franceses, eminência

INÁCIO DE LOIOLA sorri amarelo e assente com a cabeça.

D. JOÃO III (CONT D)
Como se não bastasse os espanhóis. agora tenho que combater os franceses no Brasil. Temos navios nos quatro cantos do mundo. Cada um deles é obrigado a se defender com unhas e dentes de ingleses, holandeses e todos esses malditos. Sem falar nos gastos que tenho todos os dias para construir mais e mais navios. Não sei se vou poder atender o vosso pedido. Não tenho nem coragem de falar com o tesoureiro.

INÁCIO DE LOIOLA
Eu sinto muito vossa majestade. Estamos cumprindo um desejo de vossa alteza de lhe ajudar no Brasil mas sem uma ajuda da coroa não podemos mais. Ainda mais com a chegada dos franceses. Já enviamos muitos irmãos da Companhia de Jesus para o Brasil e isto tem nos custado muito. É preciso conquistar estes selvagens para a cristandade e será vossa alteza a lhes apresentar a doutrina e a salvação. Não estou falando de mongóis, chineses ou indianos. Estou falando de uma gente virgem, pronta para aceitar Jesus Cristo e Vossa Alteza. Não nos abandone no Brasil, não abandone sua missão evangelizadora no novo mundo.

O Rei titubeia. As palavras do religioso parecem ter surtido efeito. Ele esboça um pequeno sorriso.INÁCIO DE LOIOLA não perde tempo.

INÁCIO DE LOIOLA (CONT D)
Confie em nosso trabalho. Nosso Senhor quer Portugal entre os seus mais poderosos servidores.

O Rei sorri.

D. JOÃO III
Senhor Inácio de Loyola, o senhor me convenceu. Vamos ver com o nosso mal humorado tesoureiro o que podemos fazer. Em último caso, eu posso recorrer às minhas reservas pessoais. Garanto ao senhor que os franceses protestantes não ficarão por muito tempo... a propósito, falando em franceses, gostaria que ficasse para almoçar, tenho um novo cozinheiro francês.

INÁCIO DE LOIOLA
Não me diga majestade ...

D. JOÃO III
Vamos nos regalar com o almoço que ele nos preparou. São malditos, mas preparam uma refeição como ninguém.

O REI e INÁCIO DE LOIOLA saem de braços dados da estufa.

PLANALTO DE PIRATININGA 1555 FOUR

25 EXT. VILA DE PIRATININGA. COLÉGIO SÃO PAULO ?? DAY

Ao longe, por entre as árvores frondosas, samambaias e flamboyants um enorme casarão de dois andares. A medida em que se avança em sua direção, partindo de um povoado, e seguindo uma trilha de pedra bordada de flores, começa o burburinho da floresta. As primeiras pessoas já podem ser vistas ao fundo . Não muitas. Alguns padres caminham solitários, livro a mão ou em pequenos grupos onde conversam. Em meio a esses homens, alguns índios, todos vestidos em tangas, um ou outro guarda colonial. Além deles, alguns animais também rondam o local. Uma pequena anta se defende do calor ao pé de uma grande árvore. Alguns índiozinhos comem mangas e goiabas, e no pé da escadaria de uma das alas da casa, índias e algumas crianças vestidas dividem uma enorme Jaca.

26 INT. VILA DE PIRATININGA. COLÉGIO SÃO PAULO. QUARTO ?? CONTINUOUS

No quarto do segundo andar, mais uma criança. Sentada ao pé de uma porta, puxa com movimentos ritmados, quase espontâneos, uma corda. Ao fazê?lo produz um "nhec?nec", suave mas persistente. Este som é produto do vai e vem de um grande abanador de palha que abana dois padres que dormem refestelados em duas grandes cadeiras. MANOEL DA NÓBREGA, padre gordo e batinas surradas dorme e ronca com vontade. Aos seus pés, uma bíblia que se mistura com pratos de porcelana, tigelas de metal e os restos de uma refeição. Mas adiante, sob a luz intensa das janelas, uma grande mesa, impecavelmente limpa e organizada, delimita uma espécie de escritório onde podemos ver manuscritos, mapas, alguns livros

e um globo. Na mesa padre ANCHIETA escreve. Sua batina é de um negro impecável e seu colarinho está sempre abotoado apesar do calor.

ANCHIETA (V.O.)
....também vos digo que não basta com qualquer fervor sair de Coimbra, senão que é necessário trazer alforje cheio de virtudes adquiridas, porque de verdade os trabalhos que a Companhia tem nesta terra são grandes e acontece andar um Irmão entre índios seis, sete meses no meio da maldade , que usam todos comer em seus banquetes carne humana, e que seus ministros sem ter outro com quem conversar senão com eles; donde convém ser santo para ser Irmão da Companhia.

De repente ANCHIETA para de escrever. Ele pega uma palmatória e esmaga uma grande aranha que subia pelo pé da mesa.

BRÁS CUBAS (O.S.)
( grito alto)
Padre Anchieta! Padre Anchieta!

ANCHIETA se levanta e anda em direção a varanda.

27 EXT. VILA DE PIRATININGA. COLÉGIO SÃO PAULO. VARANDA ?? CONTINUOUS

Em baixo da varanda estão BRÁS CUBAS e um capataz mestiço montados a cavalo. Com eles várias CRIANÇAS índias e algumas MULHERES. Todos estão nús. Eles estão amarrados uns aos outros.

BRÁS CUBAS
Padre Anchieta. Como havia prometido, estamos trazendo as mulheres e crianças .

Brás cubas aponta para o grupo

BRÁS CUBAS (CONT D)
Eles vão fazer falta lá no engenho mas os fazendeiros querem mostrar para as eminências que estão aqui para colaborar. É uma pena, as crianças vá lá...

BRÁS CUBAS olha para o capataz e sorri marotamente

BRÁS CUBAS (CONT D)
Mas mulheres têm a sua serventia,...

ANCHIETA
(Interompendo bruscamente)
Solte as crianças imediatamente Capitão Brás Cubas, elas são minhas, o senhor ouviu as determinações do nosso Governador , e o senhor as ouviu pessoalmente.

Anchieta se aproxima do grupo e começa a soltar as crianças

ANCHIETA (CONT D)
As crianças serão educadas e crescerão sobre a tutela da igreja e no caminho de Deus, solte?as imediatamente.

BRÁS CUBAS faz um sinal com a cabeça para o outro homem que o acompanha que imediatamente retira uma enorme faca da bainha. Ele desce do cavalo vai até a fila de prisioneiros e corta a corda que os prende uns aos outros.

BRÁS CUBAS
Aí estão os seus selvagens. Pessoalmente passaria?os sob a lâmina, não devemos esquecer que estamos em guerra.

Brás Cibas alisa sua espada

BRÁS CUBAS (CONT D)
Se tiverem a chance nos matam e nos comem eminência. Esse cães ainda vão morder a mão de quem os alimenta. Mais isso é problema de suas eminências.

Padre ANCHIETA entra para o quarto. Um SACRISTÃO recebe os MENINOS e as ÍNDIAS.

BRÁS CUBAS (CONT D)
(Para Anhieta que não se retorna para ouvir)
Estão entregues, nada mais tenho a tratar com o padre..
(ele se vira para o capataz mestiço e comenta)
Que padrezinho difícil, ainda vai nos dar problemas...

RIO DE JANEIRO 1555 FIVE

28 INT. NÁU DE VILLEGAGNON. CABINE DE ERNEST ?? MORNING

ERNEST dorme. Ele transpira abundantemente.

O som das moscas voando divide o ambiente com o barulho do mar batendo no casco do navio. Uma fresta de sol entra janela adentro e vai morrer no seu rosto. Ele finalmente acorda, levanta e vai em direção da saída de sua cabine. A luz do sol ofusca sua visão.

29 EXT. CONVÉS DO NÁU ?? CONTINUOUS

Os homens estão debruçados na murada. Reina o silêncio entre eles. Só se ouve o barulho das ondas que se chocam contra o casco da náu. ERNEST os vê assim, todos de costas para ele, em silêncio, olhando o mar.

ERNEST se dirige a murada. Ele também vê que muitos homens estão pendurados nas cordas, nos mastros e igualmente olham em silêncio para o mar. ERNEST sobe um pouco pelas cordas. Ele vê um barco aproximando da náu.

30 EXT. CANOA ÍNDIA NO MAR ?? CONTINUOUS

Na canoa seis lindas índias remando. Elas estão nuas. Na proa, em pé, MARTIN, 38 anos, francês radicado no Brasil. Ele veste apenas uma bermuda e um chapéu de palha.

31 EXT. CONVÉS DO NÁU ?? CONTINUOUS

Sob o olhar estupefato dos marinheiros as índias começam a desembarcar ajudadas por alguns marinheiros na murada. Alguns homens já sorriem e também se ouvem os primeiros burburinhos e gaiatices. Uma a uma, as seis lindas mulheres, altas, musculosas e sorridentes embarcam. No final, MARTIN, sem camisa, totalmente bronzeado vem a bordo.

MARTIN
Como vão passando rapazes ?

Martin recebe uma ovação dos marinheiros.

Alguns tocam nas índias, que já parecem ã vontade entre os homens. Uma algazarra logo se instala.

VILLEGANON aparece na ponte. Impassível ele interrompe a algazarra somente com a sua presença.

Ele se dirige a MARTIN.

VILLEGAGNON
Que patuscada é esta ?

MARTIN
Em nome dos Tupinambás, dou?lhe as boas vindas

VILLEGAGNON tira a espada e a coloca na garganta de MARTIN.

VILLEGAGNON
Qual a sua intenção Monsieur ? Espero que não se trate de provocação.

MARTIN
Me perdoe, jamais quis causar qualquer constrangimento a vossa pessoa e a vossos homens.

VILLEGAGNON
Onde estão os homens deste país ?

MARTIN
A maioria dos homens da tribo estão lutando contra os portugueses pelo interior afora. Os tempos são difíceis Mon Seigneur. Graças ao bom Deus, a guerra ainda está bem longe daqui.

VILLEGAGNON guarda a espada.

VILLEGAGNON
Considere terminada a sua desastrosa recepção. Espero notícias dos homens desta terra. Informe?me tão logo tenhamos interlocutores com quem possamos negociar.

Villegagnon aponta para as índias

VILLEGAGNON (CONT D)
Vá e leve essas...essas...senhoritas.

Sob o olhar desolado dos homens, ERNEST inclusive, MARTIN recolhe as índias que, tal como entraram, rapidamente desembarcam. Na descida, bundas viradas para marinheiros totalmente hipnotizados, elas sorriem e conversam entre si. Elas descem pela corda com agilidade

32 EXT. CANOA ÍNDIA NO MAR ?? CONTINUOUS

As índias remam o barco. MARTIN é passageiro. Duas delas comentam enquantom remam

JACIRA
Eles tem cheiro forte.

NORMANDIA 1572 SIX

33 INT. CASA DE ESSOMERICQ. BIBLIOTECA ?? NIGHT

ANETTE está na biblioteca. Ela se senta perto da lareira em uma grande poltrona. Antes de abrir o maço de cartas, Anette serve?se de um chá que está em um bule em uma mesa ao lado da poltrona. Ela abre o maço de cartas. Ela mexe o chá que forma redemoinhos na sua caneca. Anette começa a ler uma carta.

ERNEST (V.O.)
França Antartica 1555. Fomos recebidos neste exuberante país por líndas mulheres que subiram a bordo totalmente nuas.

ANETTE sorri

ERNEST (V.O.) (CONT D)
Foi nosso fugaz momento de felicidade depois de tanto tempo de privações.

RIO DE JANEIRO 1555 SEVEN

34 INT. FORTE COLIGNY? ACAMPAMENTO ?? NIGHT

Esnest escreve sob a luz de velas.

ERNEST (V.O.)
Antes que os homens começassem a dar vazão ao romantismo encarcerado por meses o Comandante Villegagnon cortou o mal pela raiz. Proibiu o contato com os nativos e quer manter centenas de homens...

NORMANDIA 1572 EIGHT

35 INT. CASA DE ESSOMERICQ. BIBLIOTECA ?? NIGHT

ANETTE continua a ler a carta

ERNEST (V.O.)
...saudáveis , na mais pura abstinência.

ANETTE sorri de novo

ERNEST (V.O.) (CONT D)
Nunca vi senhor mais casto e puritano. Para ele não existe nada além do dever. Sua idéia de dever pressupõe todos os sacrifícios.....

RIO DE JANEIRO 1555 NINE

36 EXT. FORTE COLIGNY? ACAMPAMENTO ?? DAY

Cenas de Villegagnon, vestido com seus trajes estravagantes, circulando acompanhado de dois homens de sua guarda pessoal por entre colonos e marinheiros que trabalham na construção do forte. Alguns estão cavando. Outros estão serrando enormes troncos. Mais adiante alguns homens arrastam uma grande tora.

ERNEST (V.O.)
Apesar do calor infernal,ele circula em vestes de veludo sob o sol a pino. Mantém os homens sob a lei da espada que ele julga divina.

Villegagnon se detém em frente a homens que cavam um fosso. Ernest é um deles

ERNEST (V.O.) (CONT D)
Tem o respaldo de sua inseparável guarda escocesa que não faz outra coisa a não ser vigiar vinte e quatro horas os pensamentos de todos os homens.

Um homem corta uma árvore que cai.

ERNEST (CONT D)
Villegagnon não confia em ninguém.

Os galhos são cortados. O tronco é puxado por Ernest e mais dois homens. O tronco é colocado sobre uma canoa .

37 EXT. ESCALER ?? DAY

Ernest e outro tres marinheiros remam a canoa até a ilha de Serejipe.

38 EXT. ILHA DE SEREJIPE. CAIS

ERNEST (V.O.)
O trabalho é duro. Até eu, que contava com regalias de escrivão de oportunidade, estou penando de sol a sol.

Eles tiram com dificuldade o tronco e o levam para a ilha.

39 EXT. MATA ATLÂNTICA ?? DAY

Ernest dá machadadas em uma enorme árvore. Ele pára, toma um gole em um bornal.

ERNEST (V.O.)
Temos que cortar árvores em uma floresta impenetrável e trazer para uma ilha de pedra que nem água tem. Na ilha, temos que cavar várias horas sob o ataque de insetos que voam, andam, rastejam...

Ernest lava algumas feridas nas pernas.


40 EXT. FORTE COLIGNY. ACAMPAMENTO ?? AFTERNOON

O padre ANDRE THEVET celebra uma missa ao ar livre. Ele fala de um púlpito improvisado. VILLEGAGNON se posta ao seu lado. Dezenas de homens, sonolentos, escutam em pé.

ERNEST (V.O.)
No final do dia, para relaxar,ouvimos de pé,sempre sob o ataque de insetos, a santa e longa missa.

Ernset mata um mosquito que lhe atacava no pescoço.

ERNEST (V.O.) (CONT D)
Agradecemos a Deus, completamente extenuados, nossa oportunidade única de estarmos aqui, nessa rocha inóspita, cuidando de nossas pequenas chagas, sob a espada de um homem obcecado pelo dever.

A missa termina. Os homens se dispersam. Olhares cansados, sérios e tensos.

ERNEST (V.O.) (CONT D)
Os homems estão sob pressão e temo pelo pior. Meu corpo tem ferídas horríveis e esta viagem parece um grande pesadelo...

41 EXT. MATA ATLÂNTICA ?? DAY

O engenheiro FERRAND comanda um grupo de seis franceses que cortam árvores para a construção do forte. MARTIN guia o grupo. Ele está acompanhado de duas índias, JACIRA e BARTIRA, e sua filha JANAÍNA e algumas crianças. Eles caminham dentro da selva em fila indiana. Na frente estão as crianças ,JANAINA e as índias, seguidas de MARTIN e o resto da expedição. Ao chegar a uma clareira o grupo pára. Martin aponta para uma árvore

FERRAND anda até a árvore. Bate na árvore com o punho cerrado. Faz sinal positivo com a cabeça. E dirige?se aos franceses.

FERRAND
Mãos à obra.

Dois franceses começam a cortar a madeira. Cada qual de um lado da árvore que recebe os golpes ritmados. O engenherio FERRAND e MARTIN acompanham o trabalho de perto. As crianças sobem em uma outra árvore. MARCEL e ROCHEFORT olham as duas índias que correspondem ao interesse dos marinheiros devolvendo o sorriso que os homens lhes dirige. MARCEL, 18 anos, aproxima de JACIRA. Ele toca no cabelo de JACIRA e passa a mão pelo corpo dela. ROCHEFORT, 22 anos, acena para que as ÍNDIAS o acompanhem. Elas voltam a sorrir.

MARCEL e ROCHEFORT saem de mansinho e se afastam do grupo que continua o trabalho de derrubada da árvore. BARTIRA e JACIRA seguem MARCEL e ROCHEFORT. MARCEL continua a passar a mão no corpo de JACIRA, que ri.

42 EXT. MATA ATLÂNTICA. CLAREIRA ?? CONTINUOUS

Alguns metros adiante os casais se encontram, escolhem os parceiros e começam a se despir com a ajuda das índias. Todos riem. Eles deitam na relva e começam a fazer sexo. MARCEL está em pleno ato, em cima de BARTIRA, quando uma espada encosta na sua garganta. Ele se assusta, olha para cima e vê o oficial DU MORIET. Ele se levanta de mansinho com a espada ainda na garganta. BARTIRA levanta e sorri para os dois. O oficial lhe devolve um sorriso. BARTIRA se levanta e simplesmente vai embora como se nada tivesse ocorrido. ROCHEFORT também já está preso. As índias desaparecem na mata.

DU MORIET
Como são lindas...

O infeliz, espada ainda na garganta, consegue murmurar.

MARCEL
A coisa mais linda do mundo.

ANGRA DOS REIS 1555 TEN

43 EXT. ALDEIA KUNHAMBEBE ?? DAY

Sob uma grande árvore à beira mar, vários índios discutem. Em volta dos velhos que conversam, crianças correm, brincam e fazem algazarra. Mulheres também estão presentes. Algumas servem os homens com quitutes, outras prestam atenção no que se fala. Meninas e meninos nadam no mar..Na roda dos velhos estão KUNHAMBEBE, AIMBERÊ e outros líderes.

KUNHAMBEBE
Os portugueses estão fracos. É hora de atacar. Devemos continuar a expulsar os "peros" das fazendas. Empurrar e cercar o inimigo até a cidade deles.

Todos concordam. AIMBERÊ pondera.

AIMBERÊ
Kunhambebe está certo. Os "Peros" estão fracos mas a cidade é dificil de conquistar

Uma MENINA chega no grupo e senta no colo de JAGUANHARA.

JAGUANHARA
Aimberê está certo. Temos de pensar no futuro. Vamos manter o medo continuar atacando.

AIMBERÊ
Eles vieram para ficar. Precisamos de mais tempo. Precisamos de força. A planta má se arranca inteira, com terra na raiz, para não nascer de novo.

Silêncio geral. KUNHAMBEBE finalmente decide.

KUNHAMBEBE
Tupinambás estão vindo de todas as tribos, até das montanhas, prontos para a luta. A hora é de esperar

Um homem acena positivamente com a cabeça para Kunhambebe.

AIMBERÊ
Kunhambebe decidiu com sabedoria. tenho que voltar para Uruçumirim. Navio dos franceses está na Guanabara. devem ter mais armas...

KUNHAMBEBE
(Interompendo)
Aimberê confia nos "mairs".
(Ele olha fixamente para Aimberê)
Você sabe a diferença entre a cobra e a onça pintada ?

Os outros índios riem

Os chefes se entreolham. Alguns balançam a cabeça afirmativamente.

KUNHAMBEBE (CONT D)
Quando "mair" será inimigo de Tupinambá ?

AIMBERÊ dá de ombros. Uma MULHER, pega uma criança na roda. Ela olha para os homens.

MULHER ÍNDIA
Tempo ruim. É tempo de poucos amigos.

Os homens se olham sérios. A MENINA que está no colo de JAGUANHARA se vira para ele e diz baixinho.

MENINA ÍNDIA
Eu sou amiga de Jaguaranhara.

O chefe ri. os dois se abraçam.

RIO DE JANEIRO 1555 ELEVEN

44 EXT. BAÍA DA GUANABARA. MAR ?? AFTERNOON

Barco francês vai em direção ao continente. Seis marinheiros remam sob o comando do contramestre ALBANGNAC. ERNEST vai em pé na proa. O barco chega na praia. ERNEST e ALBANGNAC.

ERNEST
Senhor Albangnac.

O contramestre se aproxima. os marinheiros puxam a embarcação até a praia.

ERNEST (CONT D)
(Dando ordens)
Suba algumas dezenas de metros naquele riacho e encha os galões no primeiro poço limpo que encontrar. Mantenha sempre três homens de vigia enquanto os outros trabalham.

ERNEST
Eu vou caminhar até o fim da praia. Nos encontramos aqui.

ALBANGNAC
Não se preocupe Sr.Ernest.

45 EXT. BAÍA DA GUANABARA. PRAIA ?? DAY

ERNEST sozinho caminha pela praia. Ele está contemplativo.De vez em quando se abaixa e pega uma concha ou animal. Da praia ele avista um riacho. Ele vai em sua direção e sobe o pequeno curso d água com água pelas canelas. Algumas dezenas de metros adiante ele encontra uma lagoa de águas límpidas. Ele não resiste e se despe para dar um mergulho. Deixa as roupas e a espada na margem e mergulha completamente nu no rio.

46 EXT. BAÍA DA GUANABARA. MARGEM DA LAGOA. ?? CONTINUOUS

POTIRA, JANAÍNA e MAIARA, 12 anos, espreitam por entre as folhagens ERNEST que toma banho. Elas cochicham entre si e riem acocoradas na mata.

JANAÍNA
Ele é branco como a lua.

MAIARA avista as roupas de ERNEST que estão alguns metros à frente. O brilho da fivela do cinto de ERNEST a atrai. Ela parte em direção das roupas. POTIRA tenta segura?la sem sucesso. MAIARA engatinha no mato e pega a fivela. Ela o manuseia e conforme o movimento a fivela reflete a luz do sol. ERNEST nada no lago quando percebe o reflexo que vem da margem. Ele olha com mais cuidado e vê um vulto, cinquenta metros mais à frente. Ele parte em direção a MAIARA.

ERNEST
Ôh....ôoohhh...

MAIARA finalmente percebe que ERNEST vem correndo em sua direção. Assustada sua reação é agachar e fechar os olhos. ERNEST está a alguns passos de MAIARA quando repentinamente, POTIRA, se coloca entre os dois. Ela tem as mãos na cintura. ERNEST para de correr e gritar.

A VISÃO daquela exuberante mulher, enorme, linda e toda nua a sua frente lhe paralisa. MAIARA que estava acocorada, com a fivela na mão, larga o objeto e foge em direção a mata. POTIRA encara séria ERNEST que está boquiaberto e que a admira dos pés à cabeça. POTIRA percebe o efeito que causou em ERNEST e esboça um minúsculo sorriso. ERNEST fica estático até perceber que está nú e em ereção diante de uma mulher. Ele se apressa em cobrir suas "vergonhas". POTIRA cai na gargalhada. Ela o olha fixamente, lhe oferece um sorriso franco e depois se vira e vai embora mata a dentro. ERNEST permanece atônico. POTIRA, JANAÍNA e MAIARA desaparecem na mata.

47 EXT. BAÍA DA GUANABARA. PRAIA ?? DAY

ERNEST regressa ao bote onde seus homens lhe esperam. Ele corre em direção à embarcação. O contramestre ALBAGNAC olha fixamente ERNEST e percebe que ele está distante.

ALBANGNAC
Aconteceu alguma coisa senhor ?

ERNEST
Aconteceu......
(Decidido)
vamos voltar à ilha senhor contramestre.

ALBANGNAC
Sim senhor.

48 EXT. ILHA DE SEREJIPE. CAIS ?? MOMENTS LATER

ERNST desembarca na ilha. Ele percebe imediatamente que alguma coisa está errada. Não há ninguém no trabalho e um enorme aglomeração se forma ao lado do Forte. ERNEST se aproxima do grupo. Dezemas de homens estão agitados e protestam diate de um cordão de isolamento formado pela Guarda Escocesa. Atrás da guarda se vê MARCEL e ROCHEFORT acorrentados, que aguardam de joelhos defronte à tenda de Villegagnon. ERNEST abre o muro dos guardas escoceses com um aceno de cabeça a um dos comandantes. Caminha em direção a tenda e passa pelos dois homens de joelhos que estão acorrentados. Ele troca olhares com os infelizes e adentra a tenda.

49 INT. ILHA DE SEREJIPE. TENDA DE VILLEGAGNON ?? CONTINUOUS

ERNEST entra na tenda, que tem ao fundo o engenheiro FERRAND, o PADRE THEVET, o PASTOR GAMACHE, o médico VERGER os oficiais, DU MORIET e LACALE. Eles estão em pé diante da mesa de VILLEGAGNON que ouve FERRAND falar. ERNEST se aproxima sem interromper. Ele troca olhares com alguns do presentes e faz um assentimento a VILLEGAGNON que responde com o mesmo gesto.

FERRAND
...pois o resumo da história é esse meu Almirante. Os dois rapazes estavam no grupo de lenhadores e encontraram duas nativas e... segundo eles próprios, não resistiram. Foram pegos em flagrante pelo oficial Du Moriet aqui presente..

Todos olham para DU MORIET. Ele se perfila.

FERRAND (CONT D)
.. em plena conjunção carnal, se o meu Almirante me permite o termo, Ao invés de estarem trabalhando estavam entregues às lascívias, o senhor compreende ?..

VILLEGAGNON olha contrariado para FERRAND. O Engenheiro, mais do que prontamente, continua

FERRAND (CONT D)
bom ... o final é que as índias retornaram para a selva e trouxemos os infelizes para cá. Nada mais tenho a relatar, Senhor .

PADRE
Quem são os dois ?

FERRAND
Marcel e Rochefort. O primeiro é católico. Um menino.

FERRAND
O segundo é protestante, um hommem sem histórias. Segundo alguns, são amigos, bastante unidos, eu diria.

PASTOR
(fala alto)
Unidos na lascividade..

VILLEGAGNON se levanta e interrompe os comentários

VILLEGAGNON
Obrigado engenheiro.

VILLEGAGNON anda um pouco pela sala. Todos em silêncio ouvindo apenas o borburinho da massa que vem de fora. Ele para em frente a mesa e decide.

VILLEGAGNON (CONT D)
Oficial Du Moriet ?

O oficial anda até a mesa e se apresenta.

DU MORIET
Sim Almirante.

VILLEGAGNON
Faz jus ao elogio público por ter cumprido com presteza o seu dever.

DU MORIET sorri.

VILLEGAGNON (CONT D)
Faz jus também e um prêmio de mais duas moedas que será pago por mim, a título de reconhecimento pessoal.

Villegagnon também sorri

VILLEGAGNON (CONT D)
O senhor é o responsavel pela execução dos dois homens, amanhã ao amanhacer.

DU MORIET se espanta.

Todos se surpreendem com a dureza do veredicto de VILLEGAGNON, exeto GAMACHE que esboça um leve sorriso.

PADRE
O Almirante não acha que está sendo severo demais? São apenas dois rapazes.

VILLEGAGNON interrompe duramente.

VILLEGAGNON
Senhores nossa reunião está encerrada. Tenho algumas cartas para escrever. Espero que os senhores também tenham trabalho por fazer, em caso contrário podemos determinar tarefas imediatamente aos desocupados.

Os oficiais, DU MORIET e LACALE se retiram imediatamente. No que são imitados, pouco a pouco, por todos os presentes à reunião.

ERNEST fica estático, chocado com o que acaba de ouvir. Ele ainda ameaça falar alguma coisa antes de sair, mas desiste ao ver VILLEGAGNON escrevendo. Ele é o último a sair da tenda.

50 EXT. ILHA DE SEREJIPE. ENTRADA DA TENDA DE VILLEGAGNON ?? CONTINUOUS

ERNEST sai da tenda e percebe que o tulmulto é ainda maior do que quando ele havia chegado. Os prisioneiros, MARCEL e ROCHEFORT, estão sendo levados por uma dezena de homens que abrem caminho na multidão que grita e protesta contra a decisão. ERNEST é cercado por marinheiros que pedem explicação.

LOUIS
Monsieur Ernest, o senhor acha justo que um homem seja enforcado por fornicar com uma bela índia que anda nua por aí?

A turba continua gritando. Mais gente cerca ERNEST que está desnorteado em meio a plebe que lhe peita, que grita aos ouvidos, que interrompe o seu caminho.

TURBA
Injustiça!

O colono PATRIC pega no braço de ERNEST e protesta.

PATRIC
O senhor tem que impedir isto Sr. Ernest. Isto é loucura de Villegagnon.

ERNEST não fala nada. Ele tenta se livrar do grupo que o cerca. FERRAND,o PADRE e VERGER entram na tenda deste último. ERNEST abre passagem no tulmulto dos homens que continuam gritando e chega a tenda do médico.

51 INT. ILHA DE SEREJIPE. TENDA DO DOUTOR VERGER ?? CONTINUOUS

FERRAND e o Doutor VERGER estão horrorizados. VERGER se dirige ao seu baú de onde retira de dentro sua mala de médico. De dentro da mala, ele retira uma garrafa de vinho. Antes de se servir, e servir a FERRAND, que já está ávido ao seu lado, o médico olha para os lados. O PADRE faz uma careta. FERRAND fala ao mesmo tempo em que oferece uma caneca a ERNEST que recusa.

FERRAND
Não consigo crer no que acabei de ouvir. O Almirante vai mandar matá?los!

VERGER
Já mandou meu caro Ferrand, já mandou...

FERRAND
O pior é que as diabas eram lindas de morrer, se me permitem o trocadilho.

ERNEST E VERGER não se contém e riem. ANDRÉ THEVET esboça um sorriso, mas logo se contém.

FERRAND (CONT D)
Eu mesmo fixei meus olhos nas beldades. Senti reviver forças que julgava perdidas, os senhores me compreendem ?

ERNEST e VERGER dão uma grande gargalhada. O Padre sério intervém.

PADRE
Não é hora para xistes senhor FERRAND.

FERRAND acena com a cabeça. VERGER e Ernest param de rir

FERRAND
Desculpe Padre

PADRE
Não sei se podemos fazer algo por estes dois jovens. Se bem conheço Villegagnon ele vai cumprir sua palavra. Confesso que estou surpreso com sua determinação. Mas enfim..há que se ter uma lei e uma punição quem a infrije. Se merecem.... Devem ser punidos.

VERGER intervém. ANDRE DE TEHET se dirige para a mesa onde foi depositada a garrafa de vinho. Ele se serve sorrateiramente de um copo de vinho.

VERGER
(Revoltado)
Por Deus! Villegagnom vai matar duas pessoas porque elas estavam fornicando. O que ele deseja ? Não sei quanto ao senhor Padre, mas eu não vou passar minha vida neste fim de mundo cercado por belas e sedutoras moças nuas a me mastubar.

O Padre fica nervoso com as palavras de VERGER.

PADRE
Mais respeito Doutor Verger.

FERRAND
Calma senhores. Calma Padre. A questão é outra. Trata?se de dois jovens que vão ser pendurados amanhã.

PADRE
(Discordando)
Não Senhor Ferrand. Trata?se de resguardar uma comunidade. No Velho Mundo acostumamo?nos aos atalhos. Preferimos a trilha de desvios morais em vez de caminharmos pela estrada da virtude, que é mais longa, mais díficil, mas que nos conduz seguramente ao nosso destino. Estamos construindo um Novo Mundo Senhores, a França Antártica. Que Deus permita que esta terra esteja livre do pecado e que Villegagnon leve a cabo sua missão evangelizadora.

FERRAND olha para ERNEST que olha para VERGER que está completamente estarrecido.

FERRAND
(Para Ernest)
E você meu rapaz o que acha disto tudo ?

ERNEST
O Padre vai me perdoar mas temos que encontrar uma solução. Uma punição justa é a única forma de promover a justiça. Os homens estão furiosos. Ninguém aguenta tanta pressão. Como se a vida fosse apenas trabalho e virtude. Não podemos beber, não podemos jogar, não podemos ter mulheres. Nem o senhor

ERNEST
(Dirigindo para André de thevét)
e nem Villegagnon não podem pedir que homens, a maioria recolhida das piores prisões da Normandia se transformem em exemplos de virtude. Temo pelo pior se os homens forem executados.

O Padre se levanta. Já tomando o caminho de saída da tenda ele se dirige aos homens

PADRE
Senhores isto está começando a se assemelhar a uma sedição. Se me permitem um conselho: não testem a autoridade de Villegagnon. Rezem por essas duas almas. É tudo que podem fazer.

Na porta da tendao Padre Thevet se retorna.

PADRE (CONT D)
Eu rezarei por voces também.

SÃO VICENTE 1555 TWELVE

52 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. RUAS ?? DAY

Padre ANCHIETA caminha por entre retirantes, homens, mulheres, crianças. Eles são portugueses, mestiços e índios que enchem as ruelas do povoado. Os fugitivos estão sentados entre os seus mais dirvesos pertences pessoais, junto com animais de criação (galinhas, porcos, cabras, cachorros e etc). As pessoas se amontoam dos dois lados da rua enquanto Padre ANCHIETA caminha em direção a sede da Capitânia. Na entrada do Forte dois guardas abrem passagem ao avistarem o religioso.

53 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE ?? CONTINUOUS

Padre ANCHIETA entra no pátio do Forte onde pára e respira. Ao conterário da vila, o pátio está silencioso. Ouvem?se até passarinhos.

ANCHIETA atravessa o pátio e chega a mais um portão que é imediatamente aberto a sua passagem.

54 INT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE. SALA DO GOVERNADOR ?? CONTINUOUS

ANCHIETA adentra no grande salão onde estão alguns homens. O governador da Capitania de São Vicente, GONÇALO COELHO, 55 anos,os fazendeiros BRÁS CUBAS, 40 anos e JOÃO RAMALHO, 50 anos, o Padre MANOEL DA NOBREGA 50 e dois jovens OFICIAIS fardados. JOÃO RAMALHO está falando.

JOÃO RAMALHO
A situação não está nada fácil. Os malditos estão bem perto de São Vicente.

O Governador GONÇALO COELHO minimiza.

GONÇALO COELHO
Não vejo porque tanta histeria, Capitão João Ramalho.

JOÃO RAMALHO
(Nervoso)
Poque as fazendas estão sendo atacadas. Casas e plantações incendiadas. Os homens são mortos e as mulheres estupradas.

Os fazendeiros se olham.

GONÇALO COELHO
(tendando mostrar tranquilidade)
Pelo que sei a maioria dos que fugiram para cá nem sequer foram atacados pelos índios, nem os viram. Na realidade, estão todos com medo e por isso vieram. Devo lembrar ao capitão que tanto São Vicente como Bertioga estão guarnecidas e temos víveres e munição à vontade.

GONÇALO COELHO
Não creio que os selvagens ousariam nos atacar.

Os OFICIAS sorriem e acenam afirmativamente.

GONÇALO COELHO (CONT D)
Que me perdoem os estimados fazendeiros, mas ao contrário do que fizeram Vossas Excelencias não entreguei nossa defesa a mamelucos e capatazes.

JOÃO RAMALHO retruca. Ele já está de saída

JOÃO RAMALHO
Senhor Governador, se o senhor veio para ficar é melhor ir se acostumando. A única coisa boa nesta terra de insetos e selvagens que se comem entre si, é..que me perdoem as eminências aqui presentes.....
(Ele olha para Anchieta e Nobrega e sorri)
...deitar com essas beldades e fazer mamelucos, fazer brasileiros. Eu os fiz às centenas.

JOÃO RAMALHO dá uma boa gargalhada e sai com seu grupo de FAZENDEIROS. Antes de sair ele ainda se vira e diz para o grupo:

JOÃO RAMALHO (CONT D)
Se um dia estas terras pertecerem ao Rei de Portugal, será com esses mamelucos e capatazes que o senhor tanto despreza, que haveremos de defendê?las. Se não fosse eles, os selvagens já teriam nos expulsado daqui. Neste caso pelo menos, o senhor estaria agora nos salões da corte em vez de estar nesta guerra miserável, tendo que confiar sua

JOÃO RAMALHO
vida aos mamelucos que o senhor tanto despreza. Tenham um bom dia senhores

A porta se fecha e o silêncio se instala. O Governador está pasmo. Os oficiais esboçam um sorriso. ANCHIETA intervém duramente.

ANCHIETA
Gentio. Não passam de gentalha esses fazendeiros.

A dureza da intervenção surpreende o Governador. MANOEL DA NÓBREGA abaixa a cabeça

ANCHIETA (CONT D)
Desculpe a veemência Senhor governador, mas gente como José Ramalho e Brás Cubas me causam verdadeiro asco. Tenho que admitir contudo, que precisamos de ajuda da Bahia. Nossa posição é frágil. Os nativos estão sendo armados pelos franceses que vieram para ficar, pois que estão construindo forte no sítio da Guanabara.

RIO DE JANEIRO 1555 THIRTEEN

55 INT. ILHA DE SEREJIPE. TENDA DE VILLEGAGNON ?? NIGHT

ERNEST adentra a tenda de VILLEGANON que analisa alguns mapas sobre uma mesa. Ao seu lado em uma cadeira está o Padre ANDRÉ THEVÉT. VILLEGAGNON, sem tirar os olhos dos seus mapas, percebe ERNEST.

VILLEGAGNON
(Secamente)
Não me lembro de termos combinado audiência Monsieur Ernest.

ERNEST tira o chapéu, cumprimenta ANDRÉ THEVET com um movimento de cabeça, no que é correspondito. Ele olha para VILLEGAGNON.

ERNEST
(Inseguro)
Me desculpe Almirante interromper seus estudos mas o assunto que me traz aqui é importante e merece a atenção do Senhor. Creio que cumpro meu dever em alertar o Almirante do péssimo moral dos homens e do perigo de descontrole caso se confirmem as execuções de amanhã.

VILLEGAGNON
(Prepotente)
A lei existe para ser cumprida.

ERNEST
(Seguro)
Se o almirante me permite. Também concordo com a importância das regras, mas elas ganham maior peso quando são aplicadas com sabedoria.... Devemos respeito às leis e também aos nativos que aqui habitam, mas a preocupação maior do Almirante é com a ordem e a tranquilidade em França Antártica, motivo pelo qual, aliás, o senhor determinou a lei que ora está sendo descumprida. Se os homens em questão são solteiros e não cometeram adultério, creio que podemos casá?los com as índias e assim atingimos plenamente os objetivos da lei : ordem e tranquilidade, moralidade e respeito, além...

VILLEGAGNON
Chega .... chega... Monsieur Ernest

VILLEGAGNON olha para o Padre Thevet que levanta as sombrancelhas e os ombros apoiando a idéia. Ele finalmente olha para ERNEST.

VILLEGAGNON (CONT D)
(Fala tranquilo)
Talvez você tenha razão meu jovem. Voce será responsável por este matrimônio. Encontre as índias... Ou eles casam, ou vão morrer.

ERNEST e o Padre sorriem.

56 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? MORNING

Um facão corta a cabeça de um peixe. IGUASSU, 37 anos, e POTIRA preparam uma refeição em um girau. Elas olham a movimentação de crianças que correm para a entrada da Aldeia. Ao longe POTIRA vê seu pai que chega com um grupo de índios guerreiros. Ela corre e abraça o pai.

POTIRA
Papai, que bom te ver.

AIMBERÊ sorri ao ver a esposa e corre em sua direção. Eles se abraçam e se beijam em meio aos índios que se reencontram com suas famílias.

57 INT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. OCA DA FAMILIA DE AIMBERÊ ?? MOMENTS LATER

Dentro da grande palhoça, em uma rede, Aimberê e Iguassu fazem amor. Ao lado da rede, algumas crianças, uma mulher e um homem conversam. Tudo como se nada de anormal estivesse acontecendo. Martin entra na palhoça e pergunta por Aimberê.

MARTIN
Aimberê !! Aimberê !!

Uma mulher aponta para uma rede . MARTIN se aproxima, espia a rede e acaba por interromper a transa dos índios. IGUASSU sai de cima de AIMBERÊ e sai da rede. Ela sorri para um MARTIN constrangido enquanto se desvencilha dos braços de AIMBERÊ que insiste em trazê?la de volta para dentro da rede. AIMBERÊ continua deitado e abre um enorme sorriso para MARTIN. IGUASSU já está fora da rede mas retorna como se tivesse esquecido algo. Ela abre a rede e retira do pênis de Aimberê uma grande lagarta verde que está grudada.

Ela pega a lagarta e a arranca com um movimento forte. AIMBERÊ geme e depois sorri. Ele ainda está esparramado na rede. IGUASSU se retira, mas antes sorri marotamente para MARTIN, que está meio que surpreso meio enojado com o que vê. Ele responde com um sorriso amarelo. AIMBERÊ finalmente sai da rede e cumprimenta MARTIN com um tapa nas costas que o desequilibra.

AIMBERÊ
O que vos trás aqui amigo Martin ?

Martin olha fixamente para o pênis de AIMBERÊ que está completamente inchado. AIMBERÊ olha para MARTIN que continua a olhar fixamente para o seu pênis. AIMBERÊ fala

AIMBERÊ (CONT D)
O que foi Martin ?

MARTIN
Chefe, Nicolas Durand de Villegagnon, veio visitar Aimberê.

58 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? CONTINUOUS

VILLEGAGNON adentra a aldeia com uma enorme comitiva. Na frente dois GUARDAS portam bandeiras. São seguidos pelo Padre ANDRE DE THEVET e o Pastor GAMACHE. Atrás estão FERRAND, VERGER e ERNEST. Logo a seguir, rodeado por quatro GUARDAS de sua Guarda Escocesa, vem VILLEGAGNON. Apesar do sol a pino, todos estão vestidos á caráter. Eles vão atravessando solenemente a aldeia no meio dos índios que estão assistindo o cortejo passar como se fosse uma parada. Todos trocam olhares. VILLEGANON marcha sem olhar para o lado. Alguns índios riem. Crianças olham surpresas e algumas já se metem atrás do cortejo, imitando a parada. Mas ninguém interrompe o exótico desfile que cruza a aldeia em direção a palhoça de AIMBERÊ. O séquito interrompe sua caminhada em frente a palhoça. Martin é o primeiro a sair da palhoça. Ele ainda está sob o choque. Logo a seguir Aimberê desponta.

A surpresa é geral. Chega a se ouvir um pequeno : Oh!!!

Tal qual Martin, a visão do pênis completamente inchado de um índio de quase dois metros e forte como um touro, paralisa a todos.

Villegagnon não acredita em seus olhos. Em seu rosto um misto de surpresa e asco. FERRAND não consegue conter o sorriso. Ele e o Doutor VERGER se olham. ERNEST também está surpreendido. AIMBERÊ pergunta a Martin com cara de contrariado.

AIMBERÊ
Eles nunca viram um homem ?

59 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? MOMENTS LATER

Em volta de uma fogueira, AIMBERÊ, e seus colaboradores mais próximos, os índios UÊ, IOÁ, TIRZA, TITUAN, jovens altos e fortes. A índia guerreira IANÊ, que parece com um homem, forte, cabelos raspados, apenas os seios pequenos indicam sua feminilidade. MARTIN também está presente. Do lado dos franceses, VILLEGAGNON, ANDRE DE THEVET, FERRAND, VERGER, GAMACHE e ERNEST. Os dois GUARDAS estão em pé.

VILLEGAGNON
Martin,traduza o que vou dizer.

AIMBERÊ
Não é necessário Vice?Almirante de Bretanha, Monsieur Villegagnon.

Os franceses ficam surpresos eles olham entre si. VILLEGAGNON tenta se levantar para falar em pé, pois não se sente muito confortavel. AIMBERÊ, sério, faz um sinal para que permaneça sentado. VILLEGAGNON se senta.

VILLEGAGNON
Chefe AIMBERÊ trago a amizade e as homenagens do Rei de França, sua Magestade Henrique II. Estamos aqui para oferecer nossa ajuda e também para pedir ajuda. Ajudaremos os Tupinambás na luta contra os portugueses.

VILLEGAGNON
Damos armas, em troca de madeira e homens para nos ajudar na construção. Gostariamos também...

ERNEST está impaciente. Ele se levanta e deixa a roda enquanto VILLEGANON continua seu discurso

60 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? CONTINUOUS

ERNEST passeia pela aldeia. Algumas MULHERES fiam. Outras ajeitam carnes sobre um girau para fazer o moquém. Dois HOMENS conversam enquanto afiam seus tacapes. MARTIM vem ao encontro de ERNEST, ele saúda o compatriota.

MARTIN
Como vai meu amigo Ernest ?

ERNEST
Bem obrigado, meu caro Martin. É sempre bom sair daquela ilha de pedra e vir ao continente. E você como vai ?

MARTIN
(Sorrindo)
Ótimo.

ERNEST
Sempre que te encontro estás com um sorriso estampado no rosto. Parece que, sem dúvida, és um homem feliz.

MARTIN
Meu caro amigo, desde que cheguei a esta terra e que aqui fui acolhido por esta gente maravilhosa , minha vida se transformou completamente. Dos assassinatos por encomenda passei para a tranquilidade de uma família constituída.

MARTIN
Em vez da companhia de corsários e de bandidos de todos os cantos do mundo, agora tenho a amizade de homens de bem e a segurança de uma grande família que confia em mim e me proteje.

Eles passeiam pela tribo. MARTIN é sempre cumprimentado pelos índios.

ERNEST
Você não sente falta da França. Estamos tão longe de tudo.

MARTIN
Meu amigo, eu jamais tive rumo algum, logo, nunca estive perto de nada. Não deixei nada para trás porque nunca tive grande coisa. Quando aportei aqui sob as ordens de meu último corsário, senti que minha viagem tinha finalmente acabado. Sou um homem livre, vivo em uma terra onde não existe intolerâcia, não se mata em nome de Deus, e moedas de ouro não valem nada.

Neste momento ERNEST e MARTIN cruzam com POTIRA que passa apresada. Ela olha para ERNEST que se vira para olhar. POTIRA continua seu caminho. MARTIN percebe o olhar paralisado de ERNEST que segue a beldade e ri. POTIRA, sem olhar para trás, sorri francamente e continua seu caminho. ERNEST permanece paralizado.

MARTIN (CONT D)
(Aponta para Potira)
Pois é, meu amigo. Quem precisa de Deus e dinheiro quando já possuímos o que de melhor Deus criou e o máximo que o dinheiro pode nos dar.

JANAÍNA, 10 anos, filha de Martin, vê seu pai e corre em direção a ele. MAIARA também se aproxima.

JANAÍNA
Oi ,pai ?

MARTIN
Oi, filha, este é o meu amigo ERNEST.

ERNEST pega na mão de JANAÍNA e a beija.

ERNEST
Prazer em conhecê?la mademoiselle. Estou encantado.

JANAÍNA
Olá. Esta é minha amiga MAIARA.

ERNEST pega na mão de MAIARA e a beija.

ERNEST
Prazer em conhece?la, mademoiselle. Estou encantado.

MAIARA fica calada sem saber o que falar.

JANAÍNA
Ela não fala francês.

61 INT. ILHA DE SEREJIPE. TENDA DE ERNEST. ?? NIGHT

ERNEST escreve à luz de velas.

ERNEST
Caro amigo. Já se passaram muitos meses desde minha partida do Havre.

ANETTE (V.O.)
Tenho vivido coisas nesta terra que poucas pessoas da minha geração terão oportunidade de viver. Começo a entender um pouco da nostalgia que te acompanha desde que partiste. Tudo é exuberância e luminosidade nesta terra, muito diferente da miséria cinza que tomou conta das cidades da França.

ANETTE (V.O.)
Aqui não há espaço para arrogância, soberba ou vaidade. O ser humano se coloca na sua verdadeira posição diante da imensidão do arvoredo. É com essa hulmidade que vivem os homens e mulheres que aqui habitam, um dia após o outro, entre os perigos e os tesouros da mata, ao lado dos Deuses.

62 EXT. ILHA DE SEREJIPE. ALTAR ?? EVENING

No altar está o Padre ANDRÉ DE THÉVET e o Pastor GAMACHE que celebram o casamento dos casais, ROCHEFORT e BATIRA e MARCEL e JACIRA. BATIRA e JACIRA estão usando um vestido improvisado. ERNEST, MARTIN e FERRAND se colocam como padrinhos. VILLEGAGNON em traje de gala está ao lado do altar. Os noivos estão descendo do altar. Eles são cumprimentados por todos. Uma festa está acontecendo. Um grupo toca música enquanto MARINHEIROS cantam. Os casais dançam. ERNEST dança com JANAÍNA.

MARCEL, JACIRA, BATIRA e ROCHEFORT deixam a ilha em uma canoa enfeitada. Um grupo de franceses bebe clandestinamente.

ANETTE (V.O.)
VILLEGAGNON parece fazer questão em manter o isolamento entre franceses e nativos, mas o contato se aprofunda cada vez mais a despeito de todos os esforços do Almirante. Ontem fizemos o nosso primeiro casamento misto. Os Rapazes casaram com duas beldades, esguias e cor de caramelo. Eles saíram do inferno direto para o paraiso. Foram morar no continente, onde já moram alguns franceses que estão aqui há alguns anos, já instalados e com famílias constituidas. Todos ficamos contentes com o casamento. Foi bom para o moral. Foi nossa primeira festa no Brasil.

NORMANDIA 1572 FOURTEEN

63 INT. CASA DE ESSOMERICQ. BIBLIOTECA ?? NIGHT

ANNETE está lendo a carta à beira de uma lareira. ESSOMERICQ adentra a biblioteca.

ESSOMERICQ se aproxima da lareira e senta ao lado de ANETTE.

ESSOMERICQ
Temos novidades para você. Hubert partiu hoje cedo para Paris. Obtemos informações de que seu noivo está desaparecido..

ANETTE se assusta.

ESSOMERICQ (CONT D)
Mas calma minha filha, ele não está morto. Muitos o viram fugir na noite do massacre. Uma coisa é certa. Ele não caiu nas mãos dos homens de Charles e Catarina, portanto há grandes chances de ele estar em segurança em algum esconderijo. Hubert partiu para procurá?lo pessoalmente.

ANETTE fica mais calma, mas seus olhos estão marejados.

ANETTE
(Voz de choro)
Deus permita que isto seja verdade. e quanto à minha mãe, o senhor obteve notícias ?

ESSOMERICQ
Sua mãe está bem. Nosso mensageiro a encontrou em sua propriedade. Ela nem sabia o que estava acontecendo, estava preparando sua viagem à Itália. Parece que na companhia de um jovem pintor que ela financia.

ANETTE Levanta da mesa e anda na sala enquanto fala.

ANETTE
(Revoltada)
Isto não me surpreende. Nada que não diga respeito ao seu próprio bem estar lhe interessa. Mil massacres podem ocorrer que ainda continuará no seu mundinho, protegido por sua riqueza, nobreza e indiferença.

ESSOMERICQ
Não a censuro. Quem quer se envolver com a sujeira da guerra ou da política

ANETTE olha séria para ESSOMERICQ. Ela se senta ao lado da lareira.

ANETTE
Uma posição confortável, sem dúvida.

ESSOMERICQ
(Paternalmente)
Não, minha filha, uma posição sábia. Ainda mais quando se sabe aonde nos conduz a luta pelo poder. Não questiono a nossa covardia que lembras justa e subtilmente na sua observação, mas entre dois lados de uma guerra, eu prefiro nenhum. Eu tive o privilégio de poder fazer esta escolha. Eu tive coragem de seguir minha natureza e viver em paz comigo e com meus semelhantes. Abri mão de todo o poder que minha posição me conferia. Embora não tenha feito muitos amigos verdadeiros, seu bisavô passou por este mundo sem fazer inimigos.

ANETTE se levanta. Ela ainda não se conforma com as explicações do velho. Ela diz antes de se retirar da biblioteca.

ANETTE
Não sei se podemos nos livrar assim, com tanta frieza e elegância de nossas responsabilidades. Se tens responsabilidades com a paz, trabalha em favor dela. Por vezes contribuímos sem saber para a violência e a injustiça. Talvez essa indiferença seja a maior de todas as violências.

ESSOMERICQ vê a bisneta sair. Ele bate na cabeça e pensa alto.

ESSOMERICQ
Que menina! e eu que pensei que já tivesse tido todas as minhas lições..

RIO DE JANEIRO 1555 FIFTEEN

64 INT. FORTE DE COLIGNY. SALA DE VILLEGAGNON ?? DAY

ERNEST se apresenta ao Almirante Villegagnon

ERNEST
Sim Almirante.

VILLEGAGNON
O senhor está designado para acompanhar os homens que vão permanecer na tribo de Aimberê para treinar os índios no manejo das armas. Quero enfatizar aqui minha proibição expressa de contato com as índias. Não desejo outras matrimônios mistos em minha cidade. Mas pensando nisso, pedi a meu sobrinho Bois Le Comte que chega com mais 3 navios brevemente. que trouxesse da França a solução.

FERRAND
(Curioso)
A solução ?

65 INT. ILHA DE SEREJIPE. CAIS ?? DAY

Uma dúzia de mulheres francesas desembarca na ilha sob o olhar e o silêncio dos homens que param de trabalhar. Elas são na maioria feias, algumas já de idade, visivelmente maltradadas . Elas passam sorrindo em um corredor formado pelos homens em direção ao Forte. No final da fila vem VILLEGAGNON, leve sorriso aos lábios, que parece tocar suas ovelhas em direção ao curral.

66 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? DAY

Fardado, ERNEST desembarca do escaler com um enorme sorriso. enquanto os marinheiros descarregam as caixas de armamento. Ele parte em direção a tribo de Aimberê, assoviando uma canção. Eles atravessam a picada e avistam a clareira onde está a aldeia. Ao entrar na tribo a primeira pessoa que ERNEST avista é POTIRA. Ela lhe recebe com um largo sorriso. Como sempre, ele lhe olha da cabeça aos pés, embasbacado.

67 INT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. OCA DA FAMILIA DE AIMBERÊ ?? ?? DAY

AIMBERÊ e os principais da tribo estão reunidos com ERNEST. MARTIN está presente, assim como os franceses que vieram com ERNEST. Eles formam uma roda em volta de uma enorme fogueira. Algumas mulheres servem cumbucas, outras assistem a conversa. AIMBERÊ está falando.

AIMBERÊ
Gostaria de pedir mais algumas coisas aos nossos amigos franceses que são nossos convidados

ERNEST
Em que podemos ajudar

AIMBERÊ
Precisamos de machados. Precisamos de roldanas e carretilhas. Além das armas gostaríamos também de aprender a manejar seus instrumentos.

68 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? NIGHT

AIMBERÊ conversa com ERNEST embaixo de uma grande árvore. sob a luz da lua cheia e ao som da floresta.

AIMBERÊ
Meu amigo Ernest. Tamoios não gostam do grande número de franceses que chegam a Guanabara. O que os franceses querem na Guanabara ?

ERNEST parece surpreso com a pergunta. Ele olha para o infinito. AIMBERÊ o olha fixamente. ERNEST depois de hesitar finalmente sustenta o olhar de AIMBERÊ.

ERNEST
Chefe Aimberê conhece a resposta. A intenção é ficar.

AIMBERÊ
(Friamente)
O que faz franceses pensarem que são diferentes de portuguêses? Porque acreditam que Tamoios não farão guerra contra vocês?

ERNEST
Porque Tamoio já tem inimigo demais e precisa de armas. Porque, neste momento, Tamoio precisa de francês e frances precisa de Tamoio.

AIMBERÊ
Ernest diz que Tamoio confia em Francês ?

ERNEST
Não, Tamoio sabe que precisa conhecer bem os seus inimigos.

AIMBERÊ sorri para ERNEST que lhe devolve o sorriso.

69 INT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. OCA DA FAMILIA DE AIMBERÊ ?? NIGHT

AIMBERÊ leva ERNEST para sua oca. Dentro da oca, à primeira vista, estão algumas mulheres e crianças que estão em volta de uma fogueira. AIMBERÊ aponta uma rede a ERNEST, enquanto se deita em uma outra bem próxima. ERNEST se senta na rede e começa a tirar suas botas. Entram na oca IGUASSU e POTIRA. ERNEST não as vê pois está sentado de costas para a porta. Ele percebe IGUASSU que chega sorrindo para o marido. E

ERNEST se levanta da rede para cumprimentar a mulher de Aimberê quando ele vê POTIRA.

Ele percorre lentamente com os olhos toda a extensão do corpo da índia que permanece em pé,lhe sorrindo. AIMBERÊ e IGUASSU caem na gargalhada. ERNEST percebe que está pasmado diante de POTIRA e tenta se recompor.

AIMBERÊ
Ernest esta é minha filha Potira

POTIRA sorri para ERNEST e abaixa levemente a cabeça em sinal de respeito. Depois se deita na sua rede que está entre a de ERNST e a de AIMBERÊ.

70 INT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. OCA DA FAMILIA DE AIMBERÊ ?? LATER

Todos dormem na oca de Aimberê. ERNEST ronca na sua rede. POTIRA acorda, ela olha para a rede de ERNEST. Ela senta na sua rede, pensa, sorri e vai até a rede de ERNEST. Ela lhe acorda com um beijo. Ele se assusta. Ela se deita na rede junto de ERNEST. Ele se preocupa e olha em volta, principalemte para a rede de AIMBERÊ. ERNEST tenta se levantar, mas POTIRA lhe segura com os braços fortes e lhe faz deitar de novo. Ela começa a beijá?lo. Ele finalmente desiste de resistir e corresponde. Eles fazem amor.

71 INT. ILHA DE SEREJIPE. CASA DE LAVARC. ?? EVENING

LAVARC,45 anos, entrega uma pistola a ANTOINE, 22 anos

LARVAC
Você sabe o que fazer

Antoine assente com a cabeça

72 EXT. ILHA DE SEREJIPE.FORTE COLLIGNY ?? DAY

VILLEGAGNON caminha apressado pelo pátio do forte, na companhia de seu sobrinho BOIS?LE?CONTE, de muitos guardas escoceses e alguns oficiais. No final do grupo, dois escoceses arrastam um homem ensanguentado. Eles atravessam sob o olhar dos homens que param o que estão fazendo para ver passar o grupo. VERGER sai de seu quarto e bate no quarto de FERRAND, que abre a porta assustado. Ele vê o Almirante passar nervoso sem olhar para os lados. VILLEGAGNON para e esmura uma porta.

VILLEGAGNON
(Gritando)
Lavarc!! Lavarc!! Saia daí..

Um longo silêncio. depois de alguns instates. Um senhor, vestido com uma túnica negra característica dos protestantes sai do barraco.

VILLEGAGNON (CONT D)
(Cheio de odio)
Lavarc traidor canalha.

Os GUARDAS vem e jogam o homem ensanguentado aos pés de LAVARC. É ANTOINE. VILLEGAGNON mostra uma pistola e a joga sob o moribundo. LARVAC permanece em silêncio.

VILLEGAGNON (CONT D)
Recebi o seu correio e vim respondê?lo pessoalmente. Em nome do rei da França, o senhor está preso sob a acusação de complô e alta traição.

Dois guardas avançam em direção a LAVARC que não esboça qualquer reação.

LARVAC
Em seu nome Villegagnon eu estou sendo preso. França Antártica é a terra do Rei Villegagnon, o Rei do Brasil. Sua ambição e sua tirania puseram tudo a perder. É o fim da França Antártica

VILLEGAGNON chega bem perto de LARVAC e lhe diz cara a cara.

VILLEGAGNON
Não Larvac. É o seu fim. Levem?no!

VILLEGAGNON sai sob a pressão da tuba que começa a se agitar. Ouvem?se protestos sob a poeira que se levanta com toda essa confusão.

73 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. EM FRENTE A OCA DA FAMILIA DE AIMBERÊ ?? MORNING

ERNEST se espreguiça em frente a oca. Ele acaba de acordar e está descalço de bermuda e camisa,mangas arregaçadas. Ele caminha em direção da família de AIMBERÊ que se reúne em volta do fogo para o desjejum. Ele se aproxima e é recebido por IGUASSU que lhe dá as boas vindas. AIMBERÊ também se levanta e cumprimenta ERNEST. Após cumprimentar a todos ele procura com os olhos por Potira que não está no grupo. AIMBERÊ percebe e comenta.

AIMBERÊ
Ernest procura Potira ?

ERNEST sorri envergonhado.

AIMBERÊ (CONT D)
Ela está tomando banho. Sente e venha comer com a gente.

ERNEST se senta e come com o grupo, como em uma família.

74 EXT. ILHA DE SEREJIPE. FORTE COLIGNY ?? MORNING

Um a um, os cadafalsos se abrem. As pernas de quatro acusados caem um após outra.

75 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. RUÍNAS A BEIRA MAR ?? MORNING

AIMBERÊ e ERNEST caminham pela praia em direção a uma construção em ruínas à beira mar. No fortim abandonado, eles circulam entre o que restou da antinga construção.

AIMBERÊ
Ernest, aqui tudo começou. Antes, nós conheciamos os perigos da vida. a selva, os animais e os inimigos de além das montanhas. Sabiamos com quem deviamos lutar. Sempre, foi assim...

ERNEST ouve AIMBERÊ e também está atento aos objetos que sobraram. Armas, móveis calcinados, restos apodrecidos da passagem dos portugueses.

AIMBERÊ (CONT D)
Hoje Tupinambá não sabe mais quem é o inimigo. Não sei nem mesmo se ERNEST é amigo.

ERNEST se apresa em confirmar.

ERNEST
Eu sou amigo de Aimberê

AIMBERÊ
Os franceses estão aqui desde muito tempo. Eu era pequeno quando vi um francês pela primeira vez. Para Tupinambá francês e português parecem a mesma pessoa...Vem de longe, e possuem coisas que nunca existiram. Os portugueses construiram essa casa com a ajuda de meu pai e de meus tios.

ERNEST olha para o chão e vê uma ossada. Ele sorri espantado.

ERNEST
O que aconteceu ?

AIMBERÊ
Os chefes decidiram que portugueses não eram amigos. Queriam a terra dos tupinambás. Eles vieram escravizar os Tupinambás. Foram mortos todos que estavam nesta casa.

ERNEST
Aimbere acha que será a mesma coisa com os franceses.

AIMBERÊ
Meu pai achava que sim. Não queria estrangeiro na Guanabara. Mas os franceses apenas passavam nos seus grandes barcos, trocavam suas cargas e partiam.

ERNEST
(Sem graça)
Hoje os franceses querem mais..
(Intrigado)
mas porque Aimbere diz tudo isso ? Você confia em mim ?

AIMBERÊ
Não sei se confio. Certamente não confio em seu comandante. Quero que vocês saibam que não existe Tupinambá escravo. O mar vai ficar vermelho de sangue, do sangue de todos os Tamoios antes de qualquer estrangeiro conquistar terra Tupinambá.

76 EXT. BAÍA DA GUANABARA. MAR.BARCO ?? DAY

Remos entram na água. A bordo de um dos barcos de apoio do navio de Villeganon está ERNEST. Ele vai em pé na proa enquanto quatro MARINHEIROS remam. De repente ele olha para trás e pergunta aos marinheiros que estão parando de remar.

ERNEST
O que é aquilo ?

77 EXT. BAÍA DA GUANABARA. MAR.BARCO ?? CONTINUOUS

Uma dezenas de pequenos barcos a remo avança na direção da canoa de Ernest. Eles vem se aproximando e junto com eles o som de uma enorme balbúrdia. Mais perto eles percebem que os homens estão sorrindo nos barcos. Eles vem dando vivas e improvisando canções. As embarcações se cruzam. Os MARINHEIROS saúdam ERNEST . Ouvem?se também algumas vaias e apupos. No meio o doutor VERGER grita para ERNEST.

VERGER
Viva a liberdade..

GAIAT que viaja ao lado De VERGER aproveita a deixa e emenda:

GAIAT
Viva as mulheres !!!

Todos riem ERNEST não entende nada mas também sorri.

78 EXT. ILHA DE SEREJIPE. FORTE COLIGNY ?? MOMENTS LATER

ERNEST desembarca na ilha. O movimento é menor que o habitual. Poucos homens trabalham. Outros poucos se espalham aqui e ali, conversando em pequenos grupos, realizando tarefas cotidianas. ERNEST entra no Forte. Dois Guardas da guarda escocesa abrem caninho para ele entrar pela porta da sala de Villeganon.

79 INT. FORTE DE COLIGNY. SALA DE VILLEGAGNON ?? MOMENTS LATER

Reunidos em torno de VILLEGANON estão, BOIS?LE?CONTE, DU MORIET e FERRAND. Todos estão em silêncio e se viram quando ERNEST entra na sala. Ele se aproxima do grupo e faz reverência a VILLEGANON.

ERNEST
Venho lhe apresentar o relatório de minhas atividades meu Almirante. Mas antes gostaria de lhe perguntar o que se passa. Cruzei agora a pouco com barcos que carregavam muitos homens ao continente. O que está havendo ?

VILLEGAGNON
(Olhando fixamente para Ernest)
Meu rapaz, voce cruzou com os ratos que abandonaram a França Antártica.

ERNEST olha para VILLEGAGNON. Ele continua sem enteder. VILLEGAGNON explica.

VILLEGAGNON (CONT D)
São os protestantes que mais uma vez decidiram protestar. A vida deles é essa, ir contra tudo o que está estabelecido...

VILLEGANON se exaspera.

VILLEGAGNON (CONT D)
Traidores. Os malditos estão pondo tudo a perder. Estamos mais do que vulneráveis. Já antevejo os problemas...

BOIS?LE?CONTE
Certamente já estão escrevendo cartas cheias de ódio para alguns de nossos financiadores....

VILLEGAGNON
(Intervindo)
Preciso ver Coligny. Não podemos perder o dinheiro de Coligny. Será o fim... Partirei no próximo navio e o comando ficará por conta de Bois?Le?Conte.

Villegagnon aponta para o seu sobrinho que dá um passo à frente

ERNEST
O que vamos fazer ?

VILLEGAGNON
Meu rapaz, de qualquer forma, você não estará participando. Recebi carta de seu pai autorizando sua volta à França no próximo navio. Voltaremos juntos para a Europa.

ERNEST fica parado sem dizer nada. Diante de seu silêncio VILLEGANON lhe pergunta.

VILLEGAGNON (CONT D)
Tudo bem meu rapaz ?

NORMANDIA 1572 SIXTEEN

80 INT. CASA DE ESSOMERIQ. QUARTO DE ANETTE ?? NIGHT

ANETTE se prepara para se deitar em sua enorme cama. As amplas janelas de seu quarto estão abertas e vários candelabros acesos. Anette se deita, se cobre com um lençol, pega as cartas e retira uma delas. Ela abre a carta.

ERNEST (V.O.)
Prezado amigo Durante meses a fio a única coisa que queria era deixar esta terra. Sofri com o calor infernal e com as chuvas diluvianas. Sofri com os malditos mosquitos, com os animais e as mais diversas peçonhas. Tive de suportar a castidade, a ignorância e a solidão. Hoje de tarde Villegagnon me informou que volta a França e que meu pai mandou me chamar.

ANETTE
Finalmente chegou o dia de minha partida e a única coisa que quero é ficar aqui. Loucura ? Insensatez de um homem inteiramente perdido ? Talvez. O fato é que , sem saber, Villegagnon resolveu um problema. Esse maldito resolveu a minha vida.

RIO DE JANEIRO 1556 SEVENTEEN

81 EXT. PRAIA. MAR ?? MORNING

ERNEST e POTIRA fazendo amor dentro do mar.

ANETTE (V.O.)
Se por um lado conheci sofrimentos impensáveis para um jovem cortesão, por outro, também conheci o que pensei que jamais pudesse existir: amor e a liberdade.

82 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? DAY

POTIRA ensina Tupi para ERNEST. Ela lhe mostra, objetos, as coisas da aldeia e lhe diz a palavra correspondente. Ernest tenta falar. Potira balança com a cabeça negativamente. Ernest tenta de novo. Potira lhe sacode o braço e pede que olhe sua boca e o movimento dos lábios. Ernest não resiste rouba um beijo de Potira que lhe bate no braço e o faz voltar à aula de Tupi

ANETTE (V.O.)
Minha vida adquiriu um sentido. sou despossuído de qualquer riqueza material e me sinto o mais afortunado dos homens. Minha vida com os nativos têm sido uma sequência de aprendizados e cada dia vale por um ano.

83 EXT. LAGO ?? DAY

ERNEST,AIMBERÊ e outros ÍNDIOS pescando com flechas. ERNEST atira uma flexa que atravesa um grande peixe. Ele comemora.

ANETTE (V.O.)
Nunca pensei que sentimentos tais como cobiça, a ambição ou a inveja pudessem ser riscados de minha existência. Aqui não há a busca por riquezas, poder ou prestígio social. Há somente a vida e todo o seu explendor.

84 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. PLANTAÇÃO DE MILHO ?? DAY

POTIRA, IGUAÇU, MAIARA, JANAÍNA e varias ÍNDIAS estão colhendo milho em uma farta plantação.

ANETTE (V.O.)
Aqui, nesta terra selvagem cultivam?se valores como a solidariedade, a autonomia, o respeito. Esta é a matéria do qual são feitos os homens e mulheres de bem.

85 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? AFTERNOON

ERNEST, AIMBERÊ e os ÍNDIOS atravessam a aldeia distribuindo os peixes. Em frente a oca de Aimberê, ERNEST entrega um peixe para POTIRA, que está preparando o milho com IGUAÇU.Os dois trocam sorrisos.

ANETTE (V.O.)
É a partir deste sentimento que que se constrói a verdadeira liberdade. Somos livres e não interferimos na liberdade de ninguém. Finalmente posso dizer que amo...

86 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? DAY

ERNEST e POTIRA se beijam. POTIRA põe um pedaço de peixe na boca de ERNEST. Eles estão sentados diante de uma enorme esteira estendida no centro da Aldeia. Abundância, fartura, uma multitude de tigelas com conteúdos nas mais diversas cores, além de frutas, vegetais e tubérculos estão sobre a esteira. Um grande almoço reúne todos na tribo.

ANETTE (V.O.)
Tomei a decisão de não mais voltar. Junto com esta carta que vos escrevo, também vai uma carta para o meu pai. Informo a minha família que eles tem um problema a menos na divisão da nossa grande herança.

NORMANDIA 1572 EIGHTEEN

87 INT. CASA DE ESSOMERIQ. QUARTO DE ANETTE ?? NIGHT

ANETTE sentada na cama lê a carta.

ERNEST (V.O.)
Escolhi viver na terra onde a única herança que se lega é o exemplo de nossa vida.

ANNETE leva a carta ao coração.

RIO DE JANEIRO 1526 NINETEEN

88 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. PRAIA ?? MORNING

Três botes portugueses apontam na Baía, uma mulher sai gritando em direção ao mar onde seus filhos brincam na água. Começa o corre?corre na praia.

89 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? CONTINUOUS

Na Aldeia o corre corre é grande. alguns homens se mobilizam para a defesa e se precipitam sobre as armas.

Os portugueses chegam atirando e atravesando suas espadas em tudo o que se move. Algumas lutas corporais se engajam. Portugueses começam a atear fogo em ocas. Indios são mortos com tiro a queima roupa ou trespassados por lanças.

o ADOLESCENTE AIMBERÊ corre em direção a mata. Antes que ele chegue à floresta uma rede despenca sobre ele. Enquanto ele se debate na rede um homem se aproxima. É JOÃO RAMALHO que se coloca diante do adolescente que esperneia no chão emaranhado na rede.

JOÃO RAMALHO
Veja que bela fera que capturei.

90 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. PRAIA ?? DAY

Alguns índios, muitas crianças e mulheres amarrados com cordas pelo pescoço, fazem fila indiana para embarcar nos barcos dos portugueses que os levam para o navio ancorado no mar. Ao fundo a aldeia de Uruçumirim arde em chamas.

O jovem AIMBERÊ, se desfaz do nó da corda que o prende pelo pescoço e sai correndo. Vários portugueses saem ao seu encalço .

GUARDA
Pega, pega.

AIMBERÊ é preso por um guarda. JOÃO RAMALHO e BRÁS CUBA chegam em seguida.

JOÃO RAMALHO
Índio desgraçado.

Ele chuta AIMBERÊ que está no chão. Depois o imobiliza e com um punhal faz um risco na cara de AIMBERÊ.

JOÃO RAMALHO (CONT D)
Isso é para você aprender a não mais fugir.

AIMBERÊ segura o rosto que já começa a sangrar e dirige um olhar de ódio para JOÃO RAMALHO.

RIO DE JANEIRO 1556 TWENTY

91 INT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. OCA DA FAMILIA DE AIMBERÊ ?? NIGHT

AIMBERÊ acaricia a sua cicatriz no rosto. Ele está com ERNEST, e IGUASSU ao redor de uma fogueira, pendurado em suas redes

AIMBERÊ
Fiquei 5 anos nas mãos dos portugueses. Éramos escravos nos engenhos. Muitos morreram trabalhando duro de dia e dormindo acorrentados à noite....

ERNEST
O que aconteceu com a sua família?

AIMBERÊ
Meus irmãos, que eram mais velhos do que eu, morreram no dia mesmo da invasão. Eu era um jovem rapaz como você. Minha covardia me salvou. Meu pai, um velho homem, esperou sentado em sua tenda, os portugueses que vieram lhe levar. Eles o queriam vivo. Qual chefe ordena a submissão de seu povo? O fato é que o velho homem não falou mais uma palavra desde sua captura. Morreu em silêncio em uma outra fazenda. Desde então estou em Guerra contra os portugueses

A fogueira crepita. Uma brasa vem cair ao pé de Ernest que comenta:

ERNEST
Uma vida de guerra não é uma vida feliz...

AIMBERÊ
Uma vida de escravo não é uma vida.

AIMBERÊ está mais calmo. Ele volta a se sentar e diz:

AIMBERÊ (CONT D)
Os Tamoios estão mudando. Meus ancestrais não se reconheceriam como Tamoio. Os estrangeiros chegaram como um vendaval que traz chuva forte e relâmpago. Muita coisa vai mudar antes de vermos o sol e a calmaria de novo. Durante a tempestade a única coisa a fazer é procurar abrigo. Quando amanhecer veremos o que o ventou poupou.

ERNEST
Temo que esta tempestade não acabe nunca. Mais Europeus estão vindo para a Guanabara.

Aimberê se levanta de novo. Ele caminha em redor da fogueira, pensativo. Ele arrisca:

AIMBERÊ
Preciso de você.

Ernest se assusta. Aimberê continua

AIMBERÊ (CONT D)
Preciso conhecer meus inimigos.

Ernest pergunta;

ERNEST
O que faz Chefe Aimberê confiar em Ernest ?

AIMBERÊ não responde, ao invés disso ele fulmina Ernest com uma afirmativa:

AIMBERÊ
Você disse que é meu amigo. A um amigo oferecemos tudo. Eu te ofereço a minha filha Potira

ERNEST se levanta da rede, com os olhos arregalados. IGUASSU lhe dá dois tapinhas nas costas e lhe sorri.

NORMANDIA 1572 TWENTY?ONE

92 INT. CASA DE ESSOMERIQ. QUARTO DE ANETTE ?? NIGHT

ANETTE sorri. Ela continua a ler as cartas de ERNEST. Ouve?se alguém bater a sua porta. ANETTE fala:

ANETTE
Pode entrar...

Uma das criadas entra com uma jarra e deposita ao lado da cama de Anette. Ela faz uma reverência e sai.

ANETTE continua a ler:

RIO DE JANEIRO 1556 TWENTY?TWO

93 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? NIGHT

Meninas mascam mandiocas. Eles mascam e cospem uma pasta em um pano. Depois pegam mais um pedaço da mandioca e repetem o ato. Uma mulher vem e pega o pano. Ela leva até um barril onde mais duas mulheres aguardam . As mulheres estendem um pano e recolhem toda a pasta e depois torcem um pano. Do pano escorre um líquido que cai em um barril . Ao lado deste barril, barris menores. É de um destes barris menores que um homem vem servir uma jarra. Ele afunda a jarra no recipiente e sai com o líquido. Mais adiante ele dá um grande gole na jarra.

94 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? CONTINUOUS

A mesma jarra passa de mão em mão até chegar às mãos de POTIRA ela bebe e passa. Ela está ao lado de ERNEST. Eles recebem um grande abraço coletivo de crianças, mulheres e homens. No meio das pessoas o Ernest sorri francamente.

ANETTE (V.O.)
O Chefe Aimberê me ofereceu sua filha, a criatura mais linda que Deus pôs nesta terra. De repente minha vida ganhou uma nova esperança. Me comove a confiança e a amizade dos Tupinambás. Me sinto mais em casa do que quando estava na casa de meu pai. Chega de intrigas, inveja e mentiras. Que os Deuses desta Terra recebam minha eterna gratidão.

95 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? DAY

Um adolescente passeia de mãos dadas com uma senhora. Eles caminham até uma palhoça.

ANETTE (V.O.)
Sou grato por uma vida simples.

ANETTE (V.O.)
Aqui as coisas se encaixam perfeitamente. Veja que coisa mais interessante. Na terra de Aimberê homens e mulheres se completam e cumprem cada qual a sua função

96 INT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. PALHOÇA ?? CONTINUOUS

Já dentro da oca , a senhora encaminha o adolescente até uma rede. Ela se despe, se deita e o chama . O adolescente sorri e entra na rede.

ANETTE (V.O.)
Não é uma regra, mas acontece sempre. A iniciação dos jovens é feita por mulheres mais velhas cujos maridos a as abandonaram em troca de mulheres mais jovens.

97 EXT. PRAIA ?? EVENING

Aimberê e Iguassu trocam um longo beijo

ANETTE (V.O.)
Aqui o casamento tem um sentido e as pessoas compartilham suas vidas por que querem.

98 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? MOMENTS LATER

ERNEST E UÊ, 25 anos lutam em uma roda. Em volta todos riem e incentivam os lutadores. ERNEST leva um golpe de UÊ que o derruba costas ao chão.O movimento arranca um Óh! da platéia. Ato contínuo, POTIRA sai de onde está e intervém na luta. Ela agarra UÊ pelo pescoço e o força a sair de cima de ERNEST. ERNEST aproveita a ajuda inesperada e acaba por se desvencilhar de UÊ. O casal imobiliza UÊ. ERNEST levanta o braço de POTIRA. Eles ajudam UÊ a se levantar Os 3 saem abraçados da roda.

ANETTE (V.O.)
Hoje conheço o sentimento de pertencer a uma família. Tenho a mulher mais linda do mundo que além de me amar e servir.... me protege !! O que mais um homem pode querer ?

99 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? MOMENTS LATER

ERNEST e POTIRA olham os seus presentes. Em uma esteira estão amontoados objetos os mais diversos, penas, tacapes tecido. ERNEST abre uma trouxinha de pano. Ele toma um susto e deixa a trouxinha cair. As lagartas se espalham por entre os objetos.

100 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? MOMENTS LATER

ERNEST dá uma tragada em um enorme cachimbo que lhe é passado. Seus olhos estão vermelhos. Ele tosse com força. CAUÉ lhe bate nas costas. ERNEST para de tossir, mas ele já está em outro mundo...

ANETTE (V.O.)
Meu casamento foi uma enorme festa. índios de toda a região vieram prestar sua homenagem. Os presentes foram os mais insólitos. Tacapes, flechas, peles, penas de todos os tipos, e as famosas largartas. Bebemos e fumamos a noite inteira. Festejamos sem remorso nossa felicidade.......

ILHA DE MALTA 1557 TWENTY?THREE

101 INT. IGREJA ?? NIGHT

Villegagnon reza agachado de fronte ao altar. Um ABADE adentra a capela e diz

ABADE
Sua eminência está aqui.

Villegagnon se vira. Olha para o ABADE e acena afirmativamente com a cabeça. O ABADE sai e Villegagnon o acompanha.

102 INT. IGREJA ? SACRISTIA ?? CONTINUOUS

Villegagnon adentra a Sacristia e vê INÁCIO DE LOYOLA que o recebe com um sorriso. Villegagnon continua sério. O jesuíta diz imediatamente

INÁCIO DE LOIOLA
Almirante Villegagnon, obrigado por ter vindo. Sou Inácio de Loyola Tenho mensagem de sua santidade o Papa

O padre passa às mãos de VILLEGAGNON a mensagem do Papa e uma pequena caixa. VILLEGAGNON lê. Abre a caixa. Dentro se vê uma Cruz de Malta em ouro. Um leve sorriso se estampa no seu rosto, o que anima O Padre INÁCIO DE LOIOLA a intervir.

INÁCIO DE LOIOLA (CONT D)
Permita?me acrescentar os meus humildes cumprimentos. O Senhor agora é Cavaleiro de Malta

RIO DE JANEIRO 1557 TWENTY?FOUR

103 EXT. FORTE COLIGNY ?? NIGHT

O forte está em chamas. Dentro do forte queima a mesa e a cadeira de VILLEGAGNON.

104 EXT. BAÍA DA GUANABARA. MAR ?? DAY

A bordo de alguns botes, dezenas de franceses vêem o Forte de Coligny queimar. Sob o barulho dos remos que entram na água e de algumas explosões tardivas ao longe, os franceses abandonam a França Antártica. BOIS?LE?CONTE comanda um dos botes

BOIS?LE?CONTE
Vamos para o continente, vamos para La Brique

105 EXT. LA BRIQUE.PRAIA ?? MORNING

BOIS?LE?CONTE e os franceses chegam a praia com seus botes. Na praia inúmeros corpos se estendem pelo chão

PLANALTO DE PIRATININGA 1557 TWENTY?FIVE

106 INT. VILA DE PIRATININGA. COLÉGIO SÃO PAULO ?? DAY

Anchieta corre para receber uma criança que chega pelas mãos de uma índia vestida rudemente. Ele recolhe a criança e imediatamente a leva para uma sala que serve de enfermaria.

Na enfermaria, dezenas de doentes, todos índios, estão espalhados pelo chão. Jesuítas e algumas índias fazem as vezes de enfermeiros. Anchieta atravessa a sala e põe a criança em uma cama. Logo, dois jesuítas se aproximam. Anchieta lhes olha como se pedisse algo. Súbito, ele ajoelha ao pé do doente. Os jesuítas se entreolham. Ajoelhado, cabisbaixo, Anchieta reza desesperado por uma cura:

ANCHIETA
Deus misericordioso, conseguimos para ti estas almas. Não deixe que a moléstia leve embora as vidas que agora estão a teu serviço

Uma tempestade se inicia.

RIO DE JANEIRO 1557 TWENTY?SIX

107 INT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. TAPERA ?? DAY

Chove forte. A água da chuva desce rápido pelas bordas da tapera. No seu interior 2 mulheres e uma criança. Uma criança bebe um líquido com a ajuda da mãe. O pequeno indiozinho JUNEKI,3 anos, está doente. Sua mãe KETARA, 27 anos pede a índia MEIKOT, 18 anos:

KETARA
Traga o PAJÉ!!

MEIKOT sai correndo.

108 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? CONTINUOUS

Meikot sai correndo pela aldeia durante a tempestade. Ela vai em direção a oca do pajé. Ela passa por um cenário desolador. Alguns cadáveres se amontoam em um canto.

índios carregam os corpos em grandes giraus para a mata. Uma mulher chora na entrada de sua oca, duas crianças estão aos seus pés e tremem de frio. MEIKOT continua correndo em direção a oca do pajé. Finalmente ela chega a oca que já está cercada de índios. No instante mesmo de sua chegada, uma "maca" sai de dentro da oca. Na "maca" carregada por dois homens, está o PAJÉ. MEIKOT exclama:

MEIKOT
O Pajé !!

109 EXT. LA BRIQUE. ?? DAY

Continua chuvendo. ERNEST e o Doutor VERGER descarregam uma canoa. Enquanto eles transportam pequenos barris eles conversam. Ernest fala:

ERNEST
Estão morrendo como moscas. Temos que fazer alguma coisa

O Doutor argumenta:

VERGER
Estamos frente a uma epidemia de gripe. Precisamos cuidar dos mais fortes para que não contraiam a doença. Pelos mais fracos não podemos mais nada

Ernest questiona:

ERNEST
Quantos mais teremos que enterrar?

VERGER
Quantos forem os mortos.

110 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? DAY

Ernest e Potira choram e se abraçam no meio da chuva

111 INT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. OCA DA FAMILIA DE AIMBERÊ ?? ?? NIGHT

Chove ainda. ERNEST, POTIRA, IGUASSU, UÊ estão jantando. Eles comem em tigelas com as mãos. AIMBERÊ entra na oca completamente ensopado:

AIMBERÊ
Kunhambebe está morto

ANGRA DOS REIS 1557 TWENTY?SEVEN

112 INT. ALDEIA KUNHAMBEBE, GRANDE OCA ?? NIGHT

Em uma grande oca estão centenas de índios. Um grande burburinho domina o ambiente. Eles formam uma grande roda. A fila da frente está sentada, enquanto muitos índios estão de pé. Tochas iluminam o ambiente. JAGUANHARA está falando, AIMBERÊ, ERNEST e KUNHAMBEBE II, filho do grande chefe morto o rodeam. Eles estão sentados.

JAGUANHARA
...Kunhambebe está morto. Aimberê deve ser o novo chefe dos Tamoios

Todos olham para AIMBERÊ, que permanece impassível. ERNEST está excitado com o clima político da reunião. Ernest olha para AIMBERÊ e sorri. AIMBERÊ não responde, ele permanece em silêncio, olhar ao longe, fisionomia séria. Ele interrompe o seu silêncio perguntando a KUNHAMBEBE II

AIMBERÊ
O que pensa o filho de Kunhambebe?

KUNHAMBEBE II
Aimberê deve liderar os Tamoios

ERNEST está sério. Forma?se uma grande expectativa entre os presentes para a resposta de AIMBERÊ. AIMBERÊ se levanta

AIMBERÊ
Antes os Tamoios lutavam entre si.

AIMBERÊ
Até que Kunhanbebe, um dia, resolveu atirar suas flechas para os verdadeiros inimigos dos Tamoios. Kunhambebe mostrou que, juntos, podemos viver em paz. Temos que lutar contra o mal que quer escravizar nosso povo e destruir nossa terra. É chegada a hora de completar a missão de Kunhambebebe. Morte aos inimigos dos Tamoios

Gritos irrompem. A roda se fecha em torno de Aimberê. Ernest sorri no meio dos índios que se comprimem em um "bolo".

PRAIA DE BERTIOGA 1557 TWENTY?EIGHT

113 EXT. FORTE DE BERTIOGA ?? MORNING

HANS STADEN,45 anos, dispara o seu canhão do alto da murada. Ele abandona o seu posto e foge, depois que um artilheiro ao seu lado é trespassado por uma flecha

114 EXT. FORTE DE BERTIOGA ?? CONTINUOUS

Portugueses tentam desesperados calçar o portão que está sendo forçado pelos índios. O forte está em chamas e muitos cadáveres se espalham pelo chão. Um golpe mais forte de um ariete improvisado pelos índios leva o portão abaixo que cai em cima dos portugueses que tentavam escorá?lo. Guerreiros Tamoios adentram tacape à mão. Portugueses que tentam se render, braços levantados, são trespassados por lanças. No meio da confusão o gordo alemão HANS STADEN tenta procurar um esconderijo. Na sua fuga por entre barricadas, focos de incêndio, ele passa por cadáveres. Lutas se engajam à sua volta. Ele tira do seu caminho um português ferido que lhe estende a mão ensanguentada. Ele continua correndo até tomar uma porretada no meio da testa e cair sem sentidos no chão.

115 INT. ACAMPAMENTO DE GUERRA DE AIMBERÊ . PALHOÇA ?? DAY

HANS STADEN desperta em uma rede com uma índia que lava sua ferida na testa com um pano. Ele está deitado em uma rede.

A jovem e bela índia, ao seu lado, lava o pano e passa suavemente na testa do alemão que dá uma gemida ao toque da índia que retira a mão, mas logo depois volta a limpar. o Alemão se deixa fazer, sorri e exclama:

HANS STADEN
.... o paraíso

Neste exato momento Ernest adentra a palhoça. A índia sai, deixando HANS STADEN, sorriso congelado, ainda entorpecido com o que ele pensava ser a morte. Ernest se aproxima e vê o gordo alemão sorrindo, olhos fechados. ERNEST pega uma cabaça que está ao pé da rede do alemão e lhe dá uma porrada bem no ferimento. O Alemão acorda com um berro de dor. Ernest fala

ERNEST
Voilá Hans Staden, o mercenário mais nojento de toda a Europa. Por pouco tu não vira moquém, alemão. Fala o que sabes sobre o Forte de São Vicente

O alemão passa a mão sobre a testa dolorida.

HANS STADEN
Quero que você vá para o inferno Francês imundo. O que eu sei vai morrer comigo.

Ernest sorri e ameaça dar uma outra cabaçada em Hans Stadem que se protege com as mãos

ERNEST
Você é convidado de honra de Aimberê na festa de hoje à noite.

116 EXT. ACAMPAMENTO DE GUERRA DE AIMBERÊ ?? NIGHT

HANS STADEN está amarrado em uma árvore. O alemão pode ver a fogueira e vários índios que bebem e dançam. Em um canto, amarrado a um tronco, um índio TEMIMINÓ. AIMBERÊ está sentado ao lado de ERNEST, JAGUANHARA, KUNHAMBEBE II, UÊ, Eles comem e bebem.

Ernest pergunta a Aimberê

ERNEST
Quem é Aibere?

AIMBERÊ
É um traiçoeiro Temiminó. Eles vivem bem para lá das montanhas. Eles lutam com os portugueses contra os Tupinambás. Esse homem vai ter a morte signa de um guerreiro corajoso.

Uma linda mulher aparece.

Aimberê pede silêncio a Ernest que se preparava para perguntar mais uma coisa

O NOVO PAJÉ aparece. De repente, a batucada para. Todos se reúnem em volta do prisioneiro. O Pajé e a mulher se dirigem ao índio TEMIMINÓ amarrado. ERNEST está curioso, HANS STADEN também. O Pajé corta as amarras do prisioneiro. A mulher lhe oferece um tacape. O temiminó se liberta, beija a mulher, pega a arma que lhe é oferecida. Ele percorre com o olhar a turba que o cerca. Ele diz

TEMIMINÓ
Com um tacape igual a esses eu já matei muitos Tupinambás. Meu pai matou Tupinambás. O pai do meu pai já matou muitos Tupinambás. Eu já matei guerreiro mas também mulher, criança e velho...

Antes que o Temiminó terminasse o seu rosário de crimes contra os Tupinambás, uma multidão, inclusive mulheres e adolescentes, avança sobre o infeliz e o mata a pauladas, chutes e pedradas.

O Temiminó consegue arrebentar a cabeça de um dos seus atacantes mas acaba cedendo à multidão que o massacra.

ERNEST está espantado. HANS STADEN, ainda amarrado à arvore, faz uma cara de nojo. Baixada a poeira, uma mulher grita. Ela corre em direção ao corpo de Tupinambá que está ao lado do corpo do Temiminó. Ato contínuo mais 3 pessoas também correm .

Uma roda se forma em torno dos dois cadáveres e das pessoas que se aglomeram em torno de apenas um cadáver. A família retira, em silêncio, o corpo do jovem Tupinambá da roda. O NOVO PAJÉ retira uma faca, vai ao cadáver ensanguentado do Temiminó, vira?o de costas e com a faca retira um enorme bife da bunda do índio morto, corta um pedaço e engole.

A multidão grita. ERNEST arregala os olhos. HANS STADEN treme.

Ele corta alguns pedaços e sai oferecendo aos guerreiros que também pegam e comem. Aimberê recebe sua parte. ERNEST vomita no pé do Pajé quando este vem lhe oferecer o pedaço de carne. HANS STADEN desmaia. Aimberê comenta com o NOVO PAJÉ

AIMBERÊ
É essa gente quer conquistar a nossa Terra...

O NOVO PAJÉ coça a cabeça. ERNEST, mareado, seca com a mão o resto de vômito que restou no canto da boca. HANS STADEN está completamente desfalecido

117 EXT. ACAMPAMENTO DE GUERRA DE AIMBERÊ ?? MORNING

A passarada se agita no amanhecer. De cima de uma árvore um grupo de periquitos sai em bando. Embaixo da árvore HANS STADEN ronca amarrado a árvore. Seu corpanzil encontrou um equilíbrio entre a corda e o tronco. Meio de lado, cabeça largada sobre o braço, se não fosse a corda que deixava marcas vermelhas em sua barriga, podia se dizer que o gordo estava confortável ali amarrado a um tronco de árvore. Em todo caso HANS STADEM roncava quando AIMBERÊ chegou ao seu lado. Ele está com uma faca na mão e olha bem o gordo alemão que continua roncando. AIMBERÊ balança a cabeça e , com a faca, corta um ramo de capim. Ele começa a enfiar o ramo de capim na orelha de HANS STADEM. O alemão se remexe. AIMBERÊ continua. Finalmente HANS STADEN acorda. A primeira coisa que vê, ainda de lado, é uma enorme faca. E depois, já aprumado, um enorme índio que segura uma enorme faca.

HANS STADEN revê o pajé engulindo um pedaço de carne.

O alemão revira os olhos e desmaia de novo

118 INT. ACAMPAMENTO DE GUERRA DE AIMBERÊ ?? MOMENTS LATER

HANS STADEN acorda amarrado na árvore. Na sua frente ERNEST. HANS STADEN sorri aliviado.

ERNEST fala secamente.

ERNEST
Eles querem o plano de São Vicente e a localização dos canhões que você instalou

HANS STADEN balança afirmativamente a cabeça

HANS STADEN
Tudo o que quizerem, mas por favor não me comam.

ERNEST desdenha

ERNEST
Quem é que vai querer comer um gordo asqueiroso como você

HANS STADEN se inflama

HANS STADEN
E você francês nojento. Pareces bem à vontade junto com essa gente que come gente...

ERNEST tenta explicar

ERNEST
Eles não comem ... é um ritual..

HANS STADEN interrompe

HANS STADEN
Vai explicar isso no inferno, ao diabo, que vai te acolher, à mesa de jantar, francês canibal

ERNEST se enfurece e voa no pescoço do alemão

ERNEST
Eu vou te matar ...

AIMBERÊ entra na Palhoça. Ele vê o Alemão e o Francês que se engalfinham no chão. Ele balança a cabeça e diz calmamente:

AIMBERÊ
Senhores ..

ERNEST e HANS STADEN param de brigar e olham para AIMBERÊ.

119 EXT. ACAMPAMENTO DE GUERRA DE AIMBERÊ ?? DAY

HANS STADEN, AIMBERÊ, KUNHANBEBE II, ERNEST, MARTIN, JAGUANHARO estão em uma roda. HANS STADEN faz desenhos na areia. AIMBERÊ pergunta. HANS STADEN volta a desenhar. JAGUANHARO comenta alguma coisa com KUNHAMBEBE II.

120 EXT. PRAIA ?? DAY

Dois índios escoltam Hans Staden até a praia. Eles libertam o alemão.

SÃO VICENTE 1557 TWENTY?NINE

121 EXT. SERRA. ?? DAY

Do alto da serra AIMBERÊ observa o forte de São Vicente

122 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE ?? DAY

O forte está em alerta. Todos os homens estão à postos nas muradas. Um OFICIAL se retira de sua posição na murada. Ele caminha em direção à Sala do governador. No caminho ele passa por uma movimentação frenética de homens, mantimentos e armas. Na porta de entrada da sala do governador, ele cumprimenta os guardas e entra

123 INT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE. SALA DO GOVERNADOR ?? CONTINUOUS

O oficial adentra a sala que recebe uma pequena multidão. O clima é de tensão.

Presentes, o Governador GONÇALO COELHO e outros oficiais, além de ANCHIETA, MANOEL DA NÓBREGA e os fazendeiros JOÃO RAMALHO e BRÁS CUBAS acompanhados de seus capitães MAMELUCOS. O oficial se dirige ao Governador e informa:

OFICIAL PORTUGUÊS
Senhor Governador, os homens estão prontos. Os selvagens não passarão da murada

No canto, João Ramalho comenta antes que o Governador Gonçalo Coelho diga qualquer coisa:

JOÃO RAMALHO
Em Bertioga disseram a mesma coisa... O senhor me perdoe senhor governador, mas não podemos entregar nossa segurança a estes frangotes empertigados que vossa excelência chama de oficiais

O OFICIAL PORTUGUÊS ameaça desembainhar a espada e partir para cima do fazendeiro mas é contido por um sinal do governador. JOÃO RAMALHO continua

JOÃO RAMALHO (CONT D)
Deixe me comandar as tropas senhor Governador. Meus homens conhecem o país e podem se opor aos selvagens. Enquanto eles combatem podemos organizar uma retirada até Piratininga onde podemos resistir melhor

O governador o interrompe bruscamente:

GONÇALO COELHO
O senhor está sugerindo que devemos capitular e entregar São Vicente aos índios ?

Os oficiais aprovam a intervenção do Governador com interjeições. BRÁS CUBAS reforça:

BRÁS CUBAS
Arroubos de orgulho não cabem neste momento senhores. Lá fora estão milhares de índios sedentos de sangue.

O Governador interrompe

GONÇALO COELHO
Somos numerosos, temos armas e munições e mantimentos para suportar. Não vou abandonar Sào Vicente e não acredito que os indios possam coordenar um assalto a uma fortaleza bem protegida

ANCHIETA ameaça intervir, mas é contido por MANOEL DA NÓBREGA que lhe faz uma cara feia. O Governador ordena

GONÇALO COELHO (CONT D)
Quero todos à postos. Vamos mostrar a eles o fio de nossa espada e o calor de nosso chumbo

124 EXT. SERRA. MATA ATLÂNTICA ?? DAY

AIMBERÊ, JAGUANHARO, ERNEST E KUNHAMBEBE II discutem o plano de ataque. AIMBERÊ está falando com um plano na mão

125 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. PRAIA ?? DAY

AIMBERÊ comanda um grupo de guerreiros que avança em direção do Forte. Eles são recebidos por tiros de canhão que explodem no mar e na areia. Alguns índios morrem, o que não impede que outros avancem em direção ao forte.

Um grupo na retaguarda se deita no chão. Eles preparam para disparar suas grandes flechas para o alto a partir de enormes arcos que precisam ser curvados com a ajuda das pernas. Ao sinal de um velho índio eles disparam

126 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE ?? CONTINUOUS

Flechas voam em direção ao Forte. Zunindo como um enxame de abelhas, elas caem como uma chuva encima da fortificação.

Algumas passam as muradas outras acabam nas pedras ou fincadas no portão.

127 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. PRAIA ?? CONTINUOUS

O velho índio corrige com o braço o ângulo das flechas. Deitados, costas na areia, os artilheiros inclinam seus arcos e se metem no ângulo desejado pelo velho. Ao sinal voltam a disparar

128 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE ?? CONTINUOUS

Nova chuva de flechas se abate sobre a fortificação. Desta vez as setas alcançam, em sua maioria, o interior da fortificação.

129 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE ?? CONTINUOUS

Flechas caem por todo lado. Portugueses são atingidos de diversas formas. Ao perceberem o ataque muitos correm para se proteger da chuva . Mal terminam de correr e lá vem mais uma saraivada de setas que atinge tudo dentro do forte. Na murada, Portugueses contratacam com os canhões e tiros.

130 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. PRAIA ?? CONTINUOUS

Aimberê e seus homens estão perto do forte. Eles carregam, em grupos de 4, grandes varas. Continuam caindo homens sobre o fogo dos portugueses. Da mesma forma continua o zunido das flechas que cruzam por cima de suas cabeças. Os homens chegam ao muro. Eles tentam apoiar as grandes varas para que sirvam de escada.

131 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE ?? CONTINUOUS

No alto, os portugueses preparam pedregulhos para lançá?los nos atacantes. Eles derramam uma chuva de pedras em cima dos atacantes. Enquanto isso continuam os canhões e armas.

132 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE ?? CONTINUOUS

Os índios ao pé da murada recebem pedras na cabeça. Alguns guerreiros conseguem escalar a murada mas são repelidos pelos defensores.

Aimberê lidera mais uma carga aos portões da fortaleza. Mais uma salva de flechas passa zunindo por cima das muradas. Com um ariete improvisado, os índios tentam arrombar o portão. Muitos são alvejados por flechas, tombam vítimas de tiros ou explosões. Aimberê é ferido no braço por uma flecha. Mais índios tombam de cima das muralhas. Aimberê ordena a retirada. Por entre dezenas de corpos os índios primeiro recuam, mas sob uma nova salva de canhão que mata mais alguns, começam a correr pela praia

133 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE ?? CONTINUOUS

Das muralhas de onde comanda pessoalmente a defesa, GONÇALO COELHO sorri. Os portugueses vibram, o governador que está ladeado de oficiais e dos fazendeiros ordena

GONÇALO COELHO
Vamos terminar com essa guerra senhores.
(virando?se para um dos oficiais)
Atrás deles, cem moedas por cada cabeça de índio

BRÁS CUBAS olha assustado para JOÃO RAMALHO, um dos capitães mamelucos balança a cabeça. O oficial sorri e se retira com os outros oficiais. Gonçalo Coelho sorri e se dirige aos fazendeiros

GONÇALO COELHO (CONT D)
Parece senhores que vossos temores não se justificaram

BRÁS CUBAS ainda tenta intervir

BRÁS CUBAS
Não faça isso excelência...

O governador se retira antes mesmo do fazendeiro completar sua frase

134 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. PRAIA ?? CONTINUOUS

Os índios fogem pela praia. Aimberê se retarda para indicar aos retardatários o caminho

135 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE ?? CONTINUOUS

Cavaleiros Portugueses atravessam os portões. São seguidos por infantes em formação militar.

136 EXT. MATA ATLÂNTICA ?? CONTINUOUS

Os índios seguem uma trilha. Uma centena deles passa correndo. Os primeiros cavaleiros já estão chegando ao grupo que foge. Aimberê é um dos últimos. Ele corre com uma flecha encravada no ombro. Os últimos índios já são decepados pelas espadas da vanguarda da cavalaria. Dezenas de metros atrás já se pode avistar o pequeno exército português que avança. Os índios continuam a correr. Lutas se engajam entre portugueses e índios. Aimberê luta com um cavaleiro. Consegue desmontá?lo e depois matá?lo com sua faca.

137 EXT. COLINA NA MATA ?? CONTINUOUS

JAGUANHARA, ERNEST, KUNHAMBEBE II, UÊ, INAÊ e outros índios esperam agachados. Abaixo da colina se vê uma pequena estrada. Do outro lado da estrada uma outra colina onde outros índios aguardam. De repente os primeiros índios saem da trilha e entram correndo na estrada. Depois que dezenas deles passam, inclusive Aimberê, já aparecem os primeiros cavaleiros misturados a outros índios que fogem. Logo depois a infantaria começa a sair da trilha. Nessa hora Kunhambebe II ordena o ataque. Índios descem dos dois lados da estrada. ERNEST desce gritando

138 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE ?? MOMENTS LATER

Nas muralhas, soldados portugueses conversam. De repente, um deles para e aponta para a praia

139 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. PRAIA ?? CONTINUOUS

Dezenas de portuguêses correm, cada um por si, em direção ao forte.

140 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE. SALA DO GOVERNADOR ?? CONTINUOUS

GONÇALO COELHO brinda com alguns oficiais, os fazendeiros JOÃO RAMALHO E BRÁS CUBAS, os padres ANCHIETA e MANOEL DA NÓBREGA. São interrompidos por um oficial que adentra a sala com os olhos esbugalhados.

141 EXT. MATA ATLÂNTICA ?? MOMENTS LATER

AIMBERÊ puxa a flecha encravada no seu ombro. ERNEST está ao seu lado e lhe oferece água. AIMBERÊ sorri para o Francês e diz

AIMBERÊ
Foi uma grande vitória. Os portugueses vão perder São Vicente. Caindo Sào Vicente cai também Piratininga. Agora é deixar que morram de fome naquele forte, eles estão cercados. Vencemos meu amigo, vencemos.

142 INT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE. SALA DO GOVERNADOR ?? LATER

Uma multidão toma a sala. Uma grande confusão reina no ambiente. As pessoas estão em pânico. Soldados estão misturados a colonos, crianças, e até alguns animais. No fundo da sala, o Governador, ANCHIETA, NÓBREGA,e oficiais. A guarda do governador faz uma barreira que impede que a turba chegue a mesa de trabalho de GONÇALO COELHO. O governador está, ele mesmo, em pânico. Sentado em sua poltrona, ele parece meio abobalhado, alheio à enorme confusão que tomou conta de sua sala.

Em um canto da sala, atrás da multidão, Anchieta comenta com Nóbrega

ANCHIETA
Estamos sem comando. Precisamos fazer alguma coisa

ANCHIETA
(Ele faz sinal com a cabeça em direção de Gonçalo Coelho)
São Vicente está por um fio

143 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE ?? MOMENTS LATER

Anchieta e Nóbrega passam apressados. Anchieta vai na frente, Nóbrega vai atrás tentando acompanhar. No portão do forte, Nóbrega finalmente alcança e detém Anchieta

MANOEL DA NÓBREGA
Você está louco !!

Anchieta se vira para Nóbrega que segura seus braços

ANCHIETA
É a nossa única chance

MANOEL DA NÓBREGA
Isto é suicídio

ANCHIETA
Tenho que falar com esse Aimberê

MANOEL DA NÓBREGA
E como pensas encontrá?lo ? Vai sair a esmo por uma selva onde os índios são apenas mais um perigo?

ANCHIETA
Deus vai me guiar. Prefiro arriscar uma chance do que arrumar minhas coisas e partir. Se nosso trabalho é merecedor de benções de nosso senhor Jesus, ele saberá me guiar e saberá parar esta guerra
(sério)
Não peço ao senhor que me acompanhe. Mas com toda a sinceridade e respeito, nem mesmo o voto de obediência que fiz aos meus superiores será capaz de me impedir

Nóbrega assente com a cabeça e solta o braço de Anchieta

MANOEL DA NÓBREGA
Seja o que Deus quizer. Eu vou com você

Anchieta olha para cima e ordena

ANCHIETA
Abram o portão

Os sentinelas se entreolham. Um deles pergunta

SENTINELA
Perdão , Padre não enten...

Nóbrega interrompe bruscamente

MANOEL DA NÓBREGA
Abram o portão idiotas

O portão é aberto e os religiosos saem. Do lado de fora, uma visão aterradora da guerra. Cadávares ainda estão insepultos. Alguns urubus fazem a festa. Os religiosos atravessam o campo de batalha até desaparecerem das vistas dos sentinelas.

NORMANDIA 1572 THIRTY

144 EXT. CASA DE ESSOMERICQ. JARDIM ?? MORNING

Essomericq entrega a Anette outro maço de cartas

ESSOMERICQ
Aqui está o fim desta história.

ANETTE
Foi o senhor que enviou armas à Ernest e Aimberê. Foi por isso que o senhor se afastou dos negócios

ESSOMERICQ
Quando se perde uma guerra, tem que se aceitar as imposições do vencedor.

ESSOMERICQ
Eu gastei muito dinheiro de nossa família apoiando Ernest, um rapaz que mal conheço, e Aimberê um desconhecido. Não é difícil ser tachado de louco em uma situação destas

Antes que Anette intervenha Essomericq continua

ESSOMERICQ (CONT D)
Faça?me um favor, leia estas cartas. Quero reviver um momento de esperança

RIO DE JANEIRO THIRTY ONE ????

145 INT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. OCA DA FAMILIA DE AIMBERÊ ?? NIGHT

Ernest escreve em sua escrivaninha improvisada. Potira dorme em uma esteira perto do fogo.

ANETTE (V.O.)
Nossa vitória é completa. Conquistamos a paz.

146 EXT. ACAMPAMENTO DE GUERRA DE AIMBERÊ ?? AFTERNOON

Aimberê circula entre seus homens ainda com o ombro sangrando. Ele ajuda as mulheres no atendimento dos feridos. Um velho chega e lhe carrega pelo braço.

ANETTE (V.O.)
Aimberê é um grande líder, em uma sociedade onde a liderança, a chefia, o poder, são uma responsabilidade, uma fonte permanente de problemas ao invés de uma forma de ascender aos mimos e privilégios...

147 EXT. ACAMPAMENTO DE GUERRA DE AIMBERÊ ?? MOMENTS LATER

O velho mostra a Aimberê uma pilha de cadávers que estão sendo amontoados por outros índios.

Ao mesmo tempo uma mulher desesperada lhe pede auxílio. Ele dá instruções ao velho e sai com a mulher para outro lado.

148 INT. ACAMPAMENTO DE GUERRA DE AIMBERÊ . PALHOÇA ?? NIGHT

Aimberê dorme com os outros índios na tapera

BACK TO SCENE

Aimberê lidera o ataque ao forte

ANETTE (V.O.)
Um líder se afirma por seu exemplo. Nossa vitória foi construída em cima de seu exemplo. Ele não manda fazer, ele faz. Ele sabia que o nosso assalto ao forte ia fazer muitos feridos entre os nossos homens. Não teve dúvidas em ir à frente. O plano era seu e ele foi em primeiro lugar, morrer na linha de frente se fosse preciso, para garantir a sua liberdade

149 EXT. ACAMPAMENTO DE GUERRA DE AIMBERÊ ?? DAY

Aimberê passa por entre seus homens que estão acampados. Ele para, fala com alguns e depois continua o seu caminho. Durante o percurso ele cumprimenta e é cumprimentado por todos.

ANETTE (V.O.)
Entre os Tupinambás o poder advém do respeito e da confiança. Sentimo?nos seguros sob o comando deste verdadeiro herói, pai de nossa gente. E isso é tudo. Ninguém é obrigado a respeitar suas ordens. Cada um é livre para fazer o que quizer, até combater ao lado do inimigo. Respeitamos Aimberê porque nos sentimos seguros e temos inteira confiança em nosso líder.

ANETTE (V.O.)
Seus erros e acertos são totalmente partilhados como se tivessem sido decisões de cada um.

150 EXT. MATA ATLÂNTICA ?? DAY

Anchieta e Manoel da Nóbrega atravessam um pequeno pântano. Eles estão esfarrapados e se movimentam com dificuldade. Vez por outra, Anchieta se retorna para ajudar Nóbrega que atola seu corpanzil na lama

ANETTE (V.O.)
Aimberê aceitou o acordo de paz que os dois padres de São Vicente vieram nos oferecer.

151 EXT. MATA ATLÂNTICA ?? NIGHT

Anchieta termina de assar um peixe. Ele se vira para oferecer um pedaço para Nóbrega , mas o gordo padre já está roncando

152 EXT. MATA ATLÂNTICA ?? DAY

Anchieta e Nóbrega caminham por entre as pedras na maré baixa.

153 EXT. MATA ATLÂNTICA ?? DAY

Anchieta e Nóbrega são cercados por índios em uma clareira. Eles são presos e levados mata adentro

154 EXT. ALDEIA DE PINDOBUÇU ?? NIGHT

Os índios chegam em sua tribo com os dois religiosos. Eles atravessam a aldeia com os dois religiosos sob o olhar curioso de todos

155 INT. ALDEIA DE PINDOBUÇU. PALHOÇA ?? MOMENTS LATER

Um velho está suando em uma rede. Dois outros índios entram com os dois religiosos e mostram o velho. Anchieta compreende imediatamente do que se trata e se precipita à rede do velho enfermo. Ele toca com as costas das mãos na testa de Pindobuçu e olha para Manoel da Nóbrega

156 EXT. ALDEIA DE PINDOBUÇU ?? DAY

Anchieta e Nóbrega estão sentados em baixo de uma árvore cercados de crianças. Pindobuçu sai de sua palhoça que está logo em frente. Anchieta sorri

ANETTE (V.O.)
Eles chegaram aqui pelas mãos de Pindobuçu um velho amigo de Aimberê e parece que sofreram muito para chegar até nós. Ganharam a confiança de Pindobuçu curando?o de sua enfermidade.

ANGRA DOS REIS 1557 THIRTY TWO ????

157 INT. ALDEIA KUNHAMBEBE, GRANDE OCA ?? NIGHT

Anchieta e Nóbrega são levados por Pindobuçu até o Conselho de Chefes que inclui Aimberê, Kunhambebe II, Jaguanharo e também mais 3 outros guerreiros. Todos estão em volta de uma fogueira e Anchieta e Nóbrega demonstram a humildade dos derrotados

ANETTE (V.O.)
Eles propuseram um acordo de paz. Fim da escravidão e fim das invasões ao território Tupinambá. Aimberê não confia nos portugueses mas ele vê que estamos todos cansados. Chega de mortes e sangue, os Tamoios querem simplesmente viver em suas terras como sempre aconteceu. Eu acho que foi isso que pesou na decisão de todos. Estamos às portas do Forte de São vicente mas vamos parar a ofensiva.

SÃO VICENTE 1557 THIRTY TREE ????

158 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. RUAS ?? DAY

Aimberê, totalmente nu, acompanhado de Manoel da Nóbrega entra em São Vicente sob o olhar estupefato de toda a gente.

Eles atravessam as ruas. As pessoas se retiram do caminho para Aimberê e Nóbrega passar. Ao longe, os fazendeiros Brás Cubas e João Ramalho observam o triunfo do grande chefe Tamaio.

159 INT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE. SALA DO GOVERNADOR ?? CONTINUOUS

Gonçalo Coelho recolhe alguns objetos, enquanto os criados terminam de empacotar suas coisas.

RIO DE JANEIRO 1558 THIRTY FOUR ????

160 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? DAY

Anchieta caminha pela tribo. Um índio, discretamente, está sempre de olho em seus movimentos

ANETTE (V.O.)
A realidade, a conclusão a que chegamos é que teremos que conviver com o mundo.

161 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. PRAIA ?? DAY

Um dia de praia na Aldeia Uruçumirim. Aimberê, Ernest, Iguassu, Potira, Martin, todos estão curtindo um belo dia de sol à beira mar. Crianças se divertem no mar, jovens disputam jogos na areia. Alguns casais namoram, inclusive homossexuais. Dois rapazes se beijam deitados na areia. INAÊ e sua mulher passeam de mãos dadas. Outros jovens estão em volta de uma fogueira assando peixes. Velhos descansam em baixo de amendoeiras enquanto crianças correm por todo lado. Em baixo de uma árvore está a família de Aimberê. Ernest descansa no colo de Potira. Ele passa a mão sobre sua barriga de gestante.

ANETTE (V.O.)
O importante é que conquistamos a paz. Vamos poder criar nossas crianças, vou poder criar meu filho com Potira em liberdade

162 EXT. LA BRIQUE. ?? DAY

Uma água preta e suja escorre para o rio. Subindo o curso desta água nojenta. Ela vai terminar em uma viela de esgoto corre a céu aberto. Estamos em La Brique, última aglomeração francesa no Rio depois da destruição do forte. La Brique é um povoado sujo onde uma centena de franceses dividem o espaço com outros tantos nativos e mamelucos. Da ünica rua do povoado pode se ver clareiras que se abrem em direção a floresta que queima em alguns pontos. Indios bêbados circulam entre colonos e soldados mal?encarados. Mulheres índias estão nas portas dos bares Na porta do bar se vê JACIRA e BARTIRA . Bois?le?Conte comanda a aglomeração. Ele e os franceses remanescentes são surpreendidos em seu povoado pela visita de Aimberê que vem com grande número de guerreiros. Aimberê chega tirando da sua frente quem está por perto. Na passagem na rua em direção ao seu destino, ele reconhece as índias e lhes lança um olhar sério. As índias abaixam a cabeça. Aimberê prossegue sua caminhada seguido por dezenas de homens. Ernest e Martin estão no grupo. Eles chegam a porta da casa que serve de comando e já atropelam os sentinelas. Os dois infelizes estavam sentados na porta do casarão quando foram surpreendidos pela chegada de Aimberê e seu grupo. Quando os sentinelas levantaram foram "passados por cima" pela turba que avançou casarão adentro. Depois da poeira baixar os dois sentinelas ficam caídos na porta do casarão. De dentro da casa, lhando para trás, vê?se que um deles ainda tentava se levantar, mas o outro estava completamente desacordado, estirado no chão de barriga para cima

163 INT. LA BRIQUE ? CASA DE BOIS?LE?CONTE ?? CONTINUOUS

Aimberê avança casa adentro com sua comitiva. Na porta da sala de Bois le Conte, os dois sentinelas já saem rápido do caminho, ao verem o grupo que avança, Aimberê sério à sua frente. Aimberê irrompe na sala de Bois?le?Conte

Bois ?le conte está em sua mesa em companhia de duas índias nuas. Os 3 tomam o maior susto com a entrada de tanta gente. As índias saem de cima do francês e saem da sala. Bois?le?Conte se recompõe, ele está somente de celouras. Aimberê o interrompe

AIMBERÊ
Bom dia Senhor Bois?le?Conte, Não precisa botar seu uniforme é apenas uma visita de rotina

Bois?le?conte está se equilibrando com um pé para vestir sua calça quando Aimberê lhe pede que pare de se vestir. O francês dá um sorriso amarelo e permanece como está. Calças arriadas, vestidas em apenas um peça. O francês arrasta os pés até sua mesa

BOIS?LE?CONTE
A que devo a honra senhores...

Aimberê se senta em cima da mesa e fala diretamenrte a Bois le conte que se encolhe na cadeira

AIMBERÊ
Vim informar aos meus aliados que vencemos a guerra.
(irônico)
Os senhores estavam sabendo que estavamos em guerra ?

Bois?le?Conte engole seco e tenta se explicar. Aimberê não o deixa falar. Ernest ri da situação

AIMBERÊ (CONT D)
Vim cobrar sua parte em nossa aliança. Onde estão os paióis.

BOIS?LE?CONTE
Não se preocupe. Temos pólvora e armamento

Aimberê acena para um grupo de índios que se retiram

AIMBERÊ
Vamos levar tudo. De hoje em diante os franceses pagarão com armas e também com ouro sua permanência

Ele acena para Ernest que entrega uma lista a Bois?Le?Conte. Aimberê roda em volta de Bois le Conte.

Pega uma garrafa de vinho que está na mesa. Ele entorna o líquido no chão. Depois de esvaziar a garrafa:

AIMBERÊ (CONT D)
Vejo que muitos navios tem passado por aqui trazendo e levando mercadorias

Bois?le?Conte tenta responder mas é interrompido

AIMBERÊ (CONT D)
Quero ser informado de tudo o que chega e sai desta ilha daqui para frente.... Nada mais tenho a tratar. Tenha um bom dia Monsieur, desfrute de nossa hospitalidade

Aimberê e o resto de seu grupo saem da sala deixando Bois?le?Conte sentado com a lista na mão. Martin fica para trás. Ele olha para Bois?le Conte e sorri com ironia

MARTIN
Eu receberei os seus relatórios na minha palhoça

Ele faz uma reverência com seu chápeu de palha e sai

164 INT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. OCA DA FAMILIA DE AIMBERÊ ?? NIGHT

Sob a luz de tochas, e sozinha em um canto da oca, Potira de cócoras faz força para parir o filho de Ernest. Suas feições de dor são suavizadas quando um bebê literalmente despenca em um leito preparado com folhas e tecido. Seu choro ecoa na aldeia.

165 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. EM FRENTE A OCA DA FAMILIA DE AIMBERÊ ?? MORNING

Ernest balança em uma rede com o seu bebê. De vez em quando um índio da tribo vem visitá?lo na rede. Senta?se ao lado de Ernest que permanece deitado, fica um tempo e sai. Ernest continua deitado na rede. Um casal se aproxima e repete o mesmo gesto.

Oferecem um presente, se sentam ao lado da rede, ficam um pouco e partem. Do lado da rede uma pequena montanha de presentes deixados pelos amigos de Ernest e Potira

166 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. EM FRENTE A OCA DA FAMILIA DE AIMBERÊ ?? NIGHT

Ernest balança em uma rede. Ao lado crepita uma fogueira. Potira termina de amamentar o bebê e lhe passa a Ernest na rede. Ela dá um beijo no bebê, um outro em Ernest e sai.

167 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? DAY

Potira dá duro em uma lavoura de mandioca. Ela para, limpa o suor do rosto com o braço e volta a trabalhar na retirada dos tubérculos.

168 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. EM FRENTE A OCA DA FAMILIA DE AIMBERÊ ?? DAY

Ernest, de resguardo, deitado em uma rede lembra das palavras de Aimberê.

AIMBERÊ (V.O.)
Um filho é produto das boas qualidades que o pai lhe transmite. Se o pai é corajoso e valente, seu filho receberá coragem e valentia. Se o pai é sábio e engenhoso seu filho receberá sabedoria e engenhosidade. Ter um filho é uma grande provação para um homem. Depois do nascimento o filho deve ficar com o pai, na rede, por 3 dias. É indispensável este contato. Senão será um homem ou mulher sem qualidades. Ter um filho é uma grande provação para um homem e ele deve descansar

169 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. PRAIA ?? DAY

Ernest, Aimberê, o engenheiro Ferrand e Martin supervisionam a construção de um pier.

170 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. PRAIA ?? AFTERNOON

Uma multidão de índios espera a chegada dos botes que vem do navio ancorado ao largo de Uruçumirim. Os botes chegam ao pier e muitos índios correm para tirar 4 grandes caixas dos barcos. Em grupos de 4 índios por caixa, eles trazem as encomendas até a areia onde estão Ernest, Potira e o filho no colo, Iguassu, Aimberê, Martin e a menina Jananína. Ernest abre os caixotes. Ernest retira uma roda de fiação e a exibe vitorioso. trata?se de um anticlímax. Os índios que esperavam alguma coisa de espetacular, fazem cara de muxoxo quando Ernest levanta aquele coisa que ninguém sabe o que é.

171 INT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. PALHOÇA ?? DAY

Quatro índias trabalham na tecelagem. Ernest e Aimberê olham orgulhosos. Potira é uma das tecelãs. Em um outro canto, Iguassu trabalha na "coisa de Ernest", e fia fibras para os teares. Outras quatro rocas também são visíveis.

NORMANDIA 1572 THIRTY FIVE ????

172 INT. CASA DE ESSOMERICQ. ATELIER ?? DAY

Essomericq está com tecidos nas mão. Ele passa às mãos de Anette os tecidos. Anette comenta;

ANETTE
É incrível. O Senhor importou estes tecidos do Brasil para vender aqui na Europa?

Essomericq sorri

ESSOMERICQ
Devo lhe confessar que não fizeram muito sucesso. Mas Ernest e Aimberê estavam trabalhando sério. Estavam convencidos de que podiam tornar os Tamoios uma nação. Em todo caso, quem podia dizer que já não tinham contatos comerciais com a França ? E exportando tecidos, sim senhora...

Anette e Essomericq sorriem. Essomericq volta a falar, desta vez com um ar triste

ESSOMERICQ (CONT D)
Foi comovente ver o esforço dos tamoios para sobreviver em um mundo que lhes ultrapassava de muito.

RIO DE JANEIRO 1559 ????

173 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. PRAIA?PIER ?? DAY

Uma velha índia põe a mão na boca. Uma criança vem se esconder atrás de suas pernas. Um adolescente sorri. Várias crianças correm em direção ao pier. Estão desembarcando as primeiras vacas em solo Tupinambá. Um grupo de 5 vacas holandesas atravessa o pier sob o comando de Ernest, que lidera sorrindo sua comitiva . Aimberê está boquiaberto. Iguassu sai correndo.

174 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. CURRAL ?? DAY

Em um curral improvisado, apinhado de gente à sua volta, Martin se prepara para ordenhar uma das vacas. Ernest e Aimberê estão ao seu lado. Martin ordenha a vaca. O líquido que jorra para o balde intriga Aimberê. Martin passa a Ernest

ESSOMERICQ (V.O.)
Eles estavam firmemente decididos a recuperar o seu atrazo. Se abriram completamente para novas experiências e aprendizados, sem medo, sem traumas, sem retorno

Ernest bebe um pouco e passa a Aimberê. Aimberê pega o balde sob o olhar atento de todos, e toma deixando escorrer leite pelo corpo. Ele sorri. Os índios vibram. Aimberê passa o balde para os índios que estão na cerca. Foi um banho de leite

ESSOMERICQ (CONT D)
Mas o fato é que o que era paz para os tamoios era apenas uma trégua para os portugueses.

SÃO VICENTE 1559 THIRTY SEX ????

175 INT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE. SALA DO GOVERNADOR ?? DAY

Anchieta adentra a Sala do governador. Na sala estão Brás Cubas, João Ramalho e Manoel da Nóbrega. O Governador Brás Cubas o recebe.

BRÁS CUBAS
Obrigado por ter vindo Padre Anchieta.

Anchieta, visivelmente mau humorado, ascente com a cabeça. Brás Cubas continua

BRÁS CUBAS (CONT D)
Como o senhor deve estar sabendo, Lisboa ordenou diversas mudanças na administração da Colônia

Anchieta interrompe

ANCHIETA
Me poupe da política Governador. Estou aqui para protestar contra o que vi por estas semanas em uma fazenda. O senhor está autorizando as expedições de captura. Eu encontrei escravos índios em fazendas perto de Piratininga

Desta vez é Bras Cubas que interrompe

BRÁS CUBAS
Desculpe, Padre. Como o senhor mesmo pediu, estou lhe poupando da política. Lisboa decidiu por um termo nesta situação. Vamos expulsar os selvagens que ainda ocupam o Rio de Janeiro

Manoel da Nóbrega acrescenta

MANOEL DA NÓBREGA
Recebemos instruções de nossa Companhia também. Estou de partida para Lisboa. O Senhor é o novo superior jesúita no Brasil.

Anchieta se surpreende. João Ramalho intervém

JOÃO RAMALHO
Como vê, Sua eminência, todos na corte lhe são gratos e reconhecedores de sua importância. Todos contam com a colaboração do padre para resgatar estas terras para o reino de Deus.

Anchieta setencia

ANCHIETA
Que Deus nos perdoe a mentira e a traição e todo o sangue que vamos derramar em seu nome. Que não tenhamos que nos justificar eternamente

João Ramalho faz cara de désdém. Manoel da Nóbrega abaixa a cabeça.

LISBOA 1559 THIRTY SEVEM ????

176 INT. CORTE PORTUGUESA ? SALA DO TRONO ?? NIGHT

Dom João III, Ignácio de Loyola e Men de Sá e seu sobrinho Estácio de Sá conversam em volta de um grande Globo. Todos estão com copos na mão e discutem

MEM DE SÁ
Não se preocupe Majestade. Os franceses já foram expulsos. Destruímos e queimamos o forte. Os poucos que restam estão mantendo apenas posto de comércio e apoio a corsários, nada que possa nos preocupar.

Ignácio de Loyola intervém

INÁCIO DE LOIOLA
Já nos arranjamos com Villegagnon,Senhor Governador Mem de Sá, ele não volta mais ao Brasil

MEM DE SÁ
Tão melhor. Conseguimos reunir a maior esquadra jamais reunida para ir ao Brasil. Tão logo reassuma minhas funções no Governo Geral na Bahia, enviarei meu sobrinho com grande exército para dar uma lição nestes selvagens.

Estácio de Sá acente com a cabeça, sorri e completa garboso:

ESTÁCIO DE SÁ
Trarei a vossa majestade, em bandeja de ouro, a cabeça deste selvagem Aimberê

Dom João III sorri e depois completa com cara de nojo

D. JOÃO III
Meu jovem, traga somente a bandeja de ouro. Estamos mais do que necessitados

Todos gargalham.

RIO DE JANEIRO 1564 THIRTY EIGHT ????

177 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? DAY

Aimberê e Ernest conversam animadamente sob uma árvore. Ernest mostra ao índio planos de construção. De repente eles são interrompidos por Uê que vem correndo em sua direção


Aimberê ! Aimberê

Aimberê e Ernest param o que estão fazendo

UÊ (CONT D)
Jaguanhara está morto

178 INT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. OCA DA FAMILIA DE AIMBERÊ ?? MOMENTS LATER

Aimberê interroga um índio muito ferido.

AIMBERÊ
O que foi que aconteceu

INDIO FERIDO
Os portugueses atacaram nossa Aldeia. Jaguanhara está morto. Todos estão mortos

Aimberê passa a mão no rosto e suspira

179 EXT. FORTE DE S.SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO ?? DAY

Estácio de Sá está ao lado do Padre. Ele diz algumas palavras para centenas de portugueses que se aglomeram no pátio do Forte

ESTÁCIO DE SÁ
Que São Sebastião abençoe este forte. Que ele ilumine este povoado e que aqui deixe, para todo sempre, sua palavra e sua marca de virtude e integridade moral.

O Padre faz um sinal e Estácio de Sá se ajoelha. Todos fazem o mesmo

180 EXT. MATA ATLÂNTICA ?? CONTINUOUS

Aimberê, Uê e Ernest observam os portugueses que se ajoelham no Forte Português

181 EXT. MATA ATLÂNTICA ?? DAY

Uma coluna de soldados portugueses avança por uma trilha na mata. De repente, uma chuva de flechas cai sobre os portugueses. Muitos são feridos. Eles batem em retirada

182 EXT. MATA ATLÂNTICA ?? NIGHT

Uma explosão ilumina um buraco onde estão vários índios. Mais uma explosão e todos que estão no buraco voam pelos ares

183 EXT. BAÍA DA GUANABARA. PRAIA ?? DAY

Portugueses avançam pela areia em direção as pedras do final da praia. Eles param diante das pedras hesitando em atravessar por baixo ou escalar. Súbito, ïndios aparecem em cima do morro e uma avalanche de pedras despenca sobre os soldados.

184 INT. FORTE DE S.SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO ?? NIGHT

Estácio de Sá recebe o relato de seus capitães.

OFICIAL PORTUGUÊS II
Nosso avanço é lento. Comandante. Em dois anos conseguimos tomar apenas algumas praias ao longo da Baía. Não vejo como podemos atacar a Ilha de Uruçumirim. Os homens são vítimas de emboscada todos os dias...

Estácio de Sá interrompe

ESTÁCIO DE SÁ
Obrigado oficial.

Ele se levanta e anuncia

ESTÁCIO DE SÁ (CONT D)
Dentro de alguns dias uma dezena de navios estará chegando ao Rio de Janeiro. Vamos lançar o ataque final

Os oficiais sorriem

185 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. PRAIA ?? AFTERNOON

Ernest escreve em sua escrivaninha improvisada. Ele está à beira mar

ERNEST (V.O.)
Querido amigo. Creio que percebeste que o tom de minhas cartas vem mudando.

186 EXT. LA BRIQUE. ?? DAY

Ernest se despede do Engenheiro Ferrand e do Doutor Verger. Ele lhes entrega uma carta

ERNEST (V.O.)
Nestes últimos meses nossas esperanças tem minguado dia a dia. Esta é a última carta que lhe envio via último navio que parte em segurança destas paragens.

187 EXT. BAÍA DA GUANABARA. MAR ?? DAY

Uma esquadra portuguesa se aproxima

188 EXT. PRAIA ?? DAY

ESTÁCIO DE SÁ comanda, à cavalo, um ataque de infantaria na praia. Tupinambás estão entrincheirados 50 metros mais à frente. Os portugueses e Tupinambás lutam no corpo?à?corpo. Os portugueses são muito mais numerosos.

ERNEST (V.O.)
Grande esquadra portuguesa está a caminho e nada mais resta da potente Confederação dos Tamoios.Já estamos há meses e meses em guerra.

189 EXT. MATA ATLÂNTICA ?? DAY

ESTÁCIO DE SÁ, a pé, comanda um ataque a uma colina. Portugueses e Tupinambás lutam corpo à corpo. Alguns índios já fogem. Afatado das lutas corporais, INAÊ prepara uma flexa. Ele arma e atira. ESTÁCIO DE SÁ é atingido no rosto.

ERNEST (V.O.)
Não podemos mais resistir aos ataques constantes que acontecem depois de vários meses já. Nossas pequenas vitórias não podem impedir nossa derrota final

190 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? DAY

ERNEST cumprimenta ANCHIETA e MANOEL DA NÓBREGA. AIMBERÊ e PINDOBUÇU estão presentes

ERNEST (V.O.)
Fomos vítimas de um ardil diabólico perpetrado por supostos emissários de Deus.

191 EXT. ALDEIA DE PINDOBUÇU ?? NIGHT

ANCHIETA está ao lado da rede de PINDOBUÇU.

192 EXT. ALDEIA KUNHAMBEBE, GRANDE OCA ?? DAY

PINDOBUÇU, ANCHIETA, MANOEL DA NÓBREGA e KUNHAMBEBE II conversam em torno de uma fogueira

ERNEST (V.O.)
Eles nos dividiram, nos desarticularam, esquartejaram. Aimberê ficou só. Entre nossos inimigos há até os que combateram ao nosso lado. Malditos sejam os sermões. Malditas sejam as palavras que transformam intenções sólidas como rocha, em torrões de farelo, em um pó de dúvidas e indefinições.

193 EXT. PRAIA ?? DAY

Explosões acontecem. Índios tombam na areia.

ERNEST (V.O.)
Desculpe a amargura, mas vosso amigo acaba de descobrir que não existe paraíso.

194 EXT. LA BRIQUE. ?? DAY

Nas ruas do povoado um corre?corre. Na porta de um dos bares uma criança índia chora ao lado da mãe que está desarcodada ao lado de uma garrafa vazia. As pessoas apressadas passam por cima da índia desarcodada ou desviam o caminho. Em todos os casos ignoram a criança que chora.

195 EXT. LA BRIQUE. ?? MORNING

O povoado está fantasma.Alguns urubus pousam em um lixão em uma das ruas da cidade. A viela de esgoto ainda corre em direção ao igarapé.

ERNEST (V.O.)
Tendemos a miséria, à exploração mútua, ao desprezo pelo outro. Os franceses debandaram como ratos ao primeiro sinal de perigo. Deixaram para tráz a marca de nossa sociedade corrupta.

196 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. PRAIA ?? DAY

ERNEST recebe um barco cheio de franceses. Um a um os homens e suas famílias desembarcam. AIMBERÊ sorri

ERNEST (V.O.)
Para a minha surpresa e sobretudo de Aimberê, muitos resolveram ficar e defender nossas conquistas até o fim. Uma dezena de companheioros resolveu ficar e proteger seus lares. Somos uma família e vamos até o fim juntos.

197 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. EM FRENTE A OCA DA FAMILIA DE AIMBERÊ ?? EVENING

AIMBERÊ, ERNEST, POTIRA e FILHO, IGUASSU, MARTIN, UÊ, INAÊ,e mais alguns ínndios comem em volta da fogueira. Eles conversam, alguns até sorriem.

ERNEST (V.O.)
E não há tristeza na família de Aimberê. Aceitamos nosso destino mas não nos resignamos com ele. Ao contrário, vamos lutar para que ele se realize em sua plenitude, coroando vidas plenas de sentido e emoção. Quando digo nós quero dizer eles, meus queridos Tupinambás.

198 INT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM. OCA DA FAMILIA DE AIMBERÊ ?? NIGHT

ERNEST e POTIRA estão na rede. POTIRA dorme nos ombros de ERNEST que está acordado. Ao lado dos dois, em uma pequena rede o FILHO do casal

ERNEST (V.O.)
Quanto a mim, homem já contaminado pela civilização de Deus, resta o ódio e uma ponta de nostalgia pelo momento de felicidade fugaz que vivi neste país.

199 EXT. VILA DE SÃO VINCENTE. FORTE ?? DAY

AIMBERÊ comanda o assalto ao forte. ele avança diante de seus homens

ERNEST (V.O.)
Não tenho a dignidade dos Tupinambás. Vou morrer, simplesmente morrer.

200 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? NIGHT

Os índios cantam em dançam em uma festa na Aldeia

ERNEST (V.O.)
Aimberê e sua gente vão ao encontro de seus ancentrais enquanto eu me sinto orfão fora desse mundo.

201 EXT. MATA ATLÂNTICA ?? DAY

Uma árvore balança em uma violenta tempestade. Folhas se desprendem e se vão ao vento.

ERNEST (V.O.)
Eles são árvores, eu sou folha ao vento.

202 EXT. ALDEIA DE URUÇUMIRIM ?? DAY

ERNEST se despe. Ele fica totalmente nú. UÊ lhe passa uma tintura preta pelo corpo. Depois de pintado, ERNEST se levanta, dá um abraço em UÊ, pega o seu tacape e sai.

ERNEST (V.O.)
Se não fui digno deste povo em vida e, certamente, não o serei após a morte, ao menos honrarei os Tamoios na hora de minha morte. Obrigado por tudo.

NORMANDIA THIRTHY NINE ????

203 INT. CASA DE ESSOMERICQ. ATELIER ?? NIGHT

ANETTE está estarrecida. ESSOMERICQ fecha as cartas e as devolve ao seu baú.

ANETTE
E quanto à Potira, Aimberê ...?

ESSOMERICQ
Todos mortos. Eles preferiram morrer a se subjugar aos portugueses

ANETTE continua estarrecida. ESSOMERICQ permanece em silêncio.

204 INT. CASA DE ESSOMERICQ. BIBLIOTECA ?? DAY

HUBERT que chega ofegante com um sorriso estampado no peito

HUBERT
Trago boas novas.
(olhando para ANETTE)
O seu marido está em segurança !

ANETTE se precipita nos braços de ESSOMERICQ e chora copiosamente.

205 EXT. CASA DE ESSOMERICQ. ENTRADA PRINCIPAL ?? DAY

ANETTE e ESSOMERICQ conversam

ESSOMERICQ
Hubert lhe levará em segurança

ANETTE abraça ESSOMERICQ

ANETTE
Obrigado por tudo Mon Seigneur. Levo daqui muito mais que a felicidade de ter conhecido meu bisavô, levo lições para a vida inteira

ESSOMERICQ
Sou eu quem te agradeço pelo resto da vida, minha filha. Finalmente encontrei minha alma gêmea nesta família.

ANETTE volta a abraçar o avô

ESSOMERICQ (CONT D)
Vá viver o seu amor minha querida, agarre firme a felicidade e não a largue por nada.

HUBERT e um LACAIO chegam com os cavalos. O LACAIO desmonta e ajuda ANETTE a montar. Ela manda um beijo para ESSOMERICQ que já está de braços dados com o seu serviçal. ESSOMERICQ Sorri. HUBERT e ANETTE partem

206 INT. CASA DE ESSOMERICQ. HALL ?? DAY

HUBERT chega a casa de ESSOMERICQ. Ele guarda o seu capote empoeirado. Ele atravessa o HALL

207 INT. CASA DE ESSOMERIQ. SALA DE JANTAR ?? CONTINUOUS

HUBERT vai até a mesa, abre uma garrafa, serve uma caneca e toma um gole. Ele percebe junto à outras canecas uma carta. Ele abre a carta

ESSOMERICQ (V.O.)
Meu caro Hubert .. você há de compreender minha atitude.

UM DIA ANTES

208 EXT. CASA DE ESSOMERICQ. JARDIM ?? MORNING

ESSOMERICQ envelopa a carta que acabou de escrever. Ele pega a sua toalha e se levanta da mesa.

209 EXT. PRAIA DE PEDRAS ?? MOMENTS LATER

ESSOMERICQ se despe a beira?mar

ESSOMERICQ (V.O.)
Chegou a hora de voltar para minha casa. O mar é imenso e ainda tenho muito o que viajar. Por isto saio cedo. Meus pais me esperam. No meio da viagem hei de encontrar também o meu protetor o Senhor de Gonneville.

ESSOMERICQ, nú, entra na água e vai caminhando lentamente

ESSOMERICQ (CONT D)
Uma festa nos espera na aldeia. Vamos beber o cauím das virgens e fumar a erva sagrada. Meus amigos vão estar lá. Ernest vai finalmente me apresentar Aimberê. Potira, Iguassu e também minha saudosa Anne vão me ensinar a fiar

210 EXT. CASA DE ESSOMERICQ. JARDIM ?? DAY

HUBERT não acredita no que lê. Ele balança a cabeça e sorri

ESSOMERICQ (V.O.)
Por toda minha vida sonhei em voltar. Sou um homem feliz por começar minha viagem ainda em vida. A morte só chega para o homem que desiste de seu destino e o meu destino é além mar. Junto dos meus.

211 EXT. PRAIA DE PEDRAS ?? CONTINUOUS

ESSOMERICQ continua a caminhar. A água já está em seu peito. Ele começa a nadar.

ESSOMERICQ (V.O.)
Peço que ofereças em meu nome uma boa quantia aos meus serviçais. Dê um pouco mais ao nosso glutão quando ele acordar. Deixo para você o que me sobrou, e você mesmo sabe que não foi muito depois de uma vida de loucuras. Mas ainda assim terás o suficiente para a vida. Você merece meu amigo. E aos amigos a gente oferece tudo.

FIM

Escrito por : EVANDRO SADA DE FARIA
Registro Biblioteca Nacional:181171 27/08/1999

PRÊMIO MINISTÉRIO DA CULTURA 1998
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