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Artigos-->UM DIÁLOGO À DISTÂNCIA -- 31/12/2006 - 01:24 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UM DIÁLOGO À DISTÂNCIA



Francisco Miguel de Moura*

Joaquim de Montezuma de Carvalho**





“As cartas de amor são mesmo ridículas?” é o título que Joaquim de Montezuma de Carvalho ofereceu a seus leitores, artigo publicado no jornal “O Primeiro de Janeiro” (Suplemento das Artes das Letras), em 3.4.2006, Porto, Portugal. Ele pergunta e ele mesmo responde, sabiamente, em matéria bem fundamentada e bem urdida, como historiador e filósofo dos mais competentes:

–“A nossa grotesca, taciturna e sinistra época cunha uma moeda, põe-na a circular como verdadeira, e, depois, se vista ao sol da verdade, aí fica no chão como moeda falsa. As tribos não sabem gerir patrimônios. O prazer das tribos é o de corrompê-los. Irei deitar abaixo um lugar comum que invadiu todos os cenários dos nossos figurinos sociais e se resume a proclamar, com risota e malícia, que todas as cartas de amor são / ridículas só porque leu e se fixou nesses dois primeiros versos do poema de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa), sem ter sequer lido os restantes para lhes conquistar o exato sentido de inversão (dizer-se uma coisa para, de seguida, se dizer o contrário).”. Não lembram que o poema de Pessoa segue assim: “Mas, afinal, / só as criaturas que nunca escreveram / cartas de amor/ é que são / ridículas.”.

Concordo plenamente com Montezuma de Carvalho. Não se pode seccionar um pequeno trecho de romance, ou mesmo de poema e obliterar o resto, enganando o público como se tivesse lido e entendido a obra. É querer matar o autor, a arte e, de cambulhada, os ouvintes ou leitores menos avisados. Não é porque Joaquim M. de Carvalho seja português e eu, brasileiro, que nós aceitamos o sentimentalismo, o idealismo como riqueza de espírito. “Todas as cartas de amor são ridículas” para quem não está amando ou não possui sensibilidade diante do próximo. Se tomadas fora do contexto, seriam ridículas. Mas nem todas. As generalizações pecam por excesso, por falta de análise. Pois, então, como seriam as cartas de amor no romantismo? Como seriam as cartas de amor sem amor? Como seria o mundo sem amor? Aliás, já estamos a vê-lo. Só técnica, sexo, mercadoria e desesperos. Os poemas estão morrendo, a arte definha, assim, as cartas de amor. Sabe-se que, até agora, não obstante toda tecnologia, a maioria dos poemas equivalem, mutatis mutandis, a cartas de amor. Por isto, para cantar seu grande amor, Antônio Machado, grande poeta espanhol, escreveu muitas cartas de amor. Posteriormente 36 delas foram publicadas em livro. Do poeta português também se publicaram “Cartas de amor de Fernando Pessoa” (Edições Ática, Lisboa, 1978), daí por que Montezuma diz: “Fui sempre fiel a este amor de Antônio Machado por Leonor, nele centrando tanto da efusão poética; cativava-me a delicadeza imensa deste poeta tão afim de Portugal (o seu nome é mais de Portugal do que de Espanha), o seu intenso lirismo extremo, como só se deu em Camões, em Pascoaes.” E em seguida testemunha: “A aproximação entre Fernando Pessoa e Antônio Machado é muito grande, até porque coetaneamente ambos os poetas e sem se terem conhecido ou lido sequer se desdobram em heterônimos, em Pessoa caudalosamente, em Machado sem o torrencial e para melhor expressar o intelectual.”

________

*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, romancista, cronista, poeta, mora em Teresina, Piauí. **Joaquim de Montezuma de Carvalho, escritor português, autor do recente livro “Cervantes em Portugal”, mora em Lisboa.





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