Hoje é dia de prova na faculdade e dia de jogo no Maraca.
A Universidade Gama Filho com suas diversas faculdades é uma das mais conceituadas instituições de ensino privado da Cidade. O campus universitário se estende do bairro do Encantado ao da Piedade.
Encantador o movimento estudantil na hora da entrada. Carros e mais carros. Muitos carros! Não havia vaga suficiente nos estacionamentos.
Os encontros eram marcados nos intervalos das aulas e na hora da saída os reencontros alegres e barulhentos aconteciam. Amigos acompanhando amigos, gatas com os seus amores e filhas com os seus pais. Isto mesmo! Filhas com os seus pais. Duas gerações estudando juntas, saindo abraçadas com os seus livros e cadernos e sonhando com um futuro mais promissor.
A geração mais vivida, a responsável pela produção maior da Nação, hoje presente em grande número nos bancos escolares, desafiando o poder jovem e competir de igual para igual na luta pelo conhecimento.
O retorno aos bancos escolares realizava o milagre da volta a época dos sonhos dourados. Era a grande motivação de vida. Era a permissibilidade de se jogar uma bolinha de papel na linda gata da carteira da frente e de receber dela em troca, a ternura de um sorriso. De fazer uma brincadeira com o mestre, de participar do movimento estudantil pór reivindicações, de atuar no jornal universitário, de viver como jovem universitário, fato este que o tempo se negava reconhecer...
- Professor! O primeiro tempo de aula está vago.
- Não daria para aplicar o teste de sociologia?
- A intenção é a de se chegar mais cedo ao Maracanã para o jogo Vasco x Flamengo. Falou o representante da turma.
E assim foi feito.
Mas a noite não começava bem. Na prova o resultado não foi bom e a gata "paquera" não gostou nada da idéia de ficar só e se fechou amuada.
Oito "astronautas" em dois carros rumaram ao Estádio Mário Filho. Ao atravessarem o território do Méier, a Rua Ana Barbosa é passagem obrigatória para a cidade e o Maracanã e faz com a Rua Hermengarda, uma curva bem fechada. Entraram nela com certa velocidade junto com um outro carro... Assustado o motorista quase perdeu o controle. Irado e xingando a todos, acelerou mais o carro, cortando a frente e obrigando a que eles parassem. Pulou do veículo empunhando um "38", dizendo-se policial. Encostou-os na parede e totalmente descontrolado, passou a arma pelas suas cabeças. A esta altura o trànsito já se encontrava parado e a buzinação ensurdecedora. Bem atrás do carango o ónibus da linha 455, Méier-Copacabana. O motorista, sujeito dobrado e que havia presenciado tudo, tomou as suas dores e já discutia abertamente com o agressor. Os amigos que vinham no outro carro, também já se encontravam na confusão. (Mais tarde, já no Estádio vieram a saber que haviam desarmado o policial) . Confusão total !
- Gente! O nosso caso não é briga... É o Maracanã!
- Vamos nos mandar...
Acelerando na certeza de que estariam sendo perseguidos, ouviram um tilintar de metal caindo no chão.
- Calma gente! Mais devagar...
- Não estamos sendo perseguidos.
- Acabei de jogar pela janela um chaveiro.
- De quem? Perguntaram.
- Do policial, é claro!
Já mais tranquilo, o Ferolla contou:
- Pensei...
- Se queremos dar no pé, a preocupação será evitar a perseguição do policial armado. Assim no tumulto dei a volta pór trás do carro e retirei da ignição o chaveiro do "macanudo". Pelo volume, ali deveriam estar todas as suas chaves, inclusive as de sua casa.
- Já imaginaram na hora de tirar o carro da pista para desobstrui-la sem a chave da ignição?
- E quando tiver de entrar em casa? Vai dormir na rua...
- De quebra, ainda ficou sem a arma!
Que bela lição tomou o policial pór ter exorbitado da sua autoridade.