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Artigos-->PAIXÃO TERAPÊUTICA -- 09/01/2007 - 21:32 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PAIXÃO TERAPÊUTICA





Francisco Miguel de Moura*





Em conversa amigável com um colega de profissão, ontem ouvi um adjetivo para mim inusitado. Em nenhum estilista da língua, inclusive Eça de Queirós e O. G. Rego de Carvalho, me deparei com palavra tão bem ajustada ao pensamento. Adjetivos, embora usados a toda hora, não são de uso fácil. O usuário descuidado cai na banalidade e na desvalorização, provocando não poucas vezes confusão no ouvinte. O falante ou escrevente, ao tentar um elogio, pode terminar produzindo uma zombaria. A economia do adjetivo produz linguagem correta, clara, simples e verdadeira. Para acentuar os exageros no uso dessa categoria gramatical, há, no anedotário da vida literária brasileira, o caso ocorrido entre um célebre escritor, não me lembro se o mestre Graciliano Ramos (mas o achado é muito parecido com outros dele) e outro menos experiente. Diz-se que o novato aprendiz, no momento em que corrigia seu próprio texto, lhe pede ajuda:

- Tenho aqui dois adjetivos, Mestre. E eles juntos não me soam muito bem.

- Sim – o velho Graça levanta os olhos na direção do novato, como se afirmasse que estava ouvindo sua leitura. – É verdade.

- Mestre, devo cortar um?

- Na dúvida, corte os dois, ouviu?

Esse é um diálogo de introdução. A outra conversa foi por mim diretamente ouvida, numa manhã de dezembro, no “Teresina Shopping”. Falava eu com um colega aposentado e, de repente, chega uma senhora muito conhecida minha, mas não dele. Levantamos para cumprimentá-la. Vai não vai, a senhora fala na filha. Era pertinente, tratava-se ali de assuntos de família. Meu amigo aposentado, através de seu próprio filho, já conhecia a filha dessa senhora. Nosso amigo aposentado entra na minha conversa com d. Nazaré, o nome da senhora, exclamando:

- Ela é muito amiga de meus filhos! Tão delicada, tão boa, que me tornei sua amiga também, amiga quase íntima. A amizade cresceu, em virtude de outros encontros (sociais, trabalho, etc.), ao ponto de ter a liberdade de dirigir-lhe brincadeiras. Um dia destes, lá em casa, estávamos numa festinha dominical e eu conversava com o Arcebispo. E ela chegou e ambos nos voltamos para dar-lhe a merecida atenção. Conversa vai, conversa vem, eis que eu lhe digo:

- Minha amiga Fulana, já temos tanta amizade que posso dizer-lhe que é quase uma paixão.

O Arcebispo meteu-se no assunto, claro, sua palavra era esperada:

- Eu também sou apaixonado por você, no bom sentido.

“Como assim”? – nós dois, eu e o eclesiástico, em silêncio nos perguntávamos, assustados diante do inusitado da declaração. Entretanto, em seguida, o Arcebispo concluiu espirituoso:

- Mas é uma paixão terapêutica.

Todos caíram na gargalhada.



* * *



Quando o meu amigo acabou de contar como foi a conversa, em sua casa, com a filha de D.Nazaré, eu exclamei:

- Péra aí! Nunca vi nem ouvi adjetivo tão inusitado para a palavra paixão. Deixe-me anotá-lo para uma crônica.

______________________

*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br

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