A argúcia e o oportunismo são um segredo que dão vitalidade e longevidade aos políticos mais ousados. Na visão política hodierna continua sendo contrastante e escandalosa a diferença que mostra o ato político em suas duas fases fundamentais. De um lado, o palavreado intenso e dourado usado nos palanques, celebrado com festa, música, cerveja e champagne, em estilo de badalação. E de outro, o posterior ato de governar, normalmente solitário e muito longe da luz estelar prometida aos eleitores nas núpcias do palanque.
Este fato, que já pode chamar-se de teoria viva da política atual, está merecendo a atenção de alguns governantes modernos de países europeus. Esse comportamento crítico deve-se em parte à necessidade que os candidatos têm de apresentar propostas mais convincentes e seguras a seus eleitores.
Parece que esta consciênci política está chegando ao programa de um dos candidatos à Presidência na França. Refiro-me a Nicolas Sarkozy, até agora ministro do interior do governo de Chirac. Sabendo da fragilidade das promessas eleitorais e do desgaste dos governos ocidentais nas políticas executivas que sempre ficam aquém das promessas, Nicolas Sarkozy se apresentou há dias no programa televisivo “A vous juger” para revelar e discutir as bases de seu programa político como candidato à Presidência. Sua entrevista televisionada foi ouvida por cerca de cinco milhões e cem mil espectadores. Dirgindo-as de modo especial ao seu eleitorado popular, Sarkozy, conhecedor dos graves problemas da classe média baixa e pobre francesa, foi taxativo ao dizer que a passagem do franco para o euro provocou a alta dos preços que hoje se verifica na França e em outros países europeus. Em sua mensagem, ele mostra que as injustiças cometidas contra os pobres podem ser contrariadas por uma política inteligente. Como ponto central de sua mensagem sublinhou que irá governar com uma prioridade absoluta. Essa prioridade será a de garantir aos franceses “o poder de compra”! Ele acha que pode mudar a maneira política de sentir dos franceses em algumas semanas! Prometendo medidas do Estado a respeito, Sarkozy afirmou que com esta prioridade do poder de compra, poderá fazer uma verdadeira revolução econômica na França.
João Ferreira
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Fonte de pesquisa: Jornal “Le Monde”, 2 de décembre 2006.”Nicolas Sarkozy étrenne ses habits de candidat lors d’un oral telévisé long de trois heures”!
